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JosĂŠ Carlos Silva
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FICHA TÉCNICA edição: Edições ex-Libris ® (Chancela Sítio do Livro) título: 80 Termos da Cultura Chinesa autor: José Carlos Silva capa: Patrícia Andrade revisão linguística: Helga Arnauth dos Santos e Ana Teresa Almeida imagens: https://pixabay.com/ paginação: Alda Teixeira 1.a Edição Lisboa, setembro 2017 isbn: 978-989-8867-06-3 depósito legal: 430528/17 © José Carlos Silva
publicação e comercialização:
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Prefácio O livro 80 Termos da Cultura Chinesa trata-se de uma abordagem simples de vários aspetos que caraterizam a cultura chinesa, de forma a promover um melhor entendimento dos ocidentais sobre a China e a sua cultura milenar. Neste livro, os leitores poderão encontrar informação concisa sobre vários temas relacionados com a China: a sua situação geográfica; população e etnias; língua e escrita chinesas; alguns monumentos e lugares turísticos, como são os casos da Grande Muralha, da Cidade Proibida e dos belíssimos jardins da cidade de Suzhou; hábitos, costumes e personalidades da China Antiga e contemporânea, como o escritor Ba Jin e a célebre artista da canção ligeira chinesa, Deng Lijun. Esperamos que os leitores gostem de conhecer a cultura chinesa e que este livro lhes sirva como uma ponte entre a cultura chinesa e a ocidental.
julho de 2017 O Autor
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Índice Introdução / 9
26. A Caligrafia Chinesa / 47
1. China / 11
27. A Pintura Paisagística / 47
2. População / 16
28. Taijiquan / 48
3. Etnias / 18
29. Kung Fu / 48
4. A Língua Chinesa / 19
30. Xiangqi / 49
5. A Escrita Chinesa / 21
31. Porcelana / 50
6. Os Caracteres Chineses / 26
32. Bordado / 51
7. A Simbologia dos Números
33. A Seda Chinesa / 53
Chineses / 27
34. Qipao / 54
8. A Grande Muralha / 29
35. O Fio Chinês / 55
9. A Cidade Proibida / 30
36. O Recorte em Papel / 55
10. A Praça de Tian’anmen / 31
37. Lanternas / 56
11. O Palácio de Verão / 31
38. Erhu / 57
12. O Antigo Palácio de Verão / 32
39. Guzheng / 58
13. O Templo do Céu / 33
40. Xiangsheng / 58
14. Beijing / 34
41. O Pato Laqueado / 59
15. Xi’an / 35
42. Huoguo / 60
16. Suzhou / 36
43. Jiaozi / 60
17. A Montanha Hengshan / 38
44. O Tofu / 61
18. A Montanha Taishan / 39
45. A Culinária de Sichuan / 62
19. Dunhuang / 39
46. Chá / 63
20. Guilin / 40
47. A Festa da Primavera / 63
21. Gulangyu / 41
48. A Festa das Lanternas / 66
22. Os Guerreiros de Terracota / 42
49. A Festa da Claridade Pura / 67
23. O Grande Buda / 42
50. A Festa do Barco Dragão / 67
24. Religião / 43
51. A Festa do Meio Outono / 68
25. A Ópera Chinesa / 44
52. Casamento / 69
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53. Aniversário / 71
68. Qin Shihuang / 81
54. A Medicina Tradicional Chinesa / 71 69. Li Dazhao / 81 55. Acupuntura / 72
70. Mao Tsé-Tung / 82
56. Siheyuan / 73
71. Deng Xiaoping / 83
57. Hutong / 74
72. Mei Lanfang / 83
58. Tulou / 75
73. Ba Jin / 84
59. A Bússola / 75
74. Peregrinação ao Oeste / 85
60. A Pólvora / 76
75. Zhang Yimou / 85
61. O Papel / 76
76. Deng Lijun / 86
62. A Impressão / 77
77. Cheng Long / 87
63. A Dinastia Han / 77
78. Yao Ming / 88
64. Confúcio / 78
79. Jogos Olímpicos / 88
65. Mêncio / 79
80. Cortesia / 89
66. Sun Zi / 80
Bibliografia / 91
67. Lao Zi / 80
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Introdução A República Popular da China, abreviadamente designada como China, está localizada no leste do continente asiático, na margem oeste do Oceano Pacífico, e possui uma área territorial de cerca de 9,6 milhões de quilómetros quadrados, sendo o maior país no continente asiático e o terceiro maior país a nível mundial, depois da Rússia e do Canadá. A China, com uma cultura milenar, possui uma história com mais de cinco mil anos e com antigas tradições culturais, espirituais e artísticas, e é o país com maior população do mundo, dividido em 56 grupos étnicos, cada um deles com os seus próprios hábitos, tradições e língua. Os chineses antigos foram um povo cientificamente muito avançado. Inventaram o papel, a impressão, a bússola e a pólvora, sendo estas quatro invenções consideradas como as mais importantes descobertas realizadas por este povo oriental, uma vez que contribuíram, de certa forma, para a evolução das sociedades mundiais. Este país possui uma topografia muito diversificada, com regiões montanhosas, planícies e planaltos. Para além da diversidade geográfica, e tendo em conta a localização geográfica e a dimensão do país, também podemos encontrar diferentes zonas climáticas que condicionam a vivência e os costumes da população. A China possui várias construções arquitetónicas gigantescas com um grande valor histórico e cultural. É o caso da Grande Muralha, da Cidade Proibida e dos belíssimos jardins da cidade de Suzhou. Após a Revolução Cultural (1966-1976), a China passou por três décadas de reformas, levando-a a transformar-se na segunda maior potência económica do mundo, atraindo de forma crescente grandes investimentos estrangeiros.
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1. China Em chinês mandarim, a palavra “China” diz-se e escreve-se da seguinte forma: “ѝഭ Zhōngguó”. Este termo surgiu há milhares de anos, durante a dinastia Shang (1600-1046 a.C.). Era assim denominada porque a então capital do país, situava-se no centro do território. O termo “Zhōngguó” foi oficializado como nome da China no século XX. Porém, a palavra “China” tem também outra designação, “ॾ༿Huáxià”, que na língua chinesa significa “bonito” (huá) e “grande” (xià). E, na verdade, a China é realmente um país muito grande e bonito com caraterísticas únicas e singulares. A República Popular da China, abreviadamente designada como China, localiza-se no leste do continente asiático, na margem oeste do Oceano Pacífico, possuindo uma área territorial cerca de 9,6 milhões de quilómetros quadrados, sendo o maior país no continente asiático e o terceiro maior país a nível mundial, seguido da Rússia e do Canadá. No norte, o território chinês começa no centro do rio Dragão Preto, que fica a norte da cidade Mohe (Latitude: 53º 30´N). No sul chega até ao recife Zengmu, que fica na extremidade sul do recife do arquipélago Nansha (Latitude: 4ºN). No leste, o território começa na confluência do rio Dragão Preto e do rio Wusuli (Longitude: 135° 05’E) e no oeste chega ao planalto Pamir (Longitude: 73° 40’E). O país tem uma faixa costeira de 18000 km, fazendo fronteira, de nordeste a sudoeste, com 14 países, como por exemplo, Coreia do Norte, Mongólia, Rússia, Afeganistão, Índia, Vietname, etc. A distância entre o leste e o oeste deste país é cerca de 5200 km e, de sul a norte, é mais de 5500 km. A China tem mais de 1500 rios cujas bacias têm uma superfície de mais de 1000 quilómetros quadrados. O Rio Yangzté (em chinês, 䮯⊏; em pinyin, Chángjiāng), com um comprimento total de 6300 quilómetros, é o maior rio da China e o terceiro maior do mundo e o Rio Amarelo (em chinês,哴⋣; em pinyin, Huánghé), 11
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com 5464 quilómetros, é o segundo maior rio da China, caraterizado pelas suas terras férteis e rico em minerais, sendo considerado como o berço da civilização da nação chinesa. A China possui uma topografia muito diversificada, contando com regiões montanhosas, planícies e planaltos que cobrem cerca de dois terços da superfície total do país. Para além da diversidade geográfica, e tendo em conta a localização e a dimensão do país, também podemos encontrar diferentes zonas climáticas que condicionam a vivência e os costumes das populações. A norte do Rio Yangzté, o clima é seco e quente, com pouca precipitação e o inverno é muito frio, sobretudo, no nordeste, que é muito longo, com muita queda de neve, durando até meio ano no extremo norte. Nas zonas a sul do Rio Yangzté, o clima é quente e chuvoso, com temperaturas que rondam, em média, os 20 graus positivos durante todo o ano. Atualmente a China possui uma população superior a 1,3 biliões de pessoas, dividida em 56 grupos étnicos diferentes, entre os quais a etnia Han (em chinês, ≹᯿; em pinyin, Hànzú) é a maioritária, representando 91,02% da população total. As outras 55 etnias minoritárias ocupam 8,98%, tendo cada uma delas os seus próprios costumes e língua. Deste modo podemos encontrar na China inúmeros dialetos e subdialetos que são bastante distintos uns dos outros, de tal forma que algumas pessoas das regiões do sul da China têm dificuldade em perceber algumas pessoas das regiões do norte do país. Todavia, todos os chineses sabem falar o Mandarim (em chinês,Პ䙊䈍; em pinyin, Pǔtōnghuà), sendo a língua oficial da República Popular da China e o idioma mais falado em todo o mundo, com 900 milhões de falantes como língua materna.
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A China está dividida em 23 províncias, 5 regiões autónomas, 4 municípios directamente subordinados ao poder central e duas regiões administrativas especiais. Os chineses antigos foram um povo cientificamente muito avançado. Eles inventaram o papel a impressão, a bússola e a pólvora. Estas quatro invenções são consideradas as mais importantes descobertas realizadas por este povo oriental, uma vez que, contribuíram, de certa forma, para a evolução das sociedades mundiais. Para além destas quatro grandes invenções, os chineses ainda foram responsáveis por muito mais outras invenções e descobertas, como por exemplo, o ábaco, o primeiro instrumento de contagem, que foi inventado durante a dinastia Yuan (12711368) e que permitia, na altura, fazer cálculos complexos, sendo ainda hoje utilizado na China, e o sismógrafo, que foi inventado por Chang Heng em 132. A história da China, com mais de cinco mil anos, é mais longa do que a qualquer outra civilização do mundo. Segundo os atuais dados arqueológicos, entre 1.000.000 anos e 400.000-500.000 anos atrás, homens antigos como o Homem de Yuanmou, o Homen de Lantian e o Homem de Beijing já viviam no território chinês. O Homem de Beijing, que vivia na aldeia Zhoukoudian situada no sudeste de Beijing, há 400/500 mil anos, era capaz de caminhar ereto, fabricar e usar instrumentos simples, sabia empregar o fogo e possuía as caraterísticas básicas do homem atual. A China foi governada por várias dinastias, ao longo de mais de quatro mil anos. Depois da longa sociedade primitiva, por volta do século XXI a.C., apareceu a primeira dinastia da história da nação chinesa, a dinastia Xia (entre os séculos 21 e 16 a.C.), com a qual começou o período da sociedade esclavagista. Depois da dinastia Xia, surgiu a dinastia Shang (séc. XVI-XI a.C.) e é nesta altura que surge a forma rudimentar da escrita chinesa, a escrita Jiaguwen, bem como o uso do bronze na fabricação de peças para rituais e cerimónias, a fabricação de cerâmica branca e esmaltada e a produção de vinho e de têxteis. E é também neste período que surge pela primeira 13
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vez a definição de “Estado” e a distinção entre classes, considerando, deste modo, a dinastia Shang, a época da civilização chinesa. A seguir, surgiu a dinastia Zhou (1122-249 a.C.) que desenvolveu outro sistema esclavagista, sendo dividida em Zhou do Oeste e Zhou do Leste, que se dividiu em dois períodos: o período Primavera e Outono (770-476 a.C.) e o período Estados Combatentes (403-221 a.C.).É no período da dinastia Zhou que se desenvolve o conceito “mandato do céu”, permitindo ao soberano ganhar o seu direito ao trono imperial, sendo este conceito utilizado nas dinastias posteriores, de forma a justificar as tomadas de poder. O período Primavera e Outono foi marcado pelo desenvolvimento económico, pelo aumento demográfico, pelo desenvolvimento da agricultura, com a introdução do ferro e pelas disputas hegemónicas entre os Reinos. O período Estados Combatentes foi considerado como uma etapa de transição de uma sociedade esclavagista para uma sociedade feudal. É também neste período que surge o confucionismo, o taoísmo e o legalismo. Em 221 a.C., o imperador Qin Shihuang fundou a dinastia Qin (221-206 a.C.) e o primeiro país unificado, multiétnico com poderes centralizados na história chinesa. O Imperador Qin Shihuang foi o responsável pelo primeiro processo de unificação da escrita chinesa e da unificação das medidas de peso e de volume, contribuindo, deste modo, para o desenvolvimento económico do seu reino e por várias inovações tecnológicas que melhoraram as infra-estruturas e as defesas do império, bem como pela construção de obras de arquitetura gigantescas, como é o caso da Grande Muralha. Depois, apareceram sucessivamente várias dinastias. Das dinastias e períodos como Han, Três Reinos, Jin, Dinastias Norte-sul, Sui, Tang, Cinco Dinastias, Song, Yuan, Ming, Qing, etc., até à Guerra do Ópio de 1840, a China esteve sempre numa sociedade feudal.
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A última dinastia na História da China, a dinastia Qing (1644-1912), caraterizou-se por ser próspera, durante os reinados dos imperadores Kangxi e Qianlong. Contudo, no final do século XVIII, a sociedade Qing entrou em declínio, devido à crescente dependência de ópio sentida em todo o país. O governo chinês tentou travar a circulação de ópio, porém os britânicos não deixaram, dando origem à 1.ª Guerra do Ópio, em 1839 e que acabou em 1842, através do tratado de Nanquim, que obrigou o povo chinês a abrir vários portos, pagar elevadas indemnizações e ceder Hong Kong aos britânicos. Mais tarde, em 1856, instala-se a 2.ª Guerra do Ópio (18561860), colocando a sociedade Qing numa sociedade semifeudal e semicolonial. Em 1911, a Revolução Democrática Burguesa, liderada por Sun Yat-sen derruba a Dinastia Qing, facto que põe termo ao sistema feudal, que durou mais de dois mil anos. Em 1921 nasce o Partido Comunista, passando por quatro etapas: A Guerra de Expedição ao Norte, Guerra da Revolução Agrária, Guerra de Resistência à Invasão Japonesa e Guerra da Libertação Nacional. O Partido Comunista chinês dirigiu o povo à conquista da vitória da Revolução da Nova Democracia. Com o fim da guerra com o Japão, os territórios anteriormente ocupados pelos japoneses e as cidades de Beijing e Tianjin ficaram sob o domínio dos comunistas chineses, enfraquecendo, deste modo, os nacionalistas, que foram obrigados a fugir para a ilha de Taiwan. No 1 de outubro de 1949 foi fundada a República Popular da China e Mao Tsé-tung foi eleito como governante do país, iniciando, em 1958, o movimento “O Grande Salto em Frente” (19581961), acreditando que este movimento transformaria a China de uma economia essencialmente agrária para uma sociedade moderna comunista, através da coletivização e do aumento da produção industrial. Contudo, os resultados foram muito negativos, sobretudo para a população, pois levou à escassez de alimentos, o que causou a morte de milhões de chineses. Em 1966, Mao Tsé-tung cria a Grande Revolução Cultural, que dura até 15
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1976, ano da sua morte. Através desta, o líder político pretendia incentivar a população, sobretudo os jovens e os estudantes para um conjunto de transformações na sociedade, de acordo com os fundamentos da política maoísta. De facto, a Grande Revolução Cultural causou um milhão de mortos e milhões de pessoas perseguidas, especialmente a classe dos intelectuais. Entre 1976 e 1997, Deng Xiao Ping governou a China, lançando várias reformas que conduziriam à abertura da China ao exterior. Devido às três décadas de reformas, lançadas após a Revolução Cultural (1966-1976), e em especial às políticas de abertura de Deng Xiao Ping, que incluíram uma série de reformas económicas nos setores da agricultura, industria e comércio, ciência e tecnologia e na área militar, como a abertura diplomática ao exterior e a criação de várias Zonas Económicas Especiais, possibilitou a China de ter um gradual crescimento económico que a colocou, na 2.ª posição das grandes potências económicas a nível mundial. Ao longo dos anos, a China fez grandes progressos nas áreas da ciência e da tecnologia, desenvolvendo os seus próprios softwares e companhias energéticas, incluindo energias renováveis, como a energia hidráulica e solar. Na área dos transportes, a China também se desenvolveu bastante desde a década de 90, a exemplo disso temos as cidades como Beijing e Shangai que possuem amplas estruturas de transporte rodoviário, metropolitano e ferroviário. Todavia, hoje, este país vê-se face a graves problemas, nomeadamente o rápido envelhecimento da população, o crescente êxodo rural e a degradação ambiental.
2. População A China é o país mais populoso do mundo, com uma população superior a 1,3 biliões de habitantes, ocupando cerca de um quinto da população mundial.
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A China também é um dos países com maior densidade populacional (135 pessoas por quilómetro quadrado). Todavia, a distribuição populacional do país é desequilibrada. Nas regiões litorais há mais de 400 pessoas por quilómetro quadrado; nas regiões do centro, cerca de 200 pessoas, e nos planaltos do oeste menos de 10. Atualmente, a esperança média de vida da população chinesa é 71,4 anos. Em 2013, o censo demográfico a nível nacional apresentou o número de habitantes registados de 1350 milhões de indivíduos, entre os quais, 710 milhões eram residentes urbanos, ocupando 52,6% da população total. O mesmo censo registou um incremento demográfico anual de 16 milhões de indivíduos, sendo cerca de 200 milhões o número de habitantes com idades inferiores a 14 anos de idade, ocupando 16,5% da população global do país; e o número da população ativa era aproximadamente de 900 milhões, ocupando cerca de 70% da população global. A população chinesa tem envelhecido consideravelmente. Segundo o mesmo censo, o número da população idosa acima dos 60 anos era quase 200 milhões, representando 14,3% da população total; estima-se que, em 2020, 11,8% dos chineses terão 65 anos ou mais, devido à aceleração da economia chinesa sentida nestes últimos anos. Deste modo, a população ativa está a diminuir gradualmente, sendo explicado pela permissão do segundo parto a casais de filho único, promulgada recentemente pelo governo chinês. No entanto, devido à planificação familiar praticada desde 1979, a maioria das famílias têm apenas um filho, sendo estes já adultos. Devido às dificuldades de emprego, pressão de trabalho, assim como as despesas de sustento dos filhos, um grande número de casais jovens não planeia ter um segundo filho. Além disso, a China está confrontada com um sério desequilíbrio de género, ou seja, há 119 meninos para cada 100 meninas, o que, recentemente, levou o governo chinês a tomar algumas medidas, entre as quais a proibição do aborto seletivo de fetos do sexo feminino. Porém, crê-se que este desequilíbrio continuará a crescer até 2030 e só depois passará a baixar lentamente.
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3. Etnias A República Popular da China é um país composto por 56 grupos étnicos diferentes, entre os quais a etnia Han (em chinês, ≹᯿; em pinyin, Hànzú) é a maioritária, representando 91,02% da população total, sendo que as outras 55 etnias minoritárias ocupam 8,98%. Entre as 55 etnias minoritárias, as mais populosas são os Mongóis (em chinês, 㫉ਔ᯿; em pinyin, Ménggǔzú), os tibetanos (em chinês, 㯿᯿; em pinyin, Zàngzú) e as pessoas da etnia Zhuang (em chinês, ༞᯿; em pinyin, Zhuàngzú). A existência desta pluralidade étnica na China leva a uma diversidade linguística, caraterizada pela existência de dialetos e sub-dialetos. Calcula-se que existam cerca de 80 dialetos e sub-dialetos, provenientes das etnias minoritárias. Cada etnia tem os seus próprios hábitos e costumes, como por exemplo, o traje típico de cada etnia. De facto, o modo de vestir está intimamente ligado não só com o ambiente geográfico e o modo de vida, mas também com as condições climatéricas da região, onde cada etnia habita. As minorias étnicas que vivem nas áreas de planalto no norte da China têm uma vida pastoral e vestem normalmente roupas longas e feitas de couro. Já as que vivem no sul da China, devido ao clima húmido e quente, usam roupas leves com bordados de desenhos de flores e pássaros. Algumas minorias étnicas usam acessórios como lenços e chapéus. Na etnia Miao é muito comum ver as mulheres com acessórios de prata. Por outro lado, cada etnia tem os seus próprios hábitos alimentares, a exemplo disso temos a etnia Weiwuer (em chinês, 㔤੮ቄ᯿; em pinyin, Wéiwúěr zú) que tem o hábito de comer espetadas de carneiro e arroz servido com a mão (em chinês, ᣃ依; em pinyin, zhuāfàn). E as pessoas da etnia da Mongólia Interior (em chinês, 㫉ਔ᯿; em pinyin, Ménggǔ zú) gostam de comer arroz frito e beber chá com leite. 18
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Além disso, as etnias minoritárias têm as suas próprias festas tradicionais. Por exemplo, a etnia da Mongólia Interior tem a Grande Competição Desportiva (em chinês, 䛓䗮ចབྷՊ; em pinyin, Nàdàmù dàhuì), a etnia Yi (em chinês, ᖍ᯿; em pinyin, Yízú) tem a Festa dos Archotes (em chinês, ⚛ᢺ㢲; em pinyin, Huŏbǎjié), a etnia Bai (em chinês, ⲭ᯿; em pinyin, Báizú) tem a Feira de Março (em chinês, йᴸ㺇; em pinyin, Sānyuèjiē) e os tibetanos (em chinês, 㯿᯿; em pinyin, Zàngzú) têm o Ano Novo Tibetano (em chinês, 㯿শᒤ; em pinyin, Zànglìnián) e a Festa do Iogurte (em chinês, 䴚亯㢲; em pinyin, Xuĕdùnjié).
4. A Língua Chinesa A Língua Chinesa (em chinês ≹䈝, em pinyin, hànyǔ; em chinês, ॾ䈝, em pinyin, huáyǔ; em chinês, ѝ᮷, em pinyin, zhōngwén) é a língua falada na China Continental, Hong Kong, Macau e Taiwan, bem como em algumas comunidades chinesas no exterior, entre as quais: Singapura, Malásia e Tailândia. Aliás, estima-se que o número de falantes nativos desta língua seja mais de 885 milhões e que mais de 120 milhões de pessoas usam o chinês (Mandarim) como segunda língua. A realidade linguística na China é muito complexa devido ao facto de existirem, no total, 7 grandes variedades linguísticas em todo o país (o dialeto do Norte, que é falado por mais de 70% dos Hans – o grupo étnico maioritário da China, o dialeto Wu, o dialecto Yue, o dialeto Minnan, o dialeto Minbei, o dialeto Gan e o dialeto Xiang), que podem ser subdivididas, apresentando muitas diferenças na pronúncia, facto que as torna quase incompreensíveis entre si. Com o intuito de superar as dificuldades de comunicação oral entre os chineses, surgiu o Mandarim, tendo-se tornado a língua oficial da República Popular da China a partir de 1956. O Mandarim existe desde a época das dinastias e na altura tinha a designação de guanhua (ᇈ䈍), ou seja, a língua dos altos funcionários. Atualmente, o Man19
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darim, na própria língua chinesa, é denominado de Putonghua (Პ䙊䈍 – língua comum), termo utilizado sobretudo na China Continental, ou guoyu (ഭ䈝 – língua nacional). A base desta língua é o dialeto do norte, sendo a sua fonética baseada num dos seus dialetos- o dialeto de Pequim. Embora haja grandes diferenças na pronunciação entre os vários dialetos, a língua chinesa consegue manter uma unidade através da escrita, comum para todas as variedades linguísticas, que transcreve só a ideia, mas não a pronunciação. A língua chinesa é uma língua analítica, na qual existe uma tendência para as palavras serem monoformes e não sofrerem processos derivacionais ou flexionais, ou seja, em chinês não há flexão, nem em género, nem em número, nem em modo, nem em tempo, nem em voz. Porém, estas noções são transmitidas por elementos adcionados. Exemplificando: Wǒ chī yíge miànbāo.
Ϣѷањ䶒वDŽ
Eu como um pão.
(tradução literal: Eu comer um pão.) Tā chī yíge miànbāo.
ԧѷањ䶒वDŽ
Ela come um pão.
(tradução literal: Ela comer um pão.) Wǒ chīle yíge miànbāo.
ϢѷϦањ 䶒वDŽEu comi um pão. (tradução literal: Eu comer /+ partícula aspectual que indica o passado/ um pão.)
O verbo “comer” (ਲ਼chī) não sofre qualquer alteração nas três frases. A noção de flexão do verbo “comer” no presente do indicativo é dada através da utilização dos pronomes pessoais “eu˄ᡁ wǒ˅” e “tu˄ nǐ˅”, bem como a noção do tempo verbal pretérito perfeito é transmitida através da utilização da partícula Ҷ (le), posposta ao verbo.
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5. A Escrita Chinesa A língua chinesa não é alfabética, mas sim composta por ideogramas (caracteres chineses), em que cada carácter representa uma sílaba que transmite uma ideia concreta. Por outro lado, cada carácter é composto a partir de traços – pequenas unidades dos caracteres chineses escritos. A escrita chinesa é essencialmente pictográfica e é uma das mais antigas do mundo, sendo que os caracteres mais antigos, até agora descobertos, possuem três mil anos de História. A primeira forma escrita dos caracteres chineses apareceu durante a dinastia Shang (1600-1046 a.C.) – a escrita Jiaguwen ⭢僘᮷, que é a escrita de caracteres (desenhos estilizados de objetos) sobre carapaças de tartarugas e ossos de animais. Porém, na dinastia Zhou (1100-256 a.C.), esta começou a ser substituída pela escrita Jinwen (䠁᮷), isto é, a escrita sobre peças em metal. Na dinastia Qin (221-207 a.C.) surgiu a escrita Zhuanshu ㇶҖ(caligrafia Zhuan), ou seja “caligrafia de carimbo”, que se divide em Dazhuan བྷㇶ (caligrafia Zhuan grande) e Xiaozhuan ሿㇶ(caligrafia Zhuan pequena). No ano 221 a.C., o Primeiro Imperador da Dinastia Qin (221-207 a.C.), com o intuito de unificar o país, aplicou a política da escrita única, criando a escrita Xiaozhuan, sendo este o primeiro passo para a unificação da escrita chinesa. Durante as dinastias Qin (221-207 a.C.) e Han (206 a.C.-220 d.C.) surgiu a escrita Lishu 䳦Җ, tratando-se da forma simplificada da escrita Xiaohuan, os caracteres têm menos traços e possui um estilo fluente, em comparação com a escrita Xiaozhuan. A forma dos caracteres da escrita Lishu assemelha-se aos caracteres do chinês moderno.
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No fim da Dinastia Han (206 a.C. – 220 d.C.) surgiu a escrita regular – a escrita Kaishu ᾧҖ. Esta é a escrita tradicional usada nos dias de hoje e a que os chineses aprendem na escola primária. Os caracteres chineses ainda podem ter outras formas de escrita, sendo elas: a forma normal e a forma rápida, cuja designação é Caoshu 㥹Җ, ou seja, caligrafia de um traço, que apareceu durante a dinastia Qin (221-207 a.C.). Esta forma de escrita surgiu da necessidade de escrever rapidamente os caracteres chineses, tendo como caraterística principal ligar os traços de um carácter num traço só, verificando-se por vezes a omissão de alguns traços. Outro tipo de escrita é Xingshu 㹼Җ, que significa caligrafia cursiva. Esta trata-se de uma caligrafia manuscrita, entre Kaishu e Caoshu, que surgiu na dinastia Han (206 a.C. -220 d.C.). Porém, na década de 50 surge uma nova reforma linguística – a introdução da escrita simplificada, que veio facilitar a aprendizagem da língua chinesa e minimizar a taxa de analfabetismo na China. Assim, depois da fundação da República Popular da China, em 1 de outubro de 1949, os chineses introduziram a escrita simplificada (Jiantiziㆰփᆇ) e consequentemente, hoje em dia, uma parte dos caracteres chineses, aproximadamente 2000, apresentam duas formas: a forma tradicional e a forma simplificada. A diferença entre estas duas formas de escrita reside na redução do número de traços que compõe um determinado carácter. Por exemplo, os vocábulos “país” e “dragão”, na escrita tradicional chinesa, escrevem-se da seguinte maneira: “഻” e “喽”, já na escrita simplificada chinesa escrevem-se da seguinte forma: “ഭ” e “ 嗉”. Além da China Continental, Singapura adoptou também este sistema de escrita, mas em Taiwan, Hong kong, Macau e várias comunidades chinesas no Sudeste da Ásia e Américas continua a usar-se a escrita tradicional. Segue-se abaixo uma tabela explicativa dos vários tipos de escrita dos caracteres chineses, tendo como exemplo o cáracter “傜(mǎ; cavalo):
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Tabela 1: Os tipos de escrita dos caracteres chineses
O vocabulário chinês é composto por 85 mil caracteres. No entanto, são cerca de 3500 os caracteres mais utilizados na vida diária dos chineses, o que lhes permite ler e compreender cerca de 95% dos vocábulos utilizados em jornais e revistas. Contudo, para ter uma total compreensão em outras áreas, como literatura, ciência, medicina, entre outros, é necessário ter um vocabulário mais alargado. De acordo com a Lista dos Caracteres em Uso Atual do Chinês Moderno publicada em 25 de março de 1988, os caracteres que estão em uso atual são cerca 7000. Em 1958, foi inventado um sistema de romanização chamado Pinyin丣 que transcreve os sons dos caracteres do Mandarim num sistema alfabético (por exemplo: mǎ =傜= cavalo). Como a língua chinesa não possui um sistema alfabético usando, em vez disso, caracteres, torna-se necessário saber como se pronúnciam os caracteres que constituem o vocabulário chinês, daí a importância do sistema Pinyin, que nos ajuda a saber como se pronunciam os caracteres. Sem saber o Pinyin dos caracteres chineses, torna-se muito difícil aprender a língua chinesa como língua estrangeira. Uma das particularidades das línguas pertencentes ao grupo idiomático Sino-tibetana é a utilização de tons, cada tom com entoação diferente tem significado 23
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diferente, como é o caso do Mandarim que tem quatro tons: alto, semi-alto, meio, semi-baixo e mais o tom átono, sendo representados por sinais / traços que aparecem, normalmente, em cima da vogal. Assim, o 1º tom é representado por um traço horizontal ( ¯ ), para indicar que o tom é alto e plano; o 2º tom é representado por um sinal igual ao acento agudo da língua portuguesa ( ´ ), para indicar que o tom sobe; o 3º tom é representado por um circunflexo invertido ( ˇ ), para indicar que o tom desce e volta a subir; o 4º tom é representado por um sinal igual ao acento grave do português ( ` ), para indicar que o tom desce, e finalmente o tom átono, que corresponde à ausência de sinal de tom numa sílaba e é, normalmente, leve e curto. Segue-se abaixo um esquema explicativo dos quatro tons do Mandarim:
1º tom
2º tom
3º tom
4º tom
O tom é alto e plano
O tom sobe
O tom desce e volta a subir
O tom desce
Tabela 2: Os quatro tons do Mandarim
Observações: 1. A mudança do tom muda o significado da palavra. Por exemplo: ྸ mā mãe; 哫⒪má linho; 傜⒪mǎ cavala; 傲 mà insultar. 2. Para além dos quatro tons, existe também o tom átono, que é caraterizado pela ausência de sinal de tom na vogal, devendo ser lido de forma breve e curta. A maior parte das palavras que exercem funções gramaticais na frase tem o tom átono, como por exemplo, a partícula interrogativa “ੇ (ma)”.
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Há aproximadamente 1332 sílabas em Mandarim, e por essa razão os casos de caracteres homófonos são muito frequentes, por exemplo, os caracteres “ẵ”, “ ⴹ”e “➔” têm o mesmo som de “méi”, mas todos eles têm o seu significado próprio. Cada sílaba é constituída por inicial, final e tom. Por exemplo, a sílaba “mǎ” é constituída pela inicial “m”, final “a” e pelo tom “ ˇ ”. Neste caso, a sílaba “mǎ” representa também o significado de “cavalo”. A consoante no início da sílaba chama-se inicial, o resto da sílaba chama-se final. Existem três tipos de finais: finais simples, finais compostas e finais nasais. O Mandarim é composto por 21 iniciais e 38 finais. Uma sílaba chinesa pode não conter uma inicial, mas contém sempre uma final. Por outro lado, a maioria das sílabas chinesas possui um tom, sendo este colocado, na maior parte das vezes, em cima da final. Segue-se abaixo uma tabela das iniciais e finais do Mandarim: Cada sílaba é constituída por inicial, final e tom, por exemplo, a sílaba “mǎ” é constituída pela inicial “m”, final “a” e pelo tom “ ˇ ”. Neste caso, a sílaba“mǎ” representa também o significado de “cavalo”. A consoante no início da sílaba chama-se inicial, o resto da sílaba chama-se final. Existem três tipos de finais: finais simples, finais compostas e finais nasais. O Mandarim é composto por 21 iniciais e 38 finais. Uma sílaba chinesa pode não conter uma inicial, mas contém sempre numa final. Por outro lado, a maioria das sílabas chinesas possui um tom, sendo este colocado, na maior parte das vezes, em cima da final. Segue-se, abaixo uma tabela das iniciais e finais do Mandarim: Iniciais ⭏⇽
Finais 严⇽
bpmf d tnl gkh jqx zcs zh ch sh r ao eiuü ai ei ao ou ie ia iao iou an en in ang eng ing ong ian iang iong er ua uo uai uei (-iu) uan uen (-un) uang ueng üe üa ün Tabela 3: As iniciais e finais do Mandarim
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6. Os Caracteres Chineses Segundo a lenda, os caracteres chineses foram inventados por Cangjie (em chinês, ԃ亹; em pinyin, Cāng jié; 2650 a.C.), um dos ministros do Imperador Amarelo (em chinês, 哴ᑍ; em pinyin, Huángdì). Um dia, Canjie estava a caçar no Monte Yangxu (hoje Sanxi), quando viu uma tartaruga cujas pegadas chamaram a sua atenção. Inspirado pela possibilidade de uma relação lógica daquelas pegadas, começou a estudar os animais do mundo, as paisagens da terra e as estrelas do céu criando, deste modo, um sistema de símbolos chamado de “zì”, ou seja, os caracteres chineses. Após esta descoberta, diz a lenda que os deuses e os fantasmas, surpreendidos com a notícia, tentaram impedir a divulgação da escrita, uma vez que receavam que as pessoas abandonassem a lavoura e que a utilizassem para os afugentar. Assim, os deuses e os fantasmas choravam e gritavam todas as noites, para assustar as pessoas. Contudo, estas eram indiferentes aos gritos e choros dos fantasmas e aprendiam e divulgavam o que Cangjie lhes ensinava. As pessoas tornavam-se cada vez mais felizes, uma vez que podiam exprimir as suas emoções e registar todo o que viam através da escrita. Porém, os caracteres chineses foram criados por várias vias, das quais, as principais são: pictográfica, indicação, compreensão e combinação de ideia e som. Daí, ser possível classificar os caracteres chineses, segundo as várias vias de formação. A primeira forma dos caracteres chineses é chamada de caracteres pictográficos (símbolos imitativos), isto é, caracteres criados a partir da imitação dos objetos da realidade. Como exemplo temos, os caracteres ᴸ (yuè; lua), ᰕ (rì; sol) e ᵘ (mù; árvore). Com o desenvolvimento da escrita, a fim de criar palavras para denominar conceitos abstratos e para melhorar a eficiência da escrita, foram introduzidos caracteres mais complexos, ou seja, caracteres ideográficos (símbolos indicativos). Os caracteres 26
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ideográficos são formados a partir dos caracteres de símbolo imitativo, aos quais são acrescentados sinais indicativos, de forma a designar uma determinada parte de um objeto ou uma ideia abstrata, como por exemplo os caracteres “ᵜ(bĕn; raiz) ” e “ ᵛ (mò; extremidade) ”, que são caracteres criados a partir do carácterᵘ (mù; árvore). É de realçar o facto de os caracteres criados a partir de símbolos imitativos e os caracteres criados a partir de símbolos indicativos serem chamados de caracteres de corpo único ou caracteres simples, devido a estes serem compostos por uma só componente. Alguns caracteres ideográficos são compostos por duas ou três partes idênticas, sendo, por vezes, a repetição do mesmo carácter representa um significado óbvio, como por exemplo: Ӫ (rén; pessoa), Շ(zhòng; multidão) e ᵘ(mù; árvore), ᷇(lín; floresta), (sēn; arvoredo). Por outro lado, os caracteres de combinação lógica (caracteres associativos) normalmente expressam ideias abstractas e são formados a partir da combinação de dois ou mais componentes. Por exemplo, o carácter “Ձ (xiū; descansar) ”, que é composto pelo símbolo “ ӫ” e que significa uma pessoa e o símbolo “ᵘ”, que significa árvore. Estes dois símbolos combinados representam uma pessoa encostada a uma árvore, dando a ideia de descanso ou de descansar. Por último, os caracteres de combinação de ideia e som (caracteres de composição semântica-fonográfica) representam perto de 90% dos caracteres existentes e são caracteres que possuem duas componentes: a componente que indica o seu significado e a que indica o seu som. Por exemplo, o carácter ⌻(yáng), que significa oceano, é composto pela parte indicadora de significado (os três pontos do lado esquerdo do carácter) e a parte que indica o som (parte direita do carácter).
7. A Simbologia dos Números Chineses Os números têm uma relação estreita com a cultura chinesa, devido ao facto de que na crença supersticiosa chinesa, alguns números representam ideias positivas 27
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e negativas que estão relacionadas com a sua pronúncia. Por isso, muitos chineses gostam de escolher “bons” números no seu dia-a-dia, como na escolha de um número de telemóvel, da matrícula do carro e de um andar de apartamento. O número 3 (em chinês, й sān) na cultura chinesa não é muito bem-vindo, como acontece também na cultura ocidental. De facto, em algumas expressões chinesas que têm o número 3, como é o caso de “нйнഋbù sān bú sì”, que significa “ desonesto” e “йᗳҼsān xīn èr yì”, que significa “estar indeciso”, este tem uma conotação depreciativa. Outro caso é o número 4 (em chinês, ഋ sì), que tem pronúncia semelhante à da palavra “morte” (em chinês, ↫ sǐ). Assim, muitos chineses evitam a todo o custo o número quatro, especialmente, no que diz respeito ao número do andar ou número da porta de uma habitação. Porém, na vida moderna, os números 1, 2, 5, 6, 8 e 9 são números que estão relacionados com coisas positivas. Por exemplo, o número 1 (em chinês, а yī) tem a ver com “atenção exclusivamente dedicada a uma coisa” ou “estar focado” e também está relacionado com o significado de fidelidade, de amar uma pessoa para toda a vida. Em relação ao número 2 (em chinês, Ҽ èr), ligado a uma expressão que diz “boas notícias vêm aos pares ྭһᡀৼhǎo shì chéng shuāng”. O número 5 (em chinês, ӄ wǔ) é um número muito simbólico e esquemático, por exemplo, os cinco elementos, os cinco sabores e os cinco cereais, etc. O número 6 (em chinês, ޝliù) tem o sentido de haver algo “sem dificuldades ޝޝབྷ亪 liù liù dà shùn”, isto porque tem o som semelhante à da palavra chinesa “ ⍱ liú” que significa “fluir”. O número 8 (em chinês, ޛbā) está relacionado com “tornar-se rico, enriquecerਁ䍒fā cái”, prosperidade, sorte e sucesso, uma vez que “8 ޛbā” e “tornar-se ਁ fā” têm um som semelhante. Por fim, o número 9 (em chinês, ҍ jiǔ) significa “para sempreཙ䮯ൠ ѵtiān cháng dì jiǔ”. Por último, os números pares são mais auspiciosos que os ímpares e quando se repete o número, aquilo que ele representa intensifica-se. Por exemplo, é muito comum utilizar a combinação de números “8899” para desejar fortuna e felicidade a dobrar. 28
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8. A Grande Muralha A Grande Muralha (em chinês, 䮯; em pinyin, Chángchéng) é considerada como um milagre na história da arquitetura chinesa. Esta inicia-se na passagem de Shanhaiguanኡ ⎧ޣ, no leste, e estende-se até à passagem de Jiayuguan హጚޣ, no oeste, com uma extensão total de mais cinco quilómetros, por isso é também chamada de з䟼䮯 Wánlǐ Chángchéng. Há um ditado chinês que diz “Quem não sobe a Grande Muralha não é um herói verdadeiroнࡠ䮯䶎ྭ≹ bú dào Chángchéng fēi hǎohàn ”. A construção da Grande Muralha começou durante o período Primavera e Outono (770-476 a.C.) e o período dos Estados Combatentes (475-221 a.C.) e era um projeto de defesa para resistir às invasões dos grupos nómadas do norte. Relacionada com esta obra gigantesca há uma triste lenda que se passa a contar. Durante o reinado de Qin Shihuang 〖ⲷ, o primeiro imperador da dinastia Qin (221-206 a.C.), inúmeros trabalhadores foram recrutados à força para construir a Grande Muralha. O marido de Meng Jiang Nüᆏဌྣ foi capturado e levado pelas tropas imperiais para as obras de construção. A rapariga sentia muitas saudades do seu marido e decidiu ir à sua procura. Superadas mil e uma dificuldades, chegou ao local da obra, mas recebeu a notícia de que ele tinha morrido. Meng Jiang Nü chorou durante três dias e três noites e finalmente, com o desespero, atirou-se ao mar e morreu. Para lhe prestar homenagem, foi construído um templo ao pé da Grande Muralha e ao lado do templo há uma grande rocha chamada de wangfushi, onde, segundo a lenda, Meng Jiang Nü ficava de pé a olhar para o horizonte em busca do seu marido.
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