Ananda Yogam
VIAGEM COM O MESTRE
VIAGEM COM O
MESTRE
FICHA TÉCNICA Edição: André Pereira de Oliveira Título: Viagem com o Mestre Autor: Ananda Yogam Capa, Paginação: Paulo Silva Resende 1.ª EDIÇÃO LISBOA, Fevereiro 2012 Impressão e Acabamento: Publidisa ISBN: 978-989-20-2853-8 Depósito Legal: 338863/12 © Ananda Yogam Publicação e Comercialização Sí o do Livro, Lda. Lg. Machado de Assis, lote 2, porta C — 1700-116 Lisboa www.si odolivro.pt
ANANDA YOGAM
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MESTRE
AGRADECIMENTOS Dedicado a todos os que es veram comigo nesta viagem, sicamente, ou de outras formas. Um especial agradecimento ao meu Mestre, MĂŁe e Pai, e ao meu amigo Kosh que deixou o seu corpo recentemente. Todo o livro e a forma de o escrever ĂŠ inspirado no meu Mestre OshoRajneesh.
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O que se passa?
Quem Sou Eu?
Porque serรก que Tudo me parece do avesso?
O QUE ร A VERDADE?
Existe alguma Verdade?
O que é isso a que vocês chamam Deus?! Vá, explica-me outra vez!
Pode Deus ser uma rosa?
e um pรกssaro?!
e uma estrela?!
e uma caneta de escrever?!
e o mar?!
ou a minha caneca do chรก?!
E EU QUEM SOU?...
QUEM SOU EU?...
QUEM SOU EU? ...
São 03:35 da manhã do dia 08-08-2010 e algo me impossibilita de dormir. Esta ideia já me anda a rondar a cabeça há imenso tempo, mas nunca ve real coragem de passar à prática. As ideias fluem como flashes claros na minha mente e dou por mim a viajar naquilo que me é oferecido... imagens, frases, pensamentos... todos demasiadamente claros para os poder ignorar. Decido começar a escrever, mas logo de início me apercebo que a folha de tamanho A3, com anedotas do Chuck Norris, que o meu amigo Manuel me nha oferecido, era insuficiente. Passámos a tarde de hoje na piscina a apanhar sol e a rir com as hilariantes anedotas sobre este grande personagem. Vou então buscar o meu computador para que possa escrever sem limitações. Ao passar pela cozinha uma voz dentro da minha cabeça afirma com grande poder: - hmm se calhar isto vai ser longo e vais ter fome...ou sede! - Como devem imaginar este pensamento foi tomado em consideração e parei para observar o que me apetecia. Pensei: - Deverei fumar um cigarro para me inspirar? -, ao que me foi respondido, por mim mesmo: - deixa-te de coisas, tu não fumas! - Logo de seguida uma nova pergunta existencial: - Deverei levar uma cerveja fresquinha para o meu quarto e saboreá-la enquanto vou escrevendo?! - ao que ob ve a seguinte resposta - Leva a água com gás que está no frigorífico, e cala-te! - Assim foi.
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Sinto vontade de escrever sobre a inspiração que transformou a minha vida - Swami Rajneesh.
CAPÍTULO I FOGO DO DESERTO Estamos numa tarde de Agosto e o calor lá fora é abrasador. Estou em casa, de férias, bastante relaxado. Não tendo nada para fazer, deixei a minha mente vaguear e aos poucos comecei a imaginar como seria conhecer Osho em “carne e osso”. Tenho lido vários livros dele nos úl mos dois anos e sen do uma tremenda proximidade e iden ficação com os seus pontos de vista. Pela primeira vez na vida encontro um ser humano que consegue organizar em palavras, de forma simples e directa, a perspec va que eu nha da Existência. A cada livro que leio surpreendo-me cada vez mais, com a sua flexibilidade e imprevisibilidade de ponto de vista. Muitos dogmas e condicionamentos são imediatamente transformados aquando da leitura dos seus livros.
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Apercebo-me que há quem não goste, há quem se sinta desconfortável com as suas palavras. Eu deleito-me a cada frase. Pesquisei muito sobre Osho na internet e em todos os meios que pude encontrar. Sen grande vontade de o conhecer pessoalmente em “carne e osso”. Apercebo-me que Osho deixou o seu corpo em Janeiro de 1990. Estamos em Agosto de 2008. - Que timing perfeito! – pensei. Dezoito anos após ter deixado o seu corpo, estava eu a desejar conhecê-lo pessoalmente! Após os primeiros momentos de frustração terem sido ultrapassados, decidi ir pesquisar mais sobre Osho na internet. Durante algumas horas es ve nos mesmos sites onde já nha estado, a ver os mesmos videos que já nha visto até que encontro um video no Youtube que me surpreende.
CAPÍTULO II O MAIOR DOS GRANDES CISNES BRANCOS Osho nasceu em Kuchwada, Madhya Pradesh, Índia, a 11 de dezembro de 1931. Filho mais velho de um modesto vendedor de tecidos, passou os sete primeiros anos da sua infância com os avós, que lhe davam absoluta liberdade para fazer o que bem quisesse, apoiando as suas precoces e intensas inves gações sobre a verdade da vida. Desde cedo foi um espírito rebelde e independente, desafiando os dogmas religiosos, sociais e polí cos, e insis ndo em buscar a verdade por si mesmo, em vez de adquirir conhecimentos e crenças impingidos por outros.
Sua intensa busca espiritual chegou a afectar a sua saúde a ponto dos seus pais e amigos recearem que ele não vivesse por muito tempo. Após a morte do avô, Osho foi viver com os seus pais em Gadawara. Sua avó mudou-se para a mesma cidade, permanecendo como sua mais dedicada amiga até falecer em 1970, declarando-se como discípula do neto. 31
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Aos 21 anos de idade, no dia 21 de março de 1953, Osho realizou a sua iluminação. Disse, então, que sua biografia externa terminara. Nessa oportunidade comentou: “Não estou mais a buscar, a procurar por coisa alguma. A existência abriu todas as suas portas para mim. Também não posso dizer que pertenço à existência, porque sou simplesmente uma parte dela... Quando uma flor desabrocha, desabrocho com ela. Quando o Sol se levanta, levanto-me com ele. O ego em mim, o qual mantém as pessoas separadas, não está mais presente. Meu corpo é parte da natureza, meu ser é parte do todo. Não sou uma en dade separada.”
Osho formou-se em Filosofia na Universidade de Sagar, com as honras de “primeiro lugar”. Na época de estudante foi campeão nacional de debates na Índia. Em 1966, depois de nove anos limitado pela função de professor de Filosofia na Universidade de Jabalpur, abandonou o cargo e passou a viajar por todo o país, a dar palestras, a desafiar os líderes religiosos ortodoxos em debates públicos, desconcertando as crenças tradicionais e a chocar o «status quo».
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Em 1968, ainda com o seu primeiro nome espiritual, Bhagwan Shree Rajneesh, estabeleceu-se em Bombaim, onde morou e ensinou por alguns anos. Organizou regularmente «campos de meditação», onde introduziu a sua revolucionária Meditação Dinâmica.
Em 1974 inaugura o Ashram de Poona, e a sua influência já a nge o mundo inteiro. Ao mesmo tempo, a sua saúde começa a ficar seriamente frágil.
Osho recolhia-se cada vez mais à privacidade dos seus aposentos, aparecendo apenas duas vezes por dia para as suas palestras ma nais e à noite, em sessões de aconselhamento e iniciação. Em Maio de 1981, Osho parou de falar e iniciou uma fase de «comunhão silenciosa de coração-a-coração», enquanto o seu corpo, seriamente doente, com graves problemas de coluna, descansava. Tendo em vista a possibilidade de que fosse necessária uma cirurgia de emergência, Osho foi levado para os Estados Unidos. Seus discípulos americanos compraram um terreno no deserto do Oregon e convidaram-no a ir para lá, onde se recuperou rapidamente.
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Uma comuna logo se estabeleceu à sua volta, formando a cidade de Rajneeshpuram. Em outubro de 1984, Osho voltou a falar para pequenos grupos e, em julho de 1985, reiniciava seus discursos para milhares de buscadores, todas as manhãs.
Em Setembro de 1985, a secretária pessoal de Osho deixa a comuna, repen namente, seguida por vários membros da administração, vindo com isso à luz todo um conjunto de actos ilegais come dos por esse grupo. Osho convidou as autoridades americanas para que procedessem a todas as inves gações necessárias. Tirando proveito dessa oportunidade, as autoridades aceleraram sua luta contra a comuna. Em 29 de Outubro de 1985, Osho foi preso em Charlo e, Carolina do Norte, sem um mandato de prisão. Sua viagem de volta ao Oregon, onde seria julgado - normalmente um vôo de cinco horas - demorou doze dias. Por alguns dias ninguém soube do seu paradeiro. Em meados de Novembro, seus advogados aconselharam-no a confessar-se culpado por duas das trinta e quatro «violações de imigração» das quais era acusado, para evitar que sua vida corresse maiores riscos nas mãos do sistema jurídico americano. Osho concordou. Foi multado e obrigado a deixar os Estados Unidos, com retorno proibido pelos próximos cinco anos.
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Deixando o país no mesmo dia, Osho voou para a Índia em avião par cular, onde permaneceu em repouso nos Himalaias. Uma semana mais tarde, a comuna do Oregon resolveu dispersar-se. Nessa época, Osho enfrentou uma verdadeira «via crucis» para poder fixar-se num lugar, pois onde quer que tentasse estabelecer-se nha sua permanência negada pelas autoridades, por visível influência do governo norte-americano. Ao todo, vinte e um países expulsaram-no ou negaram o visto de entrada. Em Julho de 1986 Osho voltou a Bombaim, na Índia, onde ficou hospedado por seis meses na casa de um amigo indiano. Na privacidade da casa de seu anfitrião, ele retomou os seus discursos diários.
Em janeiro de 1987, mudou-se para o seu «ashram» em Poona, onde vivera a maior parte dos anos 70. Imediatamente após a sua chegada, o chefe de polícia de Poona ordenou-lhe que deixasse a cidade, sob a alegação de que era uma «pessoa controversa» que poderia «perturbar a tranquilidade da cidade». Tal ordem foi revogada no mesmo dia pelo Supremo Tribunal de Bombaim.
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No seu trabalho, Osho falou pra camente sobre todos os aspectos do desenvolvimento da consciência humana. Seus discursos para discípulos e buscadores de todo o mundo foram publicados em mais de seiscentos e cinquenta tulos e traduzidos para mais de trinta línguas. Ele diz: «A minha mensagem não é uma doutrina, não é uma filosofia. A minha mensagem é uma certa alquimía, uma ciência da transformação; assim, somente aqueles que estão dispostos a morrer como são e a renascer em algo tão novo que agora nem podem imaginar, somente essas poucas pessoas corajosas estarão prontas para me ouvir, porque isto será perigoso. Ouvir será o primeiro passo em direção ao renascimento. Por isso, a minha mensagem não é uma simples comunicação verbal. Ela é muito mais perigosa. Ela é nada menos do que a morte e o renascimento.»
De Sigmund Freud a Chuang Tzu, de George Gurdjieff a Buda, de Jesus Cristo a Rabindranath Tagore, Osho extraiu de cada um a essência do que é significa vo na busca espiritual do homem, baseando-se não apenas na compreensão intelectual, mas sim na sua própria experiência existencial. Osho deixou seu corpo em 19 de janeiro de 1990. Algumas semanas antes dessa data, foi-lhe perguntado o que aconteceria com seu trabalho quando ele par sse. Ele disse: «Minha confiança na existência é absoluta. Se houver alguma verdade naquilo que estou a dizer,
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isso irá sobreviver... As pessoas que permanecerem interessadas em meu trabalho irão simplesmente carregar a tocha, mas sem impor nada a ninguém...»
Osho é uma Luz provocadora dos sistemas ins tuídos, religiões organizadas e dogmas. Amado e acarinhado por muitos, odiado por outros tantos. É difícil não ter “inimigos” quando se diz a Verdade, quando se é a Verdade. Toda a sociedade investe e con nua a inves r, orgulhosamente, no seu conjunto de men ras que controlam a liberdade do ser humano, impedindo assim o seu florescimento enquanto Ser total, cria vo, livre, feliz e em paz. Tenho Consciência de que sou responsável por tudo aquilo que digo nos próximos capítulos deste livro. Apenas peço a vossa compreensão pela minha possível falta de Visão. Em nada sou diferente do leitor que lê agora estas palavras, por isso aquilo que digo pode estar errado. E concerteza estará, porque é impossível escrever ou exprimir por palavras a Realidade Absoluta, não que eu a tenha percepcionado... Osho é O Maior dos Grandes Cisnes Brancos que caminharam sobre esta Terra incrível. Mais uma vez a minha “falta de Visão” leva-me a comparar aquilo
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que é incomparável por natureza. Mas mesmo assim, insisto em trazer um pouco de “u litarismo” a um assunto tão vasto como a Existência em si. Parece-me haver uma grande falta de compreensão por parte de quem lê as palavras de Osho. Parece haver um grande desfasamento de compreensão entre quem olha para as palavras escritas em livro e quem as proferiu em melodiosos sons. Muitos dizem que suas palavras são contraditórias. E eu pergunto: e quem, neste mundo, não é contraditório?! - Sinto haver uma grande necessidade dos seres humanos em se “agarrarem” a verdades concretas, dogmá cas e nas quais as suas pequenas mentes se possam basear para definir a Vida. Mas a Vida não é definível. A mente pede-nos uma dis nção permanente: o que é bom e o que é mau? bonito e feio? alto e baixo? mulher e homem? esquerda e direita? religioso e não-religioso? - A mente, como um instrumento de organização e cálculo, é absolutamente fantástica e maravilhosa. Mas no que toca a compreender verdades mais profundas e existenciais, torna-se um empecilho.
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Esta situação não é de admirar, já que a mente é um instrumento limitado na dimensão do espaço/tempo, e querer compreender o imensurável através de um instrumento limitado apenas pode dar em erro e limitação. É esta a mente que nos pede para decidir entre “ou isto ou aquilo”, “ou um ou o outro”, “ou o bom ou o mau”. É esta a mente que nos impede de ver e percepcionar que na Verdade mais profunda e Existencial é possível escolhermos e sermos “isto e aquilo”, “um e o outro”, “o bom e o mau” ao mesmo tempo. Daí a grande dificuldade em compreendermos Osho. O Maior dos Grandes Cisnes Brancos fala das imensas al tudes existenciais, com uma profundeza absurda e incalculável, daí a dificuldade em compreendê-lo verdadeiramente.
A própria ciência explica-nos que o nosso ouvido percepciona apenas determinadas frequências de som. Mas também nos diz que as frequências por nós percepcionadas são uma parte infinitesimal daquilo a que se pode chamar de som. Esta mesma ciência diz-nos que o espectro de luz que os nossos olhos podem percepcionar, quando saudáveis, é infinitesimal em relação aquilo a que a ciência afirma ser luz e não-luz. Quais as conclusões que podemos re rar daqui?
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Eu re rei as minhas e deixo em aberto para que cada um possa ter as suas próprias. Parece-me que Osho foi e con nua a ser um dos grandes mal-amados da história. “Doces para crianças” parece ser aquilo que todos con nuamos a pedir.
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CAPÍTULO III SILENT SATSANG Após mais uma busca intensa sobre Osho na internet, deparo-me com os mesmos sites amigáveis e menos amigáveis que já conheço de trás para a frente e da frente para trás. Todos os Sannyasins de Osho que abrem um espaço de amor e informação sobre o seu mestre na internet e todos os que se lhe opõem acabam por ajudar, mesmo que inconscientemente. Toda a informação é ú l neste tempo, seja através da disponibilidade de textos do Mestre, de fotos, de discursos e videos ou de qualquer outra forma de informação. Todos os sites que se lhe opõem parecem-me ser de absoluta importância também. Aquilo a que chamo de “oposição”, são as pessoas ou en dades que manifestaram o seu desagrado de alguma forma. Não julgo quem tenha atacado Osho, não o posso fazer. Talvez não fosse o momento ideal para o compreender. De qualquer forma, toda esta oposição é bastante favorável no sen do de “filtrar” as pessoas que chegam até ao Mestre. Quem consegue ter o discernimento suficiente 43
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para conseguir ver e escolher aquilo com que se iden fica e que lhe faz bem, é de certa forma abençoado. Todo e qualquer Caminho no sen do de si mesmo é sempre perigoso. Todas as estruturas falsas precisam ser queimadas e deixadas para trás. Todos os recantos obscuros da nossa existência enquanto seres individuais precisam ser trazidos à luz. Sendo o Mestre apenas uma forma de reconhecer a morte do falso e a eternidade do verdadeiro, para chegar perto dum Mestre é preciso ter coragem. Assim é com Osho.
Con nuando a minha busca neste universo infinito de informação chamado internet, descubro um video no Youtube que se chama OshoRajneesh Silent SatSang (h p:// www.youtube.com/watch?v=XOKe_PZqYKE).
Neste momento sen um dos grandes choques da minha vida. Já ve imensas experiências intensas, mas esta foi única. O video mostra um homem com cabelos e barba longos ves do com um lunghi vermelho sentado numa cadeira. Os seus gestos suaves, com as mãos em forma de mudrá
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e presença forte, captam a minha atenção de forma hipnó ca. O meu estômago contrai-se e sinto-me cair num espaço desconhecido. O meu coração bate de forma rápida e emocionada. Sinto um suor frio por todo o corpo e quase não consigo sen r os pés em contacto com o chão. Assola-me uma tremenda urgência de saber mais sobre este estranho Ser, mas não consigo parar de ver este mesmo vídeo repe das vezes. O seu Ser parece preencher todas as par culas de ar daquela sala, com paredes de madeira, e banhar de êxtase silencioso todos os abençoados presentes. Por repe das vezes me sen presente naquele mesmo espaço onde estava a decorrer aquela experiência maravilhosa de profundo silêncio e comunhão. Não conseguia parar de ver aquele vídeo, uma eternidade pareceu passar. Sem ficar sa sfeito e com tremenda urgência vi todos os videos de Swami Rajneesh. Uma tarde e uma noite inteira passaram. Ao terminar a visualização de todos os vídeos fui caminhar um pouco para tentar digerir tudo o que nha sen do e absorvido naquelas horas em que me perdi. Por diversas vezes a minha mente dizia-me “Vê lá que ele pode ser apenas um charlatão”,
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ou “Atenção a essa gente que se faz passar por Mestre”. A mente baseava-se naquilo em que é forte, o medo. Era evidente que as suas feições e fisionomia me faziam lembrar Osho. O principal choque foi esse mesmo, a tremenda semelhança de Swami Rajneesh com Osho.
Aquelas imagens de um homem tão parecido com Osho não me saíam da cabeça. Sen que nha de o conhecer pessoalmente, o mais rápido possível. Pensei que Swami Rajneesh talvez vesse um website onde eu pudesse encontrar mais informação pessoal e conhecê-lo melhor. Pesquisei e encontrei. De novo o coração começa a bater forte e excitado, cheio de expecta va, como um menino que vai abrir um grande presente na noite de Natal. Parei por alguns momentos antes de clicar no link www.oshorajneesh.net que me dava acesso a tudo o que procurava. Respirei fundo e tentei acalmar-me. Cliquei e entrei.
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CAPÍTULO IV A SEMENTE E O SOLO FÉRTIL “O que é que eu quero fazer da minha vida?” esta foi uma das perguntas que me fez companhia durante a maior parte desta minha existência. Lembro-me que quando era criança gostava de brincar sozinho e criar o meu mundo. As brincadeiras com outras crianças deixavam-me numa situação dificil, nha sempre que ceder em certos aspectos e os meus amigos eram sempre muito barulhentos. Eu gostava de silêncio. Adorava “carrinhos” de brincar dos pequenos e dos grandes, tudo o que vesse rodas seria de grande interesse para mim. No chão de casa, nos tapetes e carpetes, criava cidades complexas, com ruas e edi cios, tudo na minha imaginação. Imaginava o percurso que os carros teriam que fazer nas ruas e se eventualmente tocassem ou batessem numa das paredes imaginadas por mim, teriam um acidente e isso daria argumento para outras tantas coisas. 49
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Após um acidente ou infracção das regras de trânsito a polícia era convidada a aparecer e um diálogo aconteceria entre o acidentado e os agentes da lei. Tudo isto imaginado por mim, claro!
A par r daí outras tantas brincadeiras foram-se desenvolvendo, cada vez mais complexas. Mas o que me lembro melhor e com mais clareza era dos momentos em que ficava em silêncio. Estes momentos eram estranhamente belos. Sen a-me bem quando estava sozinho e em silêncio a olhar pela janela e a ver a chuva a cair no jardim, ou o sol a entrar como raios de luz através das frinchas das persianas semi-abertas. Agradava-me pôr música e ficar a desfrutar, deitado, no chão ou no sofá enquanto viajava pelos meus sonhos. Gostava muito de me imaginar como sendo o músico que nha composto os meus temas preferidos e de ver-me actuar ao vivo para grandes assistências. Imaginava-me muitas vezes a tocar guitarra e a cantar, a saltar em cima dos sofás como se es vesse num palco. Era extasiante! Mais tarde, na adolescência, comecei a ganhar consciência da forma como o mundo funcionava. Lembro-me que mesmo enquanto criança sen a que a maior parte dos adultos
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com quem tomava conhecimento eram mecânicos e de certa forma falsos. Parece-me que as crianças aprendem muito imitando os mais adultos, e assim tem que ser, pois estão dependentes deles. Isto leva a que toda e qualquer criança tenha que aprender a ser cínica e falsa para que possa sobreviver num mundo de loucos. Aprender a viver num mundo de valores morais e ideais que todos proclamam aos sete ventos mas ninguém os vive realmente. Grande desafio! Grande farsa! Hilariante! – “Onde me vim eu meter?!” - pensava muitas vezes. Esta consciência intensificou-se na minha adolescência pois bastava olhar à minha volta para ver o quão errado a maior parte das pessoas vivia. Quando olhava para dentro de mim, apenas me sen a dividido e perdido, sem respostas. As respostas recebidas provinham de adultos tão ou mais perdidos que eu. Enquanto estudei, dificilmente encontrava um professor que realmente me inspirasse confiança ou respeito. Tive alguns, mas poucos. Evitava desenvolver uma relação de antagonismo com os professores mas, por vezes, ficava di cil. A idio ce era descomunal. Cheguei a ter à minha frente pessoas que se in tulavam de professores
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apenas porque lhes nha sido concedido um diploma e não por qualquer po de mestria que pudessem ter alcançado na vida. Era fácil perceber aqueles que sabiam o que estavam ali a fazer, que sabiam o porquê de estar a dar aulas. Era fácil, também, perceber quais eram aqueles que não. O medo que se vivia algumas gerações atrás na relação entre professor e aluno, ao qual chamavam “respeito”, quase deixou de exis r. ALELUIA!!! E ainda bem que assim é. Claro que isto trouxe imensos problemas. Um sistema arcaico e fé do, sem se basear no medo, dificilmente se mantém organizado e vivo. A humanidade evoluíu imenso nos úl mos cinquenta anos e assim nha que ser. O sistema de educação caducou e teve que evoluír. O problema nestas reformas é que quando se fazem obras apenas na fachada, o interior do edi cio con nua o mesmo, velho e mal-cheiroso. E assim é e con nua a ser o sistema de educação que temos. Funciona mal mas há quem tenha esperança que o reforço da autoridade dos professores venha a pôr mão neste comboio desgovernado que desce perigosamente uma ravina com o fim à vista. TRETAS!!! Mais cego é aquele que não quer ver. É imperioso que o sistema de educação passe por uma transformação absoluta.
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Não falo em mudanças, nem em revolução. Falo em Transformação Absoluta! Esta Transformação implica perceber e olhar para o que se está a passar neste preciso momento e deixar de o evitar como se, de repente, todo o problema se fosse evaporar. É preciso compreender que o mundo está como está devido ao “respeito” e aos sistemas em que se vivia algumas gerações antes. Descarto imediatamente qualquer tenta va de julgamento ou culpabilização de qualquer pessoa, governador ou professor, não é esse o meu intuito. O que é preciso é compreender que todo e qualquer sistema que desresponsabiliza e distrai o ser humano de se conhecer a si mesmo, leva à confusão em que vivemos hoje. O que é que pode impedir um ser humano de ser totalmente feliz e sen r-se realizado quando conhece as profundezas do Ser? Quem é que pode escravizar outro ser humano quando ele sabe intrinsecamente quem É? – Absolutamente nada nem ninguém! Mas este não é o sen do que têm dado à educação e o resultado está à vista.
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Qual será o resultado duma chamada “Humanidade” quando a tão importante disciplina à qual chamam História, se foca nas Grandes Guerras e conquistas de Imperadores megalómanos? Qual será o resultado quando focam essa mesma disciplina em homens como Hitler, Mussolini, Salazar e Estaline, e se esquecem de homens como Buda, Jesus, Lau Tzu e Bodhidharma? Já me disseram que a disciplina de História se foca nestes acontecimentos para que não se voltem a repe r os mesmos erros do passado. Mas esta resposta dá-me vontade de rir. Lembram-se do Iraque e do Afganistão? De George W. Bush e da Pales na? Da Coreia do Norte e da China? Eu lembro-me, ve História durante vários anos e con nuo a ver a mesma porcaria e irresponsabilidade. Passo a citar algumas palavras do livro “Lágrimas da Rosa Mís ca” de Swami Rajneesh: “História as estupidezes do passado relembradas com orgulho Geografia razões para a divisão da nossa única Terra em nações separadas
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Biologia tudo sobre tudo excepto nós mesmos e o nosso lugar na natureza
Quimica tudo sobre tudo, mas o que fazer com as nossas hormonas do medo e da ira? Matemá ca onde um mais um são dois mas nunca encaixa no nosso mundo real das contas Linguas onde tudo é conversa mais conversa e a linguagem do silêncio não é considerada comunicação” Swami Rajneesh em “Lágrimas da Rosa Mís ca
“O que é que eu quero fazer da minha vida?” con nuou a ser uma das perguntas presentes. Procurei as respostas em outras pessoas, professores e amigos. Tive imensas pessoas que me foram inspirando no Caminho. Uns apontavam numa direcção, outros noutra. Onde ir? O que fazer? Qual será o mais correcto? Somos todos uma semente prestes a germinar. Apenas temos que encontrar um solo fér l.
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