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Apresentação da edição

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Prefácio

Prefácio

Apresentação da edição

Os seres híbridos, de amplos poderes de metamorfose, das narrativas mitológicas e romances de aventuras, e as imagens de animais fabulosos, que nos povoam, desde o advento do cinema, não são, porventura, tão dignos do nosso deslumbramento ou curiosidade, como as mudanças morfológicas em seres vivos, que a investigação do mundo da paleontologia, gradualmente, nos informa.

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O passado de um organismo fornece-nos um legado profundo e rico, tanto dos constrangimentos como de rápidas adaptações, no desenrolar das mutações e das pequenas alterações genéticas, através das plácidas flutuações do tempo ou de repentinos cataclismos que fazem parte da história terrestre.

No que concerne ao mundo das aves, o seu registo fóssil manteve-se relativamente escasso, contribuindo, por isso mesmo, para várias teses sobre a evolução e argumentos contraditórios sobre a sua história genealógica. Atualmente, não subsiste qualquer dúvida sobre a descendência das aves de um ramo de dinossáurios, prevalecendo a investigação pela metodologia clássica de anatomia comparada.

“Aves, os dinossáurios alados” de Luís Cunha Avelar é um livro exemplarmente conciso, embora descrevendo, uma a uma, as etapas importantes deste longo caminho de adaptações e as conjeturas dos estudiosos que levaram a determinadas conclusões, relevando outros campos de estudo, entre eles a etologia, no aprofundamento das características dos seres vivos alados.

A proficiência do voo e a inerente capacidade das aves de se elevarem nos céus têm sido sempre características que têm maravilhado qualquer simples observador ou ornitólogo. Porventura, o voo, é o desejo de todos nós, quando os eventos não decorrem à medida dos nossos desejos sobre a terra. Nas religiões animistas, o curandeiro transformase em ave e voa nos céus, metafisicamente, para achar a cura dos males do indivíduo e da comunidade.

A esfera do conhecimento é, hoje, única possível cura, facultando o entendimento das coisas, no seu múltiplo e contínuo encadeamento de fatores, quer do tempo geológico, das mudanças climáticas, ou de processos biológicos. Inevitavelmente, só aí se regenera a nossa aliança que alicerça os princípios fundamentais éticos relativamente a todas as espécies do mundo que nos rodeia.

Mensageiras de poderes inalcançáveis pelo homem, as aves, mais do que nunca, são sinais antecipatórios do futuro. Na iminente perda de tantas das suas espécies, revestir-se-á o mundo de uma extrema solidão.

Graça Lima

Presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA)

www.spea.pt

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