Barcos de Papel

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Manuel Araújo da Cunha

Poesia Fluvial

Barcos De Papel Manuel Araújo da Cunha

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Barcos De Papel

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Manuel Araújo da Cunha nasceu em Rio Mau, pequena aldeia de pescadores, barqueiros, mineiros e lavradores, situada na margem direita do rio Douro, no extremo sul do concelho de Penafiel. É autor das seguintes obras publicadas em livro: Contos do Douro (2006) Douro Inteiro (2007) Douro Lindo (2008) A Ninfa do Douro (2009) Palavras – Conversas com um rio (2011) Fado Falado – Crónicas do Facebook (2012)


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Barcos de Papel


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Manuel AraĂşjo da Cunha

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Barcos de Papel


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título:

Barcos de Papel Manuel Araújo da Cunha edição gráfica : Edições Vírgula® (Chancela Sítio do Livro) autor:

Paulo S. Resende Ângela Espinha

paginação:

vi

capa:

1.ª edição, Lisboa março, 2019 isbn:

978­‑989-8821-87-4 451252/19

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depósito legal:

© Manuel Araújo da Cunha

Todos os direitos de propriedade reservados, em conformidade com a legislação vigente. A reprodução, a digitalização ou a divulgação, por qualquer meio, não autorizadas, de partes do conteúdo desta obra ou do seu todo constituem delito penal e estão sujeitas às sanções previstas na Lei. publicação e comercialização

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A meus netos, Matilde, Beatriz, Maria, Afonso e Carolina


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Barcos de papel 9

À beira do rio

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Há ruas aconchegadas pelos dedos das pedras casas antigas debruçadas sobre a eternidade Vasos com plantas a ornamentar as sombras das paredes bordadas nos olhos da tarde

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À beira do rio nascem flores e passam meninos velhos descalços com lágrimas nas mãos


10 Manuel Araújo da Cunha

Mar de claridade

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Partiremos um dia de mãos dadas com as nuvens ondas do céu navios de ilusões

Navegaremos na seara azul do mar que guarda o amor que te dei nas funduras da alma

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Chamei-te de Douro e de flor e eras só barco

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Deitado sobre os remos adormeci em ti a vida inteira


Barcos de papel 11

Manhã

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Simétrica é a luz que devora os barcos no silêncio branco das manhãs de Outono

Ninguém por perto do rio apenas uma garça conversa com as ondas e os cheiros do lodo envernizam a água

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Se me dissesses agora quantos são os passos do adeus que vemos a bailar no horizonte todo feito de lágrimas acreditava em ti Abraça-me desamarra o barco partamos rio acima aqui já não há flores só esta luz que cega


12 Manuel Araújo da Cunha

Pureza

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Tão puros os olhos que avistam os barcos a subir encostas Tão puras as mãos que tecem as velas das altas montanhas Olhos, barcos, velas, encostas e montanhas

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Tudo é rio

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Tudo é água a morrer à sede


Barcos de papel 13

Infinito amor

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Cega-me com a tua luz sufoca-me com beijos Envolve-me num abraço como se amarram os barcos Rega-me com o teu olhar porque amanheceu dentro de mim


14 Manuel Araújo da Cunha

Ama-me

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Ama-me ainda depois da tempestade que te afastou de mim, deste vento gelado que te agita os cabelos e desta chuva fria que te humedece os olhos

Ama-me ainda depois da nossa tão bela e tão breve ilusão, da luz intensa que irradiava dos teus olhos feitiço que se fundia nos meus ao amanhecer

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Ama-me ainda depois daqueles beijos doces que trocámos, e das nossas mãos enlaçadas para sempre, e deste chão de espuma onde já não moras

Pr e

Ama-me ainda antes que venha a terrível noite do adeus e eu me esqueça do teu rosto para sempre

Ama-me para além de nós, para além do tempo de todos os tempos


Barcos de papel 15

Adágio

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Nas tuas mãos um rio debruçado sobre o tempo a falar de ti e de nós

Nos teus olhos a claridade a luz que a água anseia para secar as lágrimas do vento

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Como te poderei esquecer se tu és a casa que o meu amor escolheu para viver

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É dentro de mim que tu habitas serena e breve cheia de luz e de esperança como os beijos


16 Manuel Araújo da Cunha

Epílogo

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Não me cansei de ti, andorinha da acrobacia suicida dos teus voos rasantes aos meus lábios indiferente aos ventos ao fim do tempo do amor

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A Primavera morrerá dentro dos sonhos que sonhamos e nós os dois pereceremos com ela abraçados a ela


Barcos de papel 17

Os dizeres dos dias

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Perguntas-me quem sou não te respondo Que de mim te poderei contar Sou o vento que agita os teus cabelos sou a luz que se desprende do luar ou tão-somente um sonho ou neve silenciosa ou até estrela luminosa

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Perguntas-me quem sou Sou aquele que te adora e morrerá por ti


18 Manuel Araújo da Cunha

Colinas ondulantes Os teus peitos são altas dunas na orla da praia dos desejos

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Olho para ti e vejo o mar

Ondas Espuma branca a escorrer das rochas refúgio de búzios univalves

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Havemos de navegar juntos um dia Explorar grutas Humedecer as falésias do teu corpo com as águas puras do amor Depois saciados de azul e de beijos naufragaremos como barcos de papel


Barcos de papel 19

Despertar

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Um floco de neve vestiu-se para mim de branco Inundou-me os sentidos com volĂşpia

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Perturbou-me a carne com desejos e amanheceu


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