Penélope & Kurvin e a Missão Impossível

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Penélope & Kurvin ea Missão Impossível Sofia Bidarra Pinto


Edição: Edições Parténon® Título: Penélope & Kurvin e a Missão Impossível Autora: Sofia Bidarra Pinto Revisão: Alexandre Costa Paginação: Paula Martins Desenho de capa: Teresa Ponte Arranjo gráfico de capa: Ângela Espinha 1.ª edição Lisboa, fevereiro de 2018 ISBN: 978-989-8845-20-7 Depósito legal: 432182/17 © Sofia Bidarra Pinto PUBLICAÇÃO:

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Penélope & Kurvin ea Missão Impossível Sofia Bidarra Pinto



Ela estava ali, sentada, naquele preciso banco do jardim de Central Park, ao pé do memorial “Imagine” a Jonh Lennon, quando sentiu uma profunda tristeza, que a fez pensar que já não era nada neste mundo. Ah, desculpem. Não a apresentei. Ela é Penélope Silva, uma rapariga de 13 anos, que tenta viver como uma adolescente igual às outras. Tem cabelo loiro e muito liso, e os seus olhos são claros, como a água cristalina do mar nas Caraíbas. Ela era uma miúda muito alegre e sempre sorridente, mas deixou de o ser quando perdeu o seu melhor amigo. Era o Steve. Conheceu-o com três anos, no infantário. Desde aí, tornaram-se os melhores amigos para todo o sempre. Bem, não foi para todo o sempre. O Steve sofreu um acidente que lhe tirou a vida. Foi no ano passado, quando ele e os seus pais iam numa excursão ao Texas. Infelizmente, o autocarro caiu numa ponte e Penélope 7


Penélope & Kurvin e a Missão Impossível perdeu o seu melhor amigo. Nunca se perdoou por ter sido ela a falar-lhe desse passeio turístico. A sua mãe dizia-lhe todos os dias que tem de seguir em frente, deixar de ligar ao passado e procurar viver o presente. Mas ela não conseguia. O Steve era a alegria dos seus dias, a pessoa com quem podia sempre falar, aquele ombro amigo que estaria sempre lá para a acolher. Sentia, no entanto, que estava na hora de seguir em frente e de fazer novos amigos. Foi falar com a rapariga que trabalhava no carrinho de gelados. Pareceu-lhe ser boa pessoa! - Olá! - cumprimentou a Penélope. - Olá. Queres comprar um gelado? - Não, obrigada. Como te chamas? - perguntou-lhe a Né. Né é o diminutivo de Penélope, usado pelos familiares e amigos mais próximos. - Sou a Nicole. Olha, tenho de ir para outro lado com a minha banca. Mas o meu irmão, o Héliot, está ali sozinho. Se quiseres falar com ele, força!

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Sofia Bidarra Pinto - Obrigada Nicole. Vou ter com ele. Gostei de te conhecer! E boa sorte para o negócio! - exclamou a Penélope. Ganhou coragem e foi falar com o Héliot. Na verdade, ia ser a sua primeira conversa com um rapaz desde a tragédia que já vos tinha contado atrás. - És tu o Héliot? - Sou, sim. Mas tu és uma miúda e eu não falo com miúdas! - Porquê? És preconceituoso?- perguntou-lhe muito surpreendida com o que ele lhe contara. - Tenho de ir. Adeus. Uau! Esta foi a sua reação à resposta do rapaz. Como é possível alguém ser tão preconceituoso? Passados alguns minutos foi para casa. Talvez se sentisse melhor com um miminho da mamã! Chegou a casa e a mãe disse-lhe que tinha uma grande surpresa para lhe mostrar. Curiosa, perguntou-lhe: - E qual é essa surpresa, mãe?

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Penélope & Kurvin e a Missão Impossível - Vem comigo, mas em silêncio - respondeu-lhe a mãe. A mãe era maravilhosa. Era exatamente como Penélope, só que mais velha, claro. Chamava-se Verónica e tinha quarenta e três anos. A mãe dela tem a melhor profissão do mundo! E perguntam vocês qual será, e eu respondo-vos: é não ter profissão. A mãe trabalhava em casa, ou melhor, era professora e dava aulas privadas à Penélope. Portanto, ela nunca tinha ido à escola. Tinha apenas andado no infantário. Se calhar era por isso que não tinha amigos... Chegou ao sítio onde a mãe a queria levar: ao seu quarto. Não era um quarto muito grande, mas tinha espaço para uma grande cama de princesa à direita, uma janela em frente com uma vista fantástica para o Central Park e uma secretária ideal para a Penélope realizar os trabalhos que a mãe lhe mandava. E, claro, a parte que eu mais gosto de descrever, um maravilhoso closet que todas as raparigas querem ter! Encontrava-se à esquerda da porta e parecia um camarim de famosíssimas atrizes! Era, provavelmente, a parte da casa que a Né mais adorava. Em cima da cama estava uma caixa grande embrulhada num veludo tão fino como o pelo de um 10


Sofia Bidarra Pinto doce gato. Por cima desse embrulho estava um laçarote encarnado muito vistoso e, quando abriu o presente, saiu de lá o que mais a fascinava no mundo: um cão! Não sabia como era possível. Adorava cães e agora tinha um labrador castanho claro mesmo à frente dos seus olhos. Era absolutamente incrível! - Mãe, não posso acreditar! Como é que tu sabias que eu queria mesmo este cão? - Uma mãe sabe todos os segredos de um filho. Agora tens de lhe dar um nome! - exclamou a mãe. - Kurvin. Vou chamá-lo Kurvin! - E Kurvin será! Vou ao supermercado comprar comida para o jantar. Ficas bem sozinha? - Sozinha? Estou com o Kurvin, o meu novo melhor amiguinho. E, no momento que Penélope pegou em Kurvin ao colo, teve a certeza que seria um companheiro para o resto da sua vida! - Olá Kurvin. Este vai ser o teu novo lar - disse-lhe Penélope. 11


Penélope & Kurvin e a Missão Impossível - Uau! É incrível... - respondeu-lhe o Kurvin. Ficou pasmada durante cinco minutos... E não era para menos! O seu novo cão tinha acabado de falar? Perguntou-lhe: - Tu falaste, Kurvin? - Não fiques impressionada! Também sei falar inglês, alemão, mandarim e espanhol! Ah, e eu sou o único cão falante no mundo! E tiveste a sorte de me receber. - Não posso acreditar! O meu cão fala e é poliglota - gritou a Penélope. - Fala baixo, Penélope.. Só tu é que podes saber do facto de eu falar, percebeste? - Prometo não dizer a ninguém. Mas como é que tu sabes o meu nome, Kurvin? - Digamos que fiz uma breve pesquisa acerca dos teus gostos, preferências, talentos e como tu és... - E ainda por cima tens sentido de humor! Não posso pedir melhor.

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Sofia Bidarra Pinto Nessa noite Penélope nem dormiu. Como é que era possível um cão falar e ainda por cima ser o seu cão! No outro dia de manhã, quando estava sentada a apreciar a linda neve de Nova Iorque, viu cair um floco de neve que dizia o seu nome. Intrigou-se, claro, e de seguida vestiu a sua gabardina e foi à procura desse floco tão misterioso. Kurvin tinha a missão de a ajudar no que ela precisasse e foi com ela lá fora: - Ei, diz-me como é que era o floco? - interrogou o Kurvin. - Xiu, fala baixo. Não queremos que ninguém saiba que tu és um cão falante. Mas respondendo à pergunta, era um floco fora do normal, era mesmo muito grande. - Hum, uns 100 metros? - Não, totó! Muito mais pequeno, mas vamos lá continuar as buscas. Procuraram, procuraram e nada encontraram... Provavelmente já tinha derretido como todos os flocos de gelo normais...O frio começava a aumentar e as nuvens ficavam cada vez mais escu13


Penélope & Kurvin e a Missão Impossível ras. De certeza que, daí a instantes, ia começar a chover. - Kurvin, isto é em vão... É gelo e já derreteu. Vamos voltar para casa, não quero ficar doente... Kurvin não teve outra opção se não concordar com a sua dona mas, antes de entrar em casa, olhou para trás e viu o maravilhoso floco de neve com o nome da Penélope! - Né, encontrei-o! - A sério?! Então vamos lá buscá-lo! O misterioso floco estava por baixo do banco onde Penélope se costumava sentar. Foram a correr até lá e, chegados ao lugar onde o maravilhoso floco estava, Penélope conseguiu ler em letras bem pequeninas o que lá estava escrito. - “Vais ter de ir a Hollywood, ao estúdio três, e tens de te sentar na cadeira do realizador do filme “The Green Mistake”. Lá saberás o passo seguinte, mas toma atenção: tens até sexta-feira para concluir esta tarefa”.

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Sofia Bidarra Pinto Penélope calou-se durante uns momentos, mas Kurvin, já ansioso com a reação da sua amiga, perguntou-lhe: - E então, o que vais fazer? - Se eu não aceitar, posso estar a desiludir alguém? - Sim, provavelmente... - afirmou Kurvin. - Então, vamos lá! Temos 48 horas para chegar a Hollywood! Conseguiram arranjar uma desculpa para contar à mãe, e lá foram até ao “paraíso dos filmes”, no carro da tia Antónia, uma tia afastada e bastante distraída que morava em Hollywood. Hollywood era, sem dúvida, uma cidade de sonho para a Penélope. Para ela, morar em Nova Iorque e nunca ter ido a esta cidade tão conhecida não fazia muito sentido. Quando lá chegaram, os dois amigos pensaram que estavam a sonhar! O que eles tinham imaginado de Hollywood era o que estava à frente dos seus olhos: aquelas letras gigantes absolutamente deslumbrantes, os estúdios famosíssi15


Penélope & Kurvin e a Missão Impossível mos... Enfim, todos os sonhos se podiam realizar nesta tão bela cidade. - Penélope, esqueci-me de te perguntar porque viemos aqui. Podes explicar? - perguntou a tia Antónia. Penélope olhou imediatamente para Kurvin e, como já conhecia as suas expressões faciais, percebeu logo o que tinha para dizer. - Ah - gaguejou a Penélope - nós sempre tivemos este sonho de vir aqui, e a mãe disse que podíamos vir contigo... - Pronto, tu é que sabes, vamos lá para os estúdios. Um peso enorme foi tirado de cima de Penélope. Não gostava de mentir, e sempre que podia, evitava-o. E, como era a sua própria tia, ainda foi mais difícil. Lembrou-se, no entanto, que só estava a mentir por causa da missão super especial que tinha recebido. Finalmente, os estúdios aproximaram-se. Eram... - Até estou sem palavras para os descrever! Edifícios grandes, brancos e muito bem enumerados. Trabalhadores a correr de um lado para o outro cheios de 16


Sofia Bidarra Pinto problemas por resolver. Lá ao fundo, um monte de fãs cobriam um ator que já devia ter a mão dorida, de tantos autógrafos dar! Perto do estúdio três, um homem muito bem vestido, com vários empregados atrás, entrava no seu local de trabalho. Devia ser o realizador! Tinha aquele ar de quem tem muitas ideias mas também de quem tem um ego enorme! Kurvin, triste de ainda não poder falar à vontade, pensou para si mesmo que estava a realizar um sonho que há muito tinha! Saíram do carro e dirigiram-se para a entrada. De repente, um homem alto, gordo e muito musculado aproximou-se deles: - Hello, Antónia! Imediatamente, Penélope percebeu que o senhor falava inglês, pois era a língua oficial dos Estados Unidos da América. Penélope e a sua família falavam português, pois eram emigrantes. Antes viviam em Portugal, mas a mãe foi despedida e o pai já tinha abandonado a família há muito tempo, então elas não tiveram outra opção que não morar nos Estados Unidos. A tia Antónia, como morava em Los Angeles, conhecia muita gente. Aquele homem que se apro17


Penélope & Kurvin e a Missão Impossível ximou, era um velho amigo que a levou a tomar um café. Como já vos tinha dito, a tia era realmente distraída, pois deixou a sobrinha no meio dos estúdios, completamente perdida, somente com o seu cão. No entanto, com a breve pesquisa que tinham feito, conseguiram localizar-se e já não estavam perdidos. Mal a tia se afastou, Kurvin deu um enorme grito pois tinha estado horas calado na viagem: - Estou livre! - gritou ele. - Kurvin, a regra mantem-se também em Hollywood. Só falas quando estamos sozinhos, e mesmo assim é a sussurrar, percebeste? - Mensagem recebida - concordou o Kurvin Agora vamos lá descobrir o mistério da cadeira do realizador! Os dois amigos lembraram-se que tinham de ir ao estúdio três e sentar-se na cadeira do realizador. Ficaram bastantes confundidos com esta tarefa. Ambos sabiam que a cadeira do realizador é um sítio “sagrado” no mundo do cinema.

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Sofia Bidarra Pinto Penélope olhou para o relógio da sala e faltavam cerca de dez minutos para as gravações acabarem. Ambos pensaram que, depois disso, a cadeira estaria livre. E estava! Passaram os dez minutos. Os dois contaram cada segundo, porque só queriam resolver a missão que estava escrita naquele fantástico floco de neve. Todas as pessoas dentro do estúdio saíram, e Penélope e Kurvin tinham a sala só para eles. Foi Penélope quem se sentou na cadeira: entre os dois, era a pessoa que tinha mais corpo de... pessoa! Mal se sentou, uma nuvem branca ergueu-se diante deles e ambos ficaram pasmados. - Penélope, isto será normal? - Não sei, Kurvin. Mas vamos esperar... Aquela nuvem esteve a movimentar-se de um lado para o outro durante 5 minutos e, passado este tempo, a nuvem deixa cair no chão um envelope e desaparece. - Acho que foi o episódio mais entranho que alguma vez vivi - afirmou Kurvin. 19


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