Diálogos de Meninas

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Pr Tradução e introdução de Gonçalo de Barros Carvalho e Mello Mourão

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TÍTULO:

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FICHA TÉCNICA Diálogos de Meninas Luciano de Samosata EDIÇÃO GRÁFICA: edições Virgula® (Chancela do Sítio do Livro) AUTOR:

Alda Teixeira Ângela Espinha

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PAGINAÇÃO GRÁFICA: ARRANJO DE CAPA:

1.a edição, Lisboa Agosto, 2019

978-989-8986-00-9 459097/19

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ISBN:

DEPÓSITO LEGAL:

© GONÇALO MELLO MOURÃO

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Todos os direitos de propriedade reservados, em conformidade com a legislação vigente. A reprodução, a digitalização ou a divulgação, por qualquer meio, não autorizadas, de partes do conteúdo desta obra ou do seu todo constituem delito penal e estão sujeitas às sanções previstas na Lei.

PUBLICAÇÃO:

www.sitiodolivro.pt publicar@sitiodolivro.pt (+351) 211 932 500

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Introdução

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Vida breve de Luciano

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Na antiga cidade de Samosata, situada no que é hoje a Síria, nasceu Luciano por volta do ano de 125. Depois de muito viajar – Oriente Médio, Grécia, Egito, Gália e Roma – terá finalmente morrido, talvez no Egito, por volta do ano 190. O pouco que se sabe de sua vida, é apenas o que ele próprio declara ou deixa entrever ao longo de sua variada obra, de que 81 livros nos chegaram inteiros. Depois de uma breve e malfadada tentativa de se iniciar na escultura, no ateliê de um tio, Luciano teria sido enviado pelos pais estudar na Jônia e terá iniciado sua vida profissional como advogado em Antióquia, que na época era uma importante e rica cidade no oriente do Império romano. Sua verdadeira vocação, entretanto, era a retórica e a filosofia e logo se mudou de Antióquia para Atenas, onde começou a fazer fortuna como orador. Fez sua viagem a Roma, ao que parece premido pela necessidade de consultar um famoso oculista, e terá vivido algum tempo na Gália – o que é hoje a França – onde teria acumulado alguma fortuna ensinando retórica. Voltou então a Samosata, para mostrar sua riqueza em sua terra, e retornou logo para Antióquia. Mas sua paixão parecia ser mesmo Atenas, que ainda era a brilhante capital da cultura e da novidade intelectual, e para lá voltou, onde então viveria durante cerca de vinte anos, dedicando-se, mais que à sofística e à retórica, à filosofia moral e ao desmascaramento dos muitos charlatões que naquela época de fim de deuses se diziam filósofos e santos. Finalmente, premido talvez 7

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por necessidades financeiras, mudou-se com a família – sabe-se que teve pelo menos um filho – para o Egito, onde arranjou um emprego na alta administração imperial. Lá, ao que tudo indica, terminaria por falecer, pouco antes de 192, na esperança de vir a ocupar um cargo ainda mais elevado, a que almejava. Luciano deixou-nos uma das mais interessantes obras daquele século em que principia, implacavelmente, o que poderíamos chamar de fim do paganismo. Convivendo com o início da expansão do cristianismo – que aliás em um texto satiriza, e que via como mais uma seita oriental das muitas que começavam a pulular por todo o Império – Luciano é ainda um pagão crente. Mas já está imbuído de um ceticismo irreverente que faz com que muito pouco do sistema religioso dos deuses e heróis resista a seu implacável anticharlatanismo em todos os níveis, e sobretudo aos níveis religioso e filosófico, mas também literário. Pelo que nos restou de sua obra, seu programa de vida parece ter sido mesmo o de denunciar e ridicularizar implacavelmente os falsos filósofos e falsos profetas que naqueles dias proliferavam. Aquela é, porém, apenas uma faceta de seu espírito múltiplo. Para se ter uma idéia da riqueza intelectual de Luciano, basta indicarmos que é dele que nos chega, desde a antiguidade, o primeiro texto literário que pode ser considerado como um texto de ficção científica – a "História Verdadeira", em que o narrador viaja até a lua e combate contra os habitantes do sol – é dele a primeira autobiografia – intitulada "O Sonho ou A Vida de Luciano", em que nos conta como um sonho determinou seu encaminhamento na vida – é dele um dos primeiros tratados críticos de história – "Sobre a maneira de escrever a História" – ademais de vários pequenos textos retóricos e graciosos como, por exemplo, um "Elogio da Mosca", uma defesa do parasitismo social, um "Diálogo das Vogais" e, sobretudo, a deliciosa novela erótico-picaresca que conta as aventuras de "Lúcio ou o asno". Finalmente, ao lado de várias pequenas digressões filosóficas em forma de diálogos à maneira de Platão, Luciano escreveu ainda quatro coleções de Diálogos breves – "Diálogos dos Deuses", "Diálogos Marinhos", "Diálogos dos Mortos" e estes Diálogos que aqui se traduzem – onde deixa consagrado para a posteridade um gênero único de peça literária que seria explorado por muitos outros ilustres escritores do ocidente cristão mas nenhum, ouso dizer, imbuído do frescor e da genialidade dos instantâneos de Luciano. 8

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Estes diálogos

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Diálogos de Hetairas, Diálogos de Cortesãs ou simplesmente Diálogos de Putas ? Talvez o mais correto, no Brasil hoje, seria chamar estas peças de Diálogos de Meninas de Programa, na falta entre nós do que parecem ter sido as "hetairas" da sociedade grega, tal como Luciano as apresenta nestas peças breves. Muito se tem escrito sobre aquelas "hetairas", que seriam mulheres – meninas mas nem sempre – que se prostituíam não apenas por sexo mas também por intensa companhia, e que tanto seriam adolescentes ingênuas quanto escoladas senhoras. Era com as "hetairas" que os jovens da melhor sociedade ateniense se iniciavam não apenas na vida sexual mas na convivência com as mulheres, e aquela convivência, inclusive, muitas vezes continuava paralelamente ao matrimônio. Debatem os estudiosos sobre se estes diálogos teriam sido escritos para serem representados teatralmente ou apenas lidos literariamente. Isso na verdade pouco importa, a não ser pelo fato de que tal dúvida revela com mais contundência a riqueza do que foi acabado por Luciano. Esses "Diálogos" são de fato rápidos esquetes, que condensam a essência da teatralidade, com a construção de personagens e de situações. Não são peças, pois os personagens não têm antes nem depois, só durante, e falta sempre, também, um desenlace. Não são satíricos ou filosóficos, como os seus "Diálogos dos Mortos", nem essencialmente cômicos, mas fixam situações de vida onde a grandeza e a insignificância dos pequenos problemas do dia-a-dia daquela gente comum assumem as proporções do que chamaríamos hoje tragicomédia. Por exemplo, o espanto da jovem do sexto diálogo quando a mãe – que a está também "iniciando" na vida – lhe explica que ela deve ser gentil não só com jovens belos, como aquele com quem dormira sua primeira noite, mas sobretudo com velhos e feios, pois são os que melhor pagam. São trágicas a surpresa e a inocência da menina, mas não deixam de ser também cômicas. Luciano não situou estes diálogos no tempo, e eles se desenvolvem em uma Atenas estereotipada em um momento qualquer do passado algo remoto. Apesar de em um ou outro diálogo haver referências a fatos e pessoas que os pudessem situar nos tempos dos primeiros sucessores de Alexandre Magno, esta parece mais, na verdade, ser uma astúcia literária para "destemporalizar" a 9

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obra. É essa "destemporalização" que a torna ainda hoje atual, pois ao dialogar com outros tempos da Grécia, estes diálogos o fazem também com o nosso tempo.

Esta tradução

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A língua de Luciano é fácil e seus personagens aqui são o que se costumou chamar de gente do povo. Além das "hetairas" e suas mães – "hetairas" novas e "hetairas" velhas – , são jovens “filhinhos de papai”, rudes homens do campo, militares, escravas e escravos, comerciantes, gente assim, que não se importa muito com a rigidez das normas gramaticais e das colocações pronominais e da riqueza vocabular, mas que é muito direta e objetiva no falar e diz o que pensa com grande naturalidade e força expressiva. Tentei refletir, da melhor maneira que pude, aquela naturalidade, sem acrescentar nada – nenhum conceito, nenhuma imagem, nenhum exagero ou simplificação – , nem tirar nada, de modo a que os diálogos se desenvolvessem fluidos numa língua corretamente popular. Transplantei de Atenas para o Rio de Janeiro os personagens e fiz, aí sim, as únicas mudanças que fiz, nos seus nomes e nos nomes dos lugares que citam, além de outras ínfimas adaptações naturais como usarem reais e não dracmas, alguém tocar violão e não flauta e os deuses gregos serem substituídos por Nossas Senhoras ou Iemanjás ou outros santos do nosso panteão popular. Cabe uma advertência quanto aos nomes dos personagens. Algumas das traduções que pude compulsar em outras línguas traduzem os significados dos nomes gregos para nomes com significados aproximados em suas respectivas línguas, com resultados por vezes, a meu ver, duvidosos, pelo que contêm de artificialidade. Ocorre que os nomes próprios que Luciano atribui a seus personagens, em grego, se por vezes têm significados que podem ser captados pelos leitores originais, são também, entretanto, no caso destes diálogos, em sua esmagadora maioria nomes próprios correntes naquela língua ; por exemplo, logo no primeiro diálogo, as personagens são Glicera e Taís, que em grego transmitem, respectivamente, as noções de doce, doçura, e brilho, brilhante. Ora, traduzir por Doçura ou Docinho e por Brilhante ou Luminosa, seria artificial, pois nem entre prostitutas – é o que me dizem – tais nomes 10

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existem. Optei, então, por aproximações e, nesse caso, por exemplo, chamei as duas de Mel e Luciana. No original não há qualquer referência à entonação na fala ou a mudança de interlocutor a quem o personagem que fala se dirige. Mantive essas ausências e espero que o leitor atento perceba quando aquilo ocorre. Esta tradução foi feita com base no texto grego publicado, com tradução inglesa por M. D. Macleod, pela Harvard University Press na coleção da Biblioteca Clássica Loeb (volume VII das obras completas de Luciano naquela coleção). Cotejei, para compreensão ou apuração de algumas passagens e para mais me envolver nas diversas leituras contemporâneas de Luciano, as seguintes traduções : de Émile Chambry, publicada pela Garnier, de Paris, no terceiro tomo de “Lucien de Samosate, Oeuvres Complètes” (sem data) ; de E. Talbot, publicada na coleção “Les Phares”, da livraria Le François, de Paris, em “Lucien de Samosate, Dialogues des Courtisanes suivis de Lucius ou l’âne” (1946) ; de Pierre Louys, publicada na “Nouvelle Collection” da livraria Borel, de Paris, em “Scènes de Courtisanes de Lucien” (1902) ; de Pierre Maréchaux, publicada pela Arléa, de Paris, em “Dialogues des Courtisanes suivi des Amours et de Toxaris” (1998) ; anônima, mas com apresentação e notas de B. de Villeneuve, publicada na coleção “Les Maîtres de l’Amour” da Bibliothèque des Curieux, de Paris, em “L’Oeuvre Amoureuse de Lucien suivie des Épitres Amoureuses d’Aristénète” (1913) ; de Ezio Pellizer, publicada na coleção “Il Convivio” da Marsilio, de Veneza, em “Luciano, Dialoghi delle cortigiane” (1995) ; e de Alessandro Lami e Franco Maltomini, publicada na coleção de clássicos gregos e latinos da Biblioteca Universal Rizzoli, de Milão, em Luciano, Dialoghi di Dei e di Cortigiane” (2001). Desconheço a existência de uma tradução destes “Diálogos” em português e, quando menos não seja, por isto mesmo espero a indulgência dos leitores curiosos que esta tradução tiver : a eles desejo, de resto, alguns momentos de prazer.

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Primeiro Diálogo dos Diálogos de Meninas

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de Luciano de Samosata

Mel e Luciana

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Mel Você se lembra, Luciana, aquele soldado da Bahia, que andava com a Lili e depois se apaixonou por mim, aquele todo bem vestido, se lembra, que usava uma capa ? Ou será que você já se esqueceu dele?

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Luciana Não ; como é que eu ia esquecer, Mel ? Nós até bebemos juntos no ano passado, no carnaval. O que foi que houve com ele ? Estou vendo que você tem alguma coisa para me contar. Mel Aquela malvada da Bruna, que diz por aí que é minha amiga, me roubou ele descaradamente. Luciana E então ele agora não quer saber mais de você e está só o tempo todo com a Bruna ? Mel É, Luciana, e isso que ela fez me deixa muito chateada. 15

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Luciana Foi mesmo um golpe baixo, Mel, mas não inesperado ; isso acontece bastante, entre meninas como nós. Por isso é preciso que você não se chateie muito nem fique culpando a Bruna ; mesmo porque, antes, a Lili não ficou furiosa com você por causa dele e vocês duas até continuam a ser amigas. Mas o que eu me pergunto é o que é que aquele soldado pode ter visto nela ; a não ser que ele seja completamente cego e não veja que ela tem os cabelos ralos em cima e muito entrados na testa, que os lábios dela são brancos, brancos e que o pescoço é descarnado e marcado pelas veias e que ela tem um narigão. A única coisa, é que ela é alta e esbelta e tem um sorriso muito sedutor.

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Mel Ora, Luciana, você está pensando que o baiano se apaixonou por causa das suas belezas ? Pois você não sabe que a mãe dela, a Doriana, é uma macumbeira, que conhece uns tantos passes e pode até fazer a lua cair do céu ? Dizem mesmo que ela voa pelos ares de noite. Foi ela quem fez o homem perder a cabeça, preparando uma poção para ele beber, e agora elas estão depenando ele. Luciana Pois você também, Mel, vai depenar alguém mais e vai gostar de um outro ; deixa isso prá lá.

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Segundo Diálogo dos Diálogos de Meninas

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de Luciano de Samosata

Camila, Gustavo e Doris

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Camila Então, Gustavo, você vai se casar com a filha daquele empresário, o Manuel ? Ouvi dizer até que já se casou ! E todas aquelas promessas que você me fez, todas aquelas lágrimas ? Num instante foi tudo embora e você agora já se esqueceu da Camila? E ainda mais agora, Gustavo, quando já estou grávida de oito meses ? Isso foi tudo o que eu ganhei com o teu amor, esta grande barriga que você me fez ; e daqui a pouco eu vou ter que cuidar de uma criança, o que é uma obrigação difícil para uma menina como eu. É, porque eu não vou entregar a ninguém o meu filho, sobretudo se nascer homem : vou chamar de Gustavo e guardar comigo, para me consolar do meu amor, e para que um dia ele culpe você pela maldade que você fez com a pobre mãe dele. E olha, tua futura esposa não é bonita. Há pouco tempo eu vi ela na feira, com a mãe, e eu ainda nem sabia que por causa dela eu nunca mais ia ver o meu Gustavo. Aliás, você antes deveria ter ido olhar bem para ela, ver seu rosto e seus olhos. Depois não vá se espantar se os olhos dela forem totalmente acinzentados e se ficam olhando um para o outro. Melhor, ainda, seria se você visse o Manuel, o pai da menina, e visse como é a cara dele : assim nem precisava mais ir ver a filha depois.

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Gustavo Ora, Camila, até quando eu vou ter que ouvir tuas bobagens sobre meninas e detalhes sobre casamentos com famílias de empresários ? E eu conheço lá alguma noiva que tenha o nariz chato ou que seja linda ? Sei lá se o Manuel, de Ipanema – pelo menos eu acho que é dele que você está falando – tem uma filha que já chegou agora na idade de casar ? Aliás, ele nem se dá bem com meu pai. Eu me lembro que há poucos dias meu pai processou ele por causa de um contrato. Acho que ele devia um milhão a meu pai e não queria pagar ; e meu pai levou ele ao tribunal marítimo e com muita dificuldade ele pagou e, mesmo assim, nem tudo, como o meu pai aliás não se cansa de repetir. E, mesmo que eu tivesse resolvido me casar, você acha que eu ia lá deixar escapar a filha do Póvoas, que foi comandante do exército no ano passado e que, ainda por cima, é minha prima por parte de mãe, só para me casar com a filha do Manuel ? De onde é que você tirou essa história ? Por que é que você mesma, Camila, inventa esses ciúmes bobos, como se fosse só para lutar contra uma sombra imaginária ?

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Camila Então você não vai se casar, Gustavo ?

Gustavo Você ficou maluca, Camila ? Ou então está de porre ? Se bem que ontem à noite nós até nem bebemos muito.

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Camila Foi a Doris, que está aqui, quem me deixou aflita. Eu mandei que ela fosse comprar uma cinta de lã para mim, para a minha barriga, e que fosse rezar para Nossa Senhora do Bom Parto por mim e ela me disse que encontrou por acaso a Ana Maria e . . . mas é melhor que você mesma diga o que foi que você ouviu, Doris, se é que você não inventou tudo. Doris Que eu me desgrace, senhora, se eu lhe menti. Quando eu cheguei na praça da República, encontrei por acaso a Ana Maria, toda sorridente, e ela me disse : "O namorado da tua patroa, o Gustavo, vai se casar com a filha do Manuel" ; e disse que se eu não acreditasse que eu julgasse por mim mesma indo dar uma olhadela na tua rua, 18

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que lá eu ia ver que ela estava toda enfeitada de coroas de flores, com banda de música, toda animada e com as pessoas todas cantando umas canções alegres. Gustavo E aí, Doris ? Você então foi dar uma olhadela ?

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Doris Claro ; e vi tudo como ela disse.

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Gustavo Agora eu estou entendendo porque foi que você se enganou. Nem tudo o que a Ana Maria disse a você foi mentira, Doris ; e o que você contou à Camila foi a verdade. Mas você se preocupou à toa, Camila, porque o casamento não foi na nossa casa. Eu agora me lembro o que eu ouvi de minha mãe ontem, quando voltei tarde da tua casa. Ela disse : "Gustavo, aquele rapaz que tem a mesma idade que você, o Alberto, filho do nosso vizinho Aristeu, já está se casando agora e muito ajuizadamente ; mas você, até quando é que você vai viver com uma menininha qualquer ? " Eu não prestei atenção e caí logo no sono. Depois, logo de manhãzinha eu saí de casa, de modo que não vi nada do que a Doris viu mais tarde. Se você duvida, Doris, volte lá e veja bem, não só a rua mas a porta, para ver qual delas está enfeitada com grinaldas. Você vai descobrir que é a do vizinho.

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Camila Gustavo, você salvou a minha vida ! Eu teria me enforcado, se uma coisa dessas tivesse acontecido ! Gustavo Uma coisa dessas nunca poderia ter acontecido. E eu, que eu nunca venha a ficar tão louco como para me esquecer da minha Camila, e ainda mais agora, que ela vai ter um filho meu.

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