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O autor
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Manuel Luís Rodrigues Sousa
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Para lá do Sol-Poente
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Tenhamos como referência a serra do Marão, representada na capa deste livro. Nasci no lado Nascente daquela mesma serra, em Trás-os-Montes, portanto, na pequena aldeia de Folgares, Freixiel, Vila Flor. Terras que se situam encaixadas entre a serra de Bornes, onde o sol nasce, e a dita serra do Marão, atrás da qual o astro-rei pernoita, como que a descansar depois da jornada do dia a percorrer todo o arco da “abóbada celeste”. Cedo percebi, com 24 anos de idade, depois do cumprimento do serviço militar, almejando melhores condições de vida que a minha humilde aldeia não me poderia proporcionar, que o meu futuro estava para lá daquela agreste cadeia de montanhas projectada no espaço, formando a linha do horizonte Poente, lá longe, onde eu, em criança, julgava ser o fim do mundo. Parti, já lá vão uns bons anos, transpus aquela simbólica "fronteira”, para Oeste, e fiz-me à vida. Uma vida tão intensa e apaixonante que vivi, e continuo a viver, felizmente, agora reformado, como os tons fortes das cores com que, propositadamente, ilustrei a capa deste mesmo livro. Já no Outono da vida, também simbolizado pelo cair do sol no horizonte, aqui, nesta trama que teci, urdida num interlaçado de passado e presente, proponho-me levar aos leitores relatos de vivências que tive por cá nestas terras que o Sol-Poente me apontou, marcas de todo o meu longo e sinuoso caminho já percorrido que começou naquela aventura de há quarenta anos. Trazido, entre tantos, pela avalanche migratória que varreu as gentes do interior para o litoral do país.
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Se num teste de avaliação me pedissem para definir o que é a felicidade, provavelmente dissertaria de forma errante sobre o assunto, dada a sua subjectividade, e seria, portanto, inconclusivo. Com professores minimamente exigentes, a classificação da resposta seria, seguramente, uma sucessão de traços de esferográfica de tinta encarnada cruzados sobre o texto dessa resposta. A felicidade, na minha perspectiva, não sendo atingível através de uma punção mágica que se adquira, é viver plena e intensamente cada momento que a vida nos oferece, ainda que alguns ponham à prova a nossa capacidade de os suportar. Vivências que descrevi nesta obra comprovam isso mesmo. Contá-los e partilhá-los com alguém, como fiz ao escrever este livro, essa mesma felicidade é exponencialmente maior. Assim, considerando que os leitores são os professores encarregados de avaliar esta minha obra, caso consigam vislumbrar nela algo que deixe transparecer felicidade, ainda alimento a ténue esperança de ver pespegado sobre esta “prova” pelo menos um “suficiente”, mas, contudo, com a clássica observação: “podias ter feito melhor”.
Manuel Luís Rodrigues Sousa
Não, não é uma medalha que me fosse atribuída como prémio Nobel da literatura. Está fora dos meus horizontes esse, para mim, inatingível galardão. É sim, e também importante, como combatente que fui na Guiné, o assinalar do XXII dos nossos encontros anuais entre irmãos de armas, neste caso em 2018, no ano passado, na Ilha da Culatra, Olhão.
Para lá do Sol-Poente
BIBLIOGRAFIA DO AUTOR PRECE DE UM COMBATENTE Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial
Por Sinuosos Caminhos e Veredas
ONDE A CEGONHA POISOU Contos Autobiográficos do “meu Manuel”
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FICHA TÉCNICA PARA LÁ DO SOL-POENTE – Por Sinuosos Caminhos e Veredas AUTOR: Manuel Luís Rodrgiues Sousa ® EDIÇÃO: edições Ex-Libris (Chancela do Sítio do Livro)
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TÍTULO:
Alda Teixeira Manuel Luís Rodrigues Sousa ARRANJO DE CAPA: Ângela Espinha DESENHO DA CAPA:
1.a Edição Lisboa, julho 2019
978-989-8867-70-4 457663/19
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ISBN:
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PAGINAÇÃO:
DEPÓSITO LEGAL:
© MANUEL LUÍS RODRGIUES SOUSA
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PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO:
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PREFÁCIO
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Nos anos sessenta do século passado, ainda durante a vigência do Estado Novo, as famílias mais abastadas ou remediadas de Trás-os-Montes tinham como um dos seus principais objectivos mandar educar os seus filhos, afastando-os do trabalho duro do campo de onde provinham os seus principais rendimentos, recorrendo ao trabalho de assalariados, daqueles que não estudavam, para manterem as suas terras cultivadas. Terem um filho doutor, engenheiro, professor, médico, ou outras profissões qualificadas, era algo que lhes dava orgulho, estatuto. Era notório o frenético bulício em casa dessas famílias com a ansiedade de receberem os meninos ou as meninas, ainda na fase dos estudos, ou já a trabalharem, por altura das férias da Páscoa, Natal e, eventualmente, aos fins-de-semana, reservando-lhes os miminhos da época que a terra dava, ou, então, desdobravam-se em canseiras, quando eles não vinham a casa, a despachar-lhes esses mimos através do Caminho-de-ferro ou mesmo pelos correios. Destas iguarias destaco as frutas da época, os folares por altura da Páscoa, por exemplo.
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Quando estes seus rebentos vinham à terra destacavam-se, em relação aos trabalhadores do campo, pelo seu aspecto citadino, bem vestidos e mais polidos no trato, mantendo-se um pouco distantes, conscientemente ou não, dos jovens da aldeia seus contemporâneos que não tiveram possibilidades de estudar, ainda que alguns com capacidade para tal, não abrindo mão do seu estatuto-maior. Que tirassem o cavalinho da chuva um ou outro jovem “inculto” da aldeia se sonhassem sequer fazer a corte a algum ou alguma dessas criaturas “eruditas”, que até tinham sido colegas de classe e de carteira durante o ensino primário. “Cada macaco no seu galho”, melhor dizendo, as diferenças sociais naquele tempo tinham uma fronteira bem definida. Depois, a partir de 1974, após a revolução de Abril, com a generalização do ensino, abrangendo todas as famílias, esbateram-se todas aquelas diferenças sociais. Alargou-se, portanto, a um maior número de jovens a possibilidade de saírem da terra para estudarem e trabalharem também nos grandes centros urbanos, enveredando por profissões mais ou menos qualificadas no sector terciário da economia, nos serviços, regressando também a casa por altura das festas do ano, onde os pais e restantes familiares os recebiam rejubilando de alegria. Só que, com esta mudança, em total desequilíbrio, a sangria das gentes das aldeias aumentou exponencialmente, até porque coincidiu também com outro fenómeno migratório do país, concretamente a emigração, levando à desertificação do interior, particularmente de Trás-os-Montes. Ou seja, aquelas gerações de jovens, hoje já “entradotes”, com filhos adultos, outrora recebidos com exultação e mimados pela família quando periodicamente regressavam a casa, actualmente chegam à aldeia e notam, 6
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com mágoa, que as cortinas da janela da casa que os acolhia se mantêm estáticas no interior da vidraça, eventualmente com teias de aranha, por entre as quais, tantas vezes, surgia o primeiro sorriso de boas-vindas, sinal de que os que antes os recebiam em festa já partiram, dando lugar a um silêncio sepulcral que faz doer a alma. Hoje, no meu caso pessoal, embora morando longe, porque também engrossei aquela vaga migratória, e ligado que estou sentimentalmente a essas terras de família parcialmente abandonadas naquelas circunstâncias, desloco-me frequentemente a Freixiel, Vila Flor, onde se concentra toda esta história, a fim de, na medida do possível, ir adiando o abandono completo de uma ou outra propriedade: podar algumas videiras para, no tempo, ter a possibilidade de comer uns “mouriscos”, aplicar herbicida, apanhar azeitona, etc. Nesta rotina anual de tentar preservar essas humildes leiras que a geração anterior nos deixou, no mês de Fevereiro deste ano, 2017, pondo as rodas ao caminho de cerca de duzentos quilómetros, a partir de Vila do Conde, podei as videiras nas “Melaínhas”, é assim que se chama uma das propriedades, e, nessa altura, podei também um grande damasqueiro, almejando deliciar-me com os frutos, cuja maturação ocorre em Junho. Com vista a recuperar a excelente qualidade de uma macieira existente na propriedade já na fase decadente do tempo útil de vida, enxertei uma outra pequena de duas que tinha ali plantado em Novembro do ano passado, precisamente para esse efeito. Em Março voltei ali para aplicar o herbicida, tendo verificado que o referido damasqueiro já mostrava umas dúzias de damascos na fase inicial da sua formação, que espreitavam por entre a rebentação da ramagem depois da poda.
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Chegado agora o mês de Junho, pelos meus cálculos, achei que estava na altura de ali regressar com alguns objectivos bem definidos: aplicar novamente o herbicida nas ervas que germinaram no verão; inteirar-me do estado de evolução da enxertia da macieira; apanhar os damascos do damasqueiro que tinha podado; saborear as cerejas de três cerejeiras, duas das quais ainda pequenas que, entretanto, eu também tinha enxertado dois ou três anos antes; apalpar uns figos lampos e deleitar-me com eles caso estivessem maduros. Cheguei à aldeia num dia particularmente quente, cerca do meio-dia, o que me obrigou a fazer uma sesta prolongada até ao fim da tarde. Já a serra “Tinta” se entrepunha entre o Sol-Poente e as “Melaínhas”, ao fim da tarde, quando ali cheguei, agora pela fresca, a fim de aferir do estado do terreno para no dia seguinte, bem cedo, aplicar o herbicida, e particularmente curioso em ver o estado de tudo o que acima enumerei: A pequena macieira, uma das duas que plantei, para minha satisfação, apresentava a enxertia consolidada, com dois rebentos já bem desenvolvidos; Dirigindo-me ao damasqueiro, de pujante ramagem, apenas encontrei três ou quatro damascos no chão, apressando-me a apanhá-los e a disputar a minha parte com as formigas neles engalfinhadas aos centos, desalojando-as com duas assopradelas, que com sofreguidão saboreei a sua excepcional doçura; As cerejas, nem uma para a prova. Já os pássaros tinham passado com a “cesta” antes de mim; Os figos lampos estavam ainda duros como cabaças e nem um pude tragar. Portanto, apenas com a boca doce dos damascos que resgatei da voracidade das formigas, limitei-me a acabar de dar volta à propriedade, constatando também que as oliveiras já mostravam a azeitona formada, depois da
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floração, do tamanho aproximado de grãos de chumbo, deixando antever, se tudo corresse bem, uma generosa colheita. Ao lusco-fusco entrei no caminho que ladeia a terra para voltar a casa. Sem viva alma por ali àquela hora, do outro lado do caminho, pousada nos arames da vinha do vizinho Pedro Melo, vi uma cotovia a executar eventualmente os últimos acordes do dia do seu canto, como que a assinalar a hora do recolher, visto que a noite já avançava. Por cortesia para com a ave, parei e procurei imitar o seu canto com o meu assobio natural, vocal. Ora, esta apercebendo-se de que eu falava a mesma linguagem, com algum sotaque, eventualmente, ou seja, que cantava a mesma canção, circundou-me algumas vezes em voo lento, como curiosa em observar-me. Depois, ora pousava na parede da nossa propriedade no meu lado esquerdo, ora nos arames da vinha do vizinho, do lado direito, à minha frente, a responder-me a cada vez que eu assobiava e a imitava, exibindo-se numa espécie de bailado. Como se não bastasse já estar fascinado pela simpatia e destreza da ave, ali imobilizado como uma estátua, esta, a dada altura, pousou no caminho à minha frente, a escassa meia dúzia de metros, numa sucessão de vénias, ora envolvendo-se no pó do caminho, rojando sucessivas vezes o peito no chão, ora exibindo a plumagem eriçada como a querer atingir o meu tamanho, pondo em destaque a crista de penas que caracteriza a espécie, num ritual idêntico ao de, sendo macho, atrair uma fêmea. – Por quem és, cotovia, quem sou eu para merecer de ti tanta deferência…! Pensei cá comigo. Inebriado com todo aquele episódio, de repente fui tomado por um estranho arrepio na espinha, ao lembrar-me de alguém, que já partiu, de cujo 9
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rosto irradiava o sorriso com que nos recebia, feliz, habitualmente por entre aquelas cortinas de renda branca da janela, ao ser alertado pelo trabalhar do motor do carro quando chegávamos. Cortinas que, nostálgico, vi imóveis, como frequentemente acontece depois da sua partida, nessa manhã quando ali parei o carro em frente a casa ao terminar a viagem. Perante esta sensação estranha, interiorizei em mim, sem que para isso tenha qualquer explicação plausível, que esse ente querido estava a comunicar comigo através da dança daquela pequena ave, saudando-me por me empenhar em zelar aquelas terrinhas que nos deixou, e perguntando-me por novas de toda a prole, que ela, como sua matriarca que era, devotada e incondicionalmente amava. Fantasias ou ilusões minhas, claro. Ou não... Depois daquele nosso “diálogo” de um ou dois minutos, a cotovia dançante circundou-me mais uma vez em voo rasante, como a despedir-se, e partiu embrenhando-se na noite que já caía.
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Eis, portanto, pelo que acima descrevi, as circunstâncias que me levaram a partir da terra e seguir o meu caminho na direcção do Sol-Poente, para cá do Marão, trazendo na minha humilde bagagem a esperança de, aqui, encontrar melhores condições de vida, mas sem nunca perder o apego a essas minhas origens. Volto ali sempre que posso, onde já não encontro grande parte dos familiares que ali deixei quando parti, como, aliás, também deixei transparecer nesta minha alusão à “cotovia dançante”. Embora este texto tivesse sido escrito num outro contexto, considerei-o adequado como nota introdutória, preâmbulo, prefácio, como quiserem, para esta minha obra. 10
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É sobre essa aventura migratória, comum a tantos outros que engrossaram esse fenómeno, a que está associada tanta gente com quem me cruzei ao longo do meu caminho, que disserto sob este título “PARA LÁ DO SOL-POENTE – Por Sinuosos Caminhos e Veredas”.
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I CAPÍTULO
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Tenhamos como referência a serra do Marão, representada na capa deste livro. Nasci no lado Nascente dessa mesma serra, em Trás-os-Montes, portanto, na pequena aldeia de Folgares, Freixiel, Vila Flor. Terras que se situam encaixadas entre a serra de Bornes, onde o sol nasce, e a dita serra do Marão, atrás da qual o astro-rei pernoita como que a descansar depois da jornada do dia a percorrer todo o arco da “abóbada celeste”. Cedo percebi, com 24 anos de idade, depois do cumprimento do serviço militar, almejando melhores condições de vida que a minha humilde aldeia não me poderia proporcionar, que o meu futuro estava para lá daquela agreste cadeia de montanhas projectada no espaço, formando a vasta linha do horizonte Poente, lá longe, onde eu, em criança, julgava ser o fim do mundo. Parti, já lá vão uns bons anos, transpus aquela “fronteira”, para Oeste, e fiz-me à vida. Uma vida tão intensa e apaixonante que vivi, e continuo a viver, felizmente, agora reformado, como os tons fortes com que, propositadamente, ilustrei a capa deste mesmo livro. Já no Outono da vida, também simbolizado pelo cair do sol no horizonte, aqui, nesta trama que teci, urdida num interlaçado de passado e presente, proponho-me levar aos leitores relatos de 15
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vivências que tive por cá nestas terras que o Sol-Poente me apontou, marcas de todo o meu longo e sinuoso caminho já percorrido que começou naquela aventura de há quarenta anos. Trazido, entre tantos, pela avalanche migratória que varreu as gentes do interior para o litoral do país. Percurso paralelo e indissociável das transformações por que passou o país ao longo deste tempo, pós “revolução dos cravos”, de Abril de 1974, nos aspectos político, económico, social e cultural, entre outros. No ponto da vida em que me encontro, depois de todos estes anos, estou suficientemente distante para, de certo modo, me abstrair dos momentos que vivi há tanto tempo, contando-os nesta espécie de romance como se de uma outra personagem se tratasse, bem sabendo que, na realidade, corporizo os papéis de autor, narrador e figura principal ou protagonista, que interagem com outras personagens com quem se cruzam em todo o enredo ao longo do tempo descritivo. Romance autobiográfico, talvez, ou seja que tipo de escrita for, classifiquem como quiserem, o meu objectivo é prender-vos à leitura desta prosa singela e leve que vos disponha bem, de modo que, por muito longa que seja, no final tenhais a sensação de que viajastes no tempo comigo absorvidos por todo o enredo e de que o tempo de leitura tenha sido para vós um deleite. Orgulhar-me-ia com isso. “…De manhã, bem cedo, cerca das seis horas, ouviu-se o trabalhar dos motores das caterpilares berlietes a aproximarem-se das casernas que nos iriam transportar até ao aeroporto de Bissalanca. 16
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Toda a bagagem foi carregada rapidamente e, ao romper da aurora, após todos os militares terem tomado os seus lugares nas viaturas, a coluna seguiu em direcção ao aeroporto, que se situava a cerca de dez quilómetros de Bissau. Chegados ali cerca de meia hora depois, já com a luz do dia, aguardámos ansiosamente a chegada do avião, visto que ainda não se encontrava na placa do aeroporto, e aproveitámos o momento para, pela última vez, no que respeita a todos os elementos do meu 3.º pelotão, posarmos para uma última fotografia. Pouco depois tomámos o avião que entretanto aterrou, integrados num contingente de cerca de duas companhias, aproximadamente trezentos militares, que completaram a lotação do aparelho. Cerca das oito horas descolámos em direcção ao Céu. É indescritível a emoção sentida. À medida que o avião tomava altura durante duas ou três voltas em espiral, tive oportunidade de ver pela última vez o chão vermelho da Guiné, as palhotas das tabancas, semelhantes a cogumelos, a vegetação, o traçado rectilíneo das picadas. Pouco depois, avistavam-se as alinhadas avenidas de Bissau a convergirem para a rotunda do palácio do governador na Praça do Império, e o salpicado do rio Geba pelas ilhas do arquipélago dos Bijagós. Rapidamente o avião se envolveu entre o céu e o mar, ficando assim para trás aquela terra de África, pela qual inutilmente lutámos sob sacrifícios inumanos, que nos arrebatou inapelavelmente alguns companheiros de armas, cujos lugares naquele avião, mesmo com a lotação esgotada, sentia que estavam de vago. Cerca de quatro horas depois, as emoções voltaram ao rubro quando o avião sobrevoava o Atlântico já com a costa vicentina de Portugal à vista. 17
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Rapidamente sobrevoou o rio Sado, depois o Tejo e, finalmente, cerca do meio-dia, o trem de aterragem tocou o solo Pátrio no aeroporto da Portela de Sacavém…”
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Neste excerto do meu livro PRECE DE UM COMBATENTE, como podem notar, está patente o meu regresso da Guiné, o final do período que estive ao serviço do país no cumprimento do serviço militar, como combatente, naquele chão de terra vermelha em circunstâncias bem difíceis, descritas naquela mesma obra, e o retorno à vida civil. Pronto para uma nova etapa do meu caminho. E recomecei assim, após o regresso:
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“…Em campanha, na guerra colonial na Guiné, durante um mês de férias em Bissau, em Janeiro de 1974, tirei a carta de condução. Regressei em Agosto desse ano apetrechado com este instrumento de trabalho e havia que retomar o ritmo, quer em casa dos meus pais, quer naqueles trabalhos sazonais em Freixiel, interrompido por aquela obrigação militar. Voltei a integrar um rancho de azeitoneiros logo em Dezembro desse ano, a trabalhar numa das casas mais ricas de Freixiel, o senhor Ernesto Lima, que, além dos olivais que possuía onde trabalhámos, também tinha um lagar de azeite lá na aldeia para a transformação da azeitona, quer da sua colheita, quer a que se produzia na aldeia e noutras aldeias circunvizinhas, aliás, para quem quase sempre trabalhei, periodicamente, durante a minha adolescência e juventude até ir para a tropa. Conhecendo-me como conhecia e sabendo que já tinha a carta de condução, entregou-me logo uma carrinha, a velhinha Bedford, azul, de caixa 18
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aberta, de 3500 Kg, para o transporte do pessoal para os olivais e da azeitona para o lagar ao fim do dia. A partir daí, à noite, levava a carrinha para a minha aldeia, transportando toda aquela minha gente, que antes, como contei, andava a pé, e no dia seguinte voltávamos ao trabalho já com aquela comodidade. Uma bênção para toda a gente ter um motorista no grupo!...” (Excerto do meu livro ONDE A CEGONHA POISOU)
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Como este trabalho, após o regresso da Guiné, era de carácter meramente sazonal, não me garantindo, por isso, a segurança de um futuro melhor, para mim e toda a família que estava prestes a constituir, por muito que me tivesse custado deixar as minhas origens, a solução foi migrar para outras paragens para as quais o Sol-Poente me apontava o caminho:
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“…Volvido um ano após o regresso, já com vinte e quatro anos de idade e prestes a constituir família, tive a consciência de que a minha pequena aldeia, por muito que gostasse dela, não me poderia proporcionar outra vida que não fosse o trabalho árduo do campo, sem grande futuro. De certa forma o cumprimento do serviço militar já me tinha alargado horizontes a ponto de me levar a “voar” novamente do ninho, desta vez já a planar com mais confiança, à procura de melhores condições de subsistência. Como habilitações literárias, além da 4.ª classe, encontrava-me já a frequentar a “Faculdade” da vida, em que tinha já no meu “curriculum” duas cadeiras base, porventura as mais importantes do “curso” que ainda hoje frequento, porque a vida é uma aprendizagem constante: 19
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Precisamente o período desde a minha infância até ir para a tropa, em que ficaram gravados na minha matriz pessoal os ensinamentos que me foram transmitidos pela humildade dos meus pais, incutindo em mim hábitos de trabalho e outros valores estruturantes em que assenta a minha personalidade, a minha maneira de ser na vida em sociedade; O cumprimento do serviço militar, que muito contribuiu também para a minha formação e amadurecimento como pessoa, face a todas as adversidades passadas em campanha lado a lado com todos os meus companheiros de armas, cujos relatos são, aliás, a espinha dorsal deste trabalho (o meu livro PRECE DE UM COMBATENTE). Reconsiderei a minha decisão de nunca mais usar uma farda, que foi decisiva ao não aceitar o convite da polícia para ingressar naquela instituição, aquando da especialidade em Abrantes, a que já me referi, ao ver na comunicação social o slogan “serve Portugal, servindo na Guarda Nacional Republicana”…”
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Influenciado ou não por este slogan de que falei neste breve trecho do mesmo livro, em Maio de 1975, ainda antes de completar um ano após o regresso do ultramar, acompanhava o meu pai nas lides das terrinhas, vergado sobre o cabo de uma enxada, numa propriedade situada na vertente Nascente da elevação em que se situa a minha pequena aldeia de Folgares, sobranceira à aldeia de Freixiel, a sede da freguesia, que via estendida lá ao fundo a meia dúzia de quilómetros. Era para uma das casas daquele aglomerado habitacional que eu olhava frequentemente durante o trabalho, como que a tentar vislumbrar a rapariga bonita, de seu nome Silvina Almeida, que comigo já estava comprometida para “juntarmos os trapinhos”
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pelo casamento, logo que eu arrumasse vida com alguma estabilidade económica para o efeito. Era nisso que eu pensava enquanto trabalhava, apoderando-se de mim alguma indecisão no que iria fazer, mesmo depois de ter abordado uma patrulha da Guarda Nacional Republicana na feira de Carrazeda de Ansiães uns dias antes, perguntando-lhes, aos dois elementos, qual era o seu vencimento na altura. Ganhavam, segundo me disseram, solícitos, e adivinhando o porquê da minha pergunta, dois mil e setecentos escudos, e que brevemente iriam ser aumentados para três mil escudos. Um vencimento já aceitável para a época, comparando com os insignificantes apuros no trabalho duro do campo. Na pausa de comermos o farnel que levámos, ao pequeno-almoço, visto que tínhamos madrugado, ali sentados sobre umas pedras, o meu pai sugeriu, já que eu estava novamente em casa, para arrendarmos mais uma terrinha para cultivarmos além das que eram nossas, de modo a rentabilizar a força de trabalho que eu representava depois do regresso da tropa. Perante esta inesperada sugestão, que seria plausível noutras circunstâncias, não havia mais lugar a indecisões. Decidi logo ali tomar outro rumo como projecto de vida, por muito que gostasse da vida no campo a que fui habituado desde pequenino, não permitindo, ao mesmo tempo, que o meu pai alimentasse a expectativa de eu continuar em casa. O meu objectivo passava por “arrumar-me”, era assim que se dizia na comunidade local quando se saía de casa ao constituir-se família. No regresso a casa, ao meio-dia, como que espicaçado por aquela proposta do meu pai, comuniquei-lhe que, da parte da tarde, 21
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me deslocaria a Carrazeda de Ansiães para me inscrever no Posto local, a fim de ingressar, ou seja, ser alistado, era este o termo, naquela corporação. Não esboçou qualquer atitude de reprovação pela minha decisão, embora com ela ficasse um pouco surpreendido, não deixando, contudo, de colocar algumas reticências pelo facto de eu, como seu filho, passar a pertencer àquela corporação um pouco temida naquele meio tão pequeno, porque, de vez em quando, as suas patrulhas “brindavam” os moradores com umas multas, e de quem eu, com receio, tantas vezes fugi quando era criança. A sua presença era também indesejada e temível quando, no cumprimento da lei, reconheço hoje, tinha como objectivo a dissuasão e até a repressão sobre os caçadores furtivos da aldeia. No fundo, esses caçadores no defeso eram todos os moradores que, sempre que podiam, à socapa, apanhavam umas perdizes ou uns coelhos, criados nos seus campos e searas, em engenhosas armadilhas, ou mesmo com armas de fogo, de modo a melhorarem a sua dieta alimentar, já que talhos não havia, nem dinheiro para comprarem carne. Esse preconceito está retratado no excerto seguinte do meu livro ONDE A CEGONHA POISOU: “…Se fugia e corria, com o susto, ante o aparecimento do peneireiro de mau aspecto e de voz grossa a apregoar as peneiras, quando por ali aparecia a Guarda Nacional Republicana, que vinha do Posto de Vilas Boas, a pé, a cerca de quinze quilómetros, eu corria ainda muito mais. Fugia às sete partidas. Por um lado por ter medo do seu aspecto marcial, de capacete, de golas subidas no pescoço, de espingarda às costas, de ar sério, por outro, quando diziam, aí vem a Guarda, toda a gente corria na aldeia a recolher os
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cães, as "pitas” (galinhas), etc., para não ser multada. Nessas alturas ficava tudo em estado de sítio…”
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Para quem como eu, em criança, tinha tanto medo à Guarda, como neste pequeno excerto ficou evidente, eu próprio me questionava sobre ter tomado esta opção de ingressar naquela corporação policial, não obstante o avançar da minha idade adulta que me permitia, então, como era natural, uma melhor compreensão das coisas. A minha própria família, sabedora daqueles meus medos e traumas de criança em relação à Guarda, gracejava comigo depois de me ver determinado em seguir aquele caminho. Aliás, sobre esses traumas de infância, e a confirmá-los, muito recentemente, navegando na net, deparei-me com uma fotografia de uma ponte romana existente numa ribeira nas imediações da vizinha aldeia de Pereiros de Ansiães, concelho de Carrazeda de Ansiães, cuja imagem me veio avivar a memória desses tempos de criança, concretamente de um “crime” que cometi, e que vim a confessar no comentário que fiz a essa mesma imagem:
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Eu, pecador, me confesso Olhando para esta ponte, mais uma vez, vieram-me à lembrança reminiscências de criança: Como toda a gente de Pereiros sabe, esta ponte situa-se nas Olgas, ligando as duas margens do ribeiro que corre de Sul para Norte, a partir do termo de Folgares, que rasga todo aquele baixio, propriedade, na altura, do Dr. Caiado. Este ribeiro, um pouco mais a montante, no limite do termo de Pereiros e de Folgares, tinha a designação de ribeiro dos Tamões. 23
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Nos anos cinquenta, era caseiro do Dr. Caiado o senhor Armando Inácio, marido da senhora Isabel Barbeiro, que morava naquela eira à entrada da aldeia para quem vinha de Folgares, e, nessa qualidade, cultivava aquela propriedade. Chegada a Páscoa de um desses anos, como criança, com cerca de seis ou sete anos de idade, fui incumbido de acompanhar a minha prima Júlia, uma rapariga nova, com cerca de 18 anos, para se deslocar aos Pereiros, a casa do senhor Armando Inácio, que sempre se relacionou muito bem com a nossa família, a fim de ali ir buscar grinaldas para alindar a capela de S. Luís da minha aldeia de Folgares, de que essa minha prima era zeladora. Fomos então buscar as grinaldas às tais Olgas, ali muito próximo da ponte, acompanhados por aquela família, que incluía a Maria Adélia, uma menina da minha idade, filha da D. Dulce, neta, portanto, do senhor Armando Inácio e esposa. No regresso, ao chegarmos novamente a casa daquela gente, como é da praxe na hospitalidade transmontana, não nos deixou sair sem petiscarmos qualquer coisa. Nessa fugaz estadia, apercebi-me que a Maria Adélia, embora sendo menina, tinha ali um manancial de carrinhos de brinquedos, provavelmente oferecidos pela casa rica onde os avós eram caseiros, coisas que não se encontravam em qualquer lado naqueles tempos tão difíceis, e particularmente lá em minha casa. Então, enquanto ali estivemos, a Maria Adélia partilhou comigo todo aquele tesouro, deixando-me manusear e “acelerar” pelo soalho da casa aquela diversidade de modelos de automóveis, alimentando a minha fantasia da altura de que, quando fosse grande, havia de ser "chauffeur". No final, antes de retomarmos o caminho de regresso a casa, à socapa, "transferi para minha propriedade" uma daquelas relíquias, metendo-a no 24
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bolso. Era uma camioneta de passageiros em miniatura de lata colorida, a cuja cor e modelo me prendi, embora com o pequeno defeito de já não ter rodas atrás ou à frente. Entre tantos brinquedos, a Maria Adélia não terá dado pela sua falta. Quando cheguei a casa e ao tirar o brinquedo do bolso é que me apercebi de quão “grave” tinha sido aquele meu “crime de furto de automóvel”, visto que a minha pequenina consciência, proporcional à minha idade, não me deixava em paz, apontando-me o dedo acusador. Ai se eu pudesse devolver à sua legítima proprietária aquela pequena camioneta, mas que tanto já me pesava no bolso! Já tinha pesadelos de noite com a Guarda, de quem tinha tanto medo, acordando sobressaltado pela visão que dela, no sonho, acabava de ter, de aspecto marcial, de olhar sério e grave, investindo na minha direcção de arma em riste para me levar preso pelo “delito” que cometi. O tempo foi passando e, muito a custo, tudo se normalizou, sem nunca os meus pais saberem. Se o soubessem, o meu pesadelo seria substancialmente maior. É o único "crime" que tenho no meu "cadastro", que aqui e agora acabei de confessar. Um simples pecado venial, visto a esta distância no tempo, que em nada afectou o meu Registo Criminal, que, por isso, me tivesse impedido de ingressar mais tarde precisamente na “temível”, para mim, Guarda de então. A Maria Adélia transformou-se depois numa rapariga muito bonita, daquelas de "encher o olho". Casou muito cedo, com cerca de 17 anos. Desde que casou, talvez em 1968, nunca mais a vi. Se a encontrarem, nada lhe digam sobre este meu "crime". Conto com a vossa discrição.
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Assim, da parte de tarde, como o planeado, desloquei-me à vila de Carrazeda de Ansiães, por ser um pouco mais perto do que a sede do meu concelho de Vila Flor. O Posto da Guarda Nacional Republicana local funcionava numas exíguas instalações no primeiro andar de um pequeno edifício na avenida principal, em cujo rés-do-chão funcionava uma drogaria. O “José Lage”, era assim conhecido aquele estabelecimento. Quando ali cheguei, recebido pelo plantão, fui encaminhado até ao comandante do Posto, o Cabo Silva, acompanhado que estava na altura por dois ou três soldados, ali numa pequena sala que fazia de gabinete, contígua a uma cozinha, todos a braços, pelo que me apercebi enquanto esperei algum tempo, com a redacção de um relatório sobre uma invasão de campo no decorrer de um desafio de futebol no dia anterior na colectividade desportiva local. O Comandante certificava-se do rigor do texto em questão nuns impressos amarelos, e recomendava aos subordinados a precisão da “fita do tempo”, termo para mim tão estranho, com que me viria a familiarizar uns anos mais tarde. Chegado o momento de ser atendido, disse ao que ia e, depois de algumas perguntas da praxe, – de onde eu era, o que fazia, se já tinha cumprido o serviço militar, se queria ir para Cavalaria ou Infantaria – o Cabo Silva colocou uma folha azul de vinte e cinco linhas numa velha máquina de escrever, onde “martelou”, ou melhor, “metralhou”, o conteúdo do requerimento copiado de uma norma que tirou de dentro de uma pasta, tal era a rapidez com que dominava a dactilografia. – Temos mais um guarda, camaradas, porque aqui o Sousa escreve muito bem. 26
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Premonição do Comandante ao ver-me assinar o requerimento a pedir ingresso na arma de Infantaria, descartando a de Cavalaria a seu conselho. Tudo pronto, regressei a casa. Agora era só esperar, na esperança de que o meu pedido fosse objecto de deferimento.
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II CAPÍTULO
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Em finais de Julho desse ano, de 1975, decorria a safra das malhadas do centeio lá na aldeia onde eu participava, continuando a trabalhar em casa dos meus pais enquanto aguardava o despacho do requerimento, um dia à tarde, chegou ali uma patrulha da Guarda, vindo do Posto de Vilas Boas, a perguntar por mim. Os vizinhos, perante esta visita indesejada pelo que já descrevi, interrogavam-se preocupados em que é que eu me teria metido, tão “atinadinho” que eu era, diziam, para a Guarda andar à minha procura, visto que desconheciam a decisão que eu tinha tomado em me inscrever para alistamento naquela instituição. E porque, também, algum tempo antes, discretamente, tinha andado por lá outra patrulha a fazer perguntas sobre a minha reputação. Estabelecido o contacto da patrulha comigo por alguém que a encaminhou até mim, fui então notificado, e esse era o motivo de ser procurado, para comparecer no dia 8 de Setembro seguinte no quartel do Batalhão n.º 4 da Guarda Nacional Republicana no Largo do Carmo, no Porto, a fim de prestar provas de aptidão cultural, física, e médica, para, assim, se tudo corresse bem, ingressar como instruendo naquela instituição. No dia anterior à data marcada, logo de manhã, de saco na mão aprontado pela minha mãe, que continha entre algumas coisas 29
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indispensáveis para a viagem um pequeno farnel, segui viagem, não propriamente pela serra do Marão, mas de comboio através dos vales do Tua e do Douro, considerada a porta de saída dos transmontanos, e de entrada, quando regressavam, percurso que já conhecia desde a ida para a tropa e do regresso. A meio da tarde chegava eu ao Porto, à Praça Gomes Teixeira, também conhecida por Praça dos Leões, onde se situavam, e lá continuam, as instalações do dito Batalhão n.º 4, hoje designado por Comando Territorial do Porto da Guarda Nacional Republicana, paredes meias, a Nascente, com a igreja do Carmo. Para mim, naquele ambiente estranho, era esmagadora a imponência de todo o edificado citadino local, destacando o edifício da Faculdade de Ciências e a própria igreja do Carmo e, particularmente, o chafariz situado no meio da praça rodeado por quatro ou cinco corpulentos leões de bronze ou latão, “vomitando” água sobre o lago circundante. Já ali tinha estado antes de ir para a tropa, em 1969, abro aqui este parêntese, tinha eu dezoito anos de idade, em circunstâncias inopinadas, numa altura em que tentei passar para lá, não do Marão, mas da serra de Bornes, para leste, ensaiando a emigração a salto para França. As coisas não correram bem e acabei por ser preso em Vila Flor, vejam a ironia, precisamente pela Guarda Nacional Republicana local, a cujas fileiras concorria agora, que, por sua vez, me entregou à PIDE/DGS, o que, por isso, implicou uma fugaz estadia, de uma semana, ali na cidade do Porto, aí sim, passando literalmente o Marão, aventura que descrevi no livro ONDE A CEGONHA POISOU, de onde extraí este pequeno excerto: 30
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“…Depois de uma longa e cansativa viagem, todos nós, juntamente com os polícias, como sardinha enlatada na carrinha, e depois de algumas paragens nas sucessivas voltinhas do Marão da EN 15, por motivo de alguns terem enjoado, cerca das catorze horas desse dia, chegámos às instalações da PIDE/DGS na cidade do Porto, na Rua do Heroísmo, onde hoje está instalado o Museu Militar…”
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Recentemente, quarenta e cinco anos depois, já reformado, passei no local, onde tantas vezes passei durante a minha vida activa, e sobre a sensação que tive actualmente, comparando com a daquela época, fotografando o mesmo chafariz, descrevi-a assim:
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“Há cerca de quarenta e cinco anos atrás, tinha eu, aproximadamente, dezoito anos de idade, numa primeira e fugaz vinda à cidade do Porto, para um jovem simples do campo que eu era, habituado ao meu “habitat” natural de Trás-os-Montes, era esmagadora a imponência do casario granítico da cidade e o ruído ambiente do frenético movimento das pessoas e do trânsito, tão diferente do ambiente calmo lá da terrinha, dos meus Folgares.Nessa altura, fixei particularmente a majestade que saltava à vista do grupo de leões de bronze em redor do chafariz da praça Gomes Teixeira, também conhecida por Praça dos Leões, junto à Faculdade de Ciências, projectando grossos jactos de água que lhes saíam da gorja, caindo com fragor no lago envolvente. Os anos foram passando e, pelo amiúde contacto que tinha com local que a vida me foi facultando, aquele monumento, embora importante, quase me passava despercebido. Recentemente, quando por lá passava, com vagar, parei para tirar esta fotografia, detendo-me um pouco ali, a meditar sobre o momento em que ali estive pela primeira vez. 31
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Comparando o impacto do primeiro contacto com o mesmo local e a minha visão de hoje, aqueles leões não passam de raquíticos rafeiros a tentarem imitar os que lá estavam, imperiais aos meus olhos, naquele tempo. Perante esta diferença de perspectivas, só tive a confirmação do quanto eu cresci!”
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Se naquela altura do ensaio da emigração para França tudo corria bem, estaria agora a escrever o livro com a referência na capa à serra de Bornes em vez do Marão, e o título seria, por isso, “Para lá do Sol-Nascente”, em vez de “Para lá do Sol-Poente”.
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“…Volvidos alguns instantes, inesperadamente e em simultâneo, entraram de rompante alguns guardas pela porta da sala que comunicava com o resto da casa, e pela porta das traseiras que dava acesso a um pequeno quintal, em que um deles, trajando à civil, se identificou como comandante do Posto local da Guarda Nacional Republicana, o cabo João António…”
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Este pequeno excerto do mesmo livro refere-se ao momento em que fui preso em Vila Flor pelo Cabo João António, Comandante do Posto de Vila Flor, quando tentei emigrar a salto para França em 1969. Por ironia do destino, uns bons anos mais tarde, éramos colegas como sargentos. Ele, muito mais velho do que eu, como se compreende, comandava o Posto de Esposende, e eu o de Vila do Conde, localidades muito próximas, embora de distritos diferentes, Braga e Porto, respectivamente. O fim da tarde foi-se aproximando. As provas só decorreriam no dia seguinte. Entrei então numa casa de pasto que existia prati32
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camente defronte da porta de armas do quartel para tomar a refeição do fim do dia com o farnel de que, como disse, me fazia acompanhar, tencionando depois procurar onde ficar e passar a noite. Contudo, antes de tomar essa decisão, depois de comer, abordei a sentinela ali de serviço, dizendo-lhe que no dia seguinte iria ali prestar essas mesmas provas, apresentando-lhe, como comprovativo, a notificação de que me fazia acompanhar para o efeito. Aproveitei para lhe pedir se havia possibilidade de pernoitar no quartel naquela noite, para, assim, poupar algum dinheiro. Sensível ao meu pedido, fez um telefonema, creio que para o oficial de dia, a pedir autorização para eu poder entrar e ali ficar. Autorização aceite por quem atendeu, sendo eu então conduzido a uma das casernas, onde me disponibilizaram uma cama e alguns cobertores. Muito bem acomodado, ali passei a noite, dormindo tranquilamente, sentindo-me como que já pertencesse à casa, positivamente impressionado com a maneira como fui recebido. No dia seguinte, primando pela pontualidade, cerca das nove horas, juntei-me a vários concorrentes que se acumulavam à porta de armas, a maior parte deles, pelo que me vim a aperceber, eram também de origem transmontana. Depois da chamada feita por um oficial e conferidas as notificações de todos, fomos conduzidos a uma sala, equipada com material didáctico, destacando-se o tradicional quadro de ardósia fixado numa das paredes, a fim de sermos avaliados na prova cultural. Português, história, aritmética, geometria, a nível da 4.ª classe, o mínimo exigível para o ingresso, era a matéria estabelecida. Todos os concorrentes, cerca de trinta candidatos, dispostos na sala, cada 33
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um em sua mesa, começaram por se apresentar individualmente ao oficial que fiscalizava a prova, um capitão, com cerca de cinquenta anos – de onde éramos, o que fazíamos na vida civil, as habilitações literárias que tínhamos, o que nos levou a concorrer, etc. Entretanto os testes foram distribuídos e a prova começou com a duração pré- estabelecida de duas horas. Todos em silêncio concentrados na prova, aquele oficial ia deambulando vigilante pela sala, parando alguns breves instantes aqui e ali junto das mesas dos candidatos, concentrando a sua atenção no desempenho de cada um na resolução do enunciado dos exercícios. Ao passar por mim parou um pouco mais, ficando ali a meu lado, que eu via pelo “rabo do olho”, criando em mim alguma tensão e alguma desconcentração até. Momentos depois, interrompeu-me e perguntou-me que habilitações literárias tinha. Confirmei que tinha a 4.ª classe, como já antes, na apresentação, lhe tinha dado essa informação, mas que ele, dado o número de candidatos, não terá fixado. – Parabéns, escreve muito bem! Elogiou-me ele em voz alta entre toda a classe. Ufa…, que alívio. Fiquei mais tranquilo. Pouco depois, ainda durante o decorrer da prova, chamou em voz alta por um dos companheiros de prova. Este respondeu, levantando-se da cadeira. A descompostura que ele lhe deu ali na presença de todos, criando até um mau estar em toda a sala! Disse-lhe que “não era homem nem era nada” e que “devia ter vergonha de precisar de “cunhas” para concorrer à Guarda”. Mesmo não sendo nada comigo, não me senti lá muito à vontade pela severidade com que aquele oficial proferiu tal reprimenda. Imagino como se terá sentido o rapaz. Provavelmente com vontade de desaparecer dali. 34
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Entretanto a prova prosseguiu e terminou cerca das onze horas, seguindo-se depois a junta médica no Posto de Socorros da Unidade. Depois, ainda antes do meio-dia, decorreu a prova física no picadeiro da cavalaria. Tudo concluído, o resultado saldou-se pela aprovação da maior parte dos candidatos, em que eu estava incluído, para minha satisfação, tendo chumbado um ou outro em cada uma ou na soma das três provas, e particularmente na prova médica, simplesmente por ostentarem no corpo tatuagens daquelas que os ex-combatentes tinham o hábito de fazer em campanha na época, “amor de pais”, identificação da unidade militar a que pertenciam, etc., por exemplo. Ainda hoje não tenho a noção se o companheiro acossado pelo capitão por ter “metido uma cunha” chumbou ou ficou aprovado. É que as “cunhas”, por vezes, como se viu, produzem um efeito perverso. Funcionam ao contrário.
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III CAPÍTULO
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Terminadas as provas, fomos levados em viaturas para as instalações da 2.ª Companhia, situadas no quartel da Bela Vista, ali próximo do estádio das Antas, onde nos esperava a primeira refeição. O almoço. Batatas cozidas com a pele e sardinhas assadas era a ementa. Um local aprazível, a fazer jus ao seu nome, com uma vista privilegiada para a zona de S. Roque da Lameira, Corujeira e Campanhã, onde iria decorrer a instrução que se iniciaria no dia doze desse mês, quatro dias depois, portanto, o tempo necessário para que decorressem as provas de outros candidatos para completar o contingente de uma companhia, distribuída por quatro pelotões, ou turmas. Ali fiquei então definitivamente com alojamento e alimentação garantidos, de cujo facto havia a necessidade de dar conhecimento à família e à namorada da minha ausência em casa além daquele dia do exame. Como não havia os meios de comunicação que há hoje, como telemóveis, por exemplo, expedi uma carta nos correios a dar a notícia. Acabava de dar o primeiro passo para contribuir com a minha quota-parte para a desertificação do interior transmontano, engrossando o fenómeno migratório da época distribuído pela migração
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interna do país e pela emigração para o estrangeiro, com as consequências que hoje, quarenta anos depois, são conhecidas. A propósito dessas movimentações migratórias, emiti recentemente a minha opinião nas redes sociais, que complementa o que já referi no prefácio deste livro sobre esse fenómeno, que abaixo transcrevo em itálico. Ela tem por base a sequência de vários incêndios que deflagraram na zona de Pedrógão Grande e arredores no passado mês de Junho, com consequências que se saldaram em 68 vidas humanas perdidas, além de danos materiais avultados em milhares de hectares de área de mata ardida e várias habitações, e outros, como se os anteriores não bastassem, que deflagraram nestes últimos dias, cerca de três meses depois, 14, 15 e 16 de Outubro de 2017, aqui fica a referência do momento em que estou a escrever este livro, que assolaram o país no interior centro, abrangendo localidades do distrito de Coimbra, Viseu, Guarda, entre outras, em que pereceram cerca de 40 pessoas, além, também, de danos incalculáveis em matas e residências devastadas. Acontecimentos que têm sido a “pedra no sapato” do governo minoritário socialista de António Costa, com apoio parlamentar dos partidos de esquerda, Partido Comunista Português (PCP), liderado pelo seu secretário geral Jerónimo de Sousa, Bloco de Esquerda (BE), conduzido por Catarina Martins, e Pessoas-Animais-Natureza (PAN), dirigido por André Silva. A este entendimento político a quatro, pela oposição, foi dada a designação de “geringonça”. Aqui fica, pois, este registo para a posteridade deste momento da gestão política do país.
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“Todo um país a arder como uma tocha! Curiosamente, ainda não ouvi ninguém a pedir a demissão da Ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, à semelhança do que aconteceu aquando da catástrofe de Pedrógão Grande e arredores. Como se fosse a ministra e o governo os principais culpados de tudo isto, sendo certo que também têm a sua responsabilidade política ao não desenvolverem medidas de reordenamento florestal, à semelhança de outros governos anteriores, de modo a minorarem os riscos destas tragédias. Acordemos pois e ponhamos o dedo na ferida sobre tudo o que está a acontecer. Só não vê quem não quiser que tudo isto se deve, entre outros factores, e a meu ver, ao desequilíbrio demográfico da debandada das gentes do interior para o litoral, ficando aldeias perdidas nos montes, habitadas apenas por alguns resistentes em ficar, que, pela sua idade, já não têm força para lutar, ou seja, a sua debilidade física não lhes permite proceder à limpeza das matas e, principalmente, das zonas mais próximas das suas casas. Ora, perante esta desertificação, o mato invade todo o espaço, desenvolvendo-se de forma galopante, gerando-se o combustível necessário que, logo que haja condições climatéricas favoráveis, à mínima ignição, vai alimentar as chamas de proporções dantescas e incontroláveis como as que se têm visto nas notícias que nos entram em casa todos os dias. Nada se lhe põe à frente. É deixar arder, com as consequências que daí advêm, que já são más pelos prejuízos materiais causados, com a devastação de bens conseguidos durante uma vida inteira, sabe Deus com que esforço, mas que são ainda piores quando, infelizmente, como o que está a acontecer, se perdem vidas humanas. Portanto, pelo que referi, é de alguma forma imoral, ou pelo menos injusto, criticar-se a actuação dos bombeiros e da Protecção Civil em geral, 39
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