O Clube de Santo Amaro

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Catarina Soares da Cunha No mesmo registo "quase autobiográfico" do seu romance de estreia, "Luanda - Meu Céu, Meu Inferno", a Autora dá agora à estampa um surpreendente - e nada óbvio - conto infantil, notavelmente bem enquadrado nas suas ligações à família e à terra onde escolheu viver. O conto, pela candura do seu momento chave, podia chamar-se "A importância da bola de Berlim" mas o subtítulo "A origem" parece ser já prenúncio de mais aventuras do Clube de Santo Amaro... C

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O CLUBE DE SANTO AMARO A Origem


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Clube de Santo Amaro – A Origem Soares da Cunha edição gráfica: Edições Berbequim das Letras® (Chancela Sítio do Livro) autora: Catarina

João Bernardo Soares Ângela Espinha paginação: Paulo S. Resende desenhos de capa:

1.ª edição, Lisboa junho, 2019 isbn:

978­‑989-8711-34-2 454148/19

depósito legal:

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© Catarina Soares da Cunha

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capa:

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título: O

Todos os direitos de propriedade reservados, em conformidade com a legislação vigente. A reprodução, a digitalização ou a divulgação, por qualquer meio, não autorizadas, de partes do conteúdo desta obra ou do seu todo constituem delito penal e estão sujeitas às sanções previstas na Lei.

publicação e comercialização

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Catarina Soares da Cunha

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O Clube de Santo Amaro

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A Origem


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Este livro pertence a

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Lê este conto com atenção e diverte-te.

No fim, pensa no que aconteceu e, principalmente,

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tenta descobrir o que não devia ter acontecido!


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Naquela segunda-feira, o Lucas acordou mais cedo do que a irmã.

Costumava ser sempre ao contrário, até chamavam à Leonor o despertador lá de casa. Era sempre a mana mais velha a primeira a acordar, por cias e perguntas:

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volta das sete horas, e ia logo acordar os pais com um monte de exigên–– Hoje podemos convidar os avós para jantar? Posso ir à festa da Sofia no sábado? A Joana pode vir para cá fazer os trabalhos depois

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da escola? Pode? Vá lá... Vá lá... Digam que sim!

Mas aquela segunda-feira não era uma segunda-feira como as outras... Era o primeiro dia das férias de verão do colégio! O Lucas tinha quatro anos e tinha uma paixão descontrolada por bolas de Berlim (sem quéme!). Estava tão entusiasmado por ir à praia nesse

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dia, e pela ideia de comer uma bola de Berlim, que quase nem dormiu e acordou bem cedo, cheio de energia! Começou logo uma grande baru-

lheira, a abrir as gavetas e as portas do roupeiro, à procura do seu fato

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de banho do Homem-Aranha. Claro que acordou a Leonor, que ficou para

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lá de aborrecida com a algazarra e ainda mais por ser a segunda a acordar. A Leonor tinha sete anos e não gostava de ser a segunda, em nada. –– Lu-cas... Não mexas nas minhas roupas! Estás parvo?! Estás a desar-

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rumar tudo!

–– Peciso do meu chapéu! – respondeu o pequenito, com os caracóis quase a taparem-lhe os olhos, já todo despido e debruçado para dentro de uma gaveta, continuando as suas buscas. – Hoje vamos à

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paia mana!

Levantou a cabeça, com as mãos bem apoiadas na gaveta, olhou para a irmã e, vendo-a enfiada na sua cama às flores, decidiu ir a correr até ela. Lançou-se sobre ela num voo, de braços abertos. A Leonor, que ainda estava ensonada e com pouca vontade de carinhos ou brincadeiras,

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escondeu-se debaixo do lençol, esperneando.

–– Deixa-me em paz! Larga-me Lucas! – gritou ela. – Estás a magoar-me... Sai da-qui!! – e, com um empurrão mal calculado, atirou o

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irmão para cima das roupas espalhadas no chão, num trambolhão.

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–– Depois de um micromomento de silêncio em que olharam um para o outro, tentando perceber se o Lucas se tinha magoado ou não, o mais novo decidiu gritar, bem do fundo dos seus pulmões:

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–– – MÃEEE.... PAAAI... A mana bateu-me!!

O Lucas chorava assim, sentado, todo nu em cima de uma pilha de roupas, e com o tutu do ballet da irmã caído mesmo em cima da sua cabeça.

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E assim acordaram os pais naquele primeiro dia das férias do colégio. –– Ai… – disse a mãe, sentando-se e olhando para o relógio. – Lá vamos nós... Vamos lá começar o verão...

–– Que horas são isto, princesa? – perguntou o pai, de olhos ainda fechados.

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–– Seis e quarenta e cinco, amor, são seis e quarenta e cinco da manhã... –– A sério? Mas... Onde encontram estas crianças tanta energia?

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verão? Não há nada melhor...

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–– É verão, amor! Lembras-te de ser criança e começarem as férias de Os manos frequentavam o Colégio de Santo Amaro. Tinham regressado de Angola apenas no final do verão anterior, onde tinham vivido sempre,

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em Luanda, com os pais. O regresso a Portugal tinha sido mais uma aventura totalmente nova para a família – casa nova, escola nova, tudo novo. Os pais tinham-se preocupado como iria ser a adaptação dos manos, mas o ano letivo tinha sido espetacular, melhor do que podiam ter imaginado.

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Tanto o Lucas, no pré-escolar, como a Leonor, no primeiro ano, tinham-se adaptado muito bem e feito imensas amizades. A única coisa de que se continuavam a queixar era da comida – tinham saudades da muamba, do feijão preto com arroz e da banana frita.

Tinham-se mudado para uma pequena vivenda em Santo Amaro de Oeiras, uma casinha amarela com grades brancas nas janelas, com um limoeiro

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fininho na frente de um pequeno relvado e com um pátio de cimento onde jogavam basketball e onde almoçavam ao fim-de-semana, nos dias mais

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quentes. Os manos tinham ajudado a escolher as suas mobílias, tinham

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decorado o seu quarto à sua maneira e até tinham comprado bicicletas novas – nunca tiveram dúvidas em relação à mudança para Portugal, e já se sentiam completamente em casa. Mas a ideia do verão era a mais mente ao colégio.

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excitante de todas e, nessa manhã, estavam desejosos por chegar rapida-

Na semana anterior o professor António tinha explicado a todos os alunos, no anfiteatro principal, que a primeira semana de atividades iria

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ser passada na praia: manhãs de brincadeira na areia (bolas de Berlim só na segunda-feira), almoço no colégio e jogos no recreio até voltarem para casa, às quatro horas. “Isto é que é vida!”, tinha gritado o Lucas, bem alto, fazendo toda a gente rir.

Com os pequenos-almoços tomados, o protetor solar bem espalhado (das orelhas até aos dedos dos pés) e as mochilas às costas, os manos sarden-

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tos sentaram-se no carro e puseram os cintos, ainda antes da mãe ter de os lembrar.

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Desenha a casa do Lucas e da Leonor

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–– Bom, já vi que querem sair rapidamente daqui – brincou a mãe –

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Vamos a isso!

Às 8h30 já estavam à entrada do colégio, a desaparecerem no que parecia uma dança agitada de chapéus amarelos.

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–– Então? E o meu beijinho? – gritou a mãe.

O Lucas ainda correu de volta para dar um abraço à mãe mas a Leonor já nem ouviu nada, de tão envolvida que já ia em conversas, de braço dado com a Joana e com a Inês, duas das suas melhores amigas.

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–– Mas tu não sabes nadar ou sabes, afinal? – perguntava a Inês, a cabeça inclinada questionando a Leonor, com a sua longa trança castanha pendurada, a descer-lhe do chapéu.

–– Sei pois, aprendi na minha escola lá em Angola, eu lá tinha natação! É muito importante saber nadar, estás doida? – dizia a Leonor, toda

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importante.

–– Sim, por causa dos tubarões! Se aparecer algum tubarão hoje, tens

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fitando as amigas.

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de saber nadar! – dizia a Joana, com os olhos azuis bem abertos,

–– Tubarões?? O quê?? Ai que eu vou morrer já aqui de medo! – gritava a Inês, assustada, agarrando as amigas ainda com mais força.

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–– Não há tubarões em Oeiras, Inês. Não vês que a Joana está só a gozar contigo... – assegurava a Leonor. – Além disso, os tubarões não fazem mal às pessoas! Só se forem atacados.

Conversavam as três enquanto caminhavam, vagarosamente, para dentro

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do autocarro. O Pedro, um menino com calções de banho do filme Star Wars, compridos até ao joelho e óculos presos por uma fita azul, ia atrás delas na fila. Puxou a trança da Inês, achou que era engraçado, e levou logo um soco da Joana no braço, protetora da amiga. –– Não sejas bruto! Pede desculpa. – disse a Leonor.

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–– Vocês são umas chatas, estava só a brincar com ela – disse ainda o Pedro, respondão.

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culpa ou vou dizer…

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–– Agressão não é brincadeira – explicou a Leonor. – Vá, pede des–– -Desculpa… – disse o rapaz, corando – não te queria magoar, a sério…!

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–– Eu sei – disse a Inês. – Eu acredito.

–– Vá, vamos lá embora, bamos a la playa! – ordenou a Joana, empurrando a Inês para subir os degraus da carrinha.

–– Os mais velhos, do segundo ciclo, já tinham saído para a praia e

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agora eram as carrinhas do primeiro ciclo que estavam quase a sair. A carrinha do pré-escolar é que só saía às 9 horas, o Lucas ainda

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tinha mais algum tempo para brincar no recreio!

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–– Manel, acorda, filho. Bom dia... tens de te despachar, porque já estamos atrasados!

O pai do Manel tinha-se distraído com as horas e já eram 8h30.

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–– Hmmm.. Outra vez, pai? – perguntou o Manel, sentando-se na cama. O pai do Manel era arquiteto e gostava de desenhar de madrugada, às vezes ficava a noite toda a trabalhar no seu computador. Desenhava todos os pormenores das casas, dos jardins, e às vezes esquecia-se do mundo

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de verdade e das coisas que era preciso fazer.

–– Vá, filho, vá lá, veste o fato de banho e a t-shirt da escola. E lava os dentes! Eu preparo um pequeno-almoço e comes no carro, está bem?

–– A que horas sai a carrinha, pai? – perguntou o Manel já olhando o

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espelho da casa de banho, enquanto tentava dominar, com a sua mão, o cabelo espetado no alto da cabeça.

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