Amar pelos Dois - Interpretação de música em Língua Gestual Portuguesa

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FICHA TÉCNICA título: Amar pelos Dois – Interpretação de música em Língua Gestual Portuguesa: uma proposta e um desafio autores: Isabel Sofia C. Correia; Pedro Balaus Custódio; Rafaela Cota da Silva edição: Edições Ex-Libris ® (Chancela Sítio do Livro) capa: Ângela Espinha paginação: Alda Teixeira 1.a Lisboa,Ediçãomaio 2022 isbn: ©depósito978-989-9028-60-9legal:498004/22IsabelSofiaCalvárioCorreiaPedroBalausCustódioRafaelaCotadaSilva

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5 ÍNDICE N ota dos autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1. A Língua Gestual Portuguesa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 1.1. O Movimento de Mão, a marcação do plural e a pluralidade . . . . . 11 1.1.2. MM e concordância verbal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 1.2. Verbos policomponenciais; classificadores; descritores 14 1.3. Expressão Não Manual e duração aspetual. 19 1.4. Nótulas sobre sintaxe 21 2. Literatura das Comunidades Surdas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.1. Poesia em Língua Gestual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 3. Inter pretação em Língua Gestual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 3.1. Inter pretação de Música . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 3.1.1. Características da inter pretação de músicas . . . . . . . . . . . . . . 48 4. Compor em duas línguas: proposta de interpretação de “Amar pelos Dois”, Salvador Sobral 53 5. Alguns recursos linguísticos e tradutórios: Amar pelos Dois em LGP 59 5.1. Síntese sobre as escolhas tradutórias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 6. Reflexão final . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 Preview

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Este estudo resulta da revisão alargada e de uma atualização minuciosa de um trabalho efetuado em 2017 por um dos autores para a atribuição do Título de Especialista na Área de Línguas e Literaturas Maternas. Como o título deixa adivinhar, o objeto deste trabalho de investigação aplicada à Língua Gestual Portuguesa adianta uma proposta desafiante no que toca a análise e a interpretação de um tema musical de assinalável qualidade e sucesso, Amar Pelos Dois, escrita por Luísa Sobral e cantada pelo seu irmão, Salvador Sobral. Recor de-se, a propósito, que este tema foi o vencedor do Festival da Euro visão da Canção em 2017.

Nesta publicação tentamos aprofundar alguns conceitos teóricos e apresentar a um público mais lato a nossa análise de recursos e estratégias de interpretação do texto musical. Realizar um trabalho de interpretação desta natureza é, consabidamente, um desafio extraordinário, não só pela complexidade da letra, pela mimeti zação dos ritmos e cadências específicas da melodia, mas sobre tudo pelas escolhas e estratégias linguísticas que o intérprete tem de preparar para que a versão de chegada seja a mais fiel ao origi nal. Mas os reptos foram e são sempre muitos em trabalhos desta especificidade: manter a isotonia poética, a riqueza da mensagem, a plasticidade do poema, um delicado jogo de efeitos visuossemân-

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NOTA DOS AUTORES

Talvez por esta intricada rede de motivos, preocupações e escolhas técnicas, se perceba o quanto é árduo, mas desafiante trabalhar as expressões artísticas, como a música ou a literatura no âmbito de uma língua de sinais. O processo de interpretação inclui em si, muito de quem produz o trabalho, do contexto e do próprio momento interpretativo, muitas coordenadas culturais e identitá rias, mas em qualquer das circunstâncias e independentemente da variabilidade de muitos fatores, este meticuloso trabalho de mãos e de configurações são o espelho de como a interpretação é um virtuoso e desafiante jogo semântico que, longe de estar terminado, conhece, a cada desafio, um eterno recomeço.

Os autores isabel sofia calvário correia pedro balaus custódio rafaela cota da silva Preview

Amar pelos Dois 8 ticos, um equilíbrio lexical, a variação e intensidade dos gestos, as pausas, a harmonia visual e tantos outros aspetos paralinguísticos que contribuem, decisivamente, para a qualidade da versão, para a riqueza do texto de chegada, evitando as perdas e potenciando os ganhos. Este jogo caleidoscópico de expressões não manuais e/ou corporais jogam, sobremaneira, papéis de notório relevo num trabalho técnico deste teor.

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língua humana que expressa os universais lin guísticos em propriedades formais, tais como a arbitrariedade, a existência de nomes e verbos, a recursividade, a criatividade, entre outras materializações da capacidade da linguagem humana. Apesar disso, ainda há que desmistificar a ideia de que as línguas de sinais são sistemas paralinguísticos, semelhantes à mímica e à designada linguagem gestual. Na realidade, basta consultar um signo gestual simples, como ‘mulher’1, para percebermos que este idioma 1 Este vocábulo pode ser consultado em www.spreadthesign.com

9 1. A Língua Gestual Portuguesa

As comunidades Surdas expressam as suas ideias, pensamentos, sentimentos e emoções através de uma língua visual. No territó rio português existe uma comunidade que utiliza a Língua Gestual Portuguesa (LGP) com o é estatutariamente reconhecida ou, par tindo de publicações recentes (Correia e Custódio, 2019), a Lín gua de Sinais Portuguesa (LSP). A LGP é um idioma minoritário, reconhecido na Constituição da República Portuguesa, no artigo 74.º, artigo 2, alínea h), afirmando-se que incumbe ao Estado “proteger e valorizar a língua gestual portuguesa, enquanto expressão cultural e instrumento de acesso à educação e da igualdade de oportunidades”.ALGPéuma

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Estesconceptuais.queremas, com vários traços ainda por identificar, são 5: configuração da mão (CM), localização da mão (LM), orientação da palma da mão (OM), movimento da mão (MM) e expressão não manual ENM)2. Assim, estes queremas, unidades sem significado, podem combinar-se entre si de inúmeras formas e produzir um sem fim de vocábulos com significado. Veja-se à direita, a título de exemplo, a representação gráfica do gesto de SURDO escrito em signwriting onde é possível constatar a existência dos 5 queremas já referidos.

2 Esta designação não é aceite nem usada por todos os linguistas. Por exem plo, Sandler e Lillo Martin (2001); Quadros & Karnopp (2004) preferem usar os mesmos termos aplicados às línguas orais, fonemas, argumentando que é neces sária uma uniformização terminológica para o estudo das línguas, qualquer que seja a modalidade. Já Capovilla (2011) sugere nova terminologia, mais aprofun dada ainda do que a de Stokoe (1965) que apenas se baseou na raiz grega Kyros, mão, para propor o termo chereme (querema). Capovilla assenta a proposta também na raiz grega, mas de cada um dos parâmetros, assim, propõe quiriformema (CM); quiritoposema (LM); quiricinesema (MM); Mascarema (ENM). O autor não apresenta proposta para OM, talvez por que não o considere autónomo, tal como Sandler & Lillo Martin (2006).

Amar pelos Dois 10 está longe de ser uma gesticulação que mima referentes de forma aleatória e não organizada. Assim, estas línguas visuais organizam -se através de unidades mínimas e discretas, os queremas (Stokoe, 1965) que, combinadas, constituem significantes visuais de signifi cados

A Língua Gestual Portuguesa 11 Estas unidades mínimas podem também também assumir valores gramaticais morfémicos, tal como MM quando em nomes e verbos (Correia, 2020). Vamos ater-nos brevemente em algumas destas propriedades gramaticais3, pois são usadas na análise dos recursos linguísticos usados na tradaptação da música, na segunda parte deste trabalho.

1.1. O Movimento de Mão, a marcação do plural e a pluralidade A pluralização foi um assunto já abordado para as línguas de sinais por Sandler & Lillo Martin (2006); Quadros e Karnopp (2004); para a LGP por (Amaral & Coutinho, 1994); Correia (2020). Uma das formas de marcar o plural morfológico é através da reduplicação do movimento: «(...) nominal signs that are produced in neutral space rather than on the body are systematically reduplicated by displacement (...) Signs that are body anchored (...) are pluralized non-morphologically by adding numbers or quantifiers (...) constructions involving nominal classifiers can always take morphological (reduplicative) pluralization» (Sandler & Lillo Martin, 2006, p. 50).

3 Não abordaremos questões como a marcação de género (Correia, 2016); nem a complexa marcação de tempo verbal (Correia; Custódio & Silva,2021), ou outras. Descreveremos de forma sucinta aquelas que são pertinentes para a análise dos fenómenos linguísticos e tradutórios que usamos.

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Todavia, há que ter presente que MM não marca a pluralidade semântica, mas assume-se como afixo morfémico. Em LGP, são raros os nomes coletivos, ou seja, aqueles que “no singular, deno tam grupos de entidades do mesmo tipo, perspetivadas conce tualmente como uma entidade única” (Gramática do Português, 2013, p. 971). A nosso ver, tal poderá dever-se à visualidade do signo que denota a entidade, muitas das vezes criado através da metonímia. Assim, a título de exemplo, os vocábulos OVELHA, PORCO, LOBO4, assentam numa característica do animal que se destaca para a comunidade e que, a partir dela, cria o signo gestual. Ainda que com um grau de arbitrariedade considerável, sobretudo para os não utilizadores de uma língua gestual, estes vocábulos têm raízes fortemente icónicas. Desta forma, em LGP usa-se o recurso sintático, executando-se o signo da entidade mais o nome coletivo GRUPO ou outro recurso que caracterize a entidade. Assim, rebanho é OVELHA+ GRUPO ou OVELHA + SEGUIR.Umdos nomes coletivos que é utilizado em LGP é o de MULTI DÃO, que adiante veremos como escolha lexical na nossa tradução, com recurso a uma configuração de mão que advém do classifica dor de pessoa, em que nos deteremos na secção 1.2 deste trabalho, utilizando-se neste caso quatro dedos de ambas as mãos com um movimento continuado. Neste signo não nos parece produtivo falar da repetição de movimento até por que o que se faz é repetir o movimento dos dedos, considerado movimento dependente (San 4 Os vocábulos estão disponíveis em www.spreadthesign.com

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Amar pelos Dois 12 Assim, um dos recursos, em determinados signos gestuais, consiste em repetir um parâmetro, MM, para marcar a quantidade.

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A Língua Gestual Portuguesa 13 dler & Lillo Martin, 2006; Correia 2020), e não o movimento do signo em si, como por exemplo, no signo gestual ÁRVORES que não raramente é executado da mesma forma que ARVOREDO ou FLORESTA.

Como já tivemos oportunidade de descrever em trabalhos ante riores (Correia, 2020), a direcionalidade do movimento de mão determina os argumentos verbais, nomeadamente os designados complementos do verbo. Este recurso não é produtivo apenas na concordância verbal com os argumentos, mas surge como signi ficativo e, a nosso ver, contribuindo para o constituinte sintático designado complemento oblíquo. Assim, como descreveremos na segunda parte deste trabalho, a direccionalidade de MM associada ao classificador de PESSOA, indica per se ir/vir. Da mesma forma, a execução do movimento de mão pode indicar afastamento ou aproximação, como veremos abaixo na nossa análise no ponto 4. Antes de nos determos sobre a carga gramatical que este recurso, à partida paralinguístico, pode ter, convém descrever brevemente o que se entende por estruturas classificadoras.

Como se vê, possivelmente devido à visualidade, os nomes coletivos não são produtivos ou têm fronteiras ténues com a marcação de plural através de MM. Todavia, o signo MULTIDÃO é usado muitas vezes pelo seu caráter de coletivo indefinido, ou seja, coletivos que não definem a quantidade ainda que referentes, no caso em apreço, a pessoas. Este recurso é produtivo para designar, também, algo ou alguém. 1.1.2. MM e concordância verbal

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Amar pelos Dois 14

Esta definição base levou o investigador a questionar a designação classificador aplicada às línguas de sinais, sobretudo quando apli cada a verbos: I prefer to use the term policomponential verb to refer to this category os signs rather than alternatives such as classifier predicates or poly morphemic verb (...) I thus provisionally use verb as a superordinate term that includes both verbs od motion, location and handling, and adjectival-type cosntructions of visual-gemoteric description (Schem bri, p. 4).

1.2.  Verbos policomponenciais; classificadores; descritores5 Schembri (2003), baseado no trabalho de Grinevald (1996), define as propriedades dos classificadores com relevo para a sua representação referencial e semântica: “a classifier classifies in the sense that it denotes some salient inherent or perceived of the referent represented by an associated noun” (Schembri,2003, p. 21).

Este e outros estudiosos questionaram o uso do termo classifica dor ainda que aplicado a nomes: “We use the term DEPICTING

HANDSHAPE UNITS or DEPICTING HANDSHAPES to refer to the hand configurations used within depicting constructions rather than ‘classifier “ (Schembri, 2012, p. 329).

Como se vê, a terminologia nas línguas visuais não está estável, pois, por um lado, as investigações destes sistemas linguísticos são 5 Tradução livre para polycomponential verbs; depicting strutctures (Schem bri;) e classificadores.

A Língua Gestual Portuguesa 15 recentes, quando comparadas com as línguas orais, por outro lado há, aumentando a investigação, tendencialmente, e surgem propos tas que apontam, terminologias não importadas da línguas oroau ditivas, mas mais acomodadas à modalidade das línguas gestuais. Não é o escopo deste trabalho reflexão teórica sobre terminologia ou sequer sobre perspetivas de enfoque linguístico nas propriedades formais das línguas gestuais. Assim, por ainda ser a terminologia vigente e devido ao facto de os proponentes de novos termos admitirem que falta investigação que os sustente, mantemos o uso da palavra classificadores a par com descritores.

Os estudos sobre estas estruturas concordam no facto de a con figuração de mão (CM) ser a unidade dominante ao representar a forma; o tamanho; a maneira [de agarrar/segurar/manusear um objeto] e outros traços semânticos do referente. Assim, em LGP, o descritor de PESSOA pode ser aquele que vemos na figura 1 que representa a pessoa em pé, que se desloca, aproxima/afasta auxiliada pelo movimento figura 1: Classificador de PESSOA em LGP

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A par desta complexidade linguística, resta ainda a interrogação, a nosso ver por resolver, do que é linguagem gestual ou língua. Noutro estudo (Correia, Silva, Santana 2020) tivemos oportuni dade de mostrar como elementos da linguagem gestual e da cultura envolvente, no caso a portuguesa, são fatores decisivos na criação de signos gestuais e na sua execução. Retenhamos, por exemplo, o vocábulo INVEJA6 que se executa tal como a popular expres são “dor de cotovelo”, proferida oralmente ou apenas mimada.

Este exemplo demonstra um cruzamento de características paralinguísticas, nomeadamente a linguagem gestual cultural do país que se transforma, na LGP, em elemento linguístico. Numa publicação recente (Nyst et al, 2021) sobre o valor icónico de CM e a 6 Consultado em www.spredthesign.com

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Amar pelos Dois 16 Como se vê pela sumária descrição deste recurso, MM, nomeadamente a subclasse direccionalidade, em conjunto com CM cons titui uma estrutura morfossintática em que nome (Sujeito) e verbo (predicado) são executados simultaneamente e significam pela forma de CM e pelo movimento executado. Já desde os primei ros estudos sobre as línguas visuais, conduzidos por William Sto koe (1960) demonstraram que os parâmetros das línguas gestuais são executados em simultâneo, possivelmente graças à modalidade manuomotora destes idiomas. Talvez por isso seja complexo falar em morfemas presos, como nas línguas orais, uma vez que esta uni dades mínimas ganham não só valores gramaticais, mas também semânticos. Exemplo disso é o classificador de PESSOA que retém os traços semânticos do referente representado, mas também MM integra o valor semântico de ir/vir; aproximar/afastar e o valor gramatical de pessoa/número.

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A Língua Gestual Portuguesa 17 maneira de representar a forma e tamanho de referentes, aponta-se a relevância da iconicidade como um traço importante nas línguas humanas, gestuais ou orais, e refere-se que a linguagem gestual da comunidade pode determinar a maneira de representar os objetos:

The results do allow an evaluation of the overlap in preferences in the gestural environment and in the SLs emerging in it. The results from Padden et al. (2013) for Al Sayyid Bedouin SL and American SL suggest that the patterning in these SLs is independent from that in their gestural environments. In contrast, Nyst (2019), discussing the results for size depiction in the lexicons of four West African SL and three SLs of European origin and their gestural environments, shows that there is a direct correlation between the patterns in the iconic use of the hand in SLs and their gestural environments. Moreover, the patterning observed suggests that West Africa functions as one type of gestural area (with all hearing, non-signing participants using body -based size and shape gestures), and the UK and the Netherlands as another one (with no hearing participants using body-based size and shape gestures), and France and Macedonia as a third one (with older hearing participants using body-based size and shape gestures, and younger ones not). In contrast, the present study finds no evidence for a coherent areal patterning: LaSiMa shows a preference for handling handshapes, LGG and LaSiBo demonstrate no significant preference, and AdaSL, NanaSL and GSL show a clear and significant preference for object handshapes. We do see some regional patterning, however, on a smaller scale; all three Ghanaian SLs pattern more or less alike, with a clear preference for object depiction. Thus, an explanation in terms of gestural environment may hold for a much smaller area, i.e. that of (Southern) Ghana (Nyst et al, 2021, p.20)

Amar pelos Dois 18 Esta extensa citação demonstra, tal como também é apontado pelos autores no decurso do artigo, que a linguagem gestual e as potencialidades da iconicidade são um campo de estudos que pre cisa de ser explorado e investigado. Todavia, tal como já Schembri afirmou no estudo a que nos temos vindo a referir, há uma poten cial relação entre iconicidade e MM: signers often incorporate types of movement into these constructions that closely imitate the motion contour and features of the real-world events (...) the relationship between the use of mimetic movement in signs representing the motion of people and objects and the imitative gestures of non-signers has also been the source of some contention (Schembri, p. 9) Em outros estudos, nomeadamente os de Golden Meadow (2017) descreve-se que os utilizadores de línguas visuais também usam linguagem gestual, como apoio ao discurso, ancorada no corpo, na expressão facial e em determinados movimentos. Outros estudos reconhecem que o cérebro da pessoa surda, utilizadora de uma língua visual, atribui valor gramatical a determinadas expres sões faciais, algo que não corre com ouvintes também proficientes nessaDestalíngua.forma, verifica-se que distinguir entre o que é gramatical e significativo daquilo que é paralinguístico pode ser ténue na análise destes idiomas. Alguns destes traços miméticos contribui, de facto para o significado, como no caso que anteriormente apontámos relacionado com os verbos ir/vir, outros reforçam-no como tam bém veremos na execução gestual da nossa tradaptação. O que é inegável é que há um parâmetro, com ou sem base na linguagem

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Em trabalho anterior (Correia; Sousa; Oliveira, 2020) apresen támos alguns valores de ENM associados a formas verbais e locu ções temporais, mais concretamente, para representar a duração do Emevento.diversas línguas de sinais (Woll, 2009) a articulação de uma fricativa interdental semelhante ao [θ] comumente associado aos grafemas <th> do inglês atribui um valor de frequência, habitualidade ao verbo/expressão a que é associado. Veja-se os verbos VER e ASSISTIR (Correia, Oliveira & Sousa, 2020, p. 74). Consultando o spreathesign, verifica-se que o verbo VER não tem nenhum mar cador manual, mas ASSISTIR incorpora um marcador também presente em outros signos gestuais tais como advérbios que expri mem duração, por exemplo, FREQUENTEMENTE; ou noutros que para além da duração acrescentam que se prolonga no tempo, como é o caso de LENTAMENTE.

Assim, esta característica, ao que parece translinguística, é muito produtiva, também, na língua gestual portuguesa com distribuição similar ao que se observa noutros idiomas. Ainda que haja necessi dade de mais investigação sobre os valores gramaticais de ENM e Preview

A Língua Gestual Portuguesa 19 gestual, que contribui para o valor semântico e aspetual de algumas formas verbais, o uso da Expressão Não Manual (ENM). Ao contrário do que se verifica para alguns movimentos e localizações de mão, que podem não apresentar uma distribuição consistente, o uso de determinadas ENM é fixo e possui valores claros, conforme esteja agregada a nomes, adjetivos ou verbos. 1.3. Expressão Não Manual e duração aspetual.

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