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FICHA TÉCNICA Edições Vírgula® (Chancela Sítio do Livro) TÍTULO: Amor de Mármore AUTORA: Marta David CAPA:
Laura Malaquias Patrícia Espinha PAGINAÇÃO: Alda Teixeira
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1.ª Edição Lisboa, setembro 2019
978-989-8821-53-9 DEPÓSITO LEGAL: 429396/17
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ISBN:
© MARTA DAVID
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PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO:
www.sitiodolivro.pt
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sobre a incidência do sol no linho da cómoda no enlevo de uma nuvem regressas de chinelo de pinho marítimo no rosado celeste de uma estrada que nos guia no infinito branco da reta onde escrevo a idade que não finge
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sorvo no interlúdio do regresso os sonhos em espelho na penumbra o nada insonoro da madrugada o veludo invisível que trazes sob os passos na calçada
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olhas com o céu sem te esqueceres do pudor evoluído do gato que não se abeira para não te importunar
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por cima do meu cabelo que afagas o vento sai-te dos lábios eu digo sim às mãos que me entregam a fotografia que nos esgota no tempo o flash que nega a duração do passado e nos doa um eterno pedalar sem joia
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repleto de amor estelar tanto que já deste pelo horizonte anil
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de fogo os ramos do teu rosto viajam desde o fundo das crateras impulsionados pelo magma fecundado que nos une em fogo e nas raízes da terra murmura a palavra proibida no sinal de trânsito que para o caminho onde carros sem estrada se enchem do sussurro das aves e os minutos sem tempo do berço olvidado acendem os envelopes transitórios firmam a tinta a ruga ancestral o selo aéreo de éter
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o tempo chove arenas serenas cruzam as espirais sem tempo da madeira remam nos reflexos da luz em busca do lugar onde o sol arredonda e os meus lĂĄbios tocam a levedura dos teus
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entre chuvas magas caminhamos nas avenidas subimos a lentidĂŁo dos elĂŠtricos que se avistam deixando na estrada a melodia de um sim entre as ameias do castelo
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nunca te falaram do mistÊrio luzidio das crateras como sol vindo do teu olhar de lince que se expande pelo areal da marginal em trânsito
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quase podia dizer que te quero mais do que o infinito brisa em cĂrculo desenhada no cume do vento salina vestida do alfabeto dos anjos que vergam os homens aos sentimentos humanos sem tempo
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o sol apeia-se nas mobílias em frente ao quadro onde se esconde o pintor que nos desenha sentimos por entre a luz os contornos a sensação a poeira de que nos revestimos transfigurados por um pincel de cera angelical
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imbuídos no trago de uvas e amoras silvestres perpetuamos a melodia do néctar aberto para o patamar da boca da porta de um anjo que nos chama para um noivado de mirra para o retrato branco o lençol com brados de sal
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vens no finito corporal das rochas no rasgo imortal no cume de uma onda que se espraia em desvario no areal de cobre do meu rosto
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vens na página celestial na notícia do céu – e em anel a lua solidifica a verticalidade luzidia das salinas o beijo do trânsito fecundo do vento
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o fogo acende o teu corpo quando te apeias no meu prédio e sobes o vento escorregadio das traseiras que te acaricia em jatos e raios de céu te modela em estátua de cera para te derreter na transfiguração dos dias nos instantes que se entrecortam na reta infinita que penetra o ponto centrífugo dos círculos do universo
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e o teu corpo repete-se em perfumes e fragâncias fugidias em frutos silvestres sua forma escrita num livro de rendas de horas mutantes no sangue salubre de um copo de porcelana no olhar imortal de um lince estelar
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as tuas palavras sabem a compota são rendas de linho grafando a doçura com que pegas em mim como mastro e me deitas no pódio onde me sinto acordar
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o tom das tuas palavras é o meu curandeiro vestido de veludo que cerze a proa dos meus cabelos que forra a mosto os meus lábios que adorna com mel e estrume o altar
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o toque das tuas mãos na praça da velocidade o infinito volante rodando o trânsito luzidio dos carros esconde a porcelana lubrica da alma
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de forma invisível as tuas mãos afundam-se na estepe do corpo como sob um abajur o silêncio a luz dos estilhaços
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derretemos no alto dos pinheiros da orla beijando os fios equilibristas dos pássaros o enlevo dançante do sol rodopiando na roda imparável do éter que se espraia nos leitos estelares
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a tua doçura são abetos lençóis de plumas povoados da escrita tardia da noite do incenso inaugurando a ardósia das minhas mãos com que nutres a rampa fendente da língua
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transfiguras-me em búzio e história em melodias de alaúde de mosto e mirra na luz intensa do relógio cantante da torre que se apeia no parapeito dando-me a ler o pergaminho da ata redigida pelos círios dos céus pelo som dourado dos elétricos emoldurando os prédios pelas sombras dos archotes das sentinelas do círculo em vigília
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não chores não há razão para o bolo de aniversário ser talhado com lágrimas o amor devolve em luz todas as penumbras onde pousam os quadros fixos as camas por fazer as velas cantando sozinhas a leitura do lume a circularidade linear do tempo em que os corpos se repetem as imagens tecendo a rotina das prateleiras dos sonhos o hábito do sono ao som de uma guitarra sem nome
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as crateras de rendas da sala de jantar diluirão qualquer mágoa ainda por surdir e que a próxima lua cheia trará nas mãos e transfigurará munida da espada do mundo do sal alquímico dos anjos tecido em salinas de veludo virgem por vestir
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abeiro-me do brilho que o teu corpo imana o meu anjo brinca com o teu enquanto partilhamos as peripĂŠcias do recreio da escola
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sinto-te na luva de cetim no interior do tijolo das paredes pardas na grafia da luz que te afaga e conduz sem volante Ă maior verdade do corpo quando me sentes com os raios da alma
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és o som inaudível do canto olvidado do pássaro alado e transfigurado em cordas de ouro de uma guitarra
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sussurras-me num afago de folhas verdes quando sob os anéis da lua adormeço o transeunte o vendedor o vidente que passa
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a tua mão distendendo-se pelo espelho estelar do meu corpo que me aconchega no meu sono de nata
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sinto o vapor circulando em torno do teu corpo na calçada ébria na praça incerta quando o teu sorriso de prata se faz olhar na minha boca
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os lençóis emaranhados da madrugada ditam os gestos do candelabro olvidado a luz acesa alumiando a vida inerte das fotografias das rosas secas da janela a destilar mel luar da primavera da noite que não morre no albergue de argamassa do sol pendular
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os olhos engomados das searas vestem-se do odor do vaso térreo da vitrine do sonho alumiando as horas vagas as céleres conquistas das espadas de ouro da aura do veludo dos véus dos profetas
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cerzem o instante imaterial cercado do gel que desliza na pele e toca a inevitabilidade o lume do sangue o brado da lua em nuvens de sal os amantes em espelho dançando o mel do cansaço cada corpo face à multidão a individuação do pequeno instado a honrar a horizontalidade grandiosa dos canteiros de rosas a embriaguez feérica de um coletivo clarão
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nutro-me da tua voz espada de erva enxertada no canteiro
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as nuvens simulam uma dança que lhes entoa o vento dissipam os ruídos dos carros que partem da primavera que assalta as paredes dos pássaros a verga vestida de manhã coberta de lençóis e olhares que firmas nos meus braços de anémona
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os olhos aquáticos do sol de íris assente no sentido da terra vislumbram no horizonte o luar conduzindo ao volante de luz magma que se solta incidindo na pele na alcofa magnética de linho que abriga os estilhaços do meteoro inscrito como silvo de astro cantante no céu
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é quando a lua me chama e me entrega um presente do universo
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a voz errática a flanela o ardor do sol ressoam no relógio de areia do espaço enxertam as estrelas peregrinas nos sinos côncavos da terra no berço da aurora nas linhas em onda dos elétricos que despertam para o arrulhar do dia para a azáfama lenta das portas a abrir alumiando o dourado das trevas
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o sorriso em cálice de sol contém a alma leva-nos para onde as grutas escusas se escondem como cal sob as letras dos muros gelo liquidificando as sombras da montanha verniz nu tapando o sangue dos corpos
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o regresso do mar em cada onda que se dissipa o silvo térreo na memória das estrelas movem-se ondulando-se na espuma sentam-se nos microfones de veludo de areia e erigem na hora do êxtase solar o abraço do meio-dia à nuvem estelar
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as amoras de uma guitarra silvestre soam na língua dos amantes desatam o taxímetro as horas dos lençóis as flores grafadas na grafite da cama desmanchada a nave dos abraços o parapeito das línguas de mármore o deslizar da prata no pódio das rendas mandatárias da simetria terna dos fetos nas delícias do amor
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quando sentes em mim a pele de areia entumecida há um sino estelar que ressoa dá sinal de mim na reta ondulada dos teus dias
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o trajeto da pétala em raiz de estátua no lago o caule fora da água a corola revestida de um sol de mirra sorvem o vento escrito no opúsculo do que amamos exortam o sonho enxertado nas palavras o jasmim que ondeia na tela feérica da plateia do jardim
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da janela do comboio em ebulição o vento de sombras transmutado em sólidas luzes de ameias os ninhos dos postes vigiando os carros sentem o coração de sangue dos humanos em erupção inspiram o odor de um abraço de éter as lágrimas vergadas ao grafismo de uma ilha desenhada a asfalto aos sonhos de sal das amoras dos muros sem nome às pedras do oceano onde a solidão não mora – imbuídas no vodka cantante do sono assolam na assinatura de anjo do teu nome escrito numa tela
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as lágrimas do céu onde me espelho soltam-se no deleite dos jardins anil incineram as minhas num abraço desnudado num instante de búzio dobrando um canto celestial no algodão das rosas que a mão afaga exibindo raízes de palavras na vitrine de um anjo solar
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um anjo assomou e disse são lágrimas do céu discorrendo em palavras para o canto solar do lábio que desenhará rios de brancura madrugadas e leitos e num hálito de cratera sorverá o que resta de um tijolo do gume cortante do pouso da ave da cidade de feno e espigas onde mora o dourado a semelhança de um tapete sem dono à procura da singularidade do portal dos amantes
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as lágrimas de um tinteiro de mel dão entrada na porta em esfinge da tua pele que as recebe num canto de erva
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amanhã o sol ecoará a voz do alento e as minhas lágrimas serão chamadas ao mar para serem tecidas da felicidade das algas dos videntes
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o espelho de rostos refletido nas montanhas traga a memória do magma o odor do pinho maduro o silêncio da aurora o bulício da tarde a entrega anónima dos amantes a simetria da refrega
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inerte ainda não dobrou os estilhaços o tijolo por separar
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correm os rios enraízam-se as fontes e a amor nasce do sentido de um novo tijolo erguido às sereias peregrinas que sobrevoam os lugares de éter na terra
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sonhos de nata da madrugada no leito de vapor e éter e pássaros oriundos de outras eras enlaçam-se na melodia trina do rio que dissolve as salinas de lágrimas erguem-se sobre o trono da aura do pinheiro desencadeiam a fúria da fiandeira de nuvens e num relâmpago ateiam as vozes dos deuses que decretam ordem aos mandatos selvagens delegam harmonia a simetria quadrangular do olhar de humanos obreiros e estelares
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nenhuma nota soa quando os pinheiros se cerram e a bruma engravida o tapete de terra
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urge escutar o canto das pinhas no estaleiro do céu ouvi-las abrirem-se em asas aladas e voarem até o espaço onde os ninhos se recolhem e as aves pegam nos braços das salinas de éter
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que te posso dizer se tarda o nosso encontro
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que juntos no sentir o pensamento uno leva-nos para o jardim das camĂŠlias
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a toada Ê forte o embalar as ondas do vento soltam-nos para embarcar na lua e descer na corola de uma flor esvoaçante
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sabias que a ternura que tenho por ti me leva onde os teus lábios disserem onde o anjo da vigília nos atolar
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sabias que o meu coração falará com o teu em cada ternário em pautas erguido no caule de uma flor nos ponteiros do mar quando a felicidade for uma bola anónima o melhor jogador do mundo não tiver nome e a verdade for a liberdade que se sabe ter cada rosa no seu próprio seio solar
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a aurora posta no átrio do sol as mãos grafadas na calçada
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vislumbro-te no apeadeiro da clareira na busca terrena do pentágono solar na senda individual de uma toalha coletiva no vértice da mesa da ceia triangular na união das estradas de luz plana e lunar
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entre nós e a diferença está um duplo soterrado que se abre nas mãos do que se insurge manifesta nos dedos que resvalam sobre o éter do espelho nas plumas do sofá onde dormi sobre um colchão de pétalas alumiados por cilíndricos serões da luz da vela que dá forma à assimétrica à vigília do sono âmbar
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a clave ordenada dos teus olhos de uva o renovar silencioso e em crescendo das células afundam-me nos sais cronometrados pela lonjura o confronto o instante do tempo o freio que se impõe ao arco-íris do que se manifesta as linhas marítimas a madrugada em alicerce de magma o leme do cocheiro que importa do céu a lei natural firmando a simetria do reto o político de outrora ainda com fé na utopia o político de hoje imaculado na submissão da ordem
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o contorno do teu corpo é uma melodia que ganha forma se debate na estrada esbelta em encruzilhada do céu na silhueta de cometas no andejar do amor sem nome nascendo das luzes da madrugada
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os alicerces as traves os sinos que nos formam em refrega pela dualidade pelo intervalo do som e do silêncio nutrem cada célula do nosso corpo glorificado pela individuação o ADN do sangue
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