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PEÇO AO VENTO QUE ACELERE O GRITO Preview
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António A. Moreira Carneiro PEÇO AO VENTO QUE ACELERE O GRITO POEMAS 2022 Preview
FICHA TÉCNICA edição: Edições Vírgula ® (Chancela Sítio do Livro) título: Peço ao vento que acelere o grito autor: António A. Moreira Carneiro capa: Ângela Espinha paginação: Alda Teixeira 1.ª Lisboa,Ediçãojunho 2022 isbn: ©depósito978-989-8986-60-3legal:500697/22AntónioA.MoreiraCarneiro Declinação de Responsabilidade: a titularidade plena dos Direitos Autorais desta obra pertence apenas ao(s) seu(s) autor(es), a quem incumbe exclusivamente toda a responsabilidade pelo seu conteúdo substantivo, textual ou gráfico, não podendo ser imputada, a qualquer título, ao Sítio do Livro, a sua autoria parcial ou total. Assim mesmo, quaisquer afirmações, declarações, conjeturas, relatos, eventuais inexatidões, conotações, interpretações, associações ou implicações constantes ou inerentes àquele conteúdo ou dele decorrentes são da exclusiva responsabilidade do(s) seu(s) autor(es). publicação e (+351)publicar@sitiodolivro.ptwww.sitiodolivro.ptcomercialização:211932500 Preview
À Ana, minha provavelmentemulher, a mulher mais paciente do mundo. Preview
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“En mis ojos, sin querer, Relumbran cuatro faroles”. Federico Garcia Lorca Preview
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Alguém disse que se calhar a Poesia é indefinível e, ao mesmo tempo, todas as definições que dela se façam têm um indesmentível grau de validade porque abrangem essa Verdade aproximada da grande Verdade que é a Poesia. Diante dessa dificuldade de definição, que cada um ouse definir como sua a poesia que ele próprio faz.
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11 PREFÁCIO
António
sobre momentos que atravessam a existência, que falam de desequilíbrios e da indispensável necessidade de a poesia se abrir a uma transcendência capaz de restituir esse desafio, muitas vezes desprezado, da reconciliação – diante da perceptível angústia que diariamente me interpela nos ecos sufocados demasiado perto, mesmo aqui diante dos meus olhos –, e da procura de um futuro que se reconheça na inocência dos meus silêncios… A. MoreirA CArneiro
Poemas como os reunidos neste livro, quiçá algo toscos, vão nascendo como uma espécie de desabafo procurando legitimar a comprovação de uma necessidade de contí nuo apaziguamento.Estessãopoemas
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POEMAS PARA O VENTO Preview
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DESPERTAR Cuido que o primitivo desamparo Faz parte integral da confusão Com que a manhã se magoa Quando quer justificar as estranhas criaturas Que a rondam perto. A ideia de silêncio é absurda Se a luz se eleva em estremeções quentes. A esta hora O chão zomba do compreensível rancor Das fragrâncias ascendentes Que ignora E tudo se alvoroça sobre a rua Na forma de correr cidade fora. Procuram-se os mesmos culpados Entre os corpos pesados Que se lançam violentamente Contra a luz A desafiar as prescrições da ortopedia. Mas o chão recusa-se a aceitar Figuras Enquantobaixasosmodos do sol Se erguem de encontro ao instante Em que se faz OsSimultaneamentemeio-dia.sonshesitamemaclarar o rumor da demora Que a minha janela ainda ignora A abrir-se lentamente.
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HORAS Um tic tac resmunguento permanece como ruído de fundo, O relógio reflecte à volta um número infinito de horas.
É por isso que não esqueço o tamanho das horas votadas ao abandono, Antes de serem recambiadas para o tempo ocioso, Onde os meus pensamentos se trituram…
Lentamente diante de mim o tempo, escassamente iluminado, Projecta as últimas sensações antes do frio.
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Os meus sentidos não aprendem senão as mais dramáticas, Embora todas as horas sejam atraídas pelo meu cansaço, Quando não há outra saída.
As horas flutuam ao encontro dos desertos de sombra, Onde às vezes eu me venho encolher, e fitam-me silenciosamente
Pergunto-me o tempo todo quantos regressos inventei, nas voltas Que dei com o mundo, antes dos secretos silêncios Me ocultarem para não ter de dialogar com o tempo Tal o medo de perder o instante em que os meus ignóbeis acordares São levados à cena…
Até o silêncio se constituir uma ameaça à lucidez fulgurante Da minha submissão ao mundo.
Há ainda as horas que ecoam nos instantes em que o mundo se confunde comigo
Quando o sono desperta a arfar as minhas aversões favoritas; Até me lembrar que tenho forma… Mas não tenho a certeza de qual será a minha reacção Àquilo que considero um apelo solitário à vida eterna, Embora às vezes sinta a coragem de esperar tudo de mim.
Outras horas estão em constante transformação; do mesmo modo O meu corpo se transforma constantemente.
17 ANA Algo Impedeestranhoqueomeu olhar Te surpreenda A divagar por entre as rubras flores… Felizmente ainda te tens, Quando te queres ocultar; Embora nem sempre te obrigues A Aoresponderrangerdos teus silêncios. OIndigna-tefactode sentires o corpo Como objecto velho Suspenso Dos últimos invernos. A verdade é que eu sempre recebi Tudo de ti, Sem ter de te dar nada em troca. Comove-me a forma insólita Como às vezes me observas; Pouco te importa saber ou não saber Se ainda te espero… Preview
Claro que, nessa altura, já aprendêramos a debruçar-nos de nós Para nos ignorarmos…
Contudo, era isso que se esperava de nós e nos mantinha despertos A mover-nos de um lado para o outro Sem ainda sabermos porque o mundo quebrou o hábito De se reconhecer nos nossos rostos…
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DESPERTOS Grande azar termos nascido numa manhã de nevoeiro.
Claro que o nosso júbilo acabou por tornar-se escasso Porque não achámos motivos para nos livrar do hábito De fugir para mais longe…
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Foi deste modo que nos demos a conhecer; Mas ignorámos que se calhar já era tarde demais Para a luz nos descobrir; e perdemos o interesse de nos justificar.
Demos ouvidos àquilo que parecia constituir um dos pontos de referência Do nosso estimado inferno; e obedientemente escutámos As nossas palavras. Mas Perdemos a ocasião de perceber como as outras vozes Se precipitavam no silêncio, Enquanto o silêncio levemente oscilava no nosso ouvido, Inundado de movimentos crescentes recheados de sensações enganosas.
A verdade é que tivemos que descobrir de que fugíamos Enquanto o futuro esperava que nos declarássemos culpados!
O nevoeiro desapareceu a pouco e pouco, Mas nós permanecemos inoportunamente ocultados. Depois a espera perdeu lucidez e, varridos da existência, Os nossos nomes permaneceram plantados na penumbra, Até sermos surpreendidos pelo esquecimento.
Mas há muito deixou de se prestar atenção – afastou-se Imerso no silêncio subversivo, e escondeu-se, até os dias renascerem A roçar as insubmissas formas do esquecimento.
As tristezas reúnem-se, imersas noutras tristezas, e a voz Arrefece e fica amputada. Deixá-lo, não é seguro que se lembre de se receber pela manhã;
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Ainda assim, inclina-se…, e ensaia tentativas de sorrisos!
Talvez nem pare… para se observar. Não faz mal. Não se lembrará de nada!
Foi por isso que quis dar-se passagem, para se seguir, Não fora a estranha coincidência de estar preso pelas próprias mãos.
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Nessas alturas sente a medida do tempo a fazer-se ajuntar À sóbria ilusão da metamorfose…
A questão é que perdeu o hábito de se transmitir sensações novas; Já não se lembra dos silêncios que antes se professavam. Contudo, ao que parece, isso é um grande alívio: é desse modo Que se vai transformando naquilo que é! Mas é tão triste, ter de admitir que nenhum lugar o espera Quando se pinta de branco… É justamente por isso que nas últimas noites Se vem fazendo inverosímeis perguntas, quando o ar fica sombrio.
Fica à vontade na escuridão; até acordar de outros sonos, no infinito, Guiado por longínquas luzinhas de fantasia… … talvez uma brisa ligeira…, talvez um grito.
TALVEZ UM GRITO Estranhamente, o meu corpo puxa-se para se manter ao seu alcance.
Mas, se calhar, nada sabe a seu respeito. Claro que às vezes chama-se para dentro de si, E recomeça a pertencer-se…
ÚLTIMO A Poderia ter-me lembrado de me preparar
Acontece que não sei se valerá a pena segurar a luz nas mãos, Para me despedir de mim tranquilamente, Assim que o meu corpo solidificar.
Para não me submeter à longa espera…
De convocar sinais da infância!
Isso não quer dizer que para trás ficou o vazio E me abandonei em qualquer sítio Para poder apontar na direcção de onde venho; Embora possa ter a ver comigo… Se calhar, é essa a razão porque não gosto de me envolver Na indolente ilusão do meu abraço Quando descubro que sou o último a chegar…
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CHEGAR
Das oscilantes renúncias, Se me parecia possível acreditar nas esplêndidas explicações… Não é de admirar que o facto de acreditar em mim Não me impeça de me arrepender de partilhar comigo As minhas fantasias impuras desgastadas pela idade.
Acontece que desconheço os motivos Que me levam a partilhar diferentes tempos Na ilusão de decidir da minha própria vontade
Mas sempre gostei de me embelezar à luz da lua, Até as minhas cores denunciarem a consequência
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Seria interessante Descobrir quem às vezes me confunde e me faz desconhecer As formas que a refracção sugere Quando a luz finge aproximar-se um pouco mais…
21 MULHER Quando descobre o mistério fácil De fazer um filho Cria distâncias entre ela E o mundo… O corpo abre-se E o vazio ecoa E o prazer estende-se Pela súplica carnal E não há outro remédio Senão ouvir o formigueiro Lúgubre da vontade Até a vontade deixar De dar parte de si. Às vezes finge ouvir O que se diz Dentro de cada sussurro Quando a boca Se faz bafo de emoções E todos os impulsos Que lhe rodeiam o corpo Se Atérasgamocorpo perceber A distância A que a virilidade inata Se situa… E captura o som Dos sons que irradiam Preview