Salve-se Quem Puder

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António Serra Correia

Angola após o 25 de Abril de 1974

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SALVE-SE QUEM PUDER

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O seu primeiro livro, fundamentalmente auto-biográfico, intitula-se “Geração Rejeitada” e versa muito à sua maneira e resumidamente o seu modo de vida, bem como de todos os seus, numa cidade em expansão e progresso como era Luanda no seu tempo. Foi o “motor de arranque” para um segundo, um romance de inspiração africana e baseado num facto real que partilhou de perto e cuja história é contada, usando a sua imaginação e ficção. Intitula-se “O Soba Branco”. Seguiu-se então um terceiro, também este de ficção, aliás como são todos até agora, onde narra contos que lhe chegavam aos ouvidos em tempos de criança e na sua juventude feliz e despreocupada, episódios de vida de seus pais e amigos do tempo deles, outros por si mesmo vividos, fruto dos serões de família nos tempos em que não havia TV e a rádio pouco mais servia para além de ouvir os noticiários. Este intitula-se então e em memória desses mesmos serões “Enquanto Houver Memória”. Acaba agora de escrever mais um. Não querendo pôr de lado a ficção por motivos óbvios, mais uma vez se serve dela para narrar factos, entretanto, também eles verídicos e em memória daqueles (e foram muitos) que sofreram “na carne” os maléficos efeitos de uma descolonização vergonhosa e que não pretende que tal seja esquecida, apesar dos já muitos anos que passaram sobre eles. Intitula-se este “Salve-se Quem Puder”, em memória de todos os que se tornaram vítimas de um processo político que se pretendia justo e que acabara por ser vergonhoso. O autor acredita mesmo, que este livro se torne algo polémico e espera receber alguma crítica que o desminta num ou noutro aspecto. Aceita essa crítica porque sabe que há e haverá sempre vozes contraditórias, e vários modos de descrição, mas como estamos em democracia, espera também que lhe reconheçam o direito de opinar da maneira que melhor sabe e divulga.

ROMANCE

SALVE-SE QUEM PUDER Angola após o 25 de Abril de 1974 António Serra Correia António Serra Correia, é natural de Manteigas (Santa Maria), de onde saiu com restante família ainda muito novo. Decorria o longínquo ano de 1950 quando rumaram a Luanda – Angola. Ali cresceu, fez os seus estudos e mais tarde cumpriu também o serviço militar obrigatório, sendo este o causador da interrupção dos seus estudos não permitindo a conclusão de um curso superior como desejava. Profissionalmente, concluiu um curso na área da Química, e que lhe permitiu desempenhar as funções como Analista da Indústria Química durante todo o tempo de actividade. Casou e ainda em Luanda nasceram os seus dois filhos. Voltou a Portugal inesperadamente após o 25 de Abril de 74, tendo saído de Luanda nos primeiros dias de Setembro de 1975. Após a sua reforma, já lá vão alguns anos, deparou-se com o dilema de não saber onde ocupar parte do seu tempo disponível e enquanto lhe fosse possível. Algo debilitado fisicamente, talvez por causa da sua actividade laboral dos últimos anos de actividade, tentou algo que lhe fosse possível executar, mas não se sentia satisfeito. Na agricultura era um “nabo”, pois não fora criado nem habituado e nem mesmo necessitado, para que tal actividade lhe valesse agora de alguma forma. Sempre gostou de ler, talvez por influência de sua mãe que sempre o incentivara a isso, até que certo dia, pensou e cedo se resolveu a escrever, algo que também sempre gostou desde muito novo.


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SALVE-SE QUEM PUDER

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Angola apรณs o 25 de Abril de 1974


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EDIÇÃO: edições Vírgula® (Chancela Sítio do Livro) TÍTULO: Salve-se Quem Puder AUTOR: António Serra Correia REVISÃO: Liliana Simões CAPA: Ângela Espinha PAGINAÇÃO: Susana Soares 1.ª EDIÇÃO Lisboa, novembro 2018

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ISBN: 978-989-8821-81-2 DEPÓSITO LEGAL: 447030/18 © António Serra Correia

PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO:

www.sitiodolivro.pt NOTA: O autor, por sua opção, escreve de acordo com o antigo A.O.


ROMANCE

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SALVE-SE QUEM PUDER Angola apรณs o 25 de Abril de 1974

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Antรณnio Serra Correia


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SALVE-SE QUEM PUDER (Angola, após o 25 de Abril de 1974)

INTRODUÇÃO

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Neste livro, onde me inspiro uma vez mais em factos reais, as histórias aqui narradas são, contudo, pura ficção.

No meu entender são apenas o reavivar de experiências dramáticas que marcaram negativamente as nossas juventudes, na maioria dos casos, e que aqui me proponho a não deixar morrer, já que a geração sofredora está envelhecida e vencida.

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É a vontade de não deixar que caiam no esquecimento completo, já que a juventude dos dias de hoje, mais preocupada em viver a sua própria existência de uma maneira completamente distinta, o que é absolutamente normal, nunca o fará. «É assunto dos pais ou mesmo dos avós», dirão alguns e com razão. Por outro lado, e como sabemos, não havendo dois casos iguais, tive bastantes dúvidas e incertezas em escolher um TÍTULO adequado ao, ou aos temas aqui descritos. Um título que 7


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despertasse curiosidade, interesse, e as tristes recordações que nos acompanharão até à tumba onde tudo se acaba (?). Pensei em vários, tais como: De um inferno para o outro, O Paraíso é vizinho do Inferno, enfim, em vários outros desde que levasse os leitores a interessar-se pelo tema.

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Sobrepôs-se sobre todos, aquele que, julgo eu, melhor retrata a realidade dos acontecimentos por via de uma «vergonhosa descolonização». Aquele que melhor retrata o modo de como fomos tratados por aqueles, que vestindo uma farda, nos desprezaram completamente, e quando a atitude correcta seria a de nos proteger em situação tão difícil. Outros, antes deles, assim fizeram ao ponto de muitos darem a sua própria vida para proteger os seus concidadãos. Honra para eles seja sempre feita. Foram os verdadeiros heróis.

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Mas os militares do MFA, nascidos da (pseudo) revolução, não foram heróis?

Não ponho sequer em dúvida que o tenham sido, mas de forma muito limitada, e na minha humilde opinião duvidosa, isto porque não tenho o mínimo receio de afirmar que em vez de um «25 de Abril» houve dois.

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— Dois? Mas como? — perguntarão muitos. — Sim, dois, e passo a explicar.

Aqui em Portugal, tais militares eram o garante do fim de uma ditadura de cariz fascista; o garante do nascimento de uma liberdade real e desejada; e do restabelecimento de um regime democrático, vindo a transmitir uma esperança que se tornou realidade, e que era o fim de uma guerra injusta e injustificada. Louvável, sem dúvida. — E nas ex-colónias de África, também foi assim? 8


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É claro que não! E não porque as populações não festejassem o nascimento da democracia, de uma liberdade igualmente desejada e necessária, mas porque, em poucos dias, se tornaram o alvo de alguns sectores da política, como sendo: reaccionários, os verdadeiros fascistas que era preciso erradicar da sociedade portuguesa, os exploradores e ladrões de terras e bens que urgia devolver aos seus legítimos donos, isto é, aos africanos, e muitos mais argumentos e acusações.

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Não foi tida em conta a sua opinião (sinónimo de uma democracia falsa), os seus interesses, bens criados, a riqueza conseguida com o suor do seu rosto e que a todos, sem excepção, beneficiava. Não lhes foi concedido o direito, de se constituírem em associações que visassem a sua defesa e a dos seus interesses. Passaram a ser personae non gratae, cuja finalidade era que fossem expulsos da «sua terra», daquela que muitos criaram a partir do nada. Não lhes era concedido qualquer direito, e se o tentassem eram prontamente repelidos e perseguidos.

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Nunca me esquecerei, por mais anos que viva ainda, de episódios testemunhados por mim próprio. EU VI, ninguém me contou. Certo militar com a patente de alferes, presente num comício promovido pelo MPLA, e num momento de maior vibração e brados de vivas ao movimento, participou nos «festejos», limpando as suas empoeiradas botas ao símbolo Nacional, isto é, à nossa Bandeira Nacional. Ficariam indiferentes? Eu não fiquei, mas não podia manifestar-me sem correr o risco de, ali mesmo, levar um tiro. Retirei-me o mais rápido que me foi possível e de maneira 9


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disfarçada para que ninguém se apercebesse.

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Certo militar, este com a patente de capitão, de serviço como oficial de dia no então e ainda quartel-general, ao dirigir-me a ele com um pedido de que me fosse concedido um «salvo-conduto» para poder circular fora das horas de recolher decretadas, com a finalidade de poder estar a horas com a família, mulher e filhos menores, no aeroporto, a fim de partirem para Lisboa, fui recebido com enxovalhos e insultos de toda a ordem como se eu fosse um criminoso, acabando por se negar a conceder-mo, expulsando-me do local. Valeu-me um militar das FAPLA/MPLA, que testemunhando o ocorrido me detém, alegando conhecer-me do tempo em que ambos servimos no exército colonial, tendo a partir de então excelentes lembranças minhas e do bom comportamento que para com ele sempre demonstrara como seu superior. Não o reconheci, mas concedeu-me um documento que valia o mesmo que o tal «salvo-conduto». Apertámos as mãos para espanto de alguns militares do MFA ali presentes. Nunca mais nos vimos.

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Em determinada ocasião em que o clima que já se vivia, era bastante hostil e perigoso para nós, numa coluna organizada que nos conduzia ao nosso local de trabalho, pois de outra forma já não era possível, eu e todos os que nela seguiam presenciaram um momento de terror em que alguns «guerrilheiros» cometiam o saque de um comércio local, incendiando-o de seguida. Na «escolta» estavam, então, alguns militares do MFA, que se prontificaram a fazer a defesa dos assaltantes, prendendo todos aqueles que conseguissem fugir do local, encostando-os à parede sendo-lhes apontada uma arma. Reagir? Só se fossemos loucos e não tivéssemos amor pela própria vida. 10


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Damos graças ao «25 de Abril» por nos proporcionar o testemunho de «actos tão heróicos» cometidos pelos militares do MFA. Tudo isto, apenas para justificar a escolha do título a dar a este livro. Vejamos então: 1. «Salve-se Quem Puder», era o grito desesperado proferido pelo comandante da «casca de noz», que querendo enfrentar um mar desconhecido e alteroso, via desfazer-se a sua embarcação, então atirada impiedosamente de encontro aos rochedos.

2. «Salve-se Quem puder» era o grito final e desesperado proferido pelo comandante do exército, numa batalha já perdida perante um inimigo mais poderoso em número e material, acabando por heroicamente se render, salvando, talvez, o maior número possível dos seus soldados.

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3. «Salve-se Quem Puder» era o grito desesperado do alcaide, defensor do seu castelo, quando chegava à conclusão de que com essa atitude podia salvar a maior parte dos seus homens e moradores sitiados.

4. «Salve-se Quem Puder» era o lamento de todos aqueles que perante uma situação de desespero e de casos realmente insolúveis proferiam.

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5. «Salve-se Quem Puder» foi o triste lamento como sendo o único caminho a tomar por parte daqueles que, após o 25 Abril, se viram abandonados, insultados, perseguidos, sentindo por parte daqueles que deveriam ser os primeiros na sua defesa, os principais inimigos.

Esta foi e será sempre lembrada como a «página mais negra» da nossa história mais recente. 11


«SALVE-SE QUEM PUDER» é, por estas e muitas outras razões, o título que melhor se ajusta a estas e muitas mais histórias por alguns vividas, e que não esqueceremos.

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O Autor.


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PRIMEIRO CAPÍTULO I

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A FAMÍLIA CERQUEIRA

Corria o ano de 1955 e a estação fresca do cacimbo estava a terminar.

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Maria do Carmo Cerqueira estava no pequeno quintal da casa de família, uma casa de piso único em Benguela, terra onde nascera, e ocupava-se de momento na rega de uns canteiros de flores. Estava prestes a completar catorze anos de idade. Era feliz e nada lhe faltava do essencial para ter uma vida desafogada e pacata. Era filha de Artur Cerqueira, um mulato de tez clara que nascera numa fazenda do interior do planalto do Huambo, e que desde muito cedo tivera de fazer pela vida até se fixar em Benguela, onde conhecera aquela com quem um dia se casaria, Anabela do Carmo.

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Anabela, natural de Moçâmedes, era filha de um armador de pesca em Moçâmedes, natural de Faro. A mãe era natural de Lisboa.

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Os pais de Anabela tinham vindo para Angola havia muitos anos e ainda muito novos. Maria do Carmo poucas recordações tinha dos avós maternos, pois era muito criança quando faleceram. Os avós paternos, esses ela nunca conhecera, mas ouvia o pai dizer que sempre foram pessoas de bem e trabalhadoras.

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Estava ansiosa pela chegada do dia do seu aniversário, até porque o pai lhe prometera como presente uma bicicleta, transporte frequente e talvez o mais usado pelos habitantes benguelenses. A cidade era completamente plana e por isso, era um meio de deslocação relativamente fácil de conduzir, para além de ser o mais económico.

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Artur Cerqueira tinha chegado a Benguela já com alguns conhecimentos teóricos e práticos em mecânica de viaturas pesadas e agrícolas, e os seus estudos foram feitos em Luanda, onde morava com um tio seu. Não lhe foi muito difícil ser admitido como trabalhador nas oficinas gerais do caminhode-ferro. Tinha um vencimento razoável que lhe permitia poder fazer algumas poupanças para se precaver em tempos mais difíceis. Anabela do Carmo era nesse tempo uma moça de figura agradável, bonita, e estava a trabalhar como balconista numa excelente casa de moda, e mais tarde também de pronto-avestir. Estava satisfeita com o seu trabalho e, com o tempo, caiu nas boas graças dos patrões, ao ponto de lhe confiarem a loja na sua ausência.

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O casamento de Anabela e Artur fora um acontecimento com algum relevo na cidade daquela época. A noiva ia vestida com um dos mais bonitos e prendados vestidos oferecidos pelos patrões, e, a partir de então, seus padrinhos de casamento. Em menos de um ano depois, nascia Maria do Carmo, e agora, nem parecia terem passado já catorze anos. Estava a tornar-se numa bela moça, tal como a sua mãe, e assim sendo, o futuro dela era a principal preocupação daqueles pais. Queriam que ela estudasse para que viesse a ter uma vida melhor que a deles, desejo que lhes era natural. Foi isso que aconteceu, durante os anos seguintes, e aqueles que a cidade permitiu. A escolaridade na cidade não permitia ir além do sétimo ano liceal.

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«Carmita» estava quase nos dezassete anos quando o terminou, e «já olhava para a sombra» havia algum tempo.

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De facto, estava enamorada por um colega de turma, um rapaz natural de Luanda e um pouco mais velho que ela. Este residia com os pais em Benguela, que por motivos profissionais para ali foram transferidos. Era filho de um funcionário dos CTT que tinha ali sido colocado como chefe de estação. O rapaz chamava-se Alfredo Soares e já fora apresentado lá em casa, e tinha sido recebido muito bem pelos seus pais, o que a deixou bastante feliz. «Mas, e agora?», essa era a pergunta que se fazia.

Para continuar com os estudos teria de rumar a outras paragens, e nem mesmo em Luanda havia grandes opções. O pai de Alfredo já manifestara interesse em que o filho rumasse a Lisboa para prosseguir os estudos e que viesse a formar-se num curso superior, mas os pais de Maria do Carmo 15


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não tinham disponibilidade financeira para mandar a sua filha única para Lisboa ou qualquer outro sítio, e esta já estava aflita e atarefada a pensar numa solução que a todos servisse. Mas não estava fácil.

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Foi ao fim de mais um dia de trabalho e depois de combinarem um pequeno passeio pelos lindos jardins da cidade, depois do jantar, para aproveitar a suave brisa vinda do mar e dos lados da bela praia Morena que, em conversa, surgiu a ideia de Carmita poder ir estudar para Sá da Bandeira. Alfredo não os acompanhava nesse dia.

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— Penso que a melhor solução, talvez, para o teu futuro seja continuares com os teus estudos em Sá da Bandeira — disse Artur, dirigindo-se à filha, e para ver também qual a sua reacção, mas, no momento, quem reagiu não foi ela, mas sim a mãe, dizendo: — E como vamos nós mandar a nossa filha para Sá da Bandeira se nem sequer lá temos alguém dos nossos conhecimentos? A estadia não deve ser nada barata.

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— Ora mulher, estive a pensar nisso. Aliás, já venho pensando nisso há algum tempo e sei de uma pessoa que por certo não se importa de a receber em sua casa, durante o tempo que for preciso. — E esse alguém é também pessoa que eu conheça? É que não estou a ver quem possa ser. — De facto, não é dos teus conhecimentos, suponho, mas é dos meus. Trata-se de um antigo colega de escola, em Luanda, que foi colocado em Sá da Bandeira ao serviço de um concessionário de uma grande marca de máquinas agrícolas. A esposa dele é de lá natural, vivem razoavelmente, quanto sei, e 16


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estou em crer que não se importarão de a receber em sua casa como se fosse sua filha. Também eles são pais de uma filha, um pouco mais nova que a nossa.

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Esta conversa mantida entre os pais despertara a curiosidade a Maria do Carmo, mas resolveu não interromper. Estava apenas atenta e curiosa para ver qual seria o resultado. Ter-se-iam esquecido que ela também podia e devia ter a sua própria opinião? Não. Não a esqueceram porque de imediato, e quase em simultâneo, se dirigiram a ela, perguntando:

— Que pensas do assunto, Carmita, já que é do teu futuro que se trata? — perguntou a mãe.

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— Para ser sincera, penso que não devo tomar decisões precipitadas. Tenho de pensar em todos os prós e contras e, além do mais, não quero decidir sem conversar com o Alfredo. — Penso que tens razão, filha — disse o pai. — Não devemos precipitarmo-nos. Temos muito tempo para decidir. E a conversa ficou por ali.

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O passeio estava agradável e melhor ficou quando decidiram sentar-se numa mesa da esplanada, mesmo em frente do Monumental, belo cinema da cidade, e onde qualquer um deles já tivera a oportunidade de ver bons filmes. A cidade crescia e embelezava-se a olhos vistos. Aliás, não era a única em Angola, mas Benguela tinha um certo misticismo, único e inexplicável. Era completamente plana, com acácias rubras a transmitir um ambiente belo, mesmo único, e um perfume constante no ar, e, naquele ano de 1958, tornava-se também numa cidade moderna, na medida do possível. 17


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A indústria hoteleira acompanhava esse crescimento com uma nova unidade que se tornava a coqueluche, no entender de grande parte dos seus habitantes. O hotel Mombaka era de cinco estrelas, luxo de primeira, vários pisos, arquitectura moderna, e colocava a cidade na vanguarda.

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Para além disso, também no que diz respeito à diversão, surgia um excelente espaço de espectáculos ao ar livre, uma bonita esplanada onde, para além de cinema, era também um belo espaço para espectáculos musicais e outros. Era um dos muitos que, aos poucos, se foram espalhando por essas cidades fora, e poucas eram aquelas que não podiam orgulhar-se de ter um espaço assim. Era agradável assistir a um bom filme num lugar acolhedor, bonito e onde o espectador se sentia bem.

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Em Benguela, era o Kalunga e não tirava o lugar ao velhinho Monumental. Era diferente, só isso.

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Também no campo religioso, Benguela era vanguardista, pois tinha agora uma nova igreja, a nova Sé da Diocese, ao estilo das mais modernas que se conheciam, bem ao estilo da grandiosa Sé de Brasília. Em Angola, dizia-se, era a primeira no género. Não era em forma cónica, mas de forma prismática com a parede frontal sobre o altar-mor, completamente envidraçada, com diversas colunatas que se uniam entre si, num tecto angular. Simplesmente bela e moderna, onde o crente se sentia bem num espaço amplo e ao mesmo tempo acolhedor. A vida desta família era estável, e todos se sentiam felizes, vivendo numa cidade bela, moderna, acolhedora e próspera.

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Chegava, porém, o momento de Maria do Carmo transmitir aos pais o que pensava acerca do seu futuro. Há muito que pensava em diversas hipóteses e nenhuma delas passava por estar afastada da presença de Alfredo, e, como não podia deixar de ser, longe da presença dos pais. Isso era impensável.

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Foi Alfredo que involuntariamente ajudou-a a tomar uma decisão que se sobrepôs às demais.

Certa tarde, estando em casa com a sua mãe, uma tarde como tantas outras, Alfredo chega com um certo semblante preocupado, e que não passou despercebido a ambas. — Que cara é essa? — perguntou Carmita, que notara logo que algo preocupava Alfredo.

— Estou preocupado porque prevejo que a nossa vida a partir daqui poderá mudar e não sei se para melhor.

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— Se não nos contares o que se passa, nunca saberemos como ajudar a resolver o problema, se é que o é — disse-lhe Anabela, que instintivamente deita um braço aos ombros de Carmita como que a incentivá-lo a falar, e ao mesmo tempo a tentar acalmar a filha.

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— Meu pai tomou a decisão de me mandar para Lisboa para continuar os estudos, e para tentar livrar-me de um serviço militar, que numa altura como esta poderia deitar tudo a perder. — E tu que pensas disso? — perguntou Maria do Carmo com alguma ansiedade na voz, que não passara despercebida a nenhum dos presentes. — Quanto a mim, para ser franco, estou completamente dividido. Se por um lado gostaria de alcançar um curso superior, com a respectiva vantagem de poder livrar-me do

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serviço militar ou pelo menos adiá-lo, por outro lado, gostaria de continuar por aqui, arranjar um bom emprego e começar a pensar em casarmos.

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Proferira estas últimas palavras, olhando de frente para Maria do Carmo. Esta ao perceber, engoliu em seco, voltando o olhar para os seus pais ali presentes. Nunca tinham falado sobre o assunto a sério, e, por isso, nunca achara oportuno falar nisso com eles, que o deveriam saber antes de tudo e todos.

Foi Artur Cerqueira que desanuviou o ambiente, proferindo: — Folgo em saber quais as tuas intenções acerca do vosso futuro, mas quero agora saber, Carmita, que pensas tu sobre o assunto? Já que considero o que acabo de ouvir como sendo um pedido de casamento.

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— Pai, estou um pouco surpresa com a decisão do Alfredo. É certo que já tocámos ao de leve sobre a hipótese de nos casarmos um dia, mas só quando houver disponibilidade de ambos. Só depois disso, é que decidiríamos o que fazer até que tal fosse possível, e agora… bom, tenho que pensar bem no que será melhor para todos.

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— Bem sensata da tua parte essa decisão — atalhou Anabela. — Nada de pressas, que o tempo que tendes pela frente é longo. A conversa estava por agora terminada, até porque já eram horas de jantar. Durante o jantar, o assunto não foi discutido e, no fim, Maria do Carmo pediu aos pais para sair com Alfredo. Queria falar com ele sobre tudo o que acabara de acontecer, e a sós. Os pais, percebendo a necessidade que havia em que ambos se entendessem, disseram que sim, mas que não demorassem muito. 20


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Foi então que surgiu a oportunidade de Alfredo se explicar e dar a conhecer à namorada quais eram as suas intenções, e a de seus pais também.

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— Os meus pais querem que eu vá para Lisboa estudar Direito, para depois voltar como advogado. Se conseguir, ajudam-me nos primeiros tempos, a trabalhar num escritório de advogados. Se for possível, abrirei depois o meu próprio escritório, aqui ou em Luanda. — E tu? É isso mesmo que também queres?

— Na verdade, prefiro algo diferente. Não me estou a ver como advogado, até porque não gosto do tipo de actividade. Sabes, eu sempre gostei de História. Sinto que me adaptava muito melhor como professor num estabelecimento de ensino, a lidar com jovens. É mais o meu feitio.

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— Então é isso mesmo que deves dizer aos teus pais, até porque, suponho, quando se estuda ou trabalha num ramo de actividade que se gosta, o tempo até parece que passa mais depressa. E por falar nisso: quanto tempo demora o curso? — Penso, não sei bem ainda, que deve demorar quatro anos, caso não haja pelo meio algum contratempo.

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— Quer isso dizer que terás vinte e dois anos quando terminares, mais um que eu. Pensas, então, que nos poderemos casar nessa altura? — Porque não? Se tiveres já o teu emprego como dizes, uma vez que não tens interesse em continuar a estudar, e se eu o conseguir assim que terminar o curso, julgo que sim. Maria do Carmo ficou pensativa e calada. Mentalmente fazia planos para o futuro e resolveu expô-los a Alfredo.

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— Sabes, Alfredo, estou a pensar aqui com «os meus botões» que se não há outra solução, o melhor é combinarmos entre nós o que devemos fazer e já. — E tens alguma ideia melhor que queiras expor?

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— Quanto julgo saber, precisas de estar já em Setembro próximo em Lisboa, assim que começar o ano lectivo. Já não temos muito tempo para estarmos juntos. Maria do Carmo acabara de proferir estas palavras, fazendo um esforço para não desatar a chorar, mas não conseguira evitar umas teimosas lágrimas que lentamente lhe corriam pela face morena, e ainda por cima ele notara nelas.

Comovido também, passou-lhe os braços à volta do pescoço e tentou serená-la.

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— Não te preocupes, Carmita. Já falei no assunto com os meus pais, e estão dispostos a pagar umas passagens extras de avião para poder vir cá passar todas as férias que tiver durante o ano. Também eles o desejam, pois nunca nos separámos até agora.

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Foi um pequeno prémio para Maria do Carmo, o facto de vir a saber desta hipótese. Sentiu-se um pouco mais aliviada, mas sabia, e sentia já, que para si esse tempo longe de Alfredo, seria como que uma eternidade. Aquilo que mais temia, veio por fim a acontecer. Certa tarde, do mês de Agosto de 1958, Alfredo apresentou-se em casa da namorada para se despedir dela e dos pais desta. Teria de estar em Lisboa a tempo de tratar do necessário, antes das aulas começarem a meados do mês seguinte, e no curso por si escolhido, depois de convencer o pai do que pensava ser melhor

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para ele. Escolhera História, e teria a oportunidade de aprofundar conhecimentos em duas línguas estrangeiras, pelo menos.

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Preocupava-o, no entanto, o facto de ter de ficar hospedado em casa de um tio-avô por parte de sua mãe, viúvo e de meiaidade, sem filhos, ou melhor, ele tinha uma filha, entretanto, casada e a viver em Paris havia alguns anos. Eram estes, afinal, os parentes mais próximos que tinha fora de Angola. A mãe sabendo dessa sua preocupação, acalmou-o dizendo:

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— Não te preocupes com isso, meu filho. Será, penso eu, uma situação transitória, pois só depois de lá estares, e a seu tempo, poderás orientar a tua vida da maneira que entenderes melhor. Não que o meu tio José seja má pessoa, e vai gostar, por certo, de ter a tua companhia, mas todos sabemos que na idade dele não será fácil a convivência com um jovem com costumes e modos bem diferentes. Estranhará algumas coisas, pois nunca de lá saiu. Nem mesmo a Paris foi, depois de ser várias vezes convidado pela própria filha e genro.

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Tudo isto já era também do conhecimento de Maria do Carmo, que não via outra saída. Teria ela agora de pensar também um pouco mais em si. Já começara a dar os primeiros passos no sentido de arranjar um emprego que, para além de a ocupar, lhe garantiria algum dinheiro, que lhe daria muito jeito num futuro mais ou menos próximo. Teve, contudo, algumas hipóteses de poder escolher. Felizmente para ela, na sua cidade de Benguela, começava a haver alguma oferta de trabalho e, entre duas ou três dessas ofertas, escolheu uma que pensava ser a melhor para si. Preferiu, então, concorrer a uma vaga de secretariado no Instituto das Pescas, cuja sede se situava muito perto das 23


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oficinas gerais do CFB (Caminho de Ferro de Benguela), e onde o seu pai trabalhava, agora que fora promovido a chefe da secção de serralharia mecânica. Era um lugar prometedor na medida em que passaria a ser funcionária do Estado com todas as regalias, após três meses em regime de formação e estágio.

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O tempo foi passando, e as notícias que aos poucos lhe chegavam da parte de Alfredo não eram ao ritmo que gostaria. Raro era o mês que recebia mais do que uma carta e já lhe manifestara o seu descontentamento, mas aceitava sempre as suas desculpas. Alegava ele que o tempo para estudar não era muito e que se pudesse adiantar algumas cadeiras por ano, talvez conseguisse terminá-lo mais cedo, o que seria bom para todos.

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Alfredo teve então a oportunidade de lhe dizer tudo isso pessoalmente quando certo dia lhe apareceu, pois vinha passar as férias de Natal com a família, conforme os pais lhe tinham prometido. Para Maria do Carmo foi uma alegria indescritível. Foi a oportunidade que faltava para porem a conversa em dia e para matarem as saudades que ambos sentiam um do outro.

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Seriam breves e curtas estas férias. Tinham de aproveitar bem o tempo e, por isso mesmo, também Carmita teve direito a alguns dias. Melhor que nada. Nesse Natal, dividiram o tempo pelas duas famílias que, entretanto, se aproximaram por causa deles. Tudo corria como todos desejavam. Quando Alfredo voltou para Lisboa, tudo voltou à rotina que a vida calma de uma cidade como Benguela proporcionava. O tempo foi passando, e os anos corriam sem novidades, até que… 24


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Em princípios de Fevereiro, corria o ano de 1961, espalharam-se notícias alarmantes de algo de muito grave ter acontecido em Luanda.

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Dizia-se que alguns homens armados atacaram a prisão da chamada «casa de reclusão» com o intuito de libertar alguns prisioneiros que ali estavam detidos e, sensivelmente à mesma hora, decorrera um outro ataque à esquadra de polícia, esta situada à saída da cidade. Em ambos os lados, tinha havido mortos e feridos, e a população, principalmente os de raça branca, revoltou-se, dando origem a uma autêntica «caça ao homem» e a uma barafunda tal que dificilmente as autoridades policiais e militares conseguiriam travar. Todos ficaram sem compreender muito bem os fundamentos de tais ataques tão inesperados, uma vez que foram apanhados de surpresa.

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Nunca mais as coisas foram sentidas como dantes, serenas e calmas. A população vivia receosa de que algo idêntico voltasse a repetir-se, e o convívio de paz e confiança que se vivia entre pessoas de todas as raças, deteriorou-se.

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Aos poucos as autoridades deram a entender que tudo seria em pouco tempo resolvido, prendendo alguns «suspeitos», mas a população continuou com receios, principalmente em Luanda onde tudo acontecera. Este sentimento de insegurança contaminara também algumas regiões e cidades do território angolano, e Benguela não fora excepção. Tanto a família Cerqueira como a família Soares sentiram bem a diferença, mas estavam já unidos nos propósitos de que nada disto pudesse afectá-los, também no interesse de seus filhos.

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Alfredo soubera de tudo pelas notícias que lhe iam chegando não só através da comunicação social, mas também pelas cartas que ia recebendo da família, incluindo de Maria do Carmo, cartas essas que, entretanto, aumentaram, tanto num sentido como no outro. Pela altura do Carnaval, Alfredo não fizera a viagem que aguardava. Os dias eram poucos e, para além disso, os acontecimentos ocorridos não aconselhavam. O ambiente embora mais calmo já, não fora de modo algum esquecido e todo o cuidado era pouco. As operações de busca feitas pelas autoridades continuavam, e era necessário manter algum cuidado. Mal sabiam eles que no mês seguinte, a 15 de Março do mesmo ano, ocorreria algo muito mais grave, desta vez no Norte de Angola.

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Vários ataques perpetrados por grandes bandos armados, principalmente com catanas, que até aí eram ferramenta de trabalho, foram feitos em várias fazendas ao mesmo tempo, ou quase, o que dava a entender que esta acção estava já preparada e estudada há muito.

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Em certos lugares, os próprios empregados, com longos anos ao serviço e tendo adquirido por parte dos patrões uma confiança extrema como se fossem desde sempre membros da família, sem pudor ou receio, naquele dia foram os carrascos de homens, mulheres e crianças inocentes. Nem os trabalhadores de raça negra que se mantiveram fiéis aos seus patrões escaparam à chacina. A reacção das autoridades, passado o tempo da surpresa, foi de restabelecer a ordem e enviar para os locais afectados a pouca e inexperiente tropa disponível. Os meios eram por demasia escassos, tanto em homens como em armamento

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Salve-Se Quem Puder

capaz e, desde logo, houve a necessidade de enviar para o território militares oriundos da Metrópole.

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Foi então que Alfredo se deu conta de que os seus estudos podiam ser bruscamente interrompidos, mesmo faltando alguns meses para terminarem. Viu alguns dos seus camaradas serem chamados para integrarem as forças militares, depois de um curto período de três meses de recruta. Mas não se deu logo por vencido e, certo dia, ao ser convocado para se apresentar na unidade mais próxima do seu local de residência, foi, mas já prevenido do que teria de fazer para adiar essa partida. Pelo menos iria tentar. Levou consigo uma declaração da faculdade, esclarecendo a sua situação e respectivo aproveitamento, pedindo depois um adiamento até que terminasse o seu curso. E teve sorte.

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Só voltou a Angola passados seis meses e após a conclusão do mesmo. Tendo passado por um curto período de preparação militar, voltou como oficial com o posto de alferes miliciano. Decorria, então, o ano de 1962.

Pr

Não escapou aos horrores do que viu e que teve de fazer para defender civis inocentes, que não será necessário estar aqui a descrever, pois todo o mundo teve conhecimento deles. Passaram, entretanto, dois anos, e poucas vezes, muito poucas mesmo, teve a oportunidade de se encontrar com a família e especialmente com a sua noiva — Maria do Carmo — que chorava, escondida pelos cantos, a sua ausência e a pouca sorte, mas sempre esperançada em melhores dias que viriam certamente. E esse dia, finalmente chegou. Chegou primeiro com a notícia de que Alfredo terminara o seu tempo de serviço militar obrigatório. Estava em Luanda a 27


António Serra Correia

ultimar a sua passagem à disponibilidade e esperava estar em Benguela durante essa semana. Esta notícia há tanto esperada e desejada, deixou todos bastante felizes, e muito principalmente Maria do Carmo, por razões óbvias.

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Depressa se juntaram as duas famílias, com o intuito de se unirem na organização de um almoço comemorativo, e nisso se aprimoraram. O dia escolhido, como se fosse uma prenda de aniversário, seria o dia em que Carmita festejaria o seu vigésimo terceiro aniversário.

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Alfredo estava a par de todos estes preparativos em sua homenagem e matutava na prenda que a sua noiva merecia, mas não atinava numa que fosse do seu agrado. De repente, como se fosse um flash, surgiu-lhe uma ideia que pareceu a mais adequada. Nem ele nem Carmita estavam numa idade que lhes permitisse adiar por muito mais tempo a marcação do dia de seu casamento. Faltava saber em que dia seria. Com o auxílio de um calendário, e depois de mentalmente fazer os seus cálculos, escolheu um dia que manteria em segredo até ao dia em que o revelaria.

Pr

Dias depois de ter chegado a Benguela, colaborou ainda nos preparativos da festa de aniversário, e já em pleno almoço, estritamente familiar e sem qualquer convidado, pede licença para falar ao mesmo tempo que se levanta, fazendo com que todos os presentes fixassem nele o olhar na ânsia de ouvir o que tinha para dizer. Depois de uma ligeira pausa, que deixou a todos na expectativa, exclamou: — Já repararam por certo que vim de «mãos a abanar», sem um presente de aniversário para a minha noiva. É verdade, não trago qualquer presente físico, mas o que trago, penso eu, é 28


Salve-Se Quem Puder

para mim, e suponho que para a Carmita também, uma prenda de valor inigualável. Proponho que o nosso casamento se realize daqui a três meses e no primeiro sábado de Dezembro próximo. Que acham da ideia?

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Nem mesmo a Maria do Carmo escapou uma cara de surpresa. É certo que aguardava que em conversa com Alfredo o assunto fosse discutido e o dia combinado, mas naquele momento ficou sem saber o que dizer.

Foi o pai de Alfredo que quebrou o «encanto», exclamando: — Excelente ideia. Por nós nada temos a opor e desde já prometemos começar a trabalhar de modo a realizar uma linda festa.

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Assim foi feito. Nesse dia especial, toda a gente trabalhou com afinco, não apenas os responsáveis pela organização, como alguns dos convidados mais próximos de ambos os lados que desde logo se ofereceram como voluntários para ajudar no que fosse preciso. A cerimónia religiosa realizou-se na igreja paroquial de N.ª Sr.ª de Fátima, uma das mais bonitas e antigas da cidade.

Pr

— Foi uma linda festa — disseram todos sem excepção —, mas o mais importante é que sejam muito felizes. As festas de Natal e Ano Novo desse ano, ainda as passaram todas em conjunto e, logo no início do ano, a vida de todos, sem excepção, voltou a ser o que era. Só a vida do novo casal é que se modificou. Alfredo conseguiu colocação na Escola Comercial do Lobito, e a distância não era impeditiva de ir e voltar a Benguela no mesmo dia, pois a mesma não era longa e, para além disso,

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