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A Caminho, Rumo à Vida
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título: A
Caminho, Rumo à Vida Costa edição: Edições Partenon® autor: A. Vasconcelos
Patrícia Espinha Ângela Espinha paginação: Paulo Resende revisão:
arranjo de capa:
isbn:
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1.ª edição Lisboa, fevereiro 2020
978‑989-8845-32-0 465344/19
depósito legal:
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© A. Vasconcelos Costa
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publicação:
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. PREFÁCIO ,
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Com profunda gratidão a todos aqueles que contribuíram para a edificação do homem de fé, assim se assume, o Diácono António de Vasconcelos Costa oferece-nos uma reflexão antropológica em chave bíblica e cristã. Saúdo-o por mais esta iniciativa. De onde vimos e para onde vamos? O homem não se entende sem perguntas e tentativas de resposta. O Diácono António de Vasconcelos, encontra em Cristo a referência fundamental para entender-se a si mesmo, neste caminho de passado presente e futuro, e entender como toda a realidade se inscreve num projeto de Deus Criador que não quer o desaparecimento da criatura que é a sua imagem e semelhança. Da sua experiência crente, o nosso autor salienta a importância do poder espiritual da Fé, dom acolhido como graça que permite ao homem cristão ser vitorioso frente ao medo e a todo o mal. Não é poder 7
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de magia, é um poder que se acolhe na humildade, é expressão da graça, é dom que possibilita no crente a firmeza, traduzida em vida partilhada e doada confiadamente. A fé traduzida na esperança e no amor generoso. Tudo acontece numa experiência de Igreja e esta, desenvolve o autor, só se entende na fidelidade à Palavra do Evangelho que anuncia e ao Espírito Santo que está na sua origem. É, pois, através da Igreja que o Espírito Santo continua a sua ação na vida de muitas pessoas. À Igreja, experiência e instrumento da ação do Espírito Santo, o autor presta especial atenção pela sua sensibilidade carismática de acolhimento dos dons de Deus na vida de muitas pessoas, nos grupos de oração, nos movimentos e nas comunidades paroquiais. Num tempo de grande afirmação individual da pessoa humana em sociedade, o Diácono António sublinha o princípio da solidariedade como resultado da caridade cristã. O homem não se entende fechado em si mesmo, nem foi criado para ser feliz sozinho, é na medida em que se interessa pelos outros que verdadeiramente se realiza. Na sequência, refere a figura do Papa São João Paulo II, uma feliz referência de santidade de alguém que se interessou pelo bem da humanidade e da Igreja. Depois de uma contemplação no interior da Igreja de Nossa Senhora do Amparo de Benfica, o Diácono António reflete os efeitos que tem a fé na vida de um cristão: os valores e virtudes humanas e 8
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cristãs que hão de determinar o seu objetivo de vida, o seu comportamento e o seu empenho na família, na comunidade cristã e no mundo. Num tempo de consumo obsessivo e de crise de verdade e respeito pela vida humana, é importante salientar os valores espirituais e as virtudes sem as quais o homem não corresponde ao projeto de Deus. Para o cristão, Cristo é “o Caminho”, é a estatura moral de referência e a fonte de purificação para progredir. É disto que o nosso autor oferece. Em pleno Ano Missionário, o Diácono António de Vasconcelos afirma e interroga: “A proposta de fé que oferecemos tem de ser credível, porque o homem só adere ao que julga benéfico. Que motivos de credibilidade propomos?” A leitura deste livro ajuda-nos a responder.
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+ José Traquina
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ew DEDICATÓRIA
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A quantos me ajudaram a descobrir os caminhos da fé, desde a professora de instrução primária na casa da Providência de S. José, a D. Maurílio de Gouveia, ponto de referência para a minha adesão ao Renovamento Carismático de Vida Cristã, passando por todos os meus professores de Religião e Moral, com referência especial a D. Florentino (o padre Florentino), pelos cristãos com quem caminhei no cursilho de Cristandade e nas equipas de Nossa Senhora, pelos professores e colegas do Centro de Educação da Fé (CEF) (Redentoristas), a todos os que foram pedra e argamassa na construção da minha fé, um voto sincero de que a bênção de Deus os faça alcançar a plenitude. Dou testemunho de quanto, por vós e convosco, colhi, e faço questão de que o mundo saiba que um homem nunca se faz sozinho, se é que, de mim, posso falar como homem a fazer-se.
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. O HOMEM FINALIDADE DA CRIAÇÃO ,
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Porque é impossível entender-me como um ser destinado ao ocaso, procuro assumir a vida como uma vocação eterna de SER EM PLENITUDE. Deus não “DISSE” o Universo pelo Universo. Deus não “DISSE” o sol, a lua e as estrelas por elas mesmas, como que exibindo o seu poder ao “DIZER” o homem como mero espetador embasbacado desse poder. Deus não “DISSE” tudo quanto há – visível e invisível – por dizer. Deus limitou-se a querer o homem e DISSE tudo o que era necessário para que ele se sentisse querido por Deus. Deus quis o homem por Si mesmo, por fidelidade à Sua essência ontológica. Quando lemos que tudo é do homem, o homem é de Cristo e Cristo é de Deus, sabemos, por revelação, que é por Ele mesmo, por razão e causa de Si mesmo, pelo Seu eterno e ontológico SER AMOR, que quis, desde toda a eternidade, o homem, como explicitação 13
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da Sua ontologia, como AMOR que é, como INTERPESSOALIDADE indefetível, como unidade relacional livre. Para isso criou o homem em situação de procura, a caminho para a unidade eterna e ontológica no AMOR. Para tanto, DISSE toda a envolvência de onde emergiria o homem em ansiosa procura d’Aquele que o quis, para ser um em Cristo pelo Espírito Santo junto do Pai, em unidade com o ETERNO SER TRINITÁRIO. Se Deus tivesse DITO o Universo por manifestação de grandeza e poder, o homem limitar-se-ia a existir, contem-plando embasbacado o poder daquele que DISSE TUDO e, por fim, extinguir-se-ia, num aparvamento de insignificância, num total esvaziamento de dignidade, porque a razão de que está dotado não lhe serviria para mais do que dar-se conta desse destino de aniquilamento. Mas é precisamente pelo uso da razão que se descobre grande, digno, inesgotável, com tensões de infinitude, daí o saber-se querido eternamente e sentir que tudo lhe foi dado para que “SEJA”. Façamos à Nossa imagem, Nós que indefetível e eternamente Nos queremos a ponto de sermos UM, porque cada um de Nós é o que é nos Outros, com os Outros e pelos Outros, por livre decisão. Façamos o homem desse jeito, com esse estilo, a mesma dinâmica de vontade de SEREM NÓS, POR NÓS E CONNOSCO. Criemo-lo numa envolvência histórica onde 14
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explicitem esta tensão divina na materialidade que a suporta, para que o seu querer Deus corresponda ao Nosso querer o homem. Que essa envolvência histórica seja ambivalente para que o querer Deus não seja uma fatalidade, mas dependa de querer “plenificar-se em Deus ou aniquilar-se em si mes-mo”. Acautelemos, porém, que a sua consciência de infinito e a sua tensão de plenitude, que somos NÓS neles, se não converta em autocontemplação, autossuficiência, morte em busca de vida. Mostremo-nos neles, com eles, como vida em busca de aniquilamento individualista, na ânsia de pessoalidade relacional Agápica, grito de não ser fora de “Nós”, para, em Nós, tudo ser. Digamos ao homem, no seu próprio ambiente histórico, o Amor Eterno que Somos. E este dizer o AMOR ETERNO que Deus é, exibiu no meio do humano a tensão de tudo ser em plenitude divina, ao dizer “Não” definitivo a Si mesmo e “Sim” pleno a Deus. O drama da Teodiceia assim se expressa nesta tensão de crescer para a plenitude pelo apagamento. Negar-se a si mesmo, abraçar amorosamente esta angustiante recusa a si e mergulhar seguro da balouçante prancha da limitação espácio-temporal na equipresença do oceano do AMOR ETERNO onde seremos em eternidade, é o projeto que somos. Já nos continha a Palavra eterna que, entre si, Deus diz desde toda a eternidade e na qual tudo foi gerado. 15
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A Segunda Pessoa continha, era, é e será, tudo quanto há, antes de tudo ter existido. Ainda não existíamos e já eramos no querer de Deus, dito nessa Pessoa. Ainda não existíamos já tínhamos “ser” em Deus e existimos para ser, por graça de Deus, a plenitude em Deus se historicamente explicitarmos essa vontade de SER. Não nascemos para a morte, mas para a vida; não nascemos para nós mesmos (nem para os outros), mas para Deus, explicitando no dom aos outros essa procura de finalidade. Alegre-se o coração do homem pela dignidade de filhos de Deus no Filho, à qual estão chamados e potenciados desde toda a eternidade, e que já lhe está conferida e assegurada pela entrega expiatória e reconciliadora da Palavra Eterna no sacrifício da Cruz. Se antes a opção foi do homem para si mesmo, em rotura com o ser eterno agápico-espiritual, em Jesus Cristo inverte-se essa atitude e o homem inicia a opção por Deus em decisão livre da vontade e, ao mesmo tempo, pelo dom do Espírito Santo, lhe foi assegurado o êxito eterno dessa opção. Deixe, pois, o homem a angústia fatal do nada em si mesmo, e mergulhe confiante no seu tudo que a tudo dá sentido e dimensão de plenitude. Saiba, de fonte segura, que não é um acaso destinado ao ocaso, mas uma potência de SER em plenitude.
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. CORPO DE DEUS ,
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Como o feijão, a massa, o peixe ou a carne não são a vida, mas o seu alimento indispensável, também as cele-brações, as orações, as devoções não são a fé, mas esta não subsiste sem elas. Como vemos gente sem atividade na vida a correr para desgastar os excessos alimentares, que não conseguem consumir numa atividade útil para o todo humano em que se integram e do qual beneficiam, também encontramos gente “empanturrada de religiosidade” sem qualquer vivência prática da fé. Não resisto a citar o ensinamento do Papa Francisco, quando denuncia os cristãos hipócritas que visitam Jesus na igreja e O deixam lá quando saem! E não cuide ninguém que nestes comentários tenho em mente alguém para além de mim mesmo. É de mim para mim mesmo que faço estes juízos e, a esta luz, para ver claro e procurar uma vivência de verdade, me fixo no texto: 17
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Jó 1:12 “A TODOS QUE O RECEBERAM, DEU O PODER DE SE TORNAREM FILHOS DE DEUS. AOS QUE CREEM EM SEU NOME...” (Bíblia de Jerusalém). MAS A QUANTOS O RECEBERAM, AOS QUE NELE CREEM, DEU-LHES O PO-DER DE SE TORNAREM FILHOS DE DEUS. (Nova Bíblia dos Capuchinhos) ... ELA, (a palavra = Jesus) PORÉM, DEU O PODER DE SE TORNAREM FILHOS DE DEUS A TODOS AQUELES QUE A (O) RECEBERAM Sempre entendemos, segundo a doutrina da Igreja, que o batismo infunde em nós a vida de Deus e nos torna filhos no Filho. Haveremos de entender esta VIDA INFUNDIDA como o ESPÍRITO SANTO, deduzindo, com segurança, que este Espírito é esse PODER QUE NOS FOI DADO (Deu-lhes o poder...), e a filiação definitiva da parte de Deus, depende, pelo nosso lado, DO USO DO PODER. Uma questão emerge imediatamente deste contexto: foi-lhes dado o poder de se tornarem filhos, deduzindo que a filiação divina não é uma consequência mecânico-mágica do batismo, mas uma faculdade – a de se tornarem filhos, usando esse poder. O poder já está dado (passado) se tornarem (presente continuado). Desde já, uma nova questão: ESSE PODER É DADO INDISCRIMINADAMENTE A TODOS? Ou, de outro modo, TODOS OS BATIZADOS USAM ESSE PODER? A tentação de uma resposta positiva é geral: 18
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“TODOS RECEBEM E USAM O PODER, logo TODOS SÃO FILHOS”, mas a premissa inicial impede essa generalização ao afirmar: ÀQUELES QUE ACREDITAREM. QUANTOS O RECEBERAM E NELE CREEM. ÀQUELES QUE A RECEBERAM... (Bíblia Pastoral S. Paulo). É condição sine qua non em que acreditemos e este “acreditar” não é uma adesão filosófica ou de conhecimento cultural a um discurso mais ou menos entendido, mas uma conformação da vida segundo o exemplo ou o ensinamento… Acreditar é DAR CRÉDITO, confirmar com o nosso agir que reconhecemos e seguimos o Ressuscitado como O SENHOR DA VIDA, DA HISTÓRIA E DO HOMEM. Acreditar, dar crédito a Cristo, é manifestar no nosso próprio viver o VIVER daquele que se fez CAMINHO, VER-DADE E VIDA para nós. É ESSA A ÚNICA FORMA DE USARMOS O PODER QUE NOS FOI DADO E, SÓ USANDO-O, SEREMOS FILHOS NO FILHO, PARA GLÓRIA DE DEUS PAI. Para dizermos como Ele, glorifiquei-te Pai, glorifica-me Tu agora.
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. 1 Sam. 8,4-7.10-22 ,
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Não resisto à tentação, movido por este poder que me foi dado, de reescrever este texto, alterando apenas as palavras ou parte delas em bold/itálico. A confrontação com o original ajudará a entender o porquê de tais alterações: “Naqueles dias, reuniram-se todos os anciãos de Israel e foram ter com a Igreja e disseram Deus está ultrapassado e os seus seguidores não dão bom exemplo. Por isso, dá-nos um sistema que nos governe, como acontece com os outros povos. Desagradou a Deus que eles tivessem dito dá-nos um sistema que nos governe. A Igreja orou ao Senhor e o Senhor respondeu-lhe: Atende à voz do povo em tudo o que ele te pedir; porque não foi a ti que rejeitaram, mas a Mim: não querem que Eu reine sobre eles. A Igreja comunicou todas as palavras do Senhor ao povo que lhe pedia um sistema político e acrescentou: Serão estes os direitos dos novos governantes – requisitarão os vossos filhos, para cuidarem das suas propriedades e das suas fortunas, e os farão correr à frente do seu carro. Ele os utilizará como chefes de mil homens e chefes de cinquenta. Mandará que lavrem os seus campos e ceifem as suas colheitas, que fabriquem as suas armas de guerra e as peças dos seus carros. Requisitará também as vossas filhas, para trabalharem 20
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como perfumistas, cozinheiras e padeiras. Tomará os vossos melhores campos, vinhas e olivais, para dar aos seus servos. Cobrará o dízimo das vossas sementeiras e das vossas vinhas, para o dar aos seus cortesãos e ministros. Ficará com os vossos melhores servos e servas, com os vossos melhores bois e jumentos, para os empregar no seu serviço. Cobrará o dízimo dos vossos rebanhos e vós mesmos sereis seus escravos. Nesse dia, reclamareis contra o regime político que escolhestes, mas então o Senhor não vos responderá. O povo não fez caso das palavras da Igreja e disse: Não importa. Queremos uma democracia par(a)lamentar e assim seremos como todos os outros povos: os nossos representantes é que hão-de governar-nos e marcharão à nossa frente para coman--darem os nossos destinos. A Igreja ouviu tudo o que o povo disse e comunicou-o ao Senhor. O Senhor respondeu-lhe: Faz o que eles querem e dá-lhes uma escravatura democrática.”
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. 1 Tim 3,14-16 ,
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Nesta mesma linha do reto uso do poder que me foi dado, fixei-me nesta passagem da carta a Timóteo, crente, como pretendo ser, de que é Deus, Trindade Santa, que, na Igreja e para Ela, fala pelo Espírito Santo. Começo por acentuar que o verbo está no presente porque não há passado em Deus e, por isso, o que a Igreja acolhe em cada momento da Sagrada Escritura é para cada um de nós, no preciso momento do encontro com a Palavra, com o propósito de nos INTEGRAR NO TODO HUMANO-DIVINO. Parto, pois, do texto de São Paulo: Escrevo-te estas coisas esperando encontrar-te dentro em breve. Todavia, se eu tardar, saberás como proceder na casa de Deus, que é a Igreja do Deus Vivo, coluna e sustentáculo da verdade. Seguramente, grande é o mistério da piedade, ele foi manifestado na carne, justificado no Espírito, contemplado pelos anjos, proclamado às nações, crido no mundo, exaltado na glória. Em consequência, é a nós que Paulo diz: saberás como proceder na casa de Deus, a Igreja do Deus Vivo. A que Deus se refere São Paulo? – Àquele que se manifestou na carne, foi confirmado pelo testemunho da Igreja às nações que n’Ele creem como seu Senhor na glória. É precisamente no AGORA de cada encontro 22
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com a PALAVRA que Deus diz à Igreja universal, em qualquer lugar onde nos encontremos: A quem, pois, hei-de comparar os homens desta geração? Com quem se parecem os cristãos de hoje? (Lc 7,31ss). Jesus denuncia com clareza este triste hábito de querer condicionar os outros com a nossa maneira de ver e agir, como se a plenitude da verdade passasse obrigatoriamente por cada um de nós. Basta que escutemos Jesus: “parecem crianças sentadas na praça a desafiar-se mutuamente: NÓS TOCAMOS FLAUTA, MAS NÃO DANÇASTES!...” Mas Jesus vai mais longe ao denunciar este nosso costume de julgar os outros como se cada um de nós fosse o detentor da verdade: “Veio João Batista que não come nem bebe e dizeis O DEMÓNIO ESTÁ NELE! Mas veio o filho do homem que come e bebe e dizeis EIS UM GLUTÃO E BEBERRÃO... AMIGO DE PUBLICANOS E PECADORES...” É de nós e para nós que Jesus está a falar, não o esqueçamos nunca: DE CADA UM DE NÓS! Ao escutar estas palavras muitos se afadigarão a tentar discernir, nas suas relações, nos seus conhecimentos, vizinhos, ou mesmo familiares, alguém a quem possa aplicar estas denúncias de Jesus, porque se recusam a aceitá-las para si mesmos. É por isso que, imediatamente a seguir, no mesmo capítulo, Jesus nos fala da pecadora que, arrependida, dos seus pecados, lhe lava os pés com lágrimas, enxuga-os com os cabelos e unge com perfume... Perante Jesus, na intimidade da fé, apenas os 23
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nossos pecados (os de cada um para si mesmo) interessam. Não vamos a Jesus para pedir perdão dos pecados alheios ou para que tenhamos de recordá-los. É apenas os nossos que teremos de recordar para pedir perdão. Convém, todavia, não esquecer nunca que pedir perdão supõe previamente o perdão a quem nos ofende ou magoa, como Jesus ensina no “Pai Nosso” e, mais claramente, na parábola dos dois devedores. A importância de ouvir e acolher a Palavra fica bem evidente no milagre em que o Senhor permitiu que os peixes do rio viessem à superfície escutar Santo António porque os homens se recusavam a ouvi-lo. Com frequência, quando me parece que devo partilhar uma reflexão, procuro discernir qual o espírito que me anima: a) Se o que me ocorre dizer é portador de paz e unidade é obra do Espírito Santo; caso contrário, é obra do divisor (diabo); b) Se continuo a sentir-me pequeno e servo de todos, ou se me convenço da minha importância face aos demais (obra do pai da mentira (satanás); c) Se Deus me escolhe para corrigir ou repreender alguém em quem penso concretamente (ação do acusador (demónio). Porque tudo em Igreja – sacramentos, liturgia, ensino – tem por única finalidade alimentar em cada 24
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um o zelo pela missão recebida no batismo, escutemos o ensinamento de São Paulo em At 20,17-27. “De Mileto, Paulo mandou chamar os anciãos da Igreja de Éfeso. Quando chegaram junto dele, disse-lhes: Sabeis como, desde o primeiro dia em que cheguei à Ásia, procedi sempre convosco. Tenho servido o Senhor com toda a humildade e com lágrimas, no meio de provações, que as ciladas dos judeus me acorrentaram. Jamais recuei perante qualquer coisa que vos pudesse ser útil e instruí-vos, tanto publicamente como nas vossas casas, afirmando a judeus e a gregos a necessidade de se converterem a Deus e de acreditarem em Nosso Senhor Jesus. E agora, obedecendo ao Espírito, vou a Jerusalém, sem saber o que lá me espera; só sei que de cidade em cidade, o Espírito Santo me avisa de que me aguardam cadeias e tribulações. Mas, a meus olhos a vida não tem valor algum; basta-me poder concluir a minha carreira e cumprir a missão que recebi do Senhor Jesus, dando testemunho do Evangelho da graça de Deus. Agora sei que não vereis mais o meu rosto, todos vós, no meio de quem passei proclamando o Reino. Por isso, tomo-vos hoje por testemunhas de que estou limpo do sangue de todos, pois jamais recuei, quando era preciso anunciar-vos todos os desígnios de Deus.” Neste precioso excerto dos Atos dos Apóstolos, temos um guião seguro de como viver a missão a que o batismo nos consagrou, enquanto testemunhas do 25