Os monstros que serão aqui referidos e analisados não são os da teratologia. Enquanto a teratologia pretende fazer o inventário e a descrição das formas ditas monstruosas que a natureza oferece, o nosso estudo não está interessado em classificar e descrever as aberrações e deformações que aquela ciência, de resto recente (a mesma só aparece com pretensões científicas a partir do século XIX com Geoffrey Saint-Hilaire e o seu filho Isidore), procura encontrar, tanto no reino animal, como no reino vegetal. O nosso trabalho pretende, antes de mais, debruçar-se sobre monstros que a natureza nunca produziu, mas que povoam e ocupam a cabeça e os dias dos homens.
Falar de monstros numa cadeira de Filosofia Moderna parece apresentar uma dupla dificuldade: primeiro, porque o tema parece destituído de valor filosófico; segundo, porque os monstros parecem desaparecer durante a Época Clássica. Veremos, contudo, que não é bem assim.