Barnabé O génio das bolas

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O autor nasceu em Cascais, no seio de uma família pobre e de pais analfabetos. Sempre gostou de escrever poesia e prosa demonstrando capacidades muito criativas. Após a instrução primária, aos onze anos de idade, começou a trabalhar para ajudar a família. Aos treze anos iniciou a sua atividade na área da construção civil, primeiramente como ajudante de pedreiro e aos dezoito anos como encarregado de obra. Trabalhou ainda como ladrilhador, até ao momento de cumprir o serviço militar aos vinte e um anos. Entrou como voluntário para o Regimento de Caçadores Paraquedistas, em abril de 1971, cumprindo dois anos, na guerra, em Moçambique. Entretanto, retomou a vida civil e continuou a trabalhar como ladrilhador por conta própria. Depois, iniciou a atividade como técnico de construção civil, fez o curso de formador e foi um dos pioneiros no C.E.N.F.I.C., Lisboa. Fundou algumas empresas, sendo também sócio-gerente das mesmas: Ceramicacos (fabrico artesanal de azulejos), Pretérito e, mais tarde, a Pivacil, estando estas duas últimas ligadas à Construção Civil e Obras Públicas. Da sua autoria, importa destacar um desenho padrão sobre azulejos, que ofertou ao Museu Nacional do Azulejo, assim como as seguintes obras: Manual de Calcetaria da Escola Intercultural das Profissões e do Desporto; Dália (poesia); Maria dos Remédios (poesia); Sofrer para Vencer (conto); e 23 de Maio – Dia da Unidade e dos Paraquedistas (livro com texto e fotos, da união dos Paraquedistas).

BARNABÉ O GÉNIO DAS BOLAS

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ANTÓNIO MARIA PINHEIRO

“Barnabé - O génio das bolas” conta a história de uma criança branca, filha de europeus, que é abandonada numa ilha em África, sendo, posteriormente, recolhida por um casal de negros nativos. Barnabé começou a ter contacto com a bola (feita de trapos) quando ainda era pequenino. Aos cinco anos, o seu talento foi descoberto por um português, João Silva, geólogo e ex-jogador de futebol profissional, que trabalhava na ilha de Carumbé. Ele convenceu os pais adotivos do menino de que, em Portugal, ele teria o apoio necessário para ser o melhor jogador de futebol de todos os tempos, no maior clube português, o Sport Clube Lisboa e Lusitânia. Depois de uma carreira cheia de sucessos Barnabé foi para os Estados Unidos da América, onde aos vinte e seis anos, casou com uma norte-americana e iniciou-se na política americana entrando para o Partido Democrata, quando terminou a carreira de futebolista. Aos cinquenta anos, ascendeu ao mais alto cargo da nação norte-americana, sendo o homem mais influente do planeta Terra, muito conhecido mundialmente e aceite por todos os governantes do mundo como o melhor “Rei da Bola Terrestre”. Foi eleito duas vezes para o prémio Nobel pelo seu papel preponderante em convencer o mundo político a abolir o armamento e a trabalhar na sustentabilidade do planeta. É uma história ficcionada que resulta de um sonho do autor, pelo que qualquer situação que tenha que ver com a realidade é pura coincidência.


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título:

Barnabé – O Génio das Bolas Maria Pinheiro

autor: António

Ana Catarina Ramos Paulo S. Resende grafismo da capa: Ângela Espinha

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revisão:

paginação:

1.ª edição, Lisboa março, 2019

978­‑989-8711-31-1 451095/19

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depósito legal:

© António Maria Pinheiro

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INTRODUÇÃO

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Barnabé, “O Génio das bolas”. Esta obra trata de uma criança branca, filha de europeus, que é abandonada numa ilha em África, sendo, posteriormente, recolhida por um casal de negros nativos. Barnabé começou a ter contacto com uma bola quando ainda era pequenino, tinha acabado de dar os primeiros passos. A bola era de trapos, a única que conhecia. Aos cinco anos, foi visto por um português, João Silva, geólogo e ex-jogador de futebol profissional, que trabalhava na ilha de Carumbé, numa empresa inglesa de prospeção de petróleo. Este ao aperceber-se de que Barnabé poderia ser um grande jogador, por possuir qualidades invulgares no domínio da bola, convenceu os pais adotivos do menino de que, em Portugal, ele teria o necessário apoio para ser o melhor jogador de futebol de todos os tempos, no maior clube português, o Sport Clube Lisboa e Lusitânia. Barnabé passou então a ser cidadão português. Foi para os Estados Unidos da América, onde já era muito conhecido, e onde, todos os anos, passava férias. Já multimilionário, aos vinte e seis anos, casou com uma norte-americana. Formado em Economia e Política Internacional, em Portugal, iniciou-se na política americana e entrou para


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o Partido Democrata, quando terminou a carreira de futebolista. Aos cinquenta anos, ascendeu ao mais alto cargo da nação norte-americana, sendo o homem mais influente do planeta Terra, muito conhecido mundialmente e aceite por todos os governantes do mundo como o melhor “Rei da Bola Terrestre”. F eleito, por duas vezes, prémio Nobel da Paz, ao convencer o mundo político de um desarmamento sem precedentes e, no caminho que desenvolveu, da real sustentabilidade do planeta. Uma história que o autor desenvolveu e que não passa de um sonho. Face ao exposto, convém evidenciar que tudo o que é descrito no livro provém da imaginação do autor. Deste modo, qualquer situação que tenha que ver com a realidade é pura coincidência.


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Inicialmente, a ação passa-se em Carumbé, uma ilha muito pobre mas pacata, situada próxima do Equador. No interior da ilha, havia uma aldeia a que chamavam Bisunti. Era uma aldeia muito pobre e habitada por nativos. Não tinha casas, apenas cerca de trinta palhotas, e onde vivia Barnabé, com cinco anos de idade, filho único e adotivo de um casal negro. Desde os primeiros passos, Barnabé apenas brincava com uma bola de trapos, feita de restos de roupas velhas, por terem sido já muito usadas. Roupas que, de vez em quando, eram distribuídas por organizações e doadas aos países menos desenvolvidos. O pai chamava-se Cuchumba e tinha trinta e dois anos, a mãe era Maurilícia e tinha trinta. Viviam da agricultura, de um pedaço de terra que lhes pertencia, por doação governamental, ao qual deram o nome de “machamba”. Além disso, viviam também da pesca artesanal, de uma ponta de mar mais próximo. Perto da machamba, havia um ribeiro onde se abasteciam de água, para a agricultura e para consumo próprio. Apenas cultivavam para consumo da família. Um dia ou outro, comiam peixe, que o pai pescava, e só comiam carne quando algum animal caía na armadilha que Cuchumba tinha sempre armada, na machamba. E,


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assim, iam alternando a alimentação diária, sendo a farinha de mandioca o que eles mais consumiam. Até aos cinco, seis anos, as crianças andavam sem roupas, nuas e descalças. Os homens e as mulheres andavam descalços e as roupas que usavam, algumas já muito usadas, eram-lhes oferecidas pelas organizações humanitárias. Barnabé tinha sido encontrado pelo pai e pela mãe há cinco anos, quando se dirigiam para a pesca. Segundo consta, tudo se passara do seguinte modo: ouviram gemidos que pareciam de uma criança, aproximaram-se assustados e viram um bebé com pouco tempo de vida, ainda com o cordão umbilical e coberto com feno seco. Ficaram então sem saber o que fazer porque não tinham experiência, mas levaram o bebé e foram a correr para casa. Maurilícia foi chamar a mãe, D. Bufalina, que morava ao lado e já tinha dado à luz doze filhos, sendo ela sozinha que sempre se desenrascara. A criança depois de tratada e alimentada voltou à vida e adormeceu por algum tempo. Para D. Bufalina, a situação nada tinha de especial, pois já tinha criado todos os seus doze filhos e nunca tinha sido assistida. Na aldeia, não havia assistência médica, todos se tratavam com ervas e com mezinhas herdadas de geração em geração. Cuchumba e Maurilícia olharam pasmados para a D. Bufalina e para o bebé, sem saberem o que iriam fazer com ele. Cuchumba disse então para Maurilícia: – Vamos ficar com ele e criá-lo?


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Maurilícia nem soube o que dizer… Ao ver um bebé tão branco, olhou também para a cor de pele de Cuchumba… Ficou aterrada, mas acenou para o marido, como a dizer que essa seria a solução. Na aldeia, todos eram analfabetos, viviam com a sabedoria dos antepassados e, normalmente, nunca passavam dos cinquenta anos. Não eram escravos e os quarenta ou cinquenta anos que viviam eram de vida pura, sem terem de dar contas a ninguém. Todos se conheciam e, embora já afastados, descendiam da mesma família. O mais idoso era o conselheiro que se chamava Jesudino. Barnabé foi deixado por um casal, que há cinco anos passara pela aldeia cuja mulher aparentava estar grávida. Eram europeus, de cor muito branca (os ingleses eram os estrangeiros que mais visitavam a ilha). A alguns quilómetros dali encontrava-se uma empresa inglesa na prospeção de petróleo, onde normalmente permaneciam cerca de vinte pessoas, em períodos sazonais, o que pressupunha que a criança teria sido abandonada por um casal que tinha visitado a ilha. Quando havia visitantes que passavam pela aldeia, todos se interrogavam: como podia o Barnabé ser branco, sendo filho de dois negros? Os pais adotivos e Barnabé, e todos os outros da aldeia, já habituados, pouco se importavam com o que os passeantes pensavam e, muitas vezes, os curiosos perguntavam se ele era mesmo filho deles.


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Bisunti, Aldeia onde nasceu Barnabé, na Ilha de Carumbé

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Barnabé com cinco anos de idade, franzino, esguio, apenas via na bola de trapos, muito arredondada, o brinquedo com que mais gostava de brincar, e era assim que gastava as horas e os dias, enquanto a mãe e o pai tratavam da farinha de mandioca ou dos poucos trabalhos que tinham de fazer. Cuchumba e Maurilícia nada sabiam de futebol, nem nunca tinham visto uma bola, mas gostavam de ver o Barnabé, tão novo e pequeno, a brincar com a bola de trapos. Era um momento que os entusiasmava e, na maior parte das vezes, até se sentavam à porta da palhota a vê-lo


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descalço e nu, com o pirilau pendurado, a correr atrás da redondinha de trapos. Barnabé fazia o que queria com os pés, com a cabeça e com os ombros; tinha o domínio da bola com toda a naturalidade. Ele nunca tinha visto e nem sequer sabia que existiam bolas de verdade; ele era um verdadeiro prodígio da redondinha. Havia mais oito crianças, entre os quatro e os oito anos, que também brincavam com o Barnabé, mas passavam a maior parte do tempo a vê-lo a tocar na bola, e deliravam, porque não tinham a mesma habilidade. A alimentação da família era, em quase todas as refeições, farinha de mandioca, uns pequenos peixes e também algumas bananas que colhiam na machamba que lhes pertencia. Carne muito raramente comiam. A farinha era das mandiocas que a mãe cultivava. O pai tratava de algumas bananeiras junto ao pequeno ribeiro, onde iam buscar a água que utilizavam. Embora a alimentação fosse à base de mandioca, Barnabé estava muito saudável. Como passava o tempo a correr atrás da bola, estava esguio mas resistente, comia muito rápido e não engordava, ao contrário dos outros miúdos que já tinham a barriga saliente.


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A primeira bola de trapos, com que Barnabé brincava, descalço e nu, desde que começou a andar

Os europeus ingleses chegaram a Carumbé para fazer a prospeção de petróleo. Montaram o acampamento a uns quilómetros da aldeia onde Barnabé morava. As crianças da aldeia, quase todos os dias perto da hora de almoço, iam até lá, pois sabiam que os trabalhadores lhes davam comida, porque tinham em abundância. Estes acarinhavam-nas uma vez que lhes faziam lembrar os seus filhos, criando entre ambas as partes uma certa empatia paternal.


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Cuchumba, pai adotivo de Barnabé, faz uma bola de trapos.

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A primeira vez que Barnabé foi ao acampamento com os amigos levou a bola de trapos que tinha sempre consigo e transportou-a debaixo do braço. Enquanto os amigos esperaram que os europeus terminassem a refeição, Barnabé, num pequeno espaço onde também os trabalhadores se divertiam nas horas de lazer, começou a dar toques na bola, chamando a atenção dos estrangeiros que almoçavam. Entre eles, havia dois portugueses – o engenheiro João Silva, da prospeção, e o antropólogo José Oliveira. Ambos residiam em Lisboa.


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Os europeus tinham bolas verdadeiras e também se divertiam fazendo peladinhas entre eles. Tinham o futebol como o principal passatempo. Assim que eles e as crianças terminaram o almoço, o engenheiro de geologia, português, entusiasmou-se a ver Barnabé. Enquanto este brincava com a bola, aquele saiu de dentro de um contentor com uma verdadeira na mão, algo que o Barnabé até ao momento desconhecia, e que o deixou com os olhos brilhantes. Quase todos os trabalhadores tinham jogado futebol: alguns até aos juniores e outros até tinham sido, durante algum tempo, profissionais. Os dois portugueses tinham, inclusivamente, jogado nas duas maiores equipas em Portugal. O engenheiro geólogo, no Sport Clube Lisboa e Lusitânia, e o antropólogo, no Sport Clube Continental. Três de nacionalidade inglesa tinham jogado em equipas da segunda divisão, em Inglaterra. Contudo, foram os dois portugueses que primeiro viram a genial habilidade do Barnabé e, ao verem a curiosidade deste, convidaram-no para dar uns toques naquela bola, que tinha prendido a sua atenção. Assim que o engenheiro português colocou a bola no chão em direção a Barnabé, este começou aos toques como se fosse um profissional, deixando todos os que ali estavam de boca aberta. João Silva começou a filmar em direto, com o telefone, e a enviar para os amigos que, tal como ele, tinham jogado no mesmo clube e do qual eram sócios. Recebeu instruções


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para o seguir e, se achasse que interessava ao clube, para o segurar através de um acordo estabelecido com os pais. Entre os miúdos presentes, poucos eram os que se interessavam em dar pontapés na bola de trapos, e até gostavam mais de ver Barnabé a divertir-se com a bola sem a deixar cair ao chão. Assim sendo, João Silva organizou duas equipas de quatro de cada lado entre as crianças. De um lado, ficou ele numa baliza, e do outro, o colega antropólogo José Oliveira. Barnabé vibrou de alegria com a bola verdadeira nos pés, pois com esta tudo saía perfeito. A peladinha foi filmada, e muita foi a admiração pelo Barnabé. João Silva entrou em contacto com o seu clube e transmitiu com agrado o que tinha visto, enviando também a filmagem. No dia seguinte, recebeu uma mensagem para ter todas as informações sobre Barnabé e para se assegurar se podiam, ou não, contar com ele. O objetivo seria que Barnabé fosse para Lisboa e entrasse nas camadas jovens do clube, sem olhar a despesas. A partir daí, João Silva não deixou mais o Barnabé e todos os dias ia à aldeia falar com os pais, insistindo que seria importante que o menino fosse para Lisboa. Assim, eles iriam com ele e nem precisariam de trabalhar – apenas acompanhariam o pequeno prodígio. Nos primeiros contactos, os pais de Barnabé estavam renitentes, mas de vez em quando falavam da cor do pequeno. Talvez fosse essa a razão da decisão de irem para


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Lisboa. Falaram, então, com João Silva, que tinha ficado amigo da família. Aliás, quando este ia a Lisboa, levava-lhes sempre muitas prendas. Uma vez até lhes ofereceu os célebres “pastéis de Belém”, que foram comidos com muita satisfação. Cuchumba até disse para Maurilícia, ou melhor, para Mauri, como era costume tratá-la: – Qui bum, Mauri, se vamos para lá, pedimos dez para cada um, todos os dias! Maurilícia riu-se muito, gostou e até se lambeu. João Silva foi visitá-los e recebeu a notícia de Cuchumba. – João, tu trata de tudo para nóis ir para Portugal. João Silva ficou encantado com a notícia, já tinham passado três meses e era a resposta que desejava. Ligou, em seguida, para o presidente do Sport Clube Lisboa e Lusitânia, que lhe agradeceu, e disse: – João, está descansado! Vou mandar tratar de tudo urgentemente. Quero cá o Barnabé, porque vamos ter eleições daqui a quatro meses. Além disso, por tudo o que os especialistas têm dito e, atendendo ao que a nossa comitiva assistiu e filmou, o miúdo é o maior trunfo para poder garantir a minha continuação à frente do clube. E… sabes que vais ter o teu lugar garantido na vice-presidência! No dia seguinte, chegou a Bisunti, de helicóptero, uma equipa de advogados, para firmar o contrato com os pais de Barnabé. Como não sabiam assinar, Cuchumba e Maurilícia firmaram com o dedo. Mas isto de pouco lhes valia, porque se não cumprissem o acordo, nada havia a


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fazer. Porém, como eram pessoas muito simples, diziam sim a tudo o que lhes era proposto.

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A mãe de Barnabé nos afazeres diários, após regressar da Machamba.

Seis meses depois, Barnabé, Cuchumba e Maurilícia receberam a notícia da sua ida para Lisboa e de que embarcariam ao fim de dois dias. A comitiva trouxe-lhes roupas, sapatos e tudo o que eles necessitariam para fazer a viagem. Além disso, no dia da viagem, seriam acompanhados por quatro seguranças do Sport Clube Lisboa e Lusitânia, desde a aldeia até Lisboa.


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Nunca tinham saído de Bisunti. Quando entraram na viatura que os levou ao aeroporto, acharam tudo estranho, pois nunca tinham saído da sua terra. Na chegada à capital, onde se situava o único aeroporto de Carumbé, os olhos dos três quase saltaram assim que viram algumas casas diferentes das palhotas onde sempre tinham vivido. De vez em quando, Cuchumba exclamava: – Chiii, Mauri, já viu um casa tum grandi? Era o edifício do aeroporto de Carumbé, com dois pisos. Maurilícia só olhava assustada, e Barnabé fixava tudo de olhos muito abertos. Entraram no aeroporto, e todos os presentes os observaram por os verem no meio de uma comitiva de brancos. Além disso, os quatro seguranças pareciam “bisontes”. Tudo estava tratado, e foi fácil embarcarem no jato particular do Sport Clube Lisboa e Lusitânia. Para Cuchumba, Maurilícia e Barnabé, tudo era surpresa e sentiam-se assustados com tanta “mordomia” que os envolvia. Na chegada ao aeroporto do Montijo, pelas onze horas e trinta minutos, já milhares de adeptos do clube os esperavam, e quando a comitiva, com Barnabé e os pais, saiu para a gare, o edifício tremia com o barulho e a confusão dos adeptos. Muitos queriam o autógrafo de Barnabé, mas alguém da comitiva disse:


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– Ele não sabe escrever. Porém, os adeptos continuaram a gritar: – Lusitânia! Lusitânia! Barnabé! Barnabé! Barnabé! Cuchumba e Maurilícia estavam assustadíssimos e encolhidíssimos com tamanha receção. Chegaram ao estádio e foram recebidos pelo presidente José Filipe, conhecido no país como o “rei das solas”. Tinha esta alcunha porque era proprietário de fábricas de calçado espalhadas pelo mundo e, segundo diziam, tinha ganhado muito dinheiro com importações provenientes dos países da América Latina. Muitos duvidavam que tivesse sido com o calçado que ganhara tanto dinheiro, mas como era amigo de muitos juízes e políticos, as suspeitas nunca passaram de rumores. Após receção com os jornalistas presentes de todas as estações televisivas do mundo: espanholas, inglesas, italianas, americanas, entre outras, onde até estava uma da rádio de Carumbé, a única da ilha, poucos acreditavam no que tinham ouvido de Barnabé e a curiosidade da informação sobre o prodígio era muita. O presidente demonstrava uma alegria imensa, pegando em Barnabé ao colo e dizendo, em voz baixa, ao vice que estava com ele: – Vai ser a salvação para ganharmos as eleições no próximo mês. Foram então até ao relvado onde Barnabé já se encontrava equipado com o equipamento do Sport Clube Lisboa


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