As Bruxas do século XXI

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Cristina Rodrigues

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As Bruxas do século XXI Ilustrações:

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Rita Barata


título: As

Bruxas do Séc. XXI Rodrigues edição: Edições Berbequim das Letras® (Chancela Sítio do Livro) ilustrações:

Rita Barata Ângela Espinha paginação: Paulo Resende capa:

1.ª edição Lisboa, agosto 2021 isbn:

978­‑989-8711-44-1 485166/21

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depósito legal:

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autora: Cristina

© Cristina Rodrigues

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As Bruxas do século XXI


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Numa bela tarde repleta de chuva abundante e estron-

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dosa trovoada, reuniu-se na grande sala da Assembleia Geral de Bruxaria, o Congresso Nacional das Bruxas.

Desta vez, o motivo da reunião era reconhecer como bruxa oficial Hermengarda Moça Nova, a qual tinha atin-

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gido a bonita idade de 22 anos, idade ideal para ser uma bruxa independente.

Hermangarda Moça Nova tinha o aspeto comum de uma

candidata a bruxa e era, como o seu próprio nome indica, a mais jovem de todas as bruxas ali reunidas. Todas as outras a achavam linda, com os seus cabelos desgrenhados que lhe cobriam todo o corpo até aos joelhos, os olhos bicudos e repuxados para cima, dentes tortos e cara espremida. O vestido escuro de cerimónia ajustava-se ao corpo magro distinguindo-se entre todos os outros vestidos usados. 6


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Depois de muitos discursos e oratórias proferidas pela presidente do Congresso Nacional das Bruxas, Hermengarda Moça Nova foi efetivamente nomeada bruxa. Quase lhe correram as lágrimas na hora da condecoração, quando lhe foi atribuído o chapéu alto bicudo, juntamente com a

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vassoura voadora, que seria, dali em diante, o seu único meio de transporte.

No final da reunião, e para comemorar, tomaram um

delicioso cálice de baba de lagartixa que a todas soube muito bem.

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À saída da sala dos congressos da Assembleia Geral de

Bruxaria, Hermengarda Moça Nova, estreando a vassoura voadora, dirigiu-se para a sua nova casa, oferecida pelo Congresso Nacional das Bruxas.

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A casa ficava no pico de um alto monte, um lugar com

uma linda vista e onde voavam dezenas de encantadores morcegos. De aspeto triste e sombrio, com as paredes tão escuras, o casarão mais parecia uma cafeteira de fazer café preto daquelas que as avós costumam ter nas cozinhas, pensou Hermengarda. A vassoura aterrou mesmo em frente à porta. Para entrar carregava-se num botão ao lado direito e a porta abria-se automaticamente. Hermengarda Moça Nova logo se encontrou numa sala ampla com o chão forrado por uma carpete negra e felpuda. Ao 8


centro estava uma mesinha redonda, rodeada por três cadeirões esfarrapados, e em cima da mesa, a célebre bola de cristal que as bruxas usavam para ver o que se passa noutros lugares e com outras pessoas. Ao sentar-se no cadeirão que lhe era destinado, Hermengarda desco-

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briu uma pequena gaveta por baixo do tampo da mesa.

Abriu-a e encontrou 20 unhas postiças, muito compridas e pintadas de preto. Naturalmente teria de usá-las para ver a bola de cristal e fazer os seus feitiços.

As janelas da sala estavam muito bem enfeitadas com

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cortinas de teia de aranha pura. E apesar da pouca luz

que ali havia, cresciam por todo o lado algumas plantas em vasos de cimento, eram uns cactos espinhosos que ficavam muito bem no meio de toda aquela decoração.

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Uma pequena porta a um canto conduzia ao quarto.

Ao abri-la, Hermengarda logo descobriu uma cama coberta com uma linda colcha pintada à mão com imagens de tubarões e piranhas todos a sorrirem. Hermengarda Moça Nova estatelou-se em cima da cama. Logo se ouviu um enorme estrondo seguido de um “gong” espetacular: duas tábuas partidas e uma mola que se desmontou.

Ao lado da cama havia uma mesinha de cabeceira e sobre ela uma lâmpada cinzenta iluminava o quarto 9


desde o interior de um candeeiro em forma de boca de crocodilo. Abriu a gaveta da mesinha e encontrou um lote completo de produtos de beleza para bruxas: um carvão para maquilhar as faces, uma tinta da china para as pestanas e um pouco de batom roxo para os lábios.

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Depois de observar bem o quarto que quase nada mais

tinha para ver, Hermengarda dirigiu-se à cozinha. Era a mais pequena divisão da casa e o que nela mais se destacava era a grande lareira tisnada, onde Hermengarda Moça

Nova talvez se aquecesse no Inverno. O centro era ocu-

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pado apenas por uma mesa e uma cadeira desengonçada. O fogão era a lenha e tinha sobre ele um enorme caldeirão. Com certeza que o tinham instalado pensando nos grandes

feitiços e truques mágicos que Hermengarda faria com a

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sua ajuda. Na parede, um armário servia de depósito a um monte de ingredientes de todo o tipo: antenas de barata,

carne de mosca enlatada, penas de pato e outros ingredientes próprios para refeições e bruxarias.

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