Amor Incondicional

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Amor Incondicional

A vida de um pequeno herói

Isabel Soares

FICHA TÉCNICA

título: Amor Incondicional. A vida de um pequeno herói

autora: Isabel Soares

edição: edições Virgula ® (Chancela Sítio do Livro)

revisão: Ângela Espinha

arranjo de capa: Ângela Espinha

paginação: Alda Teixeira

1.ª Edição Lisboa, agosto 2024

isbn: 978-989-8986-85-6

depósito legal: 532722/24

© Isabel Soares

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publicação e comercialização: www.sitiodolivro.pt publicar@sitiodolivro.pt (+351) 211 932 500

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À minha filha Jéssica

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Enquanto passeava harmoniosamente pelas ruas estreitinhas de Vila Nova de Mil Fontes, uma região na parte meridional do Alentejo, olhava tranquilamente as árvores despidas em pleno outono.

As ruas estavam desertas e o silêncio era protagonista.

As estradinhas cobertas de folhas, o céu acinzentado, mas a tranquilidade e serenidade enchiam-nos de uma esplêndida paz interior.

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No parque passeava um casalinho de idosos, ambos de bengala mas que de braço dado conversavam discretamente.

— Bom dia, Professor! — alcunha com que me conheciam todos ali na vila, visto ser um professor de matemática no liceu científico.

Dentro de mim pensava: “mas que maravilha a paz que se respira, longe do stress e nervosismo da vida quotidiana, onde as pessoas se saúdam sem nunca se terem visto... Onde se compartilha o guarda-chuva em caso de necessidade.

Onde a panela da sopa feita pela Dona Piedade, ao sábado de manhã, se divide pelos vizinhos.

Dentro da sua malinha não lhes faltava o termo com o café de cevada que compartilhavam com os restantes companheiPreview

Tudo escorre tranquilamente sem pressas nem nervosismo, sem luxos nem vaidades, vive-se o dia a dia na máxima tranquilidade.

Além de ser uma região onde 80% população vive na pobreza, existe sempre um ar de humanidade entre as pessoas.

A vida quotidiana expirava uma paz profunda, pessoas que se saúdam com o bom dia todas as manhãs na paragem do autocarro. O motorista quase sempre o mesmo, já tinha agarrado uma certa confiança com os passageiros, e a viagem até ao trabalho passava-se em alegria e ótima companhia.

A padaria acabava de abrir, emanando um ótimo perfume de pão fresco. Alguns desciam, onde em grande corrida iam buscar pão e tomavam o pequeno-almoço dentro do autocarro.

ros de viagem. Éramos uma família não de sangue mas muito afetiva.

O Sr. Manuel, conhecido por Necas, pastor de confiança, tinha por hábito trazer sempre queijinho e leite fresco das suas ovelhas.

E esta era a rotina que nos acompanhava há mais de vinte anos.

Um dia pela madrugada, enquanto atravessava o jardim da cidade, avistei um pequeno animal, mas tão pequeno que o confundi com um rato e não dei importância, dando-me quase nojo e fastio. Ignorando-o, segui o meu caminho, até porque estava tudo coberto de neve e estava um pouco atrasado.

No dia seguinte, inesperadamente repetiu-se a mesma situação, e por curiosidade aproximei-me e vi que não era nenhum rato mas, sim, um pequeno cãozinho abandonado, um animal ternurento de pelo castanho-claro, olhos escuros esbugalhados, magro, com as perninhas arqueadas, olhos cheios de infeção, com as orelhinhas caídas, e com um pelo que parecia arame farpado.

Via-se bem que não era um animal de estimação, e que se desaparecesse, ninguém o procuraria nem sentiria a sua falta.

Como de costume, sentei-me a fumar o cachimbo, naquele banquinho de madeira com duas travessas a menos mas que já considerava meu, e no meio de uma grande multidão de gente que passava, este pequeno cachorrinho encaminhou-se para mim, parecendo conhecer-me de uma vida… porquê para mim?

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Imagem 3 Que estranho, o cão vem ao meu encontro!!

Via-se que não era por maldade nem raiva, mas simplesmente muito carente de amor e carinho.

Continuei a andar, ignorando aquele pequeno cachorro, mas ele não desistiu de me seguir.

Chateei-me....

Ufa! Mas que quer de mim este cão? Não tenho tempo a perder, pensava, bufando para mim mesmo.

— Tens fome? Andas perdido? Abandonaram-te?

E o pequeno animal olhava-me fixo nos meus olhos, com vontade de explodir os seus sentimentos.

— És sempre um cão abandonado… possa apanhar eu alguma doença.

Tentei ver se tinha microchip, mas não tive coragem pois o cão cheirava tão mal...

Dirigi-me a casa, sem nunca mais pensar naquele animal, sacudindo-me continuamente, tinha a sensação de que me tinha deixado o casaco cheio de pulgas, mas desta vez preocupado, pois coitadinho precisava tanto de ajuda.

No dia seguinte, voltando para o trabalho, passei novamente naquele parque, e novamente aquele pequeno cachorro girava... girava sem destino…

— Ainda aqui andas, malandreco?

E com um ar triste, o pequeno enrugava as orelhas para o lado, inclinando a cabeça.

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— Espero que encontres dono, começo-me a cansar de te ver sempre aqui atrás de mim… ouviste?

Sentei-me no jardim, e o pequeno apoiou a cabeça nas minhas pernas.

Ufa, és chato e teimoso, estás-me a sujar as calças... provavelmente terás pulgas e piolhos... cheiras mal.

Tristinho e assustado, afastou a cabeça e deitou-se ao meu lado no chão.

O cheiro que emanava era tão intenso que troquei de lugar. Passados três minutos, já estava novamente ao meu lado.

Bem… assim não dá mesmo! Terei de cruzar o caminho.

Naquele preciso momento, passam dois garotos com boné na cabeça e brinquinho na orelha que todos os dias frequentavam o parque, aproximando-se de nós, exclamam:

— Ninguém lhe dá confiança, é um achadiço e não vale nada…

Palavras que me comoveram profundamente. «Não vale nada» pode-se dizer a um objeto, mas não a um ser vivo... a uma inocente criatura.

Enquanto abria um pacotinho de bolachas, ele limpava todas as migalhas que caíam no chão.

Ah, tens fome?

O pobre animal era magríssimo, desnutrido, com as costelas de fora, malcheiroso e com o pelo todo aos nós.

Vou à minha mochila, tiro uma garrafinha de água, da qual caíram duas gotas nos meus botins, e o pobre coitado lambeu-as de imediato…

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Deu-me pena, tentei romper a garrafa ao meio a fim de lhe poder dar água e dei-lhe as bolachinhas que sobravam do pacote.

Em dois segundos, engoliu as bolachas, sem sequer as mastigar e a garrafa ficou completamente vazia, tal não era a sua sede.

Virei-me para ele e disse:

— Por muito que não sejas um animal de estimação, e para os humanos não vales nada, não terás brinquedos, nem serás visitado por um veterinário, não terás o teu banho e nem ração, mas terás sempre todo o direito à vida como qualquer ser vivo.

E quase como quem queria agradecer, afastou-se um bocadinho de mim e sentou-se a meu lado, mas sempre com os olhos fixos em mim.

— Eu dou-te de beber, mas não me deves lamber, és um cão e deves-te comportar como tal!

Aborrecido, limpei-me com uns toalhetes e abandonei o local.

Vou ter de mudar de estrada, ou caso contrário pedirei ao meu empregado que o leve para um canil.

Passaram-se quinze dias…

Talvez o tenham adotado, talvez alguém o tivesse levado para um canil, ou quem sabe talvez até morrido…

Talvez a última, visto que os garotos no parque até se divertiam a dar-lhe pontapés, servia de bola para eles, algo de muito triste, mas que fazia rir muito aqueles pais sem coração.

Não me saía do pensamento aquelas tristes palavras daqueles garotos («Não vale nada!») ...

Era um animal que daria tanto em troca de tão pouco...

Era um ser vivente com um coração muito superior a todos aqueles seres humanos.

Curioso, pensei passar novamente pelo parque e, no meio da tanta gente, o pequeno cachorro correu novamente desesperado ao meu encontro, como se estivesse cheio de saudades... orelhinhas no ar e o rabinho a dar a dar, de tanta alegria, saltaricando de eufórico.

— Ainda andas por aqui, maroto?

Saltava, saltava, manifestando toda a sua felicidade de me ter reencontrado.

Tento-o acariciar... e fiz caso que estava ferido, deitava sangue de esguicho pela boca e tinha uma perninha partida.

— Ó pobre, estás aleijado?

E com um ar ternurento e olhinhos padecentes faz um movimento com a cabeça.

O que te aconteceu?

Deitado no chão ao seu lado, estava um pobre sem teto, embrulhado num cobertor, com apenas a cara de fora, respondeu:

Senhor, esse cão foi mal tratado, deram-lhe pancada com aquele pau de eucalipto para que ele saísse daqui, mas ele esperava com ansiedade a sua vinda novamente.

Palavras chocantes, que me destruíram e me encheram o coração de lágrimas.

Este pobre está mal por minha causa, pois se o tivesse socorrido a tempo, nada disto teria acontecido. Ele começou a amar-me em troca de um pouco de pão e água. A mim não me fez falta, mas talvez a ele lhe tenha salvado a vida. Nós, seres humanos, não somos competentes em compreender que estes seres também sofrem assim como nós.

Tentei puxar por ele.

Vamos correr?

Mas ele não deu luta, tristinho ficava para trás e manquejava, pois a outra patinha estava completamente deslocada e não a conseguia mexer. Não tive coragem de o abandonar.

— Mas como posso levar-te? O que posso fazer por ti?

Talvez a resposta àquela afirmação («Não vale nada!») ...

Via-se que tinha dores, pois cada vez que pegava nele, chorava…

Quem sabe há quanto tempo estaria assim, e nunca ninguém lhe prestou socorro.

Junto da lixeira, estavam caixotes de cartão vazios, agarrei num deles e delicadamente meti-o dentro.

Coitadinho, nem sequer se queixava.

Fechei-o, deixando-lhe um buraquinho para que respirasse, e meti-o dentro da bagageira do carro.

De vez em quando, ouvia-se gemidos de dores.

Calma, estamos a chegar, irão curar-te e brevemente serás um cãozinho forte e saudável.

E como resposta, o pequeno ladrava, ainda com voz infantil, pois, pela aparência, não teria mais que três meses de vida.

Chegámos, peguei-o ao colinho e dirigi-me ao consultório veterinário.

As pessoas olhavam umas para as outras, bufando, como se o animal lhes desse nojo, mas eu dentro de mim começava a amar aquele pequeno animal, tão meiguinho e humilde.

Nome do cão? —- perguntou a rececionista.

Na... não... não tem nome… — respondi gaguejando.

Não é identificado o animal?

Não, é um pobre achadiço…

— Vamos ter de lhe dar um nome, para podermos fazer o registo.

— Dy... sim, Dylan... passara a chamar-se Dylan!

— Como assim?

Lembra-me um mendigo, sem teto, que vivia na minha rua, desprezado por todos, passava dia e noite debaixo de sol e temporais, mas sempre bem disposto e com um coração que explodia de amor. Tal qual este cachorrinho….

Lá por trás, ouve-se uma voz de gozo:

— Olha Dylan.... ahahah!! É um achadiço mas tem o privilégio de ter um nome inglês! — exclamaram às gargalhadas dois jovens.

Como se tivessem sido muito engraçadinhos, todos se riram das suas piadinhas ali no consultório.

A rececionista acariciou o animal e diz:

A partir hoje passarás a ser um cão como qualquer um, e com um nome próprio, ouviste Dylan?

Enquanto todos os outros brincavam na sala de espera, Dylan estava triste e imobilizado, com a cabecinha apoiada nos meus braços.

Ao microfone chamaram o nome de Dylan, mas Dylan desconhecia que fosse esse o seu nome próprio.

Vá Dylan... vamos lá... somos nós!

Enquanto caminhávamos pelo corredor, conversava com ele.

Dylaan… Dylan é o teu nome... Dylan.

Quando entrámos, o veterinário começou por limpar e desinfetar o pequeno, eliminando-lhe pulgas e carraças.

— Professor, o Dylan, foi agredido a murros e pontapés, esperamos só que não tenha nenhuma hemorragia interna! — exclama preocupado o veterinário.

As lágrimas corriam-me pelo rosto…

Como é possível fazer algo assim a um animal indefeso?

A boca rasgada terá que levar pontos e a patinha vai ter que ser operada e engessada.

Depois de vários exames médicos detetaram que internamente não tinha nada de grave, mas que iria necessitar de ficar hospitalizado pelo menos três ou quatro dias.

— Aqui vem o grande problema… o Dylan vai precisar de tratamento médico, pelo que não poderá ser deixado ali sozinho ao abandono no parque…

E o que posso fazer?

Achei que a única solução era levá-lo para um canil.

— Vou arriscar, mas tu vais comigo, a estrada que irei percorrer será percorrida pelos dois.

Chegados ao canil, estacionei o jeep e retirei a caixa de papelão onde o pequeno já tinha adormecido.

— Bem vindo, Dylan! Acabámos de dar para adoção um cãozinho cego com o mesmo nome, Dylan, belo nome! Preview

Enquanto pousei a caixa no chão e tentei pedir informações sobre o local, a nova pensão para o pequeno, este saiu da caixa e começou a chorar, entrando novamente para o carro.

Acariciando-o, tentei consolá-lo.

De hoje para a frente, não serás mais um cão abandonado e nem vou permitir a ninguém que te faça mal…. ficarás aqui, onde terás água e comida e alguém que tome conta de ti, e te trate como um ser vivo.

Em frente do grande portão do canil encontrava-se o porteiro que nos recebeu com muita simpatia, disponibilidade e carinho.

Nome?

Dylan!

— Foi um nome escolhido assim de repente, mas acho muito adequado a ele.

— Vamos lá, Dylan!

Mas o cachorro ainda não respondia ao nome que lhe tinha sido dado no dia anterior.

Vamos, Dylan, vamos conhecer a tua nova residência.

Assustado, o pequeno ficou imóvel e preocupado.

Virei costas e Dylan desatou a latir desesperado, seguindo sempre os meus passos.

Foi a primeira vez que senti uma enorme dor de o ter deixado fechado com pessoas desconhecidas e animais ao qual não estava habituado, mas dentro de mim, achava ter feito a coisa justa, sempre estava melhor dentro de uma casota do que ao abandono pelas ruas da cidade onde faziam dele uma bola de pingue-pongue.

Voltei para casa, feliz por lhe ter dado um teto, pois aquele tenro e doce cãozinho bem merecia.

Enquanto esperávamos os garotos para jantar, eu e a minha esposa pegámos num copo de whisky e sentámo-nos num banquinho de bambu no jardim onde discutimos sobre as férias de inverno. Era sempre um tema de contradição, pois nunca se chegava a um acordo, eu preferia montanha, pois sei quanto os miúdos adoravam brincar na neve, enquanto ela optava sempre por países exóticos, isto é, países quentes. Preview

Sabia perfeitamente o quanto ela odiava animais dentro de casa, ou mesmo no jardim, pelo que não tive sequer coragem de lhe tocar no assunto “Dylan”. Mas dentro de mim, não me saía do pensamento o meu pequeno amigo.

O melhor amigo que um homem podia ter…

O telefone toca.

Estou sim!

É o Professor Pascoal?

— Sim, sou eu mesmo, respondi aterrorizado, parecendo adivinhar que era do canil.

— Aqui fala do canil, queríamos informá-lo de que o Dylan, desde que o senhor o deixou, ainda não tocou na comida, encontra-se imóvel de frente ao portão, ladrando e uivando ao barulho de todo e qualquer carro, sempre com a esperança de que seja o senhor.

Com raiva rebentou a portinha da casota, sendo assim pequenino não imaginávamos que tivesse toda esta força e pudesse reagir assim deste modo.

É um animal em sofrimento cheio de tanta raiva…

Os cães são animais sociais que sofrem com a solidão.

O sentimento de isolamento social é penoso e por isso o animal evidencia todos os esforços para atrair companhia.

Fiquei em silêncio, mas dentro de mim todo eu tremia…

Ouviu, Professor Pascoal?

S... si… sim ouvi... mas não sei que dizer… Tomarei providências o mais rápido possível.

— Agradeço a colaboração, um cão que consegue autocontrolar-se é um cão mais equilibrado e psicologicamente Preview

saudável, facilitando o convívio com os outros. É o que falta neste momento ao Dylan.

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Entretanto, os miúdos chegaram da escola e aperceberam-se imediatamente de que eu não estava de bom humor.

— O que se passou, papá? — perguntou Eva preocupada.

Passando as mãos pela cabeça respondi: Está tudo bem, filha, estou apenas um pouco exausto depois de um longo dia de trabalho.

Mas os miúdos não se convenceram, olhando seriamente um para o outro.

Não consegui esconder e comecei a soluçar, preocupando ainda mais os miúdos.

Pousei o telefone, sem sequer desligar.

Emocionado, resolvi contar-lhes o que estava acontecendo.

Os miúdos insistiram para que os levasse ao canil para conhecerem o Dylan.

Durante todo o dia não me deram paz, até que resolvi contentá-los.

Vão, mas não se iludam porque assim como nós vivemos nesta vivenda, os canis foram idealizados para eles. — responde a mãe muito autoritária.

Os miúdos fizeram uma carinha zangada pois esperavam o apoio da mãe, tentando consolar o pai que estava desesperado.

Papá, tem calma, iremos ajudar o Dylan. — exclama o miúdo.

Vamos fazer dele um animal feliz. — diz a Eva.

— Seria bom, meus amores, ele bem merecia, dá tanto por quem por ele nada faz... e chorava…

Os garotos eufóricos gritaram:

— Vamos!

— Vamos!

— Tenho medo de o ferir ainda mais, iludindo-o com a minha presença e depois abandoná-lo novamente. Isto significaria brincar com os sentimentos do Dylan.

Papá, aqui parados não resolvemos absolutamente nada, enquanto o Dylan continua a sofrer. — diz Eva.

Apesar da teimosia das crianças não tive coragem para o ir visitar. Tentei convencer-me de que com o tempo ele se iria habituar e ser feliz, tal como quando deixamos uma criança no infantário e que chora pelos pais nos primeiros dias, mas depois acaba por se habituar.

Passados dois dias, o proprietário do canil telefonou novamente, mas desta vez com uma notícia ainda mais desagradável.

«O que seria desta vez?», pensei para mim mesmo.

Sr. Pascoal, tenho a informá-lo de uma triste notícia. Na noite passada, o Dylan conseguiu romper a rede e fugiu do canil. Antes de lhe darmos esta triste notícia, tentámos procurá-lo, mas sem êxito… o pequeno talvez tenha sido roubado enquanto percorria a floresta, que como sabe é bastante perigosa.

Arrefeci... e em alta voz e com um tom bastante nervoso respondi:

Não, não acredito, isso é incompetência profissional! Eu quero o meu Dylan de volta o mais rápido possível.

— Compreendo, Professor, o quanto é desagradável. Nunca passámos por uma terrível situação destas.

Tonturas, tanta confusão e desespero bloquearam-me ao ponto de nem sequer responder.

Desliguei o telefone, deixando cair o auscultador.

Desta vez, não chorei somente eu, também os meus filhos que apesar de nunca o terem visto, já estavam muito afeiçoados ao Dylan.

Vamos à procura dele! — disse o Mirko.

Vá lá, cada um segue um caminho diferente e iremos encontrá-lo! — exclamou a Eva.

Os garotos desorientados começaram a correr sem destino chamando-o incessantemente:

— Dylannnn...

— Dylan, onde estás?

Dylan, por favor, respondeeeeee… — gritavam ecoando as suas palavras pela floresta.

Mas o pequeno, mesmo que estivesse por perto ainda não respondia ao seu nome.

Passámos dia e noite a procurar por este pequeno animal, mas sem notícias. Tinha mesmo desaparecido e nada mais havia a fazer.

Cansados de tanto andar, suados e destruídos, depois de termos percorrido toda a floresta, sentámo-nos os três à beira do lago, onde pensávamos que pudesse ter caído e morrido afogado.

Voltámos para casa, tristes mas rezando que, onde quer que estivesse, tivesse alguém que se ocupasse dele por bem…

— Papá, não te deves sentir culpado, fizeste o teu melhor. — afirmou a menina.

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