Até ao lavar dos Cestos - Doçuras e Agruras da Terceira Idade

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FICHA TÉCNICA

título: Até ao lavar dos Cestos – Doçuras e Agruras da Terceira Idade

autor (Texto e Ilustrações): Zépestana

edição: edições Vírgula ® (Chancela Sítio do Livro)

grafismo de capa: Ângela Espinha

paginação: Alda Teixeira

1.a Edição Lisboa, junho 2024

isbn: 978-989-8986-86-3

depósito legal: 533330/24

© José pestana

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VITA BREVIS, CARPE DIEM

Não há ninguém, no seu perfeito juízo, que não se resigne (que remédio!) a esta irrefutável verdade: todos somos perecíveis e biodegradáveis.

Diz o povo: ninguém fica para semente. E diz mais: Ninguém quer ser velho nem morrer novo.

E ainda: Quem de novo não morre, de velho não escapa.

Com raras e afortunadas excepções, a velhice não é um céu sem nuvens.

O envelhecimento, pródigo em transtornos, traz consigo um pesado caderno de encargos e um extenso rol de dissabores.

Definitivamente, a velhice não é para meninos.

Mas não adianta carregar nas tintas, comparando-a a um cortejo de horrores ou representando-a como um sombrio caminho de pedras, aflitivo vale de lágrimas ou medonho cabo das tormentas.

Citando Maurice Chevalier, “a velhice não é assim tão má quando se considera a alternativa”.

Excepto, claro está, para quem interprete ao pé da letra a enganadora expressão “ir desta para melhor”.

Na eterna discussão metafórica sobre o copo meio vazio ou meio cheio, importa frisar as benesses, realçar os proveitos e sublinhar algumas vantagens que esta fase da vida propicia.

Afinal, como cantavam os “Tremeloes” nos saudosos anos sessenta, “Even the bad times are good”.

Quando as circunstâncias permitam, os mais idosos (”cronologicamente sobredotados”, na novilíngua inclusiva) não têm de jazer enroscados, a marinar numa poltrona reclinável, de roupão e pantufas, ronronando e resmungando, definhando lentamente, macilentos como zombies, numa letárgica espera pelo último suspiro, pelo derradeiro fanico, pelo decisivo tranglomango.Preview

E no entanto há quem, chegada a reforma, se demita de viver plenamente, quando se esperaria que festejasse, com a alegria dos escravos alforriados, a libertação de horários e compromissos, a possibilidade de finalmente laurear a pevide e de se dedicar ao que lhe der na telha, fazendo uso de todas as faculdades ainda disponíveis.

É então que verdadeiramente se percebe quão precioso é o tempo e quão absurdo se torna desperdiçá-lo.

A vida, convenhamos, é demasiado breve. Em menos de um fósforo, passa do alvorecer ao crepúsculo, da “quentura do ventre à frigidez da agonia”. (António Gedeão)

Mais prosaicamente: num piscar de olhos, transitamos da consulta do pediatra, de cueiros no rabo, para a sala de espera do geriatra, apoiados numa bengala.

Bem-aventurados os que chegam à velhice, porque a muitos, que ficam pelo caminho, não é concedido esse privilégio.

Quero crer que não resulta de mero acaso a quase homofonia entre “provecta idade” e “aproveita a idade”.

Nem que é fortuita a polissemia da palavra “jubilação”, tão depressa significando reforma por limite de idade como intenso contentamento.

A velhice não tem de ser insípida e triste, uma sucessão de dias iguais, malbaratados e enfadonhos.

Até ao lavar dos cestos é vindima!

Não é que, de quando em quando, não nos possamos lembrar do fatal desenlace, do inelutável óbito, recordando Sinatra: “the end is near”.

Eu próprio sonho, volta e meia, com o bater da bota: gostava que acontecesse comigo a dormir, com um sorriso nos lábios e rodeado pelos netos dos meus bisnetos.

Mas até lá, enquanto o pau vai e vem, dando folga às costas, abracemos com ânimo, para o resto dos nossos dias, o refrão de um velho tango de 1942:

“La vida, hay que vivirla!” Preview

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Para muitos, a idade avançada traz um revigorante bónus, na forma de incansáveis espalha-brasas e adoráveis diabretes de palmo e meio.

Com licença do poeta, “parecem bandos de pardais à solta”, insuflando ânimo, alegria e uma lufada de ar fresco na rotina pardacenta dos mais velhos.

São os netos. Quem os tenha, passa na vida por três infâncias: a sua própria, a dos filhos e a dos netos.

Esta experiência acumulada faz dos avós os melhores babysitters, sempre disponíveis para vestirem, de quando em quando, a pele de pais sobresselentes, com doses de paciência, flexibilidade e tolerância que só a madura idade propicia. Não falta, por isso, quem severamente comente: quando os avós entram pela porta, a disciplina sai pela janela.

Garante um provérbio africano: “é preciso uma aldeia para criar uma criança”. Significa que o equilibrado desenvolvimento dos filhos beneficia de não ser confiado apenas aos progenitores.

É neste quadro de complementaridade que o papel dos avós, quando não se considerem meros distribuidores de peluches e guloseimas, ganha importância.

O regular convívio entre netos e avós promove, além da troca de afectos, o desenvolvimento emocional e cognitivo dos mais novos, propicia a partilha de memórias de família e fortalece os laços entre gerações.

Os netos mimam os avós com carinho e ternura, desmentindo a crença pessimista de que só “quem gosta de velho é o reumatismo”.

A relação entre avós e netos beneficia ambas as gerações. Os avós, sentindo-se úteis como agentes de socialização das crianças, às quais transmitem conhecimentos, valores e padrões de comportamento. Encorajando-os, por exemplo, a usar o guardanapo em vez das mangas para limpar o Tulicreme dos beiços. Os netos, por sua vez, empenhados na alfabetização digital dos mais idosos, convertidos em internautas caloiros, capacitando-os para melhor se ajustarem à vida contemporânea, ensinando-os a manusear o computador, a lidar com os telemóveis e a bisbilhotar nas redes sociais. Preview

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