História Breve de Coimbra

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António Francisco Barata

ANTÓNIO FRANCISCO BARATA

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Foi sócio correspondente do Instituto de Coimbra, da Real Associação dos Arquitetos Civis e Arqueólogos Portugueses e da Real Academia de História de Madrid.

HISTÓRIA BREVE DE COIMBRA

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Bernardo de Brito Botelho

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António Francisco Barata nasceu em 1 de janeiro de 1836, em Góis, onde aprendeu os rudimentos da instrução primária. Em 1848, com 12 anos, vai para Coimbra trabalhar numa barbearia. Graças à sua sede de aprender e enorme curiosidade, conseguiu, sem nunca ter tido acesso a uma educação formal, adquirir uma das mais sólidas formações intelectuais em variados domínios (história, arqueologia, genealogia, heráldica, filologia, bibliografia, literatura, etc.). Trabalhando sempre como barbeiro, conviveu com os grandes vultos da academia de Coimbra do seu tempo (como, entre outros, João de Deus, Tomás Ribeiro, Augusto Filipe Simões, Cândido de Figueiredo, Augusto César Barjona de Freitas, Rodrigo Veloso, Francisco António Rodrigues de Gusmão) e com outros autodidatas como ele (Joaquim Martins de Carvalho, Olímpio Nicolau Rui Fernandes e Manuel da Cruz Pereira Coutinho), participando com todos em diversas publicações periódicas. Em 1860, a Imprensa da Universidade edita a sua primeira obra: Lucubrações de um artista. Por convite do seu grande amigo e protetor, Augusto Filipe Simões, estabelece-se, em 1869, em Évora, onde permaneceu até à sua morte, em 23 de março de 1910, sempre com dificuldades financeiras, exercendo as mais diversas funções: observador do Posto Meteorológico, guarda do Gabinete de Física do Liceu, escrivão da Câmara Eclesiástica, amanuense no Governo Civil, funcionário e conservador da Biblioteca Pública, vereador da Câmara Municipal, etc. Publicou mais de uma centena de obras e opúsculos (romances, teatro, poesia, história, filologia, genealogia, biografias, arqueologia, epigrafia, etc.) e inúmeros artigos em publicações periódicas. www.sitiodolivro.pt

HISTÓRIA BREVE DE COIMBRA

SEGUNDA EDIÇÃO ANOTADA POR

ANTÓNIO FRANCISCO BARATA

A História breve de Coimbra: sua fundação, armas, igrejas, colégios, conventos e Universidade, que em 1733 foi editada em Lisboa, na Oficina Ferreiriana, foi “a primeira publicação em ordem cronológica que expressamente se fizera sobre a história de Coimbra”, no dizer de António Francisco Barata, que acrescenta que “do merecimento deste livrinho diremos apenas que ainda não houve quem escrevesse sobre a cidade de Coimbra ou que o não citasse ou que dele não mostre haver conhecimento”. O nome que surge como seu autor – Bernardo de Brito Botelho – é manifestamente um pseudónimo, permanecendo as dúvidas sobre a sua verdadeira identidade. Generalizou-se o entendimento, com base em menções de Joaquim da Silva Pereira (Coimbra Gloriosa) e Diogo Barbosa Machado (Biblioteca Lusitana), reproduzidas por Inocêncio Francisco da Silva (Dicionário Bibliográfico Português) que seria Frei Bento da Cunha, hipótese que é de rejeitar: o autor da História breve de Coimbra apresenta-se como natural de Miranda do Douro, onde foi juiz dos órfãos, depois de se formar na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra; Frei Bento da Cunha nasceu em Coimbra, em 1672, onde estudou no Colégio da Companhia de Jesus, e professou na Ordem da Santíssima Trindade, em Santarém. O exemplar da primeira edição da História breve, com anotações manuscritas seguramente feitas pelo seu autor, a preparar uma reedição, foi adquirido em Lisboa por António Francisco Barata, que, com base nele, promoveu, em 1873, a sua segunda edição, amplamente enriquecida com anotações de sua lavra, corrigindo inexatidões, suprindo falhas e atualizando informações. Reproduzem-se agora as duas edições (a primeira em fac-simile), que possibilitam o conhecimento, não só da história de Coimbra, mas como ela foi vista pelo autor original, em 1733, e pelo anotador, em 1873.


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SUA FUNDAÇÃO, ARMAS, IGREJAS, COLÉGIOS, CONVENTOS E UNIVERSIDADE


História Breve de Coimbra: sua Fundação, Armas, Igrejas, Colégios, Conventos e Universidade. autores: Bernardo de Brito Botelho (pseudónimo), 1733 / António Francisco Barata (Góis, 1836 – Évora, 1910), anotador da 2.ª edição (1873). recolha dos textos e notas: Mário Araújo Torres fotografia de capa: António Francisco Barata em 1875 edição gráfica: Edições ex-Libris® (Chancela Sítio do Livro) paginação:

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título:

Paulo S. Resende Ângela Espinha

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arranjo de capa:

1.ª edição Lisboa, novembro 2019 isbn:

978­‑989-8867-72-8 459814/19

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depósito legal:

© Mário Araújo Torres

Declinação de Responsabilidade: a titularidade plena dos Direitos Autorais desta obra pertence apenas ao(s) seu(s) autor(es), a quem incumbe exclusivamente toda a responsabilidade pelo seu conteúdo substantivo, textual ou gráfico, não podendo ser imputadas, a qualquer título, ao Sítio do Livro, a sua autoria parcial ou total, nem quaisquer afirmações, declarações, conjeturas, relatos, inexatidões, conotações, interpretações, associações ou implicações constantes ou inerentes a este conteúdo ou dele decorrentes. Todos os direitos de propriedade reservados, em conformidade com a legislação vigente. A reprodução, a digitalização ou a divulgação, por qualquer meio, não autorizadas, de partes do conteúdo desta obra ou do seu todo constituem delito penal e estão sujeitas às sanções previstas na Lei.

publicação e comercialização

www.sitiodolivro.pt publicar@sitiodolivro.pt (+351) 211 932 500


BERNARDO DE BRITO BOTELHO

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SUA FUNDAÇÃO, ARMAS, IGREJAS, COLÉGIOS, CONVENTOS E UNIVERSIDADE

Reprodução em fac-simile do exemplar da primeira edição (1733) com emendas manuscritas pelo autor e transcrição da segunda edição anotada por ANTÓNIO FRANCISCO BARATA (1873)

Recolha dos textos e notas por

Mário Araújo Torres


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NOTA PRÉVIA

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Do merecimento deste livrinho diremos apenas que ainda não houve quem escrevesse sobre a cidade de Coimbra, ou que o não citasse ou que dele não mostre haver conhecimento, sendo, demais, a primeira publicação em ordem cronológica que expressamente se fizera sobre a história de Coimbra. António Francisco Barata O ENIGMA SOBRE A IDENTIDADE DO AUTOR

DA HISTÓRIA BREVE DE COIMBRA

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Persistem dúvidas sobre a verdadeira identidade do autor da História Breve de Coimbra, que, no frontispício da primeira edição, impressa na Oficina Ferreiriana, em Lisboa Ocidental, no ano de 1733, surge como sendo o “Licenciado Bernardo de Brito Botelho, natural da Cidade de Miranda, formado na Faculdade dos Sagrados Cânones e Juiz dos Órfãos, que foi na mesma Cidade”. Diogo Barbosa Machado, em 1741, no I Tomo da sua Biblioteca Lusitana1, não põe em dúvida ser seu autor “Bernardo de Brito Botelho, natural da Cidade de Miranda na Província Transmontana, Bacharel formado na Faculdade dos Sagrados Cânones e Juiz dos Órfãos na sua pátria. Em agradecimento à cidade em que fora instruído e recebera o grau em Direito Pontifício, publicou História breve de Coimbra, sua fundação, armas, igrejas, colégios, conventos e Universidade, Lisboa, na Oficina Ferreiriana, 1732”. Mas em 1759, ao publicar o Tomo IV, com aditamentos e emendas aos três tomos precedentes, corrige a inicial identificação. Em nova entrada com o nome de Bernardo de Brito Botelho (pág. 78) remete para Fr. Bento da Cunha (págs. 71-72), a respeito do qual escreve: “Frei Bento da Cunha nasceu na cidade de Coimbra a 26 de dezembro de 1672, sendo filho de Manuel da Cunha e Luísa Gomes. Tendo estudado a língua latina e filosofia no Colégio dos Padres Jesuítas da sua pátria, recebeu o hábito da ilustre Ordem da Santíssima Trindade,


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no Convento de Santarém, a 13 de agosto de 1693, quando contava vinte e um anos de idade. Aprendeu as ciências severas com aplicação no Convento de Lisboa e Colégio de Coimbra e foi Ministro dos Conventos da Lousa e Nossa Senhora do Livramento, situado fora dos muros de Lisboa. Para se mostrar grato à pátria, que lhe dera o berço, compôs e publicou, com o afetado nome do Doutor Bernardo de Brito Botelho, História breve de Coimbra, sua fundação, armas, igrejas, colégios, conventos e comunidades [sic]. Lisboa, na Oficina Ferreiriana, 1732.” Inocêncio Francisco da Silva, no Dicionário Bibliográfico Português (Tomo I, Imprensa Nacional, Lisboa, 1858), refere, a propósito de Bernardo de Brito Botelho, “que se diz bacharel formado em Cânones e Juiz dos Órfãos em Miranda, sua pátria”, que “Barbosa, tendo descrito esta obra no tomo I como daquele cujo nome traz no frontispício, diz depois no tomo IV que o seu verdadeiro autor é Frei Bento da Cunha, religioso trino (…) e que o nome com que saíra é afetado. Houve provavelmente fundamento, por nós ignorado, que o levou a esta espécie de retratação” (pág. 375)2. E sobre Frei Bento da Cunha: “Trinitário, natural de Coimbra, batizado em 26 de dezembro de 1672. Nada se diz acerca do ano do seu óbito. Conforme Barbosa no Tomo IV da Biblioteca, e o autor da Coimbra Gloriosa, que existe manuscrita na Biblioteca Pública de Lisboa3, foi este que escreveu, sob o nome afetado de Bernardo de Brito Botelho, a História breve de Coimbra, etc.” (pág. 344). Com base nestes dados, generalizou-se o entendimento de que Bernardo de Brito Botelho era pseudónimo usado por Frei Bento da Cunha. Neste sentido: Martinho Augusto da Fonseca, Subsídios para um Dicionário de Pseudónimos, Lisboa, Academia Real das Ciências, 1896, pág. 12, n.º 137; e Albino Lapa, no Dicionário de Pseudónimos (compilado por Maria Teresa Vidigal, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 1980, pág. 36, n.º 663), que indica ter Bento da Cunha nascido em Coimbra em 1672 e falecido em 1733. A atribuição da autoria da História Breve de Coimbra a Frei Bento da Cunha também resulta de duas passagens do manuscrito


NOTA PRÉVIA   9

Coimbra Gloriosa, de Joaquim da Silva Pereira, existente na Biblioteca Nacional de Portugal. Na primeira passagem, constante da Parte Segunda, Capítulo 7, § 6, lê-se: “Capela de S. António junto do Arco da Portagem.

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Não há certeza do ano certo de seu princípio, porém no século 17 e ano de Cristo de 1680 estava fundada, porque no primeiro de maio aconteceu nela um caso digno de memória e foi que, estando o Padre Pedro de Álvares, o graveto de alcunha, dizendo missa para os encerrados da Portagem ouvirem, desta sorte se levantou burburinho de vento, que depois de consagrada a hóstia até voou pelos ares e foi cair sobre uma pedra que estava no Cais de baixo, a tempo que neste sítio estavam dois rapazes, um que se chamava Bento, brincando, e estes, sem saberem era consagrada, pegaram nela e a levaram arvorada nas mãos, proferindo em altas vozes ora pro nobis; acompanhavam a estes outros do mesmo tamanho, até à Praça; neste lugar foi pedida por um mercador a hóstia para dela fazer oferta, não lha quiseram dar os rapazes e ali a repartiram entre si, entrando na angélica comida; e outro chamado Bento. Pretenderam os outros participar do angélico manjar, não lhe foi concedido por não terem o nome de Bentos. Teve notícia o Bispo D. Frei Álvaro de S. Boaventura, de quem se tratou no Cap. 3 da Primeira Parte, § 83. Do exposto foi à Igreja de S. Bartolomeu onde convocou os 3 rapazes, e por sua ordem lhes foram raspadas as mãos, determinando a seus pais os vestirem do hábito de S. Bento, que trouxeram 3 anos, entre eles Bento da Cunha, que veio a ser Religioso da Ordem da Santíssima Trindade, natural da mesma cidade e autor da Breve História de Coimbra impressa em Lisboa no ano de 1732, com o afetado nome de Bernardo de Brito Botelho, natural da cidade de Miranda, cujo Religioso era bem-disposto, porém gago.”


10  NOTA PRÉVIA

E na Parte Terceira, Capítulo 3, § 2:

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“Bento da Cunha, filho de Manuel da Cunha e de Luísa Gomes, nasceu na freguesia de Santa Cruz, onde foi batizado a 26 de dezembro de 1672. Foi Religioso da Ordem da Santíssima Trindade, cujo hábito recebeu no Convento de Santarém, a 3 de agosto de 1693. Foi de estatura alta, bem-disposto, porém gago, de quem já se tratou na Segunda Parte, Cap. 7, § 6. Compôs e deu a publicar, com o afetado nome de Bernardo de Brito Botelho, natural da cidade de Miranda: História breve de Coimbra, sua fundação, Armas, Igrejas, Colégios, Conventos e Comunidades [sic], a qual foi impressa na cidade de Lisboa, em 4.º, no ano de 1732.”

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Mas carece de consistência esta tese de que o verdadeiro autor da obra fora Frei Bento da Cunha, nascido em Coimbra em 1672 – o rapaz “bem-disposto, porém gago”, que, aos 8 anos, apanhou uma hóstia consagrada que voara das mãos do padre que celebrava missa na capela existente na face norte do arco/torre da entrada da ponte, a que assistiam, atrás das grades, os presos da Cadeia da Portagem (o “inferno dos vivos”), situada no sopé da encosta onde se erguia o Convento de Santo António da Estrela – e falecido em 1733, tendo por formação académica o estudo de latim e retórica no Colégio da Companhia de Jesus, sem qualquer menção à frequência da Universidade. Na verdade, são repetidas, ao longo do texto da História Breve, as afirmações do seu autor de que não é natural de Coimbra e que nela frequentou e se formou na Universidade. Na nota de apresentação da obra ao “Amigo Leitor”, refere o autor ter sido causa da sua decisão de escrever “a breve e sucinta História da Cidade de Coimbra e dar aos seus naturais estas memórias da grandeza de sua pátria” o “reconhecer-me obrigado aos seus estudos, onde de poucos anos tive a sua companhia clássica, em que me ocupei com os mais latinos daquelas escolas, até chegar ao estado em que me acho”, tendo tomado “tal afeição (…) a esta cidade, e a seus naturais, que por agradecido lhes contribuo com esta breve oferta, para que saibam em sucintas memórias as grandezas da sua pátria, pois sem dúvida é esta cidade mãe de todos aqueles que


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se querem aproveitar de seus frutos académicos. Todos estes, que os gostaram com atenção, se podem também chamar compatriotas com muita razão; e eu com muita mais, pois gostei doze anos as águas do celebrado Mondego e dos pomos de suas deliciosas quintas, que, no tempo das férias, deixava minha pátria para especular seu labor; e como tinha tempo para tudo, não deixava de admirar as grandezas desta cidade e origem de sua fundação, armas e estudos, e mais notabilidades, inquirindo-as dos seus naturais; que destes (por serem mais dados ao estudo das letras do que às histórias antigas) achei só dois ou três de seus cidadãos, que me deram alguma breve notícia, até que me aproveitei mais pelos anos que me ocupei em conferir as histórias antigas, mandar rever cartórios e fundações dos colégios e conventos, e admirar toda a grandeza, direção, governo e ornato daquela célebre Universidade, que como mais obrigado aos seus ditames e à afabilidade de seus naturais para comigo [pois sempre os tratei e me trataram com urbanidade], desejo que todos os que não tiveram a fortuna de aprender das suas postilas, representar-lhes, nesta breve História, as delícias que perderam, e a seus naturais, o gosto de saberem o que lá, com certeza, nunca pude alcançar.” E não suscitando dúvidas sérias a convicção de António Francisco Barata (a que adiante se aludirá) de que as anotações manuscritas que encontrou no exemplar da primeira edição que adquiriu (e com base no qual procedeu, em 1873, à sua segunda edição anotada) eram do próprio punho do autor da obra, que estaria a preparar a sua reedição, inclusivamente com substituição da personalidade a quem era dedicada (Pedro Hasse Belém, na 1.ª edição; Rodrigo Xavier Pereira de Faria, na edição em preparação), surge como improvável que o verdadeiro autor fosse Frei Bento da Cunha, que, segundo Albino Lapa, terá falecido no próprio ano – 1733 – em que a História Breve de Coimbra foi publicada. Acresce que a credibilidade de Joaquim da Silva Pereira, o autor da Coimbra Gloriosa, foi severamente posta em causa por Inocêncio Francisco da Silva, quando, a respeito dessa obra, regista (Dicionário citado, Tomo IV, Lisboa, 1860, pág. 155):


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“É obra copiosa em notícias de todo o género e, na parte relativa aos escritores, avança mais alguma coisa com respeito à Biblioteca de Barbosa, por chegar como se vê a 1789. (…) O autor era porém demasiadamente crédulo e falto de crítica em tudo o que diz respeito à história antiga e dá às vezes como certas opiniões improváveis. Sirva de exemplo (…) a leviandade ou ilusão em que caíra acerca de uma figura, encontrada nos alicerces da Igreja de S. Pedro, que ele sem hesitar batizou logo de estátua de Ataces, ao passo que, pelo seu próprio desenho, se conhecer ser um crucifixo de gosto antigo!”

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É, assim, de afastar a atribuição a Frei Bento da Cunha da autoria da História Breve de Coimbra. Não se encontram outras obras cuja autoria seja imputada quer a Bernardo de Brito Botelho, quer a Bento da Cunha, quer a Manuel da Conceição (nome que aparece a subscrever a Dedicatória) e no Arquivo da Universidade de Coimbra não há registo de qualquer estudante com o nome de Bernardo de Brito Botelho, designadamente matriculado na Faculdade de Cânones no período em que supostamente a teria frequentado, pelo que é seguro tratar-se de pseudónimo. A identidade do verdadeiro autor da História Breve de Coimbra permanecerá envolta em mistério.

NOTA SOBRE A PRESENTE EDIÇÃO

O sucesso que a História Breve de Coimbra conheceu quando foi editada em 1733 é bem retratado por António Francisco Barata ao referir que “ainda não houve quem escrevesse sobre a cidade de Coimbra, ou que o não citasse ou que dele não mostre haver conhecimento, sendo, demais, a primeira publicação em ordem cronológica que expressamente se fizera sobre a história de Coimbra”. Quis o acaso que quando, em Lisboa, comprou um exemplar da obra, Barata se surpreendeu por vê-lo anotado marginalmente por letra do século XVIII, anotações essas que seguramente indiciavam


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terem sido feitas pelo próprio autor da obra (uma das emendas é a substituição da personalidade a quem a dedicava e num dos acrescentos refere, falando dos conimbricenses, “pois sempre os tratei e me trataram com urbanidade”, emendas que não poderiam ter sido escritas por um qualquer leitor), muito provavelmente a preparar uma republicação. Face a esse achado, decidiu-se Barata proceder à segunda edição que o autor não lograra concretizar. E fê-lo, em esmerada edição, por iniciativa sua, a que associou dois tipógrafos naturais de Coimbra (Gaspar da Graça Ramalhete e Manuel Augusto Amaro de Seixas), que da Imprensa da Universidade se haviam transferido para a Imprensa Nacional, que a publicou (em 1873, segundo a página de rosto, ou em 1874, segunda a capa). Esta segunda edição é profundamente enriquecida com notas da autoria de António Francisco Barata, suprindo deficiências e incorreções da original, e sobretudo registando as alterações verificadas na cidade nos 140 anos entretanto decorridos e valorizando-a com rigorosas indicações bibliográficas. Sobre essa edição de Barata, escreveu Joaquim Martins de Carvalho (O Conimbricense, n.º 2762, 13/1/1874, pág. 3): “Não se limitou o nosso amigo a fazer a reimpressão do livro; porém, com o muito conhecimento que tem das coisas de Coimbra, enriqueceu-o com muitas e interessantes notas, que vêm preencher as lacunas e deficiências do texto. E como depois do ano de 1733, em que ele foi impresso, se fundaram em Coimbra mais alguns colégios e um convento, de todos dá notícia o esclarecido editor; ficando assim, por todos os motivos, a História breve de Coimbra de muito maior valor e mais completa do que na sua primeira edição.” E no Panorama Fotográfico de Portugal (dirigido por Augusto Mendes Simões de Castro): “O Sr. Barata aditou a este livrinho muitas anotações e grande número de inscrições lapidares, na maior parte inéditas, com que lhe duplicou o valor e o tornou muito curioso e interessante para os que desejarem informar-se e instruir-se na história desta cidade e de seus monumentos” (Vol. 4.º, n.º 5, maio 1874, pág. 40).


14  NOTA PRÉVIA

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Sabendo que Barata, depois de sair de Coimbra, viveu grande parte da sua vida em Évora, cuja Biblioteca Pública chegou a dirigir, achei curioso encontrar no respetivo catálogo, na secção de reservados, registo de um exemplar da 1.ª edição da História Breve de Coimbra, com a menção de que continha anotações manuscritas. Foi com surpresa idêntica à que Barata terá sentido ao comprar, por volta de 1873, num alfarrabista de Lisboa, o exemplar da edição de 1733, anotado pela mão do seu autor, que deparei, em 2019, na Biblioteca Pública de Évora, com esse mesmo exemplar que Barata utilizou. É a sua reprodução, em fac-simile, que integra a primeira parte da presente obra. Segue-se a transcrição, com atualização da grafia, da segunda edição, anotada por António Francisco Barata. Completam o presente volume a lista da bibliografia citada pelo autor e pelo anotador da História Breve de Coimbra, alguns textos avulsos de Barata sobre a história de Coimbra e uma nota sobre a fascinante vida e a portentosa obra de António Francisco Barata, que chegou aos 12 anos a Coimbra, ido da sua pátria Góis, trabalhar como moço de barbeiro e que se tornaria, graças unicamente ao seu esforço, por privado de meios pecuniários que lhe possibilitassem o acesso ao ensino formal, num dos mais produtivos e conceituados historiadores, bibliófilos, arqueólogos, escritores e jornalistas portugueses no meio século que vai de 1860 a 1910.

Mário Araújo Torres

1. Bibliotheca Lusitana / Historica, Critica, e Cronologica. / Na qual se comprehende a noticia dos Authores Portuguezes, e das Obras, que compuseraõ desde o tempo da promulgaçaõ da Ley da Graça até o tempo presente / (…) por Diogo Barbosa Machado, Ulyssipoñense Abbade da Parochial Igreja de Santo Adriaõ de Sever, e Academico do Numero da Academia Real, Tomo I. Na Officina de Antonio Isidoro da Fonseca. Lisboa Occidental, MDCCXXXXI.


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2. Também Jorge Cesar de Figanière (Bibliographia Historica Portugueza, Lisboa, 1851, p. 130, n.º 733) refere: “Ignoraramos o fundamento com que o Abade de Sever [Diogo Barbosa Machado] no Tomo IV, pág. 71, col. 2, da sua Biblioteca Lusitana, esquecido do que escrevera no Tomo I, pág. 528, col. 1. da mesma Biblioteca, atribui esta obra, que erradamente declara haver sido impressa em 1732, a Frei Bento da Cunha, religioso trino, natural de Coimbra.” 3. Coimbra Glorioza pelas suas Noblissimas e antiquissimas memorias e Biblioteca geral das Parochias, Collegios, Conventos, Cappellas, e mais edificios nobres que existem na referida Cidade com os Mappas dos Bispos, e Reformadores da Universidade da mesma cidade; e dos Escriptores que nella nasceram, desde que Athazes Rey dos Allanos a reedificou e a fes sua Corte dipois de à Ruinar no quinto Seculo a antiga Colimbria Cituada junto do lugar de Condeixa a Velha / Dada a Luz por Joachim da Sylva Preira [sic] Beneficiado na Igreja Collegiada de Santiago de Coimbra, manuscrito, 3 tomos, Coimbra, 30 de junho de 1783 [Coleção de Reservados da Biblioteca Nacional de Portugal – Cotas: COD. 576, COD. 577 e COD. 578].


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Reprodução em fac-simile do exemplar da primeira edição (1733) existente na Biblioteca Pública de Évora com emendas manuscritas pelo autor para eventual reedição


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