A Vida de Mário Alexandre

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Noent ant o,umai mpr udênci adeCar l ot ai r i amodi ficar , par as empr e,as s uasvi das e os s eus pl anos par ao f ut ur o. Már i ot i nha duas r eacções pos s í vei s aos dr amát i cos acont eci ment oscom ques edepar ou.Conf or mef os s ea s uar eacção,as uavi dadal ipar aaf r ent es er i amui t odi f er ent e.

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PEDRORI BEI RODACUNHA

AVI DADEMÁRI OALEXANDRE

Ospai sdoJ oãoer am cas adoshádezanoveanosepens avam que t i nham avi da or gani zada e s ob cont r ol o. Pr oj ect avam avi daacor r ers obr er odascom osnegóci osdeMár i oacr es cereavi das oci aladecor r erent r eas f ér i asnoAl gar ve,caçadasnaher dadedos eus ogr oj ár ecuper adapel af amí l i adepoi sdar ef or maagr ár i a,vi agensanuai sagr andesci dadesecom Car l ot aaher darde s uamãeost í t ul osdeMar ques adoPr adoedeVi s condes s adeSant aLucr éci a.Vi r i am nor asegenr osor i undosdo mes mo mei os oci alaquem s es uceder i am os net os .

Pedr oI nf ant edel aCer da Ri bei r odaCunhanas ceu em Li s boa,na Fr egues i a de São Sebas t i ão da Pedr ei r a,em 20deJ ul hode 1 944. Depoi sdet erf r equent ado o Col égi o dosMar i s t as ( Champagnat )e o Li ceu Pedr o Nunes ,l i cenci ous eem Engenhar i a Quí mi coI ndus t r i al pel o I ns t i t ut o Super i o Técni co, nunca t endo exer ci do a pr ofis s ão de Engenhei r o. Des de mui t o cedo dedi cous e à Ges t ão, t endo s i do Cons ul t or e Admi ni s t r adordemui t asEmpr es as em Por t ugal ,no Br as i leem I ngl at er r a.


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UM A DECI SÃ O D IFÍC IL

A VI D A D E MÁRIO AL E XAN D R E PEDRO RIBEIR O D A CU N H A

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FICHA TÉCNICA EDIÇÃO:

edições Vírgula ® (Chancela Sítio do Livro) A Vida de Mário Alexandre – Uma Decisão Difícil AUTOR: Pedro Ribeiro da Cunha TÍTULO:

REVISÃO:

Mafalda Falcão Patrícia Andrade PAGINAÇÃO: Alda Teixeira CAPA:

1.ª Edição Lisboa, Março 2018 ISBN:

978-989-8821-64-5 DEPÓSITO LEGAL: 435983/18 © PEDRO RIBEIRO DA CUNHA

PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO:

www.sitiodolivro.pt

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NOTA DO AUTOR Ao começar a escrever este livro não tinha ideia segura de como iria acabar nem como se desenrolaria a história; também não sabia que personagens a iriam escrever. Já me tinham dito que, muitas vezes, “os livros escrevem-se a si próprios”. Foi o caso deste. Quando o acabei, as personagens criadas passaram a fazer parte de mim. Fiquei amigo destas famílias, orgulhei-me com os sucessos de umas e entristeci-me com os fracassos de outras. Num livro de ficção, a imaginação é, talvez, o maior ingrediente para o sucesso da história que se pretende contar. Tal como na vida em que as opções que tomamos a cada dia condicionam o futuro, também isso acontece neste livro. Ao aproximar-me da sua conclusão, debati-me sobre como acabá-lo: tinha duas versões e ambas me agradavam. A personagem principal tinha duas reacções possíveis aos dramáticos acontecimentos com que se deparou. Conforme fosse a sua reacção a sua vida dali para a frente seria muito diferente. Optei pela solução mais simples, que foi escrever o livro com dois finais e assim o leitor, ao chegar ao final do Livro 4, tem duas opções que se estendem, alternativamente, pelos Livros 5A ou 5B. No livro procurei retratar a vida de uma certa elite que viveu o período que se seguiu à Revolução de 1974 com muitas 5

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mudanças nas suas vidas até ali protegidas por uma sociedade fechada sobre si mesma. Alguns, como foi o caso de Mário Alexandre Ferreira, a personagem mais importante deste livro de ficção, transcenderam-se a si próprios e passaram de derrotados a vencedores. Muitos outros não conseguiram libertar-se do seu passado e nunca perceberam que esse passado tinha morrido naquele dia 25 de Abril de 1974. No livro entrecruzam-se personagens de ficção com pessoas reais, na sua maioria meus amigos. Em nenhum caso estas pessoas reais são postas em causa pela sua honestidade e ética. Não podia deixar de ser assim.

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AGRADECIMENTOS À Clara, minha Mulher e minha Amiga. A minha primeira leitora e a única que, verdadeiramente, me interessa ter sempre como leitora. Minha crítica constante, a ela devo muitas revisões do texto e muitas sugestões feitas para melhor harmonizar a sua leitura; Às minhas Filhas e Genros: a Pureza aparece como minha Filha numa situação de ficção, a Alice e o Marc aparecem como figuras ficcionadas e o Gonçalo aparece numa situação de ficção; Ao meu querido sobrinho António Ribeiro da Cunha, que aparece numa situação de ficção; Aos meus amigos, que são referidos no livro, que permitiram que usasse o seu nome em situações de ficção: Adelaide e António José Rebelo de Andrade e seus filhos Pedro e Inês; Álvaro Barreto; Ana Maria (Annie) Leite de Castro; Carlota (Bébé) e Pedro Vaz Pinto; Clara e António Telles da Silva; Eduardo Lupi; Evelyne Guedes e sua filha Teresa; Francisco Avillez; Francisco Deslandes; Francisco Ribeiro da Cunha; Graça Seabra; Jónice Tristão; José Correia de Sampaio; José Maria Ribeiro da Cunha; Luís Matos Chaves; Manuel Ponte; Manuel Salgado; Maria Emília (Lila) e José Vaz Pinto; Maria da Conceição (Xaxão) e José Luís Pinto Basto; Maria João e Ricardo Salgado; Marta e Jaime Anahory; Miguel Martins; Nuno Ulrich; Teresa e Duarte Vasconcelos; 7

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Teresa e João Roque de Pinho e seus filhos Diana, Rodrigo e Sofia; Teresa (Nini) e José António Carvalho Martins; Ricardo (Xinca) Gorjão Jorge e Madalena (Lela); Teresa (Beticha) e José Correia de Barros; Vera e Eduardo Pinto Basto. À memória de: Minha querida Luz; Minha querida avó Vera; Minha querida tia Lúcia; Minha querida amiga Leonor (Missanga) Matos Chaves; Meu querido primo, amigo, e mentor Miguel de Sttau Monteiro; Meu querido primo e amigo José Luís Pinto Basto; Meus queridos amigos Álvaro (29) Pimenta da Gama; Antero Seabra; José Filipe Guedes e Manuel Kelecom (Manecas Mocelek). O meu grande respeito vai também para a memória da estilista Laurinda Farmhouse; da decoradora Maria José Salavisa; dos médicos Kirio Gomes e Luís Carlos Meleiro de Sousa; do fiscalista Rogério Fernandes Ferreira; do cabeleireiro Vítor Hugo e do publicitário Telmo Protásio também referidos em situações de ficção; Ao meu amigo, Pedro Sousa Vieira, que me ensinou, o pouco que sei, sobre os cavalos lusitanos; Ao meu primo e amigo, Eduardo Pinto Basto, que me levou a conhecer alguma coisa sobre aviões de recreio; Ao António Arriaga, meu editor e, agora, amigo, cujos sempre úteis conselhos me ajudaram muito. À Sandra Pena, colaboradora do António na Sítio do Livro, que muitas vezes me aturou nas constantes mudanças que ia introduzindo no livro já depois de “finalizado” para impressão. 8

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Sociedade Central de Frutas Accionistas em 1968: Mário da Silva Ferreira Arménio Cardoso da Silva Irmãos Barbosa

40% 30% 30%

Administradores em 1968: Eng.º Álvaro Henriques da Silva – Presidente do CA Mário da Silva Ferreira Mário Alexandre Pereira da Silva Ferreira – Adm. Delegado Arménio Cardoso da Silva Margarida Correia dos Santos Daniel Barbosa Augusto Barbosa Accionistas em 1971: Mário da Silva Ferreira Arménio Cardoso da Silva Irmãos Barbosa Henrique Macedo

45% 30% 15% 10%

Administradores em 1971: Engº Álvaro Henriques da Silva – Presidente do CA Mário da Silva Ferreira Mário Alexandre Pereira da Silva Ferreira – Adm Delegado Arménio Cardoso da Silva Margarida Correia dos Santos Daniel Barbosa Henrique Macedo

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Accionistas em 1988: Mário da Silva Ferreira Henrique Macedo

80% 20%

Administradores em 1988: Mário Alexandre Pereira da Silva Ferreira – Presidente do CA e Adm Delegado António Miguel Seabra Carlos Macedo Accionistas em 1990: Francisco Ferreira Seabra 40% João Ferreira Queirós e Meneses 20% Margarida Ferreira Queirós e Meneses 20% Carlos Macedo 20% Administradores em 1990: Carlos Macedo – Presidente João Ferreira Queirós e Meneses – Adm Delegado Francisco Ferreira Seabra

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American Fruit Company (AFC) Chairman – Alfred Weigl c. Betty Chairman Europe – Robert Cuningham c.Elise President South America – Marc Frost c. Alice

AFC Brasil Presidente – Sérgio Moreira c. Regina Vice Presidente Adm e Financ – Paul Johnson Vice Presidente Comercial – Maurício del Valle c. Carmen Vice Presidente Industrial – Mário Alexandre Ferreira

AFC Espanha Presidente – Jaime de la Corte c. Maria de los Angeles (até final 1983) Mário Alexandre Ferreira (1984 até final 1987) Vice Presidente Adm e Financ – Alfonso Molina Vice Presidente Comercial – José Luis Guzmann Vice Presidente Industrial – Álvaro Guardiola Vice Presidente Recursos Humanos – Cristina Alvarez

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LIVRO 0

INTRODUÇÃO 1988

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Os Pais do João casados há dezanove anos pensavam que tinham a vida organizada e sob controlo. Projectavam a vida a correr sobre rodas com os negócios de Mário a crescer e a vida social a decorrer entre as férias no Algarve, caçadas na herdade do seu Sogro já recuperada pela família depois da reforma agrária, viagens anuais a grandes cidades e com Carlota a herdar da sua Mãe os títulos de Marquesa do Prado e de Viscondessa de Santa Lucrécia. Viriam Noras e Genros oriundos do mesmo meio social a quem se sucederiam os Netos. Tudo sob controlo e fácil de projectar sem sobressaltos. Mário Alexandre da Silva Ferreira tinha agora 44 anos. Era muito alto, de 1,95m; de cabelos louros e uma cara de estátua grega, era um dos rapazes mais bonitos da sua geração e tinha sido sempre muito cobiçado pelas várias raparigas com quem se tinha relacionado. Bom aluno e, apesar de um pequeno percalço na difícil cadeira de Física II, ministrada pelo temido Professor António Silveira – que só conseguiu fazer à segunda tentativa, depois uns humilhantes seis valores obtidos na primeira – tinha-se licenciado pelo Instituto Superior Técnico em Engenharia Química e era o Presidente da Sociedade Central de Frutas (SCF), a segunda maior empresa fabricante e comercializadora de uma conhecida marca de sumos e concentrados de fruta, da qual a sua família detinha agora uma participação no capital de cerca de 80%. Tinha sido sempre bom aluno e, sendo muito trabalhador, foi-lhe fácil ascender ainda muito novo a lugares na Administração da Empresa e 17

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por fim chegar ao lugar que agora ocupava e que desempenhava com dedicação. Provinha de uma família da média burguesia, que agora vivia em Lisboa no Príncipe Real, numa casa de dois andares, depois de viver anos na Rua Visconde de Valmor. Era popular entre os seus colegas e seus amigos. Bom desportista, era campeão de vários desportos mas gostava particularmente de jogar ténis, o que fazia regularmente nos campos do CIF, Clube Internacional de Football. No entanto, alguma timidez não o tornara num namoradeiro. O seu pai Mário Ferreira, com setenta e dois anos, era um importante advogado com escritório no Chiado e lidava de perto com os grandes advogados lisboetas da época, sendo estes tantas vezes seus parceiros como outras vezes adversários nas causas que defendiam. Os honorários que cobrava permitiram-lhe levar uma vida confortável e educar os seus três Filhos nos bons colégios de Lisboa. A Mãe, da mesma idade do que o Pai, Margarida Pereira da Silva tinha, como muitas senhoras da época, tirado um curso de Enfermagem, que não exercia, depois de ter feito o curso dos liceus no Colégio do Bom Sucesso, limitando-se a tomar conta do Filho e das duas Filhas e a dedicar-se a algumas obras de caridade, a jogar canasta e passarinhos com as amigas. Mário cresceu, assim, num ambiente desafogado. Mal fez dezoito anos, os Pais ofereceram-lhe um carro. Era de facto um privilegiado e um dos pouquíssimos alunos do Técnico com carro. Tinha duas irmãs, Maria de Lurdes, dois anos mais velha, casada também com um advogado, António Miguel Seabra, 18

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que trabalhava no escritório do Sogro, e Teresa de Jesus, com 39 anos, que era a sua maior amiga e confidente. Teresa, ainda solteira, tinha, no entanto, um namorado permanente, Eduardo Sá, também grande amigo de Mário e padrinho do seu Filho mais velho João, agora com dezoito anos. João, com o seu 1,73m, era um rapaz de cabelos louros, com um corpo mais entroncado que o do Pai e com feições lindas muito parecidas com as da mãe. Carlota e Mário tinham ainda uma Filha, Margarida, conhecida por Guida, agora com dezasseis anos. Esta Filha era parecidíssima com o Pai, embora com os cabelos pretos da Mãe, e tudo faria prever que seria mais alta que a sua Mãe com cerca de 1,80m de altura. Era já uma “brasa”!

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LIVRO 1

PORTUGAL 1964 a 1975

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CAPÍTULO 1

Quando Mário tinha vinte anos conheceu, numa festa em casa de umas amigas que viviam no bairro da Lapa, em Lisboa, uma rapariga linda, de cabelos e olhos muito escuros. Logo ali, percebeu que seria a mulher com quem casaria. Depois de uma curta investigação, soube que se chamava Carlota e que era a mais velha das quatro filhas de um abastado agricultor alentejano de boas famílias chamado António Fernandes e Fernandes Alarcão, que tinha casado com Mafalda Mello de Queirós e Menezes, nascida no Porto e única Filha do Marquês do Prado, também Visconde de Santa Lucrécia da alta nobreza de Portugal que, por morte deste, sendo Mafalda a primogénita, herdara o título de Marquesa além de uma considerável fortuna em prédios em Lisboa e no Porto. Carlota, na altura com dezassete anos, sem irmãos, seria a sua sucessora naquele importante título nobiliárquico. Os seus cabelos quase pretos e a sua pele escura faziam brilhar as toillettes de cores vivas que gostava de usar. A sua figura elegante, com cerca de 1,75m, fazia com que frequentemente, na imprensa cor-de-rosa, o seu nome fosse citado como uma das mulheres mais elegantes de Portugal. Como muitas raparigas da sua idade e daquele meio social, não levava os estudos muito a sério e estava, na altura, no 23

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último ano do ISLA a estudar Línguas, embora com poucas intenções de conseguir um emprego. Adorava as actividades camperas e montava a cavalo na herdade de seu Pai sempre que podia. Tinha sempre bonitos cavalos lusitanos e, no momento, montava regularmente dois, o Favorito, um baio de cinco anos nascido na herdade, e o Dardo, castanho-escuro de sete anos, que lhe tinha sido oferecido por um amigo dos seus Pais quando fizera quinze anos. Sempre que podia, e em quase todas as férias escolares, “fugia” para a herdade onde o seu feitio aventureiro a levava desde criança a subir às árvores, a colocar armadilhas aos coelhos, a atirar com espingardas de chumbos e correr pelos campos sempre na companhia dos filhos e filhas dos empregados da herdade. De entre estes, o seu maior amigo era, sem dúvida, o Arnaldo, filho do feitor da herdade, o senhor Josué Sousa, leal empregado de seu Pai. Arnaldo tinha a mesma idade de Carlota e era um rapaz entroncado, de estatura média e muito louro, que aos poucos se foi transformando num bonito homem. Arnaldo aos poucos foi-se tornando o confidente de Carlota e sua companhia constante. Sem se dar conta, à medida que crescia mais se aproximava de Carlota. Aos poucos foi-se apaixonando por ela. Reconhecia que esse seria um amor impossível dadas as enormes diferenças sociais que, naquela época, tornavam impensável tal ligação. Carlota apaixonou-se por Mário no primeiro dia em que se conheceram e, como apenas tinha tido um vago namoro com um colega de escola aos quinze anos, esta era a sua primeira verdadeira paixão. 24

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As suas irmãs mais novas, todas estudantes como ela no Colégio das Doroteias na Lapa, eram a Teresa, de dezasseis anos, a Benedita, de catorze, conhecida por Tita, e a Conceição, de treze, a quem chamavam Xixão. Após um longo namoro, bem aceite pelas famílias, Carlota e Mário casaram num sábado, dia28 de Agosto de 1969, tinha ele vinte e cinco anos e ela vinte e dois, na enorme Herdade da Cotovia, propriedade há várias gerações da família Fernandes Alarcão, perto da aldeia do Lavre, no Concelho de Montemor, com três mil e duzentos hectares de exemplar agricultura. A herdade, com um imponente monte tipicamente alentejano, tinha diversas casas a ladear a casa principal que acolhiam as cavalariças, alfaias agrícolas, garagens e oficina. Na casa da família, além da zona social com uma enorme sala de estar e sala de jantar, apoiada por uma gigantesca cozinha, existiam duas alas: uma com os quartos da família e outra com mais quinze quartos, identificados com nomes de animais, para acolher os amigos, especialmente durante as caçadas às perdizes que ali se realizavam. Na herdade, para além de cortiça e olival, plantava-se trigo e milho e fazia-se vinho numa exemplar vinha de vinte hectares. Com a sagacidade que o caracterizava o Engenheiro Fernandes Alarcão, não tinha adega própria e mandava fazer e engarrafar o vinho que produzia na adega a uma herdade vizinha. Em abono da verdade, embora o vinho fosse de qualidade aceitável, era o único capricho que tinha, e todos os anos perdia dinheiro nesta exploração, nunca conseguindo vender a preço rentável as quinze mil garrafas do seu Cotovia. Também perdia dinheiro com a exploração da caça, a sua grande paixão. 25

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Ali tomava-se conta da criação de perdizes com todo o cuidado e o guarda caça e seus quatro ajudantes asseguravam que os bebedouros estavam nos lugares certos, matavam os predadores e faziam o censo anual das perdizes e perdigotos. Fernandes Alarcão gabava-se de nunca ter criado uma perdiz em cativeiro e as centenas de perdizes que se matavam nas batidas tinham um voo difícil e requeriam perícia de tiro acima da média, já que as portas eram sempre colocadas de modo a não facilitar o tiro. António Fernandes Alarcão, quando jovem, tinha sido campeão de tiro aos pombos, e agora era um dos melhores atiradores de Portugal, batendo com frequência recordes no número de perdizes que matava. Mas o seu vício era caçar de salto na companhia dos seus cães perdigueiros portugueses, o que fazia muitas vezes na sua herdade na companhia de quatro ou cinco amigos escolhidos a dedo. “Só quem já caçou de salto pode compreender a adrenalina que se sente no momento em que os cães param uma perdiz”, era uma das suas frases favoritas. No dia do seu casamento, Carlota e Mário estavam felizes: o mundo era deles! Ao casamento assistiram oitocentas pessoas, entre as quais o Presidente da República, os Ministros das Finanças e Economia, dos Negócios Estrangeiros, da Justiça e várias figuras da nobreza Europeia. Estiveram presentes, também, representantes do mundo empresarial e da advocacia, entre muitos outros convidados, o que obviamente concorreu para este ter sido o casamento do ano. 26

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O dia estava de encomenda, soprando uma brisa muito leve, com a temperatura a não ultrapassar os 25ºC, o que muito ajudou ao sucesso da festa. A missa da celebração do casamento, oficiada pelo Arcebispo de Évora Dom Frei David de Sousa, realizou-se na capela da herdade, em cujo pátio tinham sido colocados bancos, cadeiras, toldos e altifalantes para todos a poderem acompanhar. Do pátio avistavam-se uma dúzia de cavalos lusitanos bem arreados e cada um com o seu tratador. Foram madrinhas da Noiva as suas três irmãs e os padrinhos do Noivo o seu grande amigo Eduardo Sá e outros dois amigos, colegas do Técnico, Nuno Ulrich e Pedro Ribeiro da Cunha, este último que, por coincidência, casaria dali a uma semana. Terminada por volta da uma da tarde, seguiram-se os demorados cumprimentos às famílias dos Noivos, perfiladas à entrada da casa. A Noiva estava deslumbrante, com um penteado feito pelo famoso Vítor Hugo e num vestido feito na Candidinha pela destacada estilista Laurinda Farmhouse; na cabeça levava uma antiga e linda tiara de diamantes que pertencia há séculos à casa dos Marqueses do Prado O Noivo, muito alto, estava impecável no seu fraque, cinza claro de tecido leve, e com uma gravata em tons de azul. Eram já duas da tarde quando os convidados se dirigiram para a enorme tenda, com o ar condicionado, erigida em torno de algumas árvores, transparente, permitindo avistar um enorme vale onde apascentava uma grande manada de vacas e alguns cavalos. 27

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Seguindo os mapas que indicavam os seus lugares, os convidados depressa se sentaram em mesas de dez pessoas. As mesas estavam primorosamente arranjadas com flores cor-de-rosa e azuis. Os centros de mesa eram em barro como era apropriado num almoço no Alentejo. A pista de dança estava estrategicamente situada no meio da tenda e em frente da mesa dos noivos que, ao comprido, sentava os Noivos e vinte e dois amigos. A orquestra, quando actuasse, teria o seu lugar perto da pista de dança. Mais uma vez, o génio dos decoradores, Álvaro Pimenta da Gama, a quem todos chamavam 29 (alcunha que lhe advinha por ser esse o número do impedido de seu pai, militar, e ele, Álvaro ser como que um impedido de seu pai), com a ajuda de Annie Leite de Castro, deu à tenda um ambiente fascinante. A cada convidado tinha sido entregue um pequeno livro onde se podia verificar, não só a disposição das mesas, como também os nomes de cada convidado em cada uma das mesas. Nesse mesmo pequeno livro também estava descrito o menu do almoço: Gaspacho, Filete de cherne, Naco de vitela, Praliné de chocolate Vinhos da Quinta de Cotovia As mesas deslumbrantes, com os belos centros de mesa feitos de flores, de apenas quinze centímetros de altura para que os dez convidados de cada uma se pudessem todos ver, estavam apetrechadas por uma linda baixela, mandada fazer propositadamente para este dia, com o brasão dos Marqueses do Prado, e os copos de cristal tinham um monograma em dourado com as letras M e C entrelaçadas. Com grande animação, o almoço começou a ser servido, depois de um curto serviço de aperitivos, por volta das 14h30m 28

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e, por altura dos cafés, António Fernandes Alarcão dirigiu-se à orquestra, que entretanto acompanhara o almoço tocando músicas do conhecimento de todos, para fazer o tradicional discurso aos Noivos. Começou por agradecer a presença dos convidados e, antes de se dirigir aos Noivos, fez questão de agradecer a Deus o que tinha e especialmente a Mulher que tinha posto no seu caminho. Sem ela, disse, a sua vida não teria sido o sucesso que era nem aquele casamento se realizaria. Logo em seguida dirigiu-se aos Noivos começando pela Filha. Inspirado numa famosa canção de Charles Aznavour, citou passagens de A ma fille, lembrando que a partir daquele momento em que a sua querida Filha saía de casa, esta ficaria um pouco mais triste. Dirigindo-se ao Noivo, disse-lhe que o natural seria odiá-lo a elem que nada tinha feito para cuidar da Carlota quando em nova estava doente, que nada tinha feito para a sua educação e que agora lhe tirava o nome para lhe dar o seu nome pelo qual passaria a ser conhecida. Mas não o odiava e nunca teria para com ele momentos de menos simpatia, isto porque tinha a certeza que a sua filha o amava. Terminou chamando Mafalda, sua Mulher, e os Pais de Mário para o seu lado, para juntos brindarem saúde aos Noivos, que logo se levantaram com lágrimas nos olhos para beijarem os Pais. Em seguida, e em nome de todos os restantes padrinhos e madrinhas dos Noivos, Tita e Eduardo fizeram um pequeno e engraçado discurso em verso onde retratavam a vida dos noivos e a sua paixão. Tudo se passava com grande naturalidade e apenas Carlota estava um pouco comprometida ao cruzar-se com Arnaldo, 29

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ao relembrar-se da loucura cometida na antevéspera do casamento. Carlota tinha ido passar, na companhia de toda a sua família, os últimos três dias como mulher solteira à herdade de que tanto gostava e tinha nesse dia saído a cavalo, montada no seu Favorito, na companhia de Arnaldo, montado no Dardo. Tinha andado irritada com Mário que lhe disse que iria passar uns dias com amigos no Porto para a sua despedida de solteiro. Embora com ciúmes, tinha disfarçado a sua irritação por esta escapadela de Mário como era uso e costume naquela época. Depois de um longo passeio em largo galope, junto ao rio, resolveram descansar e, tirando os sapatos, mergulharam os pés dentro da água fria do rio. Carlota estava linda, com os olhos a brilharam e a pele também a brilhar com a adrenalina resultante da galopada. O seu contagiante riso deslumbrava Arnaldo, sentado ali ao seu lado a menos de meio metro, e ele, cansado também, sorria apaixonado escondendo, no entanto, as suas emoções. Sem perceber o que estava a acontecer, Arnaldo chegou perto de Carlota e beijou-lhe a boca, primeiro lentamente e depois com sofreguidão. Carlota tentou afastar o corpo de Arnaldo encostado ao seu, mas a sua resistência durou apenas segundos, entregando-se ao momento. Despiram-se deitados no chão junto ao rio, atingindo ambos o máximo prazer em simultâneo. Mantiveram-se entrelaçados breves instantes até que num repente Carlota se levantou sem uma palavra, vestiu-se e, sem um olhar, montou o Favorito e partiu a galope.

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Ainda tonto e confuso com o que se tinha passado, Arnaldo ficou deitado mais uns minutos com a cabeça a latejar e com lágrimas nos olhos. Normalmente era controlado, mas a sua velha paixão por Carlota tornou impossível resistir àquele momento. Com remorsos, levantou-se devagar e, montado a passo, voltou para a sede da herdade, levando o Dardo para a cocheira onde já estava o Favorito nas mãos do cavalariço. Sem saber exactamente o que fazer, dirigiu-se à casa principal, onde já eram visíveis os preparativos para o casamento que se realizaria dali a dois dias, e procurou Carlota, que estava a chorar numa pequena sala. Aproximando-se devagar, ajoelhou-se ao pé dela e, fitando-a no olhar, ficou à espera de uma reacção. Carlota levantou os olhos dizendo-lhe que o que se tinha passado tinha sido uma loucura e que tinha medo que isso acabasse com a amizade que sempre tinham tido. Arnaldo segurou-lhe as mãos e jurou-lhe que aquele acto irreflectido não voltaria a repetir-se, mas implorava-lhe que não deixasse de ser sua amiga. Limpando as lágrimas, Carlota fez Arnaldo jurar que este segredo não seria contado a ninguém o que, naturalmente, recebeu a sua concordância. Levantando-se de um salto, correu ao encontro das irmãs, que lanchavam no pátio em frente à casa, saindo Arnaldo discretamente pelas traseiras. Pondo de parte o assunto logo, Carlota entrou na brincadeira e na fofoca com as irmãs que adorava e com as quais se sentia sempre protegida. Acabado o discurso do Pai, logo se ouviram os primeiros acordes da famosa música “I can’t stop loving you”, interpretada por Ray Charles, que substituía a tradicional valsa. 31

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O Pai chamou Carlota e, comovidos, deram uns primeiros passos de dança muito aplaudidos. Logo em seguida, o Noivo fez par com a sua Mãe tendo o Pai do Noivo dançado com a Mãe da Noiva. Tudo sempre muito correcto, como era o uso daquela época. Passados uns minutos, os casais trocaram, tendo pela primeira vez Mário dançado com Carlota como Marido e Mulher. A partir daquele momento, a pista de dança encheu-se de convidados. A festa decorreu animada, com todos deslumbrados pela sua grandiosidade e pela beleza dos Noivos sendo por volta das 20h30m servida uma “Bisque de lagosta” e pequenas e requintadas sandwiches. Perto das 23h, Mário segredou a Carlota que estava na hora de se irem embora. Nessa primeira noite iriam dormir no Hotel Ritz, em Lisboa, e a viagem duraria cerca de duas horas. Toda a programação da viagem de lua-de-mel tinha sido feita em conjunto, começando por uns dias no Hotel Quisisana, em Capri, onde estariam três noites, seguindo depois para Roma, onde passariam duas noites no Hotel Hassler, mesmo por cima da Piazza di Spagna,e dali partiriam para outras três noites no Danieli, o famoso Hotel em Veneza. A viagem terminaria com quatro dias no Hotel Crillon, em Paris, na Place de la Concorde. Apaixonados, despediram-se dos convidados com um pequeno discurso no meio da pista, ele já de blazer azul escuro e calças cinzentas e ela com um lindo tailleur rosa claro. Com um apertado abraço e beijo aos Pais, partiram no Mercedes 190 S que tinha sido um dos presentes dos pais da Noiva em direcção à sua nova vida. 32

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A viagem de lua-de-mel foi um sucesso, com os Noivos a visitarem museus, a irem às compras, a descansaram nas piscinas dos hotéis e a jantarem em bons restaurantes, destacando-se em Paris, na época a capital gastronómica do mundo, o famoso e lindo Le Grand Véfour, na Rue de Beaujolais, cujo dono Raymond Olivier conhecia muito bem o Pai de Carlota, seu cliente habitual, com os seus magníficos frescos no tecto e talha dourada. Lá escolheram o muito recomendado rodovalho grelhado, precedido de fundos de alcachofra com abacaxi e salvia e terminando num soufflé de chocolate. Já no muito cosmopolita restaurante Relais, no Hotel Plaza Athénée, na Avenue Montaigne, deliciaram-se com badejo com endívias e trufas, acabando com um gâteau de chocolate e coco.

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CAPÍTULO 2

De regresso a Lisboa, numa sexta-feira, foram logo para o magnífico andar na Rua de São Caetano, na Lapa, que tinha sido oferta dos Pais do Noivo. No sábado almoçaram em casa, já que tinham a dispensa e o frigorífico recheadas de refeições, lá mandadas colocar pela Mãe da Noiva. Depois do almoço foram a casa dos pais da Carlota, que os esperavam juntamente comas suas irmãs. Lá jantaram depois de passarem a tarde a descrever a viagem que tinham feito. No dia seguinte, foi a vez de visitarem e almoçarem na casa dos Pais do Mário, onde o Pai conversou com Mário sobre os negócios da família. Embora não sendo Administrador Executivo da SCF, era um administrador interessado e atento, pondo Mário ao corrente dos mais recentes desenvolvimentos na empresa onde as vendas e resultados continuavam a crescer, perspectivando-se um ano recorde com boas probabilidades de aumentarem a sua quota de mercado, ultrapassando pela primeira vez os 34%, o que faria com que se aproximassem da empresa líder que manteria a sua quota de 39% no mercado. Os restantes 27% estavam repartidos por duas outras médias empresas regionais, uma com cerca de 12% e outra

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com 9%, sendo o restante ainda mais repartido por várias pequenas empresas. A SCF dominava – com o capital social divido entre os 40% de Mário Ferreira e os restantes 60% divididos em partes iguais entre as famílias Cardoso da Silva e Barbosa – o mercado no Norte do país, tinha forte presença em Lisboa, mas fraca no Interior e Sul. Já a líder tinha grande presença na zona de Lisboa e menos presença no Norte e na cidade do Porto. O Conselho de Administração da SCF, secretariado pela eficiente Teresa Caldeira, que também secretariava o Presidente do Conselho, era constituído por sete administradores, sendo cinco não executivos, o pai de Mário e dois representantes de cada uma das outras duas famílias. Mário Alexandre era Administrador Delegado e tinha a administração executiva das operações da empresa. A sua secretária era a experiente Maria do Céu que, embora só tivesse vinte e oito anos, já trabalhava na SCF há dez anos e tornara-se muito amiga de Mário. O Presidente do Conselho de Administração era um antigo secretário de Estado da Economia e Professor Jubilado do Técnico, o Eng.º Álvaro Henriques da Silva, de 69 anos, ainda muito activo, que geria os Pelouros Administrativo e Financeiro e o Pessoal, como então se referia aos Recursos Humanos. Este engenheiro, além de irradiar enorme simpatia pessoal, tinha um grande trânsito no Governo e nas organizações empresariais, às quais dedicava bastante tempo. O Conselho reunia todos os meses na terceira quinta-feira de cada mês, e lá discutiam assuntos estratégicos da empresa, dando os dois Administradores Executivos conta das actividades correntes da empresa. 36

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Enquanto Mário e o Pai discutiam os negócios Carlota, a Sogra a quem chamava Tia Mafalda, e as Cunhadas Lurdes e Teresa de Jesus conversaram sobre a decoração do andar novo e sobre a recente viagem. Felizes, como todos os recém-casados, Carlota e Mário começavam agora uma nova vida. Logo no dia seguinte, Mário foi para a SCF, com escritórios na Avenida da Liberdade, onde foi recebido com amizade por todos os que foi encontrando, em especial pela sua eficiente secretária Maria do Céu. Esta era, apesar de ser só um pouco mais velha que Mário, uma experiente profissional e conhecia bem os “cantos à casa”, pelo que era sempre uma boa ajuda. A primeira coisa que fez foi cumprimentar o Eng.º Henriques da Silva, que o recebeu efusivamente dizendo-lhe que tinha sentido a sua falta. Aproveitou para o inteirar das últimas contas da empresa que mostravam uma boa saúde económica e financeira, com o EBITDA a crescer o suficiente não só para cobrir o serviço da dívida como para cobrir as necessidades dos sempre necessários pequenos investimentos. Mário aproveitou para lhe dizer que já na véspera tinha recebido uma “aula” do seu Pai. Regozijaram-se ambos com a evolução dos negócios, tendo logo ali Mário sugerido que fosse estudada uma nova embalagem para o transporte de fruta que tinha visto num supermercado que visitara em Roma, onde a fruta era distribuída em grades de plástico, ao contrário da SCF em que era transportada em grades de madeira. Mário, sempre à procura de inovações, julgava que, apesar de ser um grande investimento inicial, a prazo seria altamente compensador, já que as grades de madeira requeriam constante manutenção que exigia muita mão-de-obra. 37

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O Eng.º Henriques da Silva também se entusiasmou, pedindo a Mário que iniciasse em conjunto com o Director de Novos Projectos os estudos necessários para análise da viabilidade desta modificação. No dia seguinte, na enorme e moderna fábrica na Azambuja, Mário Alexandre reuniu com o Director da Fábrica, o Eng.º Luís Martins, e com o Director de Novos Projectos, o Eng.º Fernando Teixeira, e discutiram longamente as ideias de Mário. Todos concluíram que o assunto “tinha pernas para andar” e resolveram encarregar imediatamente a Dr.ª Amélia Santos, adjunta do Eng.º Fernando Teixeira, para que fizesse os primeiros cálculos tendo, obviamente, de consultar de antemão diversos fornecedores de grades de plástico. Durante a reunião foi também aflorado pelo Eng.º Martins, que tinha a responsabilidade de entregar os sumos fabricados nos três grandes entrepostos localizados em Lisboa, Coimbra e no Porto, que seria conveniente analisar a hipótese de se fazer este transporte em grandes atrelados próprios, acabando com a contratação de transportadoras. Mário, sempre aberto a novas alternativas para rentabilizar as operações, esteve imediatamente de acordo a que se fizessem uns estudos preliminares sobre as vantagens económicas desta substituição, ficando o Eng.º Martins encarregue destes trabalhos preliminares.

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CAPÍTULO 3

Nessa noite, Carlota e Mário saíram para jantar em Cascais, no Frango Real, onde encontraram o amigo João Santos Silva com uma rapariga muito bonita, que apresentou como Luisinha, amiga de umas primas do Porto. Claro que jantaram juntos e, como sempre, a conversa decorreu animada, com João a perguntar quando iriam caçar, já que se aproximava o mês de Outubro e abria a época de caça às perdizes. Logo ali combinaram que Mário pediria ao Sogro para se juntar a eles, que arranjariam mais dois amigos – além do Arnaldo, que conhecia o terreno melhor que ninguém por ali ter nascido – para com os cães fazerem uma boa linha de salto na coutada da Cotovia. Em seguida foram dançar no Van Gogo onde aos fins-de-semana se juntavam todos os seus amigos, sempre acompanhados pelo Manecas Mocelek, o relações-públicas da discoteca da moda. Lá encontraram dezenas de amigos saindo por volta das três da manhã. Entretanto Carlota desdobrava-se em melhorar a decoração do andar, tendo pedido a Maria José Salavisa, a decoradora em voga naquele meio social, ajuda na escolha de tecidos para os sofás e cortinas. 39

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