Antes de se acumular o pó

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Baião Modesto

Tartarugas em perpendicular ao vai-e-vem das ondas. Assim eu, no imaginário das musas…

Antes de se acumular o pó

mas falta-lhe o mar.

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Baião Modesto

Antes de se acumular o pó

António Francisco Baião Modesto nasceu em Évora a 9/1/1948. Publicou “Lereno e Liseia” e “Viagem Anterior”, ambos com o pseudónimo António Francisco Mistral. Neste seu terceiro livro entendeu utilizar nome próprio, porque com esse nome próprio é que foi publicando por revistas e jornais. Foi fazendo o seu “caminho” por periódicos portugueses e revistas brasileiras, tais como “Dimensão” e “Cavalo Azul” (Brasil); e no suplemento literário do extinto “Diário de Lisboa”. “Antes de se acumular o pó” há-de anteceder outros livros de poesia, que, entretanto, irão surgindo. Ainda este ano, sairá, em Dezembro, “Os outros dias que sei”. O prometido romance histórico também está em processo de pesquisa e de escrita; e chamar-se-á “Os ritos da Abóbada dos Nós”. E… não querendo usurpar o mundo Pessoano, direi que, não havendo poesia, todos os outros dias passam ao lado.


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BAIÃO MODESTO

ANTES DE SE

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ACUMULAR O PÓ

POESIA 2019


w ev ie título: Antes

de se acumular o pó Baião Modesto edição gráfica: Edições Vírgula® (Chancela Sítio do Livro) autor:

Paulo S. Resende Ângela Espinha

paginação: capa:

1.ª edição, Lisboa abril, 2019 isbn:

978­‑989-8821-90-4 453698/19

depósito legal:

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© Baião Modesto

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ANTES DE SE

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ACUMULAR O PÓ


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Apenas uma homenagem

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a dois mentores que me acompanharam e incentivaram; estou a referir-me a Mário Castrim e Margarida de Carvalho. O primeiro com o Suplemento Juvenil do “Diário de Lisboa”, e a segunda com as suas orientações de leitura e de escrita, na Escola Comercial e Industrial de Leiria, onde era aluno dos cursos nocturnos. A Professora Margarida de Carvalho não se coibia de rasgar os poemas, quando estes de poesia não tinham nada. O Mário Castrim muito me perguntava e eu respondia: O que tens feito? Nada, apareço vivo todos os dias.

Não trouxeste versos para mostrar, hoje? Não, não trouxe, vim vazio. A altura da água do poço engana.

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E assim foi a poesia por mim passando - entre Leiria e Lisboa. Por algum tempo “peregrinei” pela Europa, e, quando regressei, o “falar português” fez-me outra vez “poeta” (?); e recomecei tudo de novo, como se fosse: Fruto serôdio? Fora de moda, as fadas fizeram o seu trabalho. Mas as bruxas remexeram o caldeirão...


– Serás espantalho. Poeta, não.

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E espero que não tenham muito “pó”, estes versos que vos deixo.


Lamentação das escadas de pedraria

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Os degraus de pedraria estão já brancos com o orvalho, É tão tarde que o orvalho encharca as minhas meias de gaze, E eu desço a cortina de cristal E comtemplo a lua no Outono límpido.

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Rihaku por Ezra Pound in “CATHAY”


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Antes de se acumular o pó 11

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Não é que eu quisesse coisas muito complicadas. Eu sei que tenho pouco jeito para prever que a tinta se acaba na esferográfica, que é como quem diz: a palavra agarrar a ideia.

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Antes, durante e depois

Já não falo das flores se revezarem todos os dias; o chão não ser só o que está entre as bermas e a Lua oferecer-nos quatro fases nas suas noites; porque durante o dia o que se vê nos enche de tudo.

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A poesia só tem que abrir a porta que dá o dia às estrelas; antes, durante e depois de sairmos, para podermos regressar a casa.


12 Baião Modesto

Os seus fios tecem, em abstracto, um tecido; que não era o que foi a nudez do rei.

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Nem dispõem do ludíbrio de tecer de dia e o contrário à noite.

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Arte Poética

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São fios abstractos, prestidigitadores de indícios.


Antes de se acumular o pó 13

Com bordão e esclavina, demandarei a Terra Santa; como antes outros romeiros preocupados com a alma.

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Os sócos pisam a estrada; o esforço marca o corpo do peso da vestimenta. Enche-me o sangue o rosto.

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D. Afonso V

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Assim o bode na serra alcandorando-se, exposto.


14 Baião Modesto

Sal

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O que é o Sal no poema? Terá sido o astrolábio? Da terra o caroço da azeitona e o que a envolve não é senão Sal.

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O Sal são as aduelas das pipas que ajudam o lastro dos barcos. É a forma redonda da laranja doce. E parece que o Sal não está lá.

Oregão, agriões, hortelã, são o Sal do campo necessários à comida, e mais quantas noras que no Alentejo há. Depois houve o Sal da Carreira das Índias.

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O cantar dos grilos e as asas dos aviões, sem necessidade de uma tese, são Sal.


Antes de se acumular o pó 15

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D. Dinis imaginava (se se lhe tolhia o olhar em qualquer sítio da Côrte), sôlta a foz, antes do mar, o que o rio demandava. Sem volver o horizonte, flor-de-verde pinho veio. Feito bússola o pinhal, que era o mar senão esteio?

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Pinhal D‘El Rei


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