Manual de Boas Práticas Ambientais na Escalada em Rocha

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“In order to ensure environmentally sustainable climbing, it is crucial for climbers to recognise that their form of recreation can have damaging consequences for rock biotopes, and also to be aware of how they can minimise this damage”. In Cooperation in the European Mountains The Sustainable management of climbing areas in Europe

Luís Cunha Avelar

MANUAL DE BOAS PRÁTICAS AMBIENTAIS NA ESCALADA EM ROCHA

MANUAL DE BOAS PRÁTICAS AMBIENTAIS NA ESCALADA EM ROCHA - Conhecer para Conservar o Habitat e Espécies de Flora e Avifauna de Escarpas e Falésias Rochosas - é, possivelmente, a primeira publicação nacional de cariz comercial que aborda o pertinente tema dos impactes ambientais e sociais dos Desportos de Natureza (DN), neste caso particular, da Escalada em rocha. Tendo, à semelhança dos outros DN, o meio natural como “campo de jogo”, e sendo muitas vezes praticada em habitats singulares em Áreas Protegidas (AP), classificadas ou com tal potencial, a Escalada em rocha, quando implementada e praticada sem os devidos cuidados (dentro ou fora de AP e classificadas), pode constituir-se como mais uma ameaça, principalmente sobre espécies de flora e avifauna rupícola raras e com estatuto de conservação desfavorável. Existem igualmente outros impactes, transversais a outros desportos de natureza, que não podem igualmente ser descurados, e que são paralelamente abordados neste manual. Capítulos • Conhecimento da modalidade – Escalada em rocha • Conhecimento do meio e impactes da modalidade • Recomendações de boas práticas ambientais e sociais na Escalada em rocha Ao contrário do que se possa pensar à partida, este manual não se destina exclusivamente aos praticantes de Escalada em rocha. Muitos tópicos têm igualmente interesse, e são recomendados, para aqueles que têm responsabilidade em promover ou considerar as implicações da prática da modalidade em meio natural: responsáveis das federações e de clubes de Montanhismo e Escalada; instrutores e monitores da modalidade; técnicos e vigilantes responsáveis pela gestão e vigilância de Áreas Protegidas e classificadas; empresários, guias e monitores de Empresas de Animação Turística; técnicos de Turismo Sustentável, Turismo Ambiental, Ecoturismo; alunos e docentes dos cursos de Desporto de Natureza – Turismo Ativo; geólogos, ornitólogos, botânicos; dirigentes e voluntários das ONGA (Organização não-governamental de Ambiente); técnicos de ambiente das Câmaras Municipais e todos os interessados no tema da sustentabilidade dos Desportos de Natureza em geral. Boas Escaladas em Bom Ambiente!

Manual de Boas Práticas Ambientais na

Com o intuito de tornar as atividades humanas imperiosamente mais compatíveis com o bom uso dos recursos naturais, conservação da geo e biodiversidade, os diversos setores e âmbitos de manifestação das atuais sociedades têm promovido a elaboração de manuais e formação em boas práticas ambientais com o fim de alcançar este objetivo de primeira ordem. Obviamente, a prática dos desportos e atividades recreativas na natureza não podem, nem devem, fugir a este compromisso.

Manual de Boas Práticas Ambientais na Luís Cunha Avelar

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Conhecer para Conservar o Habitat e Espécies de Flora e Avifauna das Escarpas e Falésias rochosas


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Manual de Boas Práticas Ambientais na Escalada em Rocha

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Conhecer para Conservar o Habitat e Espécies de Flora e Avifauna de Escarpas e Falésias Rochosas

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Luís Cunha Avelar


Agradeço por ter comprado este livro.

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Ao ceder ou permitir a realização de uma cópia deste manual por parte de terceiros, impede que o respetivo donativo seja entregue às associações de conservação da natureza, nem garante que o autor receba a receita que deriva da sua publicação. Contribua para a conservação da natureza e respeite os direitos de autor. Obrigado pela sua colaboração.

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Edição: Edições Ex-Libris ® (Chancela Sitio do Livro) Título: Manual de Boas Práticas na Escalada em rocha - Conhecer para Conservar o Habitat e Espécies de Flora e Avifauna das Escarpas e Falésias rochosas

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Texto: Luís Cunha Avelar Revisão técnica: Ana J.Pinheiro, Carlos Pacheco, Joana C. Rodrigues, Miguel Porto, Paulo Silva, Ricardo Ramalho. Tabelas e ilustrações: Luís Cunha Avelar Fotos: Luís Cunha Avelar e vários autores (ver agradecimentos) Maquetização: Luís Cunha Avelar Revisão de texto: Maria Fernanda Alves Lisboa, 1ª edição - fevereiro de 2019 ISBN: 978-989-8867-13-1 D.L.: 433144/17

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Fotos de capa: A foto de escalada no canto inferior direito é de uma cordada no troço final da via “Imaginária”, 6b+/A0 (7a), no espinhaço, nas falésias marítimas rochosas da Serra de Sintra; FS. Na contracapa, as fotos da extremidades foram realizadas na “Escola” de Escalada de Puerto Roque, Espanha. As restantes fotos encontram-se representadas e identificadas ao longo do manual.

Publicação e Comercialização

www.sitiodolivro.pt O presente livro foi escrito segundo o novo acordo ortográfico.


Este manual está dedicado:

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ao amigo Bruno Carvalho, pelo seu singular e contagiante sentido de humor e sua infindável alegria que ficou para sempre nas altas montanhas nevadas do Himalaia;

Bruno Carvalho (1974-2006) - LA

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à Raquel e à Joana que, em momentos diferentes da minha vida, em muito me acompanharam e muito deram de si, e por quem tenho um profundo apreço e gratidão; à minha mãe aos amig@s, “aqui e ali”

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a todos e todas que se empenham em praticar e promover as diversas disciplinas da Escalada em rocha e a prática do Montanhismo de uma forma ambientalmente sustentável, socialmente responsável e com ética desportiva.


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Os revisores e entidades parceiras que deram apoio e/ou a sua chancela a este manual, reconhecem a importância do conteúdo desta publicação para a sensibilização e consequente minimização dos impactes ambientais e sociais da prática e desenvolvimento da Escalada em meio natural. Contudo, o facto de todos estes parceiros reconhecerem o importante objetivo central desta publicação, tal não vincula a sua concordância ou discordância sobre determinado assunto, e muito menos reflete e compromete a posição dos revisores e a posição oficial das entidades parceiras.

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Parceiros

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Todo o conteúdo e perspetivas apresentadas neste manual são da exclusiva e inteira responsabilidade do autor.

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Chancela

*O autor reverte 0.60€ do lucro da venda de cada manual para a Sociedade Portuguesa de Botânica e para o Centro de Recuperação de Animais Selvagens de Montejunto, sob a gestão da Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza O meu agradecimento aos revisores e entidades parceiras.


Índice Prefácio.........................................................................................................................................X Advertências ………....................................................................................................................XI Agradecimentos …………........................................................................................................12 Esclarecimentos prévios do autor . ....................................................................................... ....15 Introdução ................................................................................................................................ ....21 Desportos de Natureza .......................................................................................................... ....23 Capítulo I – CONHECIMENTO da MODALIDADE Origem e Evolução da Escalada em rocha .................................................................... ....28

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Escalada em rocha - uma possível definição ................................................................ ....32 A “cordada” . .................................................................................................................... ....33 Equipamento de Proteção Individual . .......................................................................... ....34 Ancoragens – pontos fulcrais . ........................................................................................ ....35 Cadeia Dinâmica de Segurança ..................................................................................... ....42

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Via de escalada e sua graduação ................................................................................... ....44 Ética desportiva da Escalada . ......................................................................................... ....45 “Escola de Escalada” ........................................................................................................ ....45 Estilos de progressão . ...................................................................................................... ....45 Estilo livre ...........................................................................................................................46 Estilo artificial.................................................................................................................. ....46

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Métodos de Segurança ..................................................................................................... ....47 Método top rope .............................................................................................................. ....47

Método 1º de cordada.................................................................................................... ....48

Disciplinas da Escalada em rocha ................................................................................. ....49 Escalada Clássica .......................................................................................................... ....49 Escalada Artificial ......................................................................................................... ....52

Escalada Desportiva ..................................................................................................... ....52

Escalada de Bloco (Bouldering) ..................................................................................... ....52

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Escalada de Grandes Paredes (Big Wall) . .................................................................. ....53

Escalada em Solitário ................................................................................................... ....54

Escalada em Solo Integral . .......................................................................................... ....54

Psicobloc (Deep Water Soloing) . .................................................................................... ....54

Capítulo II – CONHECIMENTO do MEIO Introdução . ........................................................................................................................ ....56

Espécie, População, Habitat, Ecossistema...................................................................... ....57 Geologia e Geomorfologia de escarpas e falésias rochosas .................................... ....61 Processo de formação das “paredes” rochosas.......................................................... ....65 A Geodiversidade .......................................................................................................... ....69 Implicações da Escalada no meio rochoso ................................................................. ....71


A utilização das escarpas pela espécie humana ............................................................ 74 A Flora e vegetação rupícola........................................................................................... ....78 Impactes da Escalada sobre a flora e vegetação rupícola .................................... ....82 No solo.......................................................................................................................... ....83 Na base da escarpa ........................................................................................................84 Na face da escarpa..........................................................................................................85 Lei Portuguesa condiciona a Escalada para proteger Flora .ameaçada...................88 Algumas espécies de flora ameaçadas ou raras em Portugal potencialmente afetadas pela Escalada .................................................................................................. 89

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Espécies exóticas invasoras............................................................................................96

Prevenir a introdução de espécies de plantas exóticas..............................................97 Gestão dos habitats rupícolas em locais de Escalada.............................................99

Avifauna ........................................................................................................................... ..102

Aves - esses fascinantes animais alados .................................................................. ..102

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Aves de Rapina - Espécies ameaçadas ................................................................... ..117

Programa para a proteção de aves rupícolas ameaçadas em Portugal .............. ..120 Escalada em rocha e suas implicações nas aves rupícolas .....................................121 Lista das principais aves rupícolas mais ameaçadas em Portugal continental e mais sensíveis à prática da Escalada em rocha. ..................................................... ..126 Encontrei um animal selvagem ferido - o que devo fazer? ................................. ..135

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O que fazer e a quem avisar no caso de deteção de uma ave ferida? (não envenenada) . ........................................................................................................................... ..135 O que fazer e a quem avisar no caso de encontrar uma ave suspeita de envenenamento? . ........................................................................................................................ ..136 Noções gerais para a observação de aves .............................................................. ..138 Observar aves de rapina diurnas ............................................................................. ..139

Rede Nacional de Áreas Protegidas.............................................................................. ..143 Rede Natura2000. ............................................................................................................ ..144

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O que são as IBA e qual a sua importância.................................................................. ..147

Capítulo III –BOAS PRÁTICAS AMBIENTAIS, DESPORTIVAS e SOCIAIS na ESCALADA em ROCHA

Escalar em rocha e suas implicações no meio natural ................................................. ..151

Sensibilizar, Educar e Regular para proteger e respeitar............................................. ..159

Trabalho na área de Acesso e Conservação na Escalada em alguns países.............. ..163 British Mountaineering Council – Reino Unido ........................................................... ..163 Access Fund – EUA ......................................................................................................... ..168

Federação Espanhola de Desportos de Montanha e Escalada..................................174 Asociación Escalada Sostenible – zona centro ...............................................................180 Federação Francesa de Montanhismo e Escalada................................................... ..182


UIAA – Federação Internacional de Montanhismo e Escalada ........................... ..182 Fatores e Estratégias de regulação............................................................................ ..184 Distância – um subtil mas importante fator..................................................................185 Zonamento ...................................................................................................................... .187 Escalar em Áreas Protegidas e outras classificadas .......................................................191 Cartas de Desporto Natureza (CDN)........................................................................... ..193 A Escalada na CDN do Parque Natural de Sintra-Cascais .......................................195 Reflexão sobre as Cartas Desporto de Natureza ........................................................197 Escalar dentro de uma IBA..............................................................................................198

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A Lei Portuguesa para a proteção dos habitats e Espécies de flora ou fauna.............200

Pontos importantes a refletir ..........................................................................................202

Minimização dos Impactes - Responsabilidade partilhada de Boas Práticas........... ..204 Recomendações gerais .................................................................................................. .204 Recomendações para criação e uso de Escolas de Escalada .................................... ..206

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Idealizar e Planear....................................................................................................... ..206 Implementar................................................................................................................. ..208 Utilizar - Código de Boas Práticas Ambientais, Ético-desportivas e Sociais........216 Boas práticas ambientais e desportivas na prática da Escalada de Bloco............ ..225 Recomendações para Técnicos, Monitores e Guias de grupos................................ ..233 Recomendações para sessões de Escalada em rocha com grupos........................ ..238

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Equipamento para a gestão adequada de resíduos, higiene e socorro................ ..243 Questões a considerar no planeamento de atividades com grupos. ................... ..244

Turismo de Natureza - Empresas de Animação Turística........................................... ..246

Boas Práticas na organização de encontros de Escalada em rocha ........................... ..252 Questões na organização de eventos de Escalada em rocha ................................... ..254

Outras recomendações importantes............................................................................ ..256

Recomendações para a elaboração de Topo-Guias . .................................................... ..259 Informação Geral e Utilitária...................................................................................... 263

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Informação dos Valores Culturais .............................................................................264 Informação dos Valores Naturais . .......................................................................... ..265 Informação técnica de segurança e complementar .............................................. ..267

O papel educativo da Federação e Clubes de Montanhismo e Escalada ................ ..272 Medidas a desempenhar pela Federação . .............................................................. ..278

Reflexões Finais ....................................................................................................................... ..280 Glossário.................................................................................................................................... ..281 Contactos: Centros de Recuperação de Animais Selvagens................................................287 Páginas de internet úteis......................................................................................................... ..288 Bibliografia................................................................................................................................ ..291 Sobre o autor .............................................................................................................................295


Prefácio O Autor, Luís Avelar, que conheci a trepar com tenacidade uma qualquer via de escalada de dificuldade superior e que depois de anos de convívio em diferentes contextos e alguns desencontros, oportunamente recuperados com profícuas conversas e projeção de novos desafios, será de apresentar como um Montanheiro de excelência pela forma como se posiciona nessa difícil relação do homem com o meio.

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A Montanha desde sempre desafiou o homem que de forma temerária decide enfrentar as dificuldades e os perigos sendo que nesse diálogo se forma o Montanheiro intimamente parte desse ecossistema … quando a sua assertividade a isso o aconselha. É aí que entra o Luís Avelar dizendo, de forma sustentada, mas com muita simplicidade que é possível coabitar e mais ainda uma parte engrandecer a outra. Não será importante ser exemplar, mas é muito importante ser um exemplo … interventivo.

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Este MBPA inclui inúmeras referências históricas, de atividades, locais, eventos, tomadas de decisão e exemplos nacionais e internacionais – que ao longo de cinco décadas (*) tivemos oportunidade de acompanhar – o que lhe confere, para além da validade técnico-didática, uma dimensão apaixonante de vivenciar um percurso em que … nada ficou como antes!!

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(*) sou do tempo em que a relação homem/montanha se aprendia no seio da Cordada dos mais experientes, assim como o saber fazer/fazendo, as técnicas e outros saberes de sobrevivência e segurança só em meados dos anos setenta assumiram o formato de Escola de Montanhismo. José Pedro Lopes (Brot) Montanheiro desde 1969

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Cântaro magro, 25/9/1970. Parque Natural da Serra da Estrela Brot, Júlio Valente, Fary e, atrás da máquina, Bob.


Advertências!

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O autor, revisores e as entidades parceiras que deram a sua chancela a esta publicação reconhecem que a prática da Escalada em rocha é uma modalidade desportiva que possui um considerável risco acrescido. O/a praticante da modalidade ou participante numa sessão de experimentação de Escalada em rocha ou da técnica de descida por corda fixa (vulgo rappel) pode vir a sofrer lesões graves, ou mesmo a morte, em resultado da negligência pessoal e/ ou de terceiros e/ou devido a, ou em conjugação com ocorrências naturais do meio físico (ex. queda de pedras) e/ou de condições ambientais adversas (ex.: vento forte, frio, calor extremo). Estes, bem como instrutores, monitores e demais responsáveis diretos e indiretos pela organização de atividades de grupo realizadas em escarpas e falésias rochosas, deverão estar cientes destes riscos e ser responsáveis pelas suas ações ou omissões individuais. Estas poderão afetar não só a sua integridade como a integridade física e/ ou emocional e/ou a propriedade de terceiros, não apenas das pessoas do seu grupo como de outros grupos, bem como produzir impactes sobre o habitat e espécies rupícolas e/ou outros habitats e espécies existentes no meio envolvente, que poderiam e deveriam ter sido ser evitados.

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O autor, revisores e entidades parceiras não deverão ser responsabilizados na eventual ocorrência de um acidente que possa ter resultado direta ou indiretamente da aplicação de conteúdo fornecido neste manual, mesmo que tenha resultado de um possível erro técnico ou omissão de informação nele contido.

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Este manual não apresenta, de forma alguma, informação suficiente para que qualquer pessoa se possa iniciar na prática da Escalada em rocha e/ou no equipamento de vias de Escalada em rocha e/ou na liderança de grupos em espaços naturais. Para tal, será necessário que o leitor realize um ou mais cursos correspondentes e recorra complementarmente à literatura especializada. O facto de serem referidos neste manual vários locais para a prática da Escalada em rocha em Portugal ou no estrangeiro, não significa necessariamente que os escaladores e responsáveis de grupos possam ter o pleno direito de acesso aos mesmos. Os interessados deverão informarse previamente junto das entidades locais e/ou proprietários responsáveis pelo acesso e uso de tais zonas, e respeitar todas e quaisquer restrições espaciais e/ou temporais, permanentes ou temporárias neles existentes, bem como respeitar em pleno outras recomendações.


Agradecimentos À Joana Salomé Camejo Rodrigues, bióloga, especializada em botânica, pela primeira revisão técnica do tema da flora e na inestimável paciência na revisão gramatical preliminar de parte dos conteúdos do manual.

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À Alexandra Lopes, bióloga, coordenadora do Departamento de Cidadania Ambiental da SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves), por, desde o início, ter acolhido de muito bom agrado a minha ideia de conceção de um folheto de sensibilização para os escaladores; o qual se materializou no presente manual. Ao Ricardo Ramalho, antigo escoteiro da Associação dos Escoteiros de Portugal (AEP), investigador em vulcanologia, pela revisão técnica inicial do tópico Geologia, ao qual incluiu precioso conteúdo; “uma grande canhota”.

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Ao Carlos Pacheco, ornitólogo especializado em aves de rapina, pela sua revisão técnica do tópico sobre avifauna; e pelo facto de ter aceite o meu convite como orador especialista, numa ação de sensibilização e educação para conservação das aves rupícolas, destinada a escaladores, organizada através da Associação Desnível. Agradeço igualmente pelas fotos de avifauna.

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À Ana Júlia e Miguel Porto, biólogos de profissão, especializados em botânica e membros da Sociedade Portuguesa de Botânica, que, em conjunto com outros elementos desta associação, fizeram a revisão técnica e inclusão de algum conteúdo no tópico sobre flora rupícola. Agradeço igualmente o fornecimento das fotos para as fichas técnicas das respetivas espécies de flora.

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Ao José Paulo Martins e Paulo Lucas, do Fundo de Conservação da Natureza da associação Quercus, que, dentro das possibilidades, procuraram colaborar para a edição do manual. Atualmente membros da ONGA, ZERO. Ao Jorge Castro, amigo de longa data, fotógrafo profissional, que, há longos anos, acabou por perder muitos fins-de-semana e dinheiro, em rolos de slides para fazer fotografias para um projeto de livro sobre iniciação à Escalada Desportiva em rocha (em longa hibernação)*.

Ao Curro Martinez, Técnico Desportivo em Escalada, especialista em instalações e equipamento de montanha da Federação Andaluza de Montanhismo; membro da área de docência e investigação da Escola Espanhola de Alta Montanha e da Comissão Técnica da Escola Andaluza de Alta Montanha e atual colaborador da revista espanhola, Escalar, na secção segurança, técnicas e materiais de montanha, pelo seu contributo sobre normas europeias de equipamento de Montanhismo e Escalada.

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* Algumas das figuras elaboradas para o referido livro, foram usadas no presente manual.


Ao Paulo Silva, pela sua disponibilidade em rever a versão final do livro; apesar do seu pouco tempo disponível inerente ao seu fervoroso papel de ativista em defesa de causas ambientais (muitas vezes pendurado em cordas), inclusive com inúmeras ações diretas a nível internacional. Obrigado Paulo. Ao José Pedro Lopes, (Brot), pela sua amizade, pela gentileza de prefaciar este “ousado” livro, e ter aceite o desafio de apresentar o mesmo no seu dia de lançamento. Ao Júlio Valente, também o meu agradecimento.

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Aos responsáveis do Access Fund (Estados Unidos da América) e ao British Mountanering Council (Reino Unido) por me terem autorizado a usar partes de conteúdos das suas páginas de internet.

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Aos fotógrafos: (AJ) Ana Júlia; (BC) Bruno Carvalho; (CP) Carlos Pacheco; (DC) Dinis Cortes; (FS) Francisco Silva; (JR) Joana Rodrigues; (JM) Joaquim Muchaxo; (JC) Jorge Castro; (JV) José Viana; (MM) Mafalda Marques; (LA) Luís Avelar; (MP) Miguel Porto; (NG) Nuno Gomes; (PA) Paulo Alves; (PB) Pedro Baptista; (SI); Samuel Infante; (VP), Vasco Pedroso.

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Um agradecimento a todos os outros que, de uma forma ou de outra, me fizeram aproximar da Natureza, das Montanhas, da Escalada e/ou se predispuseram em auxiliar-me neste projeto: ao dirigente escu/otista Henrique Ruivo e muitos outros companheiros escotistas com quem muito aprendi sobre a “vida de campo” e trabalho em equipa; ao José Carlos Sousa e José Maria Oliveira, que foram os meus instrutores do curso de iniciação à Escalada em rocha, realizado em 1990; ao Zé Luís e ao falecido Nuno Pardal, da empresa 9A Aventura, com quem, nos anos 90, colaborei como monitor de Escalada; ao Prof. de Educação Física, Nuno Cruz, que, dentro das suas possibilidades, sempre acreditou e me apoiou na promoção da Escalada no município de Lisboa, através do seu trabalho também no Departamento de Desportos da CML; ao criativo e designer de equipamento de montanha, Pedro Carradinha, com quem escalei regularmente durante vários anos e realizei algumas atividades de montanha em Portugal e em Espanha; ao emblemático escalador sénior Zé Pereira; à Paula e ao Bruno Carvalho, pela sua amizade, e por sempre mostrarem interesse e marcarem presença nas principais iniciativas culturais e ativismo ambiental, na promoção e defesa dos territórios de montanha; ao José Pedro Lopes (Brot) e à Vitória, pela muita afabilidade e acolhimento, e pelo inestimável e inegável trabalho desenvolvido em prol da promoção da Escalada em meio escolar, e nas inúmeras competições nacionais de Escalada que ajudaram a concretizar, tendo presidido como elementos de Júri (tal como o Júlio Valente); ao Paulo Alves, alpinista e geólogo; ao Rui Duke, 13


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singular colega que sempre se mostrou incessantemente disponível a colaborar financeiramente para a edição do manual; ao Luís Afonso, amigo com quem escalei algumas vezes, agora emigrado nos EUA; ao fotógrafo de natureza “Faísca” (Luís Gomes), “mestre” percursor do Digiscoping em Portugal, pelo seu forte e satírico sentido de humor, e por sempre ter colaborado na possibilidade de fornecimento de fotos e/ou aconselhando no contacto com outros autores de fotos com interesse para esta publicação; ao Nelson Avelar, meu irmão, pela sua ajuda ao longo dos anos em esclarecer e resolver os problemas informáticos e no ensino do uso dos programas; aos meus amigos de longa data, alheios ao mundo da Escalada, que, por muitas vezes, sentiram o meu afastamento, na sequência do envolvimento nos meus “projetos”; ao Jorge, Maia, Fatal, Madalena, Teresa e outros.

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Last, but not least, o meu profundo agradecimento à Raquel Marques, pelos anos de afeto e pelo facto de estoicamente me ter acompanhado em muitos fins de semana de cisma em escalar; enfim...obrigado Raquel, muito obrigado. Aos fotógrafos, que cederam gentil e gratuitamente as suas fotos, e a todos/as a quem possa não ter mencionado, o meu profundo agradecimento.

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“No final, conservaremos apenas o que amamos, só amaremos o que entendemos, só entendemos o que conhecemos e só conhecemos o que nos foi ensinado.”

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El Chorro, Espanha.

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Baba Dioum


Esclarecimentos prévios do autor 2002 Ano Internacional das Montanhas. A motivação que me levou à elaboração deste singular manual, estranhamente, ou talvez não, está relacionada com esta efeméride. O Ano Internacional das Montanhas teve uma considerável importância para todos os que, de uma forma mais ou menos direta, têm nas ricas, belas, mas ao mesmo tempo, agrestes e vulneráveis montanhas ou terras altas, o seu local e modo de vida, de território de pesquisa e de estudo, de prática desportiva e recreativa, de união contemplativa e mesmo espiritual.

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Embora seja certo que as atuais disciplinas mais praticadas da Escalada em rocha têm pouca relação com os territórios de montanha propriamente ditos, é necessário não esquecer que a raiz desta modalidade do montanhismo teve a sua origem há mais de dois séculos, quando a espécie humana decidiu aventurar-se e ganhar o gosto pelo simples prazer de subir as altas montanhas nevadas.

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Por diversos motivos que não irei realçar, (e, sejamos sinceros, como é do conhecimento de todos os que estão diretamente relacionados com o desenvolvimento, promoção e prática da modalidade), a abordagem de assuntos relacionados com Escalada em rocha “vs.” Acesso e Conservação é um tema muito pertinente e controverso entre os vários intervenientes. Contudo, esta abordagem é necessariamente incontornável e premente, tendo em vista a resolução das questões que lhes estão associadas com vista a resolver tal “diferendo”, quer para bem da conservação da Natureza, quer para bem da imagem da própria modalidade.

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Devido à sua importância, vulnerabilidade e ameaças que enfrentam, a Assembleia-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) decretou em 1998, 2002 como o Ano Internacional das Montanhas. Por sua vez, em pleno AIM, esta organização institui-o o dia 11 de Dezembro como o Dia Internacional da Montanha.Tal como o ocorrido ao longo do AIM, inúmeras iniciativas são realizadas em todo o mundo para celebrar este dia. Logótipo do Ano Internacional das Montanhas.

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Tendo sido um modesto praticante de Montanhismo e Escalada, mas cada vez mais sensibilizado para a necessidade de compatibilizar as atividades humanas com a conservação da Natureza selvagem, senti que podia e deveria aprender mais sobre este tema e contribuir também para alertar a comunidade de praticantes para desenvolverem e praticarem a modalidade de uma forma igualmente mais sustentável, que, como veremos ao longo deste manual, não é tão “inócua” como a maioria dos escaladores, monitores, empresários e outros responsáveis pela promoção da modalidade consideram. Nos “primórdios”, reza o ano de 2005, a minha ideia seria elaborar um pequeno folheto, em parceria com a SPEA, integrado numa estratégia mais alargada e com outros intervenientes, escaladores, clubes, vigilantes das IBA Áreas Importantes para as Aves (antiga designação até 2014) tendo em vista sensibilizar os praticantes portugueses para a necessidade de proteção da 15


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avifauna rupícola, principalmente nos locais de Escalada em rocha que pudessem existir dentro das IBA (atualmente designadas de Áreas Importantes para as Aves e Biodiversidade) em Portugal. Esta ideia de projeto, de âmbito nacional, ainda se mantém, esperando que o conteúdo encontrado nesta publicação sirva para chamar a atenção desta problemática e consequente parceria para a persecução de tal objetivo. À medida que ia pesquisando e refletindo sobre o assunto, compreendi que as implicações da Escalada no meio natural e sobre terceiros são mais vastas, sendo também alargado o número dos diversos intervenientes responsáveis respetivamente por promover, dinamizar, ordenar e gerir atividades deste Desporto de Natureza. Simultaneamente, considerei que o mundo das aves, da flora e da geologia (estas últimas duas áreas surgiram a posteriori), poderiam e deveriam ser melhor abordadas. Nesse sentido, foram surgindo novos tópicos e respetivos conteúdos, que vieram a materializar-se neste manual.

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Embora os impactes sejam relativamente menores, comparativamente com outras ações humanas — e mesmo dentro do grupo das atividades recreativas praticadas na natureza, algumas incompreensivelmente enquadradas na certificação de Turismo de Natureza — eles ocorrem, são muito específicos (outros são transversais a outros Desportos de Natureza), podendo e devendo ser minimizados e mesmo alguns deles claramente anulados. É através da atuação individual e sistemática sobre os diversos âmbitos ambientalmente afetados que é possível reduzir os diversos níveis de impacte. A partir do momento em que tais condutas e medidas são consideradas como uma second nature (segunda Natureza) na nossa forma de estar, tudo flui de modo natural, tornando-se numa ética permanentemente latente em cada consciência. Note-se que alguns impactes, apesar de não serem bem percecionados pelos seus responsáveis (ex. perturbação), ocorrem e podem ter consequências quase imediatas (ex. morte de crias no ninho por hipotermia, por falta de fornecimento de calor do seu progenitor ausente devido à perturbação), enquanto outros apenas começam a ser percetíveis aos sentidos com a passagem do tempo, por efeito cumulativo e não imediato (erosão).

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Em geral, as consequências do efeito cumulativo das ações humanas podem ser negativas (desflorestação) ou positivas (plantação) e resultam do efeito coletivo de cada umas das decisões e correspondentes ações individuais. As propostas apresentadas neste manual resultam não apenas da pesquisa efetuada pelo que “se faz lá fora” (podendo e devendo ser adaptada à nossa realidade), mas também como propostas resultantes de pertinentes reflexões. Considerei igualmente oportuno dar uma perspetiva holística, incluindo referências e mesmo alguns tópicos com curiosidades e factos relacionados direta ou indiretamente com os temas abordados. Para todos os que gostam das montanhas e que desejam aprender mais sobre as mesmas em diversos âmbitos (Biodiversidade, Clima, Água, Solo, Pobreza, Fome, Riscos, Cultura, Turismo, etc.) e conhecer os inúmeros projetos e iniciativas (mais de 50 países, 16 organizações não-governamentais e mais de uma centena de importantes grupos de trabalho), deverão consultar a página oficial do Ano Internacional das Montanhas http://www.alianzamontanas.org/ 16


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Falar de boas práticas é apelar à ética, à atitude individual, assunto deveras sensível de abordar. Dada a pertinência e a delicadeza do tema, e sendo ainda quase inexistente bibliografia específica sobre Escalada e conservação da natureza, o conteúdo desta publicação não foi fácil de abordar e estruturar. Mesmo assim, procurei dar informação que julgo ser enriquecedora para o/a leitor/a, tendo em consideração o objetivo central do manual. Tratando-se de um texto não literário, e onde conceitos e temáticas estão claramente interligados, este documento foise construindo ao logo do tempo de uma forma interdependente; tendo sido, por vezes, difícil decidir se, e onde, determinado conteúdo deveria ser incluído e até que que ponto deveria ser abordado e aprofundado. É possível que exista alguma abordagem similar em tópicos diferentes, mas que resultam da interrelação existente entre eles. Destaca-se a inclusão de alguma legislação aplicável, possivelmente não toda, direta ou indiretamente relacionada com a prática da modalidade em meio natural em particular e/ou com desportos ou atividades recreativas em geral praticadas na natureza. As recomendações apresentadas resultam não apenas da consulta de informação já existente, como também acrescidas de reflexões e propostas do autor. Estou certo de que, por vezes, faço uma abordagem pertinente, crítica, sobre determinadas situações; não posso deixar de o fazer, pois essa é a minha visão (alguns terão outra).

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Sendo o autor apenas um naturalista, e não tendo formação académica formal nas diversas áreas das “ciências da natureza” abordadas - Geologia, Botânica e Ornitologia - o rigor do conteúdo apresentado relacionado com estas áreas (apesar do importante contributo dos respetivos revisores especialistas que se debruçaram sobre os conteúdos apresentados), deve ser compreendido sob esta condição, especialmente perante especialistas profissionais destas temáticas, bastante exigentes no rigor científico. Assim, apesar dos esforços em procurar, tanto quanto possível, apresentar informação credível e rigorosa sobre estas e outras matérias, e devido à diversidade e quantidade de informação existente, é bem provável que surja algum erro, omissão ou necessidade de melhoria na qualidade, quantidade e/ou na atualização (especialmente na legislação, mas não só), relativamente à informação apresentada. Considerou-se que a profundidade dos temas apresentados foi q.b., dado o objetivo e destinatários generalistas a que a mesma se destina. Por estas e outras razões, este manual certamente nunca satisfará todos os leitores, poderá ser sempre melhorado e nunca estará completo e atualizado no exato momento da sua publicação. Apesar de tudo, embora iniciado em 2006 e terminado grande parte do conteúdo em 2012, o autor, dentro da disponibilidade de tempo para a pesquisa, procurou introduzir as mais recentes atualizações que pôde “detetar” em cada caso. Ainda assim, os fundamentos e princípios de base são universais e intemporais. Uma próxima edição sairá, espero eu, certamente com melhor qualidade; a todos os níveis. Como diz o ditado: practice makes perfect. De facto, o vasto tempo dedicado à pesquisa e confrontação de várias fontes; a criação e comparação de textos; elaboração de figuras e tabelas; a introdução e/ou reformulação de sugestões; a longa e difícil seleção de fotos pessoais, pedido e seleção de fotos das espécies de flora e avifauna a vários autores, as diversas revisões e as “afinações” editoriais; seguida da montagem e reajuste gráfico; os habituais problemas informáticos e, obviamente, a que se adiciona as inúmeras vicissitudes da vida pessoal, social 17


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e profissional ao longo dos anos, levaram a que a publicação do livro só se concretizasse quando todos os “astros” o permitiram . Um romance, por exemplo, pode ser escrito em dois, três, seis meses, um ano; tudo depende da imaginação e tempo que o autor poderá disponibilizar para o efeito. Muito dificilmente um manual técnico, um guia de campo, poderá ser possível de concretizar em tão curtos períodos de tempo. Recentes publicações de guias de campo, e outros, assim o atestam. Foi também “graças” ao meu afastamento da prática do Montanhismo e Escalada (após mais de uma década de prática regular) que me permitiu “trabalhar” este “projeto” e agora “encadear”, diria mesmo, fazer uma “FA”. Tive a oportunidade de refletir e ver a “floresta, para além da árvore”; isto é, de compreender a Escalada e as suas implicações ambientais, éticas e mesmo sociais, bem para além das questões técnicas, de equipamento, das vias e do “grau”. Apesar de tudo, está cá o “bichinho”, e muito gostaria de voltar a prática destas fascinantes atividades. Como o leitor poderá constatar, este manual possui inúmeras fotos, que, em conjunto com as suas legendas, enriquecem e servem de complemento ao texto. Pelo facto de tornar a aquisição desta publicação em papel muito dispendiosa, optou-se por fazer impressão a preto e branco. Reconheço que a sua atratividade se reduz, e a sua utilidade, especialmente na identificação da flora, é limitado, na medida que “oculta” a cor como parâmetro essencial na identificação. Para colmatar este assumido inconveniente (para além dos Guias de Campo em papel), recomendo a consulta de uma das mais importantes, se não a mais importante e interativa base de dados sobre flora existente on-line, criada por portugueses, nomeadamente botânicos, que criaram a Sociedade Portuguesa de Botânica: www.flora-on.pt. Por sua vez, também na internet, para que o leitor possa visualizar várias fotos a cores e ficar a conhecer genericamente um pouco melhor as características de identificação (inclusive as vocalizações), a área de distribuição, abundância e locais de observação das espécies de aves que ocorrem no nosso país (não só as referidas neste manual), recomendo a consulta da página http://avesdeportugal.info/index.html. Neste portal, também poderá aprender, de uma forma mais dinâmica, através da realização de cursos on-line (webninários)* em direto e assíncronos*, não só como identificar várias espécies de diversos grupos de aves, como aprender sobre alguns temas relacionados com a ornitologia. As várias áreas do fórum “aves”, deste portal, são igualmente um recurso de grande interesse a consultar regularmente. O geoportal do Laboratório Nacional de Energia e Geologia, http://geoportal.lneg.pt/, é, por sua vez, o recurso online no que a conteúdos de Geologia, Geodiversidade e Geossítios de Portugal se refere. Necessariamente, os revisores técnicos, especialistas nas diversas áreas das ciências da natureza abordadas, e a quem muito agradeço uma vez mais pelo seu empenho e tempo despendido, tiveram um papel decisivo na tentativa de acreditar informação por mim compilada sobre tais matérias. Ainda assim, reconhecendo o autor, e possivelmente também o leitor, que a conceção de um livro similar é um documento altamente dinâmico, e que é grande e constante a tentação do autor (eternos insatisfeitos com a sua obra) de procurar introduzir dados adicionais e afinar ao máximo o conteúdo (mesmo após a revisão por parte dos respetivos revisores), o autor assume a total e exclusiva responsabilidade, na eventualidade de existir alguma incorreção e/ou falta de descrição rigorosa de conceitos e termos científicos. O facto de ter citado textualmente e/ou 18

* Atualmente a referida página não se encontra a disponibilizar formação online


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apresentado fotos de algumas Escolas de Escalada (EE) e respetivas legendas como um possível mau exemplo, deve levar o leitor a considerar isso mesmo: apenas um exemplo. Tal não significa que a referida EE seja o pior exemplo de tal problemática, assim como em relação a outras EE. O mesmo se aplica aos melhores exemplos. Agradeço todas as sugestões e críticas vindas dos leitores, por forma a melhorar uma desejável 2ª edição. Envie a sua sugestão, crítica, observação, para: luisavelar25@gmail.com. Por questões ambientais, era minha intenção publicar este manual em papel reciclado. Contudo, a falta de verba e a inexistência deste tipo de papel na empresa de publicações print on demand, responsável pela impressão do mesmo, não me permitiu a realização deste desejo. Espero que uma futura reedição possa já ser impressa em papel mais amigo do ambiente. Por forma a melhor compartimentar a temática da informação, o Manual está estruturado em três capítulos. Além disso, o glossário no final do manual é um importante ponto de consulta, necessário para clarificar termos que surgem ao longo de todos os capítulos e que possam não ter tido uma clarificação prévia.

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O primeiro capítulo, mais curto, CONHECIMENTO DA MODALIDADE, contém informação especialmente útil para todos aqueles que desconhecem as particularidades históricas e conceptuais associadas à modalidade, permitindolhes compreender melhor algumas abordagens subsequentes nos outros dois capítulos. Isto possibilita igualmente uma mais fácil interpretação da literatura e/ ou artigos da internet sobre a modalidade, assim como a compreensão no terreno daquilo de que se está a falar (as plaquetes???, Top rope???).

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Embora o 1º capítulo seja curto e aquele que melhor eu dominava e domino, a sua elaboração não foi necessariamente simples. Por um lado, devido à ausência de definitiva uniformização de terminologia, a nível nacional e mesmo internacional sobre a modalidade; por outro, e como consequência disso, as definições apresentadas (tal como surgem no glossário) resultaram essencialmente do conhecimento prévio obtido da leitura e reflexões feitas ao longo da minha modesta “vida” como escalador interessado na modalidade na sua perspetiva mais abrangente.

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Certamente, e apesar dos esforços, algumas definições não estarão completas ou totalmente precisas, podendo ser alvo de melhoria. Neste caso, como noutro qualquer conteúdo deste manual com a mesma necessidade de alteração, o leitor é fortemente aconselhado a fazer a respetiva advertência, a qual humildemente agradeço. CONHECIMENTO DO MEIO foi, porventura, o mais trabalhoso dos capítulos, mas também um dos mais enriquecedores em termos de conhecimento pessoal. Este capítulo, o II do manual, aborda, pois, as três áreas das Ciências Naturais com as quais a prática da Escalada está mais relacionada e sobre as quais pode ter influência ao nível local: Geologia (ciência do estudo da Terra), Botânica (ciência do estudo das plantas) e Ornitologia (ramo da Zoologia que estuda a biologia e ecologia das Aves), relacionadas com o meio rupícola das escarpas e falésias rochosas. Destaca-se deste capítulo a apresentação de dados e factos relacionados com a biologia e ecologia das espécies (respeitamos aquilo que conhecemos 19


e compreendemos melhor), e de breves fichas técnicas das espécies de flora e avifauna ameaçadas, existentes nas escarpas e falésias rochosas em Portugal continental. Estas servirão, numa primeira fase, como referências visuais básicas de identificação no terreno; embora, de forma alguma, consigam substituir um bom guia de campo com inúmeras fotos a cores.

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Este capítulo é de suma importância, já que tem por objetivo primordial conseguir, através do conhecimento, despertar nos praticantes da modalidade e em todos aqueles que são responsáveis por atividades verticais sobre falésias e escarpas (mas não só), uma reflexão “crítica” sobre as repercussões da atividade que praticam e/ou promovem. Paralelamente, espero conseguir incutir nestes intervenientes o gosto em apreciar e acarinhar este singular habitat e seus habitantes. Além disso, eles devem tornar-se os primeiros defensores do seu bom estado de conservação e do meio ambiente em geral. Portanto, devem contribuir ativamente para a sua defesa e denunciar práticas danosas que possam ameaçar a conservação das espécies e dos seus habitats (destruição ou perturbação no habitat, furto, abate a tiro, envenenamento, colocação de armadilhas, etc.).

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Bem longe de ser um conjunto de regras, o III e último capítulo deste manual, Boas Práticas Ambientais e Sociais na Escalada em rocha, fornece, de uma forma mais compartimentada, mas nem por isso desconectada entre si, na sua desejada repercussão positiva, um conjunto de recomendações e medidas práticas pró-ambientais: umas, destinadas a serem aplicadas por equipadores e escaladores; outras, e dentro da sua especificidade, a serem ponderadas e necessariamente postas em prática por entidades que, de forma mais ou menos direta e decisiva, têm uma relação com a promoção, comércio e/ou ordenamento da Escalada em espaços naturais. É provável que alguns equipadores/escaladores (mas não só) considerem que tais recomendações e medidas são numerosas e/ou exageradas, ou ainda que já são do conhecimento comum, assente no bom senso ou no senso comum. Contudo, nada mais longe da realidade, pois da teoria à prática vai um longo caminho. Fica a citação de um anónimo sobre o bom senso: “the funny thing about common sens is that its not so common anymore”.

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Gostar da natureza não é um mero estado de espírito, é, em primeira e última instância, uma questão de atitude individual.

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Boas Escaladas em Bom Ambiente!


“…call for a change in the way we think as individuals and collectively; we need to see our environment not as something which surrounds …but rather as something of which we are part…. Instead of our relationship with the environment being one in which we seek to exploit it, our attitude should be one of partnership”.

In: Cooperation in the European Mountains The Sustainable management of climbing areas in Europe

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Introdução Marcadamente, desde o final da última década do séc. XX, a Humanidade tem vindo a confrontar-se, cada vez mais, com uma dura realidade sem precedentes, na longa história do planeta Terra: o imparável “progresso” das sociedades contemporâneas, desde a Revolução Industrial, em meados do século XVIII, até aos mais recentes avanços da revolução tecnológica do séc. XXI, tem vindo a ter — apesar de melhorias em muitas áreas do nosso quotidiano — consideráveis impactes negativos, diretos e indiretos (muitos deles evitáveis ou minimizáveis), sobre a quantidade e/ou qualidade dos elementos água, solo, ar. Estes impactes têm consequentemente repercussões sobre os diversos ecossistemas (ex. oceanos, florestas, rios, montanhas), ameaçando o importante equilíbrio ecológico à escala planetária. Ao contrário do percecionado por cada um de nós, são efetivamente, e em primeira instância, os diversos ecossistemas que fornecem serviços essenciais para o bem-estar humano e das outras espécies: i) Produção de alimentos, combustíveis, fibras; ii) Regulação do clima e controlo de doenças; iii) Suporte, como a formação de Solo e dos ciclos dos nutrientes; iv) serviços Culturais, onde se englobam os benefícios espirituais ou estéticos e mesmo recreativos. Este estado de desenvolvimento insustentá- Os ecossistemas e as paisagens de vel não tem tido apenas implicações negati- alta montanha serão, e já estão a ser, vas ao nível local e regional, mas também ao dos mais afetados pelo aquecimento nível global. Prova disso, como exemplo mais global. Isto tem também implicações marcante, refiram-se as atuais, repentinas e não apenas na segurança e na dispoextremas manifestações dos fenómenos cli- nibilidade de recursos das populações máticos, Alterações Climáticas, resultantes de montanheses, mas também dos do indesejável Aquecimento Global; que camponeses dos vales e planícies e são reconhecidamente aceites pela grande dos turistas que visitam os territórios maioria da comunidade científica internaci- de altitude. El Morado, 5060m de onal, como tendo uma causa predominante- altitude, na Cordilheira dos Andes, mente antropogénica (humana). Além disso, perto de Santiago do Chile, América este estado anormalmente atípico do clima já do Sul. JC. está a ser, embora em muitos casos não ime21


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diatamente percetível, e será no futuro, uma das maiores ameaças à biodiversidade, incluindo à própria sobrevivência da espécie humana. E, a agravar a situação, as suas repercussões estão a sentir-se também já ao nível da instabilidade social e económica. Com efeito, as alterações climáticas têm vindo já a afetar as populações que vivem, por exemplo, da agricultura e do turismo. Porém, as consequências mais graves situam-se no plano da segurança da vida humana, pondo em causa, mais numas regiões que noutras, mas infelizmente sobretudo nas regiões mais pobres, a própria vida dos habitantes (cheias, aluimentos de terras, furacões, tornados, derrocadas, avalanchas). Portugal, “pais à beira mar plantado”, também já está a sofrer com estas consequências, conforme atestam, cada vez mais, os noticiários nacionais (mini-tornados e “tsunamis”, períodos de seca, etc.) Será necessário, assim, mudar urgentemente de paradigma de desenvolvimento. Infelizmente, em Dezembro de 2009, na Cimeira sobre as Alterações Climáticas, realizada em Copenhaga, os importantes decisores políticos mundiais aprovaram apenas um acordo voluntário não vinculativo, ao invés de aprovarem um tratado vinculativo que substituísse o importante Protocolo de Quioto; que terminou em 2012, e cujo objetivo era estabelecer compromissos rigorosos às nações, para reduzir as emissões de gases que agravam o efeito de estufa, ou seja, a causa da origem do Aquecimento Global. Felizmente, consequência da realização da Cimeira do Clima, COP21 (21ª Conferência das Partes), ocorrida em Paris, em dezembro de 2015, foi assinado em finais de abril de 2016, na sede das Nações Unidas, um acordo que vincula o estados signatários a um compromisso nacional prático para o combate às alterações climáticas*. A procura de um Desenvolvimento Sustentável, definindose como “o desenvolvimento capaz de garantir as necessidades das atuais gerações, sem comprometer a capacidade das futuras gerações satisfazerem as suas próprias necessidades”; conceito surgido em 1987 e posteriormente massivamente difundido, após a emblemática Cimeira da Terra em 1992, realizada no Rio de Janeiro, sob os auspício da As montanhas ocupam 1/4 da Organização das Nações Unidas (ONU), e resuperfície da Terra, habitam nelas forçado em 2002, na Cimeira de Joanesburgo, quase 1 bilião de pessoas (muitas (ano também considerado pela ONU como o delas pobres e com fome). 1/4 dos Ano Internacional das Montanhas e o Ano animais e plantas terrestres ocorrem Internacional do Ecoturismo), é uma tentativa nas montanhas e estas fornecem 70% de inversão deste estado de desequilíbrio glode água doce do planeta (Mountain bal ambiental e social. Em 2012, vinte anos dePartnership). Entardecer no maciço pois, realizou-se novamente no Rio de Janeiro central dos “mágicos” Picos da Eu- a Cimeira da Terra – Conferência das Nações ropa, o primeiro Parque Nacional Unidas sobre o Ambiente e Desenvolvimento Espanhol (1918), inicialmente desig- (CNUAD). Lamentavelmente, os seus resultanado como Parque Nacional de Mon- dos ficaram uma vez mais aquém do necessário. taña de Covadonga. LA De facto, a “meta” de desenvolvimento apenas 22

* Infelizmente, em meados de 2017, o EUA, o maior emissor de GEE para atmosfera, sob a governação do seu mais recente presidente, Donald Trump, decidiu sair do crucial acordo de Paris.


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é possível de conseguir com uma viragem determinante de estratégia, e com um compromisso responsável e pragmático em todas as áreas, sectores da sociedade, e por parte de todos intervenientes: estados, instituições, organizações não-governamentais, empresas e cidadãos - individual e coletivamente -, não apenas nas atividades do quotidiano familiar e profissional, mas também nos tempos livres, como na prática de atividades desportivas e recreativas realizadas na Natureza, tão necessárias para o bem-estar de muitos cidadãos e cidadãs. Reconhecendo que as atividades humanas estão a ter um considerável impacte na perda da biodiversidade, a Comissão Europeia estabeleceu em 2006 o Plano de Ação, com o objetivo de travar a sua perda até 2010 (Countdown 2010), designado pelas NU como Ano Internacional da Biodiversidade. Apesar de alguns resultados positivos, tal objetivo não foi definitivamente atingido e muito haverá ainda a fazer. Reconhecendo a inquestionável importância da Biodiversidade para o necessário equilíbrio dos ecossistemas e dos serviços que eles prestam, a 20 de dezembro de 2010, esta organização internacional decretou, na sua Assembleia-Geral, os anos de 2011 a 2020 como a década da Biodiversidade.

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Uma guia-intérprete do Parque Nacional dos Picos da Europa fala dos aspetos culturais e tradicionais relacionados com a vida dos montanheses nesta região montanhosa do norte de Espanha. Atrás de si, observa-se um Hórreo, construção usada para guardar alimentos, mantendo-os livres de humidade e da ação dos roedores Apesar de possuírem outra tipologia de construção, os famosos espigueiros existentes na região norte de Portugal, possuíam e possuem igualmente a mesma função. LA

Desportos de Natureza

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Principalmente desde meados da década de 90 do século passado, que tem sido considerável o crescimento em todo o mundo, e Portugal não é exceção, da visitação e prática de desportos e atividades recreativas, em pleno meio natural, especialmente em áreas protegidas (AP). Contudo, os desportos praticados em meio natural, vulgarmente designados por Desportos de Natureza, e que têm vindo a crescer na diversificação da tipologia de modalidades, bem como em número de praticantes, ocorrem, muitas vezes, em habitats (ambiente típico onde vive um organismo ou uma população) outrora livres ou com escassa presença humana; albergando, por sua vez, uma considerável Biodiversidade (montanhas de média a elevada altitude, rios, galerias ripícolas, escarpas e falésias rochosas). É neste grupo de modalidades desportivas praticadas em meio natural que as diversas disciplinas da Escalada em rocha se inserem. Dado o singular habitat natural em que estas disciplinas se desenrolam, podem, quando praticadas sem respeitar alguns cuidados (dependendo de vários fatores), interferir, negativamente, sobre as espécies de flora e fauna que habitam as escarpas e falésias rochosas, com destaque para a avifauna, ou seja, as aves. Problemas de restrição de acesso aos espaços naturais, quer por ques23


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tões de conservação, quer também por necessidade de respeitar a propriedade privada, têm vindo a acentuar-se cada vez mais em muitos países, não sendo obviamente do agrado dos praticantes da modalidade. Por exemplo, o Brasil, o maior país da América Latina, e possivelmente o que apresenta mais zonas de Escalada em rocha, possui mais áreas de Escalada “fechadas” do que todos os Estados Unidos e o Canadá juntos (in: http://accesspanamerica.com/areas.php - 26-7-2009). Já a Alemanha, país com um relativamente escasso território rochoso (ao contrário do número de praticantes, que é desproporcionalmente maior em relação às escassas zonas de Escalada disponíveis), e com uma forte pressão dos grupos conservacionistas, parece ter vivenciado, desde há largos anos, fortes restrições de acesso devido à necessidade de salvaguarda das espécies que habitam este meio. Contudo, alguma literatura indica que a parceria entre escaladores e entidades conservacionistas alemãs é já, há bastante tempo, uma realidade com bons resultados (Antonioli 1998). Também na nossa vizinha Espanha tem vindo a crescer o número de Escuelas de Escalada, em que a modalidade está interdita ou condicionada no espaço e/ou no tempo, quer por motivos conservacionistas, quer também devido a questões de acesso. Consequentemente, estas situações têm contribuído para uma maior organização (apesar de reativa e não proativa) por parte dos praticantes nuestros hermanos, levando à criação de algumas associações de Escaladores, com o objetivo de mediar e resolver estas problemáticas. Portugal, embora a uma escala bem menor, possui problemas similares, não existindo contudo uma mobilização formal por parte dos praticantes, para resolver, de uma forma pró-ativa, os diferendos existentes. Com o objetivo de contribuir para o necessário desenvolvimento ambientalmente mais responsável, sustentável e ético da Escalada em rocha, foi criado o presente manual. Esta obra reconhece a considerável importância das máximas: “Natureza conhecida (e compreendida), é Natureza protegida” e “Apenas poderemos proteger convenientemente aquilo que conhecemos”. Embora esta publicação apresente fatores importantes a considerar aquando do planeamento de uma regulamentação e gestão de locais de Escalada, não apresenta, contudo, soluções de regulamentação definitivas e O Parque Nacional da Peneda Gerês, aplicáveis a todas as EE; mas sim, noções, no Norte de Portugal, é o único par- princípios e recomendações a considerar que nacional no nosso país. A grande para uma eventual necessidade de regulação. fraga da Meadinha (não está na foto) Uma avaliação detalhada ao nível local sobre é a principal referência de Escalada vários âmbitos é fundamental. Isto deve-se ao Clássica para os escaladores que visi- facto de cada local de Escalada ter particulatam esta área protegida de montanha, ridades e variáveis únicas, sendo de destacar: i) tipologia de escarpa e espécies que ocorque faz fronteira com Espanha. LA rem na mesma (extensão, altura, orientação, 24


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saliências, etc.) e do seu meio natural envolvente; ii) condicionantes do direito de reserva ao acesso aos locais de prática (as EE podem estar em propriedade privada ou sob outra qualquer limitação jurídica); e iii) particularidades das disciplinas que ocorrem ou possam vir a ocorrer nesse mesmo local. Dado o considerável número de praticantes ou participantes em atividades de animação de Escalada em meio natural e os diversos impactes inerentes à sua prática, esta modalidade desportiva tem sido alvo de algumas análises e avaliações em alguns países. Relativamente à situação em Portugal, no seguimento do conteúdo do presente manual, seria oportuno que praticantes, clubes, federação e organismos públicos responsáveis pela área da conservação da natureza congregassem esforços de cooperação por forma a incrementarem uma estratégia de desenvolvimento mais sustentável da modalidade no nosso país. Efetivamente, a criação de uma equipa multidisciplinar, que levasse à elaboração de um manual sobre princípios orientadores para ordenamento, criação, “gestão” e manutenção de EE já existentes e/ou com potencial interesse para tal, seria, no mínimo, definitivamente um primeiro passo importante para atingir esse objetivo. Sem uma avaliação, planeamento e monitorização não se pode falar de sustentabilidade em qualquer atividade humana. O presente manual segue naturalmente a “missão pedagógica” que vai ao encontro da Resolução das Nações Unidas n.º 57/254, que destacava o período de 2005 a 2014 como a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável. De uma forma mais específica, o presente conteúdo cumpre também um dos quatro objetivos da PEBLDS 1996-2015 (Estratégia Pan-Europeia da Diversidade Biológica e Paisagística): aumentar consideravelmente o envolvimento dos cidadãos e a consciência relacionada com as questões da diversidade biológica e paisagística. Com efeito, o Tema 10 da PEBLDS incide sobre os Ecossistemas de Montanha. Além disso, foca também a questão da minimização dos impactes das atividades recreativas nos territórios de montanha. Nessa sequência, foi elaborado um conjunto de publicações, dentro da série Cooperation in the European Mountains, destacando-se uma importante, relacionada com a Escalada em rocha na Europa – Cooperation in the European Mountains 3: The Sustainable management of climbing areas in Europe (2000). Apesar dos 14 anos volvidos sobre a edição da publicação, recomenda-se, ainda assim, a sua a leitura a todos os que estão interessados em conhecer algumas medidas de sustentabilidade da Escalada em rocha. Para além de factos, casos de estudo e estratégias relacionados com as questões de conservação e acesso às escarpas e falésias rochosas nos diversos países europeus (1), aquele trabalho aborda também tópicos que ajudam a compreender as singularidades sociológicas que levaram, e levam, ao desenvolvimento da modalidade. O autor e as entidades parceiras estão seguramente conscientes de que com o Manual de Boas Práticas Ambientais na Escalada em rocha - Conhecer para Conservar o Habitat e espécies de Flora e Avifauna de Escarpas e Falésias rochosas se irá reforçar e, em muitos casos, chamar verdadeiramente, e pela primeira vez, a atenção de muitos praticantes, clubes e federação de Montanhismo e Escalada, bem como de empresas de Animação Turística e outras entidades que desenvolvam atividades em meio natural, para as diversas implicações ambientais que a moda(1) Segundo referido na publicação, foi também enviado a Portugal, ao CNM (Clube Nacional de Montanhismo), um questionário para levantamento de dados. Mas, de acordo com a tabela de pesquisa apresentada pela autora do estudo, Portugal foi um dos países que não respondeu.

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lidade pode ter e da necessária conservação da Biodiversidade em meio rupícola. Este é um documento pedagógico bastante útil a um vasto leque de âmbitos de formação e destinatários, que não apenas aos atuais praticantes, destacando-se: formadores e formandos de cursos de iniciação, aperfeiçoamento e avançados de Escalada; cursos de equipamento de vias de Escalada; cursos de formação de Técnicos e Monitores, realizados por Clubes e/ou Federação de Montanhismo e Escalada; cursos de formação de ativos de Empresas de Animação Turística; gestores e técnicos de áreas Protegidas; vigilantes da Natureza; alunos e docentes de cursos de Turismo de Natureza, Desporto de Natureza, Ecoturismo; responsáveis e profissionais que já desenvolvam atividade nestas áreas; voluntários e técnicos de ONGA (Organizações não-governamentais de Ambiente); docentes responsáveis por núcleos de aventura na sua escola; etc. Note-se que alguns tópicos, reflexões e ideias abordados, não são restritas à Escalada, podendo e devendo ser aplicados a outros desportos e atividades recreativas na Natureza. Realça-se igualmente um enfoque, muitas vezes esquecido, mas cada vez mais tido em conta em estudos sobre os impactes das atividades recreativas em meio natural: o impacte que essas atividades exercem sobre a experiência nos visitantes, ou seja, o fator humano/socialização. Os instrutores, técnicos e monitores terão aqui uma importante base documental para adquirir alguns conhecimentos sobre as singularidades e vulnerabilidades do meio rupícola. Dessa forma, e na justa medida e no tempo oportuno, conseguirão passar a mensagem aos participantes que ensinam ou enquadram nas suas atividades. Na verdade, qualquer responsável de um grupo de participantes em atividades desportivas ou recreativas na Natureza tem uma responsabilidade acrescida, já que não deve apenas facultar conhecimento teórico sobre estas pertinentes questões, mas, e principalmente, saber influenciar através do (bom) exemplo pessoal prático. Anseia-se conseguir despertar em todos, em especial aos atuais e futuros escaladores nacionais, o apreço pela observação da Natureza em geral e o gosto pela observação e conservação de flora e aves rupícolas, em particular.

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“…Sports facilities and the practice of sport as a human activity can directly and indirectly contribute to the perturbation of ecosystems, including their natural resources and biodiversity…” “…Environment fully deserves to be considered as the third pillar of Olympism, after sport and culture. The Olympic Movement has therefore the responsibility of addressing environmental issues and integrating its actions within the frame work of sustainable development….” “…The Olympic Movement, as the movement encompassing sports orga-nizations, athletes and other persons who agree to be guided by the Olympic Charter, has a direct and concrete role to play in the field of environmental protection…” “…The IOC shows special concern for the surrounding community, cultural monuments, protected areas and species, wetlands, fragile mountain areas and other vulnerable habitats”.

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In: MANUAL ON SPORT AND THE ENVIRONMENT – IOC (International Olympic Committee)


2010 – Ano Internacional da Biodiversidade - Sobre a Biodiversidade

A biodiversidade engloba a variedade de genes, espécies e ecossistemas que constituem a vida no planeta.

Assistimos atualmente a uma perda constante da biodiversidade, com profundas consequências para o mundo natural e o bem-estar humano. As principais causas são as alterações nos habitats naturais, resultantes dos sistemas intensivos de produção agrícola, da construção, da exploração de pedreiras, da sobre-exploração das florestas, oceanos, rios, lagos e solos, da introdução de espécies alóctones invasivas, da poluição e, cada vez mais, das alterações climáticas globais. A Europa estabeleceu um objetivo para travar a perda de biodiversidade até 2010. Vários estudos recentes da

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AEA mostram que se não forem envidados mais esforços políticos significativos, é improvável que esse objetivo seja atingido.

A humanidade é ela própria parte da biodiversidade e a nossa existência seria impossível sem ela. Qualidade

de vida, competitividade económica, emprego e segurança, tudo depende deste capital natural. Biodiversidade é fundamental para os “serviços ecossistémicos”, ou seja, os serviços que a natureza fornece: regulação do clima, da

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água e do ar, fertilidade dos solos e produção de alimentos, combustível, fibras e medicamentos. A biodiversidade é essencial para manter a viabilidade da agricultura e das pescas a longo prazo e é a base de muitos processos industriais e da produção de novos medicamentos.

Na Europa, a atividade humana tem moldado a biodiversidade desde a expansão da agricultura e da

produção animal, há mais de 5000 anos. As revoluções agrícola e industrial deram origem a profundas e rápidas mudanças na utilização dos solos, na intensificação da agricultura, na urbanização e no abandono das terras que,

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por seu turno, resultaram no desaparecimento de muitas práticas (por exemplo, métodos agrícolas tradicionais) que ajudavam a preservar a riqueza das paisagens em biodiversidade. O elevado consumo e produção de resíduos por pessoa na Europa significa que o nosso impacto nos ecossistemas se estende muito para além do nosso continente. Os estilos de vida europeus dependem significativamente da importação de recursos e bens de todos os cantos do mundo, encorajando muitas vezes a exploração dos recursos naturais. Esta situação leva à perda de biodiversidade, que, por seu turno, reduz o capital de recursos naturais no qual se baseia o desenvolvimento económico e social.

A perda de biodiversidade está inevitavelmente ligada à degradação dos serviços ecossistémicos que suportam

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a vida na Terra. O Relatório de Avaliação dos Ecossistemas do Milénio, de 2005, avaliou globalmente 24 serviços ecossistémicos e concluiu que 15 desses serviços ficaram degradados, afetando as pescas, a produção de madeira, o abastecimento de água, o tratamento de resíduos e a descontaminação, a purificação da água, a proteção contra os perigos naturais e a regulação da qualidade do ar. O relatório Situações e Perspetivas, de 2005 da AEA e a sua quarta avaliação do ambiente na região pan-europeia mostram que, aparentemente, a UE não está a fazer progressos na consecução do objetivo que consiste em travar a perda de biodiversidade na região até 2010 (2) .

In: Agência Europeia do Ambiente. http://www.eea.europa.eu/pt/themes/biodiversity/about-biodiversity

(2) Em maio de 2011, a Comissão Europeia adotou uma nova estratégia que estabelece o quadro de ação da UE para os próximos dez anos com vista a atingir o objetivo central para 2020 em matéria de biodiversidade que foi fixado pelos dirigentes da UE em março de 2010. In: Estratégia de Biodiversidade da UE para 2020 - folheto Dezembro 2011.

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“ Los limites de la progressión en pared están en tu imaginación, eso sí, simpre es mejor una retirada honrosa antes que deteriorar el medio o modificar el itinerário primitivo” In: Escalada Artificial - teoria y práctica .

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Capítulo I Conhecimento da Modalidade

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De forma a permitir uma melhor compreensão por parte dos menos conhecedores da modalidade, será abordada neste primeiro capítulo, em resumo, a origem e evolução da Escalada em rocha, bem como a clarificação de conceitos da Escalada e das características gerais das suas disciplinas. É preciso não esquecer que a Escalada em rocha, à semelhança de muitos outros Desportos de Natureza, é um desporto “aberto”, relativamente recente, comparado com as tradicionais modalidades desportivas praticadas em recintos em meio urbano, pelo que se encontra ainda em constante evolução e, até certo ponto, livre de restritas “regras de jogo”. Nesse sentido, por vezes, torna-se algo complexo explanar alguns conceitos e/ou descrever equipamentos e a sua aplicabilidade de um forma simples e restrita, existindo sempre exceções e variantes no seu uso ou aplicação. Em Portugal, parece não existir ainda o estabelecimento de uma terminologia reconhecida a nível nacional que simplifique a elaboração deste tipo de conteúdo.

Origem e Evolução da Escalada em rocha

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Poderá afirmar-se que a génese histórica que levou ao surgimento, mesmo que de uma forma menos direta, das atuais disciplinas da Escalada em rocha, remonta há mais de dois séculos, quando a espécie humana se propôs, após séculos de mera necessidade utilitária (refúgio, procura de alimentos, recursos de matérias primas, necessidade de deslocação, etc.), medo e/ou veneração (dependendo da região do mundo, das culturas e do momento histórico), começar a subir montanhas pelo simples prazer que tal lhe proporcionava. Tinha assim nascido o Montanhismo, o gosto por deambular pelas montanhas, porque isso era simplesmente ansiado, e porque trazia bem-estar. O Alpinismo, o prazer da ascensão às altas montanhas nevadas, é reconhecido como expoente máximo do montanhismo. Reconhece-se que o nascimento do Alpinismo se deve a Horace Bénédict de Saussure, um naturalista e geólogo, nascido de uma família aristocrática de Genebra, na Suíça. Fascinado pela beleza das altas montanhas, e em particular pelo Monte Branco (4807m alt.), a mais alta montanha da cordilheira dos Alpes europeus, Saussure oferecia uma recompensa a quem conseguisse alcançar o seu cume. Contudo, principalmente devido a fatores inerentes ao temor pelas altas montanhas, associado ao preconceito dos habitantes locais de Chamonix (a mais em28


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Capítulo I – CONHECIMENTO da MODALIDADE

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Capítulo I – CONHECIMENTO da MODALIDADE

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Capítulo I – CONHECIMENTO da MODALIDADE

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“Al espirítu de la roca, que, a aquéllos que hemos escogido respetarla, continúa dándonos un modo de vida con el que descubrir la belleza, el misterio y la libertad de actuar en armonía con la naturaleza”

in: El espíritu de la roca - Ron Kauk

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Capítulo II CONHECIMENTO do MEIO

Introdução

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Os habitats rupícolas, quase intocáveis até há poucas décadas, são, em muitos casos, o último refúgio de espécies endémicas e/ou raras que já se encontram desaparecidas em terrenos relativamente mais suscetíveis aos impactes diretos e/ ou indiretos das ações humanas (p.e. fogos, pastoreio caprino, espécies exóticas invasoras). Na sequência do recuo das neves dos períodos interglaciares, o último terminado há cerca de 10.000 anos, este isolamento das espécies é ainda mais marcante em territórios de montanha de maior altitude mas baixa latitude, não apenas em escarpas mas também noutros habitats. Os biótopos rochosos das montanhas de baixa altitude, ou seja, as características físico-químicas e ambientais de um determinado meio onde vivem as espécies (rocha, solo, incidência solar, temperatura, precipitação, vento, nível de meteorização e erosão, etc.), são diferentes dos biótopos de montanha de elevada altitude, mesmo que estas se situem à mesma latitude.

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Embora, regra geral, a presença humana seja sempre menor à medida que se sobe em altitude, em contrapartida, as adversidades físicas e climáticas são maiores para as espécies que habitam os territórios mais elevados. Grandes desníveis numa curta distância, relevo muito acidentado e instável, solo mais escasso e delgado, clima mais extremo e imprevisível, maior incidência solar, escassa área útil do território destinado à procura de alimento, de refúgio e reprodução, são algumas características adversas destes territórios montanhosos. De notar igualmente que, o início do ciclo reprodutivo de plantas e animais nas montanhas é mais tardio em relação às baixas altitudes. Isto é, as plantas desabrocham mais tarde, como também mais tarde se reproduzem

Sol matinal refletido numa das inúmeras, altas e extensas escarpas calcárias de montanha do Parque Nacional dos Picos de Europa (Espanha). Embora já sem a presença de glaciares, o relevo dos Picos de Europa resultou, também, da influência erosiva dos glaciares alpinos. LA 56


especificidade ecológica, uma vez que se encontra confinada a um habitat bastante frágil devido à sua instabilidade. Zonas não calcárias * Narcissus scaberulus Henriq. (narciso-doMondego) ENDEMISMO PORTUGUÊS

Distribuição geográfica: Ocorre no troço montante da Bacia Hidrográfica do Rio Mondego.

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Narcissus scaberulus; AJ

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Descrição geral: Planta bolbosa, com duas a sete flores amarelas. O período de floração é muito curto, indo de fevereiro a abril, dependendo das condições climatéricas. Ocorre apenas em substratos graníticos, tanto em fendas de rochas, como nos solos originados a partir de granitos.

Estatuto de ameaça: Vulnerável (Estatuto proposto para o Livro Vermelho das Plantas de Portugal).

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Estatuto de proteção: Consta do Anexo I da Convenção de Berna e Anexos II e IV da Diretiva Habitats (92/43/CEE). Silene acutifolia Link ex Rohrb. ENDEMISMO IBÉRICO

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Descrição geral: Planta perene, densamente pilosa e algo pegajosa, folhas largas e opostas. Flores cor-de-rosa, vistosas, aparecendo de maio a junho. Ocorre em zonas montanhosas, quase sempre em fissuras de rochas graníticas.

Silene acutifolia; PA

Distribuição geográfica: Ocorre apenas nas montanhas do centro e norte de Portugal (Serra da Estrela, Serra do Caramulo, etc.), e Galiza.

Davallia canariensis (L.) Sm. (feto-dos-carvalhos) ENDESMISMO MACARONÉSICO

Descrição geral: Planta perene, rupícola ou epífita (que cresce sobre outras plantas), com caules muito grossos, rastejantes, desenvolvendo-se sobre a pedra ou sobre os troncos de árvores. Folhas muito recortadas, de contorno triangular, 94


Capítulo II – CONHECIMENTO do MEIO

Aves como bioindicadores de sustentabilidade na EU

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O Eurostat é o gabinete da União Europeia dedicado à elaboração de dados estatísticos tendo em vista ajudar no delineamento e avaliação de políticas europeias nas mais diversas áreas, inclusive na área ambiental. As populações de aves silvestres são um dos parâmetros, não os únicos, para a avaliação da qualidade de vida, o nível de sustentabilidade e o bem-estar social no velho continente. O Índice de Aves Comuns (Common Bird Index) é um referencial do Indicador do Desenvolvimento Sustentável. As aves dependentes do meio agrário, aves florestais e aves comuns são os principais grupos de avifauna sob avaliação. Segundo os dados recolhidos ao longo dos anos, existe uma clara tendência desfavorável no grupo de aves muito dependentes do meio agrário. Para que seja possível aferir estes dados em grande parte da União Europeia, é indispensável o contributo das diversas associações ambientalistas, especialmente dedicadas à avifauna, como a SPEA, e do inestimável contributo de inúmeros voluntários no terreno que elaboram os censos ao nível local. Posteriormente, com os dados recolhidos e registados por todos os observadores voluntários, é possível caracterizar anualmente as tendências populacionais de avifauna visada. O CAC (Censo de Aves Comuns), lançado em 2004 no continente e na Madeira, e em 2007 nos Açores, é o pograma de monitorização, a longo prazo, de aves comuns nidificantes e seus habitats em Portugal, servindo de referência para a análise e elaboração estatística do Eurostat.

Aves de Rapina - Espécies ameaçadas

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As aves de rapina, muitas delas rupícolas, sofreram durante muitas décadas, e mesmo séculos, uma tendência de declínio, facto que se traduz no ainda atual reduzido efetivo populacional de muitas das suas espécies; embora algumas com tendências favoráveis de recuperação (ex. Grifo; águia de Bonelli). No entanto, esse declínio não está de forma alguma relacionado diretamente com a prática de Escalada em rocha. O declínio deveu-se a outras causas antropogénicas, como se referirá mais adiante, sendo o caso historicamente mais marcante e conhecido o do falcão-peregrino, vítima do nefasto DDT.* Concretamente, na década de 40, com o objetivo de controlar as pragas de insetos na agricultura, começou a utilizar-se o químico DDT (Diclorodifeniltricloroetano), o qual durante alguns anos se pensava inofensivo para os outros animais (que não insetos). Todavia, com os anos, descobriu-se a gravidade do uso deste inseticida químico, ao ponto de ter sido proibido o seu uso. Este emblemático falcão, uma espécie ornitófaga (alimenta-se quase em exclusivo de aves) como predador de topo da cadeia alimentar em que se insere, acumulava uma grande concentração de DDT a partir das aves insetívoras de que se alimentava, dado que estas já tinham absorvido por sua vez este químico (bioacumulação) através dos insetos que comiam. Refira-se que os insetos se alimentavam, por sua vez, das culturas que tinham sido pulverizadas por este forte pesticida para os combater. As elevadas concentrações de DDT nos organismos dos falcões, e particularmente

* Durante a IIª guerra mundial muitos falcões-peregrinos foram igualmente mortos, dado que esta espécie aniquilava os pombos correios, que eram usados como mensageiros alados.

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Capítulo II – CONHECIMENTO do MEIO

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A construção de grandes barragens em vales encaixados (com potencial submersão de escarpas importantes para a nidificação) reduz consideravelmente o habitat “vertical”, requisito fundamental para a nidificação de aves rupícolas. A destruição ou perturbação nos habitats terrestres contribui indiretamente para o declínio do número de aves de rapina, rupícolas ou não, pois é nestes que se encontra a maioria das presas de que estes predadores de topo se alimentam: mamíferos, répteis, anfíbios e outras aves.

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Uma outra causa responsável pela ��� ���� �� ��� ���� morte direta deste grupo de aves, em particular aves necrófagas, tem a ver com Gráfico compilado com dados fornecidos o envenenamento do animal quando este pelo último relatório (2018) da Birdlife se alimenta de animais mortos em zonas International: “Estado das aves no mundo rurais. A maioria destas mortes ocorre - tomando o pulso do nosso planeta”. Este pelo consumo de iscos, deliberadamente relatório reflete um estado preocupante contaminados por estricnina (substância desde há várias décadas: a tendência de altamente tóxica e já proibida há muito declínio das espécies de aves a nível gloanos também no nosso país) ou outros bal. As espécies de aves mais ameaçadas produtos químicos, altamente tóxicos, continuam no curto caminho para a sua extinção, e aquelas consideradas mais cocomo fungicidas, herbicidas, etc. utilizados muns e com ampla distribuição, estão já a na agricultura. Estes produtos são, ainda, sofrer um acentuado declínio. infelizmente, usados para eliminar outras espécies consideradas daninhas (ex. raposa, lobo) para os criadores de gado, de animais de capoeira e na “concorrência” com a atividade cinegética (caça). O seu uso indevido também pode colocar em causa a saúde pública, principalmente de pessoas que vivem em zonas rurais que se alimentam dos seus animais de criação e ainda a saúde dos seus animais de estimação, como cães e gatos, que acabam igualmente por sucumbir, vítimas deste ato criminoso.

Para combater o flagelo dos envenenamentos, foi criado em 2004 o Programa Antídoto-Portugal, promovido também por algumas ONGA e entidades nacionais e estrangeiras. Embora com consideráveis melhorias ao longo das décadas, o abate a tiro de aves de presa por parte de alguns caçadores sem escrúpulos e/ou alguns curiosos que querem testar a sua perícia, “olho-gatilho”, ainda se mantém. Ao contrário do que se julgava antigamente, as rapinas são preciosos auxiliares dos caçadores e dos agricultores, pois alimentando-se de mamíferos ao nível do solo, controlam diversas pragas de micromamíferos (ex. ratos), ajudando ainda na eliminação natural dos animais mais velhos e doentes, contribuindo assim para evitar a propagação���� � de várias doenças entre uma ou várias populações das espécies cinegéticas, como é o caso, por exemplo, da mixomatose, ou da Doença Hemorrágica Viral (DHV) nos coelhos bravos (presa 119


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tivamente perto de habitats com quantidade de presas de que se alimentam. Para muitas destas espécies, a existência de escarpas adequadas à sua nidificação é um dos fatores limitantes mais importantes para as suas populações. Mesmo a “abertura” de um caminho nas imediações de uma escarpa, na base e/ou topo e/ou na encosta adjacente, anteriormente inacessível, pode significar um incremento significativo de visitação e consequente perturbação que, por motivos diversos, pode inviabilizar a utilização desse local por essas espécies, especialmente as mais sensíveis, como, por exemplo, a águia-real Aquila chrysaetos ou falcão-peregrino Falco peregrinus. Sendo muitas das escarpas apetecidas pelos escaladores para praticar a sua modalidade, nomeadamente aquelas de rocha mais consolidada, as que simultaneamente apresentam também melhores condições para a ocorrência de espécies de flora e fauna (embora este não seja o único requisito), a existência de impactes/perturbações dos praticantes da atividade Capa da publicação: “Raptors and sobre as espécies rupícolas é uma realidade Climbers (Escaladores e Aves de Ra- em todo o mundo, embora muito possa ser pina) Orientações Técnicas para a feito para anular e/ou minimizar consideraGestão da Escalada em Áreas com Ni- velmente esses efeitos. Também é verdade dificação de Aves de Rapina”. Fonte: que existem muitas escarpas com escassa riqueza biológica ou com ausência de espécies Access Fund. sensíveis e/ou ameaçadas, pelo que a prática da modalidade nesses locais não será contraproducente. Por outro lado, pode haver escarpas com elevado interesse conservacionista que não são de interesse para os escaladores. Com o aumento do número de praticantes, a pressão humana direta tem vindo de facto a aumentar consideravelmente. Numa importante publicação, Raptors & Climbers, produzida pelo Access Fund – organização nacional norte americana dedicada a salvaguardar o acesso dos praticantes da modalidade a zonas naturais de Escalada e a garantir simultaneamente a conservação ambiental das mesmas – é referido que a presença humana, mesmo que não esteja perto do ninho, pode perturbar o normal comportamento de espécies de aves mais sensíveis, como por exemplo o falcão-peregrino. É ainda referido que a Escalada, por si só, através de impacte visual ou sonoro percetível às aves, pode alterar hábitos e comportamentos nas espécies, como sejam: durante a procura de local para nidificação e construção do ninho; condicionar a saída e retorno com alimento para as crias; provocar abandono prematuro dos ninhos na época de nidificação; alterar os habituais locais de poiso e busca de presa; etc.. Dentro do “seu” território, especialmente as aves de rapina, possuem locais preferidos que servem de atalaia para a deteção das suas presas, como ponto de par122


Capítulo II – CONHECIMENTO do MEIO

Espécie: Melro-das-rochas (Monticola saxatilis) Espanha: Roquero rojo Estatuto de protecção: Em Perigo Período crítico: meados de abril a julho

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Ocorre em: zonas montanhosas e pedregosas, com afloramentos rochosos geralmente acima dos 800 metros de altitude. Nidifica em cavidades ou reentrâncias de escarpas. Tem uma distribuição bastante localizada em Portugal continental, onde nidifica nas terras altas do norte e do centro, como são exemplo as serras da Estrela e do Gerês. Fenologia: Estival (abril a setembro).

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Dicas para identificação e singularidades: o macho tem cor azul esbatido e laranja, com o uropígio branco e a fêmea é de cor castanha. O chamamento é um pio estridente, tendo ainda outras variações. Alimenta-se de insetos, matéria vegetal e também Melro-das-rochas DC. de pequenas lagartixas. É uma ave muito cautelosa e esquiva. Espécie: Melro-azul (Monticola solitarius)

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Espanha: Roquero solitário

Estatuto de proteção: Pouco Preocupante

Período crítico: Meados de março a junho

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Ocorre em: litorais rochosos e declivosos, ravinas e vertentes montanhosas e pedregosas com afloramentos rochosos e vales fluviais escarpados. Também pode ocorrer em zonas de menor altitude, em zonas planas, ruínas abandonadas, igrejas, castelos e mesmo no interior de localidades (p. ex. Loulé, Mértola, Castelo Branco). Nidifica em cavidades ou reentrâncias de escarpas e muros. Fenologia: Residente.

Dicas para identificação e singularidades: o macho tem cor azul esbatido e a fêmea é de cor castanha. O chamamento é um pio estridente, tendo também outras variações. Alimenta-se de insetos, matéria vegetal e ainda de pequenas lagartixas. É uma ave Melro-azul. Faísca muito cautelosa e esquiva.

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Capítulo III – BOAS PRÁTICAS AMBIENTAIS, SOCIAIS e DESPORTIVAS na ESCALADA

“Intimacy with nature is part of the appeal of recreational rock climbing and mountaineering. Indeed, the defining moments in a climb are just as often the glimpse of a rare bird or animal as a particularly difficult sequence of moves. Climbers gain literally a unique perspective on the world and on the special wildlife which inhabit the climbing environment”.

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Raptors & Climbers – Guidance for Managing Technical Climbing to Protect Raptors Nest Sites

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Capítulo III Boas Práticas Ambientais, Sociais e Desportivas na Escalada em Rocha

Escalada em rocha e suas implicações no meio natural

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Devido à dificuldade inerente à verticalidade, muitos praticantes das diversas disciplinas da Escalada em rocha têm acesso, quase exclusivo, ao habitat rupícola, que é, ainda, apesar da relativamente escassa área em relação a outros habitats, dos mais bem conservados no meio terrestre: falésias costeiras e escarpas de rios de interior, afloramentos rochosos, escarpas em baixa montanha e grandes faces rochosas existentes em média e alta montanha. Apesar de a conservação das espécies de avifauna rupícola ser o principal motivo de preocupação que poderá levar à necessidade de estabelecimento de uma regulamentação e consequente condicionamento da prática da Escalada em meio natural, há que não esquecer igualmente que existem outros impactes ambientais associados à prática deste desporto que não podem igualmente ser descurados. Estes factos exigem, cada vez mais, o estabelecimento de normas a respeitar, pois os danos podem ser muito significativos em locais de prática com grande procura por parte dos praticantes individuais e grupos (Clubes, Empresas). Por exemplo, a conhecida EE do Penedo da Amizade, em Sintra, principalmente devido à sua beleza e singularidade, é um local emblemático onde se constata um considerável nível de impacte ambiental, principalmente associado ao pisoteio e proliferação de trilhos excessivos. Se alguns impactes estão diretamente relacionados com o comportamento dos escaladores (presas talhadas, destruição da vegetação na escarpa), outros estão associados aos visitantes e “curiosos” do local (alguns trilhos de acesso erodidos, “graffiti”, resíduos sólidos e ruído). Certamente para uma grande maioria de praticantes de desportos de natureza, entre os quais os de Escalada em rocha se inserem, e para muitos visitantes de 151


sua face Norte. Proteger a vegetação e a erosão do solo são outros dos motivos para tal proibição. O Access Fund procura colaborar com Texas Parks and Wildlife Department, na tentativa de compatibilizar a disciplina naquele bloco, apelando simultaneamente a que os praticantes da disciplina respeitem na íntegra a interdição imposta pelo organismo de gestão estatal. (Access Fund http://www. accessfund.org/ 2009).

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3. No caso de os escaladores descobrirem um bloco, ou nas suas imediações, com qualquer tipo de achado arqueológico, devem abster-se, eles próprios, de investigar do que se trata, e muito menos divulgar à comunidade de escaladores ou a qualquer outro tipo de pessoa tal achado. Pelo contrário, deverão, tão prontamente quanto possível, informar o Instituto Português de Arqueologia sobre a descoberta feita.

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4. Rejeitar a abertura de problemas de bloco sobre faces com vegetação. Utilizar apenas as faces de um bloco que estejam livres de vegetação. Arrancar vegetação e escovar musgo e líquenes não é aceitável; “No Gardening please” (BMC 2004 in: 10 Bouldering Commandements). Procurar e escolher zonas do mesmo bloco com pouco ou nenhuma vegetação e líquenes.

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5. Não talhar a rocha para criar presas (Chiping)! Para além do relativo impacte na rocha, este dano, devido à proximidade do solo, tem implicações estéticas que podem ser do desagrado de outros escaladores e de outros visitantes. Esta ação, assim como o reforço da resistência e estabilidade de certas presas que podem estar a partir-se, recorrendo ao uso de resinas (Gluing), também tem implicações relacionadas com a ética na Escalada. Ambas as situações geram muita controvérsia entre praticantes. Em algumas importantes zonas de Escalada de nível internacional, esta prática é estritamente proibida. É o escalador que se O condicionamento de acesso a Áreas deve adaptar às características da rocha, e não Protegidas e outras classificadas, ou o contrário. com interesse para a conservação, particularmente se registarem uma considerável afluência de visitantes, deve ser primeiramente extensível ao automóvel privado. Por outro lado, devem ser criadas carreiras de transporte coletivo e incentivado o acesso por aproximação pedestre. Praticantes de Bloco (o “crashpad” às costas denuncia-o) no caminho de volta ao transporte, após uma dia de prática no Parque Nacional de Wicklow Mountains, Irlanda. LA 226

6. Tanto quanto possível, caminhar ou permanecer sobre superfícies duráveis como rochas, gravilha, terra batida, areia, neve, erva seca, evitando portanto pisotear vegetação. Isto é especialmente importante no trilho de acesso, no local do bloco, na zona de queda do escalador (Landing zone), onde é habitual a presença de um ou mais spotters, e na área contígua ao mesmo, onde outros escaladores observam e convivem (Staging Area). Este local sofre um considerável nível de pisoteio e forte compactação. A resistência ao pisoteio pela


Reflexões finais

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Geralmente, quando nos predispomos - por vezes o primeiro passo é o mais difícil – a conhecer mais aprofundadamente o que nos rodeia, a ver as coisas de uma outra perspetiva mais alargada (“estamos demasiado próximos da árvore, mas sem ver a floresta”), começamos a trilhar o caminho para respeitar, amar e proteger o que nos envolve. Isso traz benefício para tudo e todos, inclusivamente para o próprio indivíduo. Espero que o conteúdo apresentado neste manual tenha contribuído para esse desígnio junto do leitor. Sendo um animal “racional” (ou talvez não tanto) de fortes hábitos enraizados, criando resistência à mudança (de uma forma mais ou menos consciente), que, por várias razões, não gosta de assumir o erro e tem muitas vezes uma opinião baseada em preconceitos e na falta de informação; reconheço que é difícil, em muitas ocasiões, atuar na efetiva mudança de paradigma comportamental, quer a nível individual (relativamente mais simples e rápido) quer coletivo (mais complexo e moroso). Compete a cada um de nós refletir e procurar ultrapassar essa alta barreira.

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Raramente existem opções de atuação padronizadas aplicadas em todo o lado e em todas as circunstâncias, mas outras são de caráter transversal e universal. Foram dadas neste manual linhas orientadoras de planeamento e atuação, que nos ajudarão a refletir e a ponderar seguir o caminho que se julga ser o mais acertado, mesmo que por vezes possamos (incluindo o próprio autor) cometer erros por ação, distração ou omissão inconscientes. Termos consciência da nossa atuação e termos dúvidas sobre o melhor caminho a seguir, é já sinónimo da existência de ética no indivíduo, “agora” só falta a desejada atuação em conformidade com ela. “A thing is right when it tends to preserve the integrity, stability and beauty of the biotic community. It is wrong when it tends otherwise.”

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Aldo Leopold

Boas Escaladas em Bom Ambiente!


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