4 minute read

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL COM

A Escritora Rosa Maria Santos

mas não vale a pena, ele parece não ter emenda. O nosso pai vai dizendo que ele acalma quando crescer, que quando era menino, também era assim, mas… Cá por mim, não costumo ser muito curiosa, mas sinto uma certa vontade de saber algumas coisas. Diz-me, quem és tu e como conseguiste saltar pelo ecrã da televisão? Ele não está partido, pois não?

Advertisement

E, curiosa, pelo sim ou pelo não, aproximou-se da TV e com as suas pequeninas mãos começou a tateá-lo. E de repente, zás, enquanto o diabo esfregava um olho, viu-se a entrar ela mesmo no televisor pelo pequeno orifício ainda aberto à espera do retorno do velhinho.

- Guidinha- gritavam os irmãos em alta voz.

Mas era tarde, já não conseguiam ver Guidinha.

Logo, o velhinho segurou fortemente as mãozitas das outras três crianças e arrastou-as para o buraquinho, ainda aberto, à sua espera. E lá foram todos numa aventura para o desconhecido.

- Onde estará a GuidinhaPerguntava o bom velhinhoE a chorar, Mariazinha, Já procurava o caminho.

- Como dizer à Mãezinha? Que a mana desapareceu?

- Calma! – disse LuluzinhaCertamente, alguém a viu.

- Qual o caminho a seguir?

Teremos que a encontrar! E o velho disse a sorrir: Vamos, deve ali estar!

É o meu jardim em flor! Há fragâncias pelo ar, Uma dádiva de amor E a primavera a chegar.

- Ainda estamos em janeiro, Passa pouco do Natal, Só depois vem fevereiro Um mês muito especial.

O aniversário dela

Que vai ter lugar a festa, Guidinha vai ser a estrela, Não há festa como esta.

Saltemos este primeiro E outros meses de frio E depois, no ano inteiro, Sempre há novo desafio.

O tempo ia-se passando e ei-los em fevereiro. Foi então que encontraram a Guidinha a brincar com dois gatinhos fofos que não se cansavam de ronronar à sua volta.

- Como era bom se também pudéssemos brincar com eles! Que paisagem maravilhosa! Luluzinha e Marquito correram pelo caminho estreito, um pouco escorregadio pelas geadas de fevereiro. Estava frio e caía a neve, mas as crianças nem o sentiam. Imaginavam que do outro lado do mundo havia lugares em que abundava o calor.

Foi então que o velhinho lhes disse:

- Deem as mãos e mão as soltem, vou-vos levar a dar uma volta pelo mundo, a percorrer os doze meses do ano.

- Lá vamos nesta viagem, Crianças, deem as mãos, Precisamos de coragem Para aprender a lição.

Coisas bonitas vão ver, Outras, vos farão pensar, O melhor é aprender Porque as coisas vão mudar.

Co’a terra a ficar doente, As consequências a chegar, Porque um muito prepotente Vai tudo isto alterar.

Mas vós, presente e futuro, Ouvi com muita atenção, Vosso coração tão puro Pode ser a solução.

De mãozinhas apertadas, Com muito, muito labor, Fareis com pequenos nadas Um mundo cheio de amor.

Espalhareis alegria

E muita compreensão

E ao nascer de um novo dia Vence a força da razão.

E ei-los a voar pelas alturas a contemplar a beleza das paisagens. Aqui e ali, zonas devastadas pela guerra pelo poder e a ganância dos senhores do mundo, crianças que choram com medo, fome, sede e frio, quiçá, sem família, abandonadas.

Aqui e ali um jardim em flor, o sol que brilha, campos e vales verdejantes… e outras crianças que sorriem alegres, livres para apreciar tal dádiva dos céus.

De repente, uma negra nuvem descarrega no solo águas poluídas sobre jardins e pomares, animais que correm assustados, espavoridos…. e tudo ficou cinzento e sem cor, sem vida.

Ouve-se um estridente grito. Era Guidinha, que quase largava as mãos do velhinho e do pequeno Marquito, que chorava sem conseguir conter as lágrimas. Cada bágoa derramada, carregadas com amor e de ternura, regenerava, agora toda aquela devastação… e de novo surgiu a paisagem imaculada sob o olhar daquelas crianças tão puras.

Continuaram a sua viagem e logo avistaram o oceano, aquela vastidão de água muito azul, cujos peixes saltitavam contentes. Pareceu-lhes ver ao longe uma sereia que galgava o oceano e lhes acenava tão feliz.

- O que é aquilo ali? - perguntou Ritinha, apontando na direção dum enorme petroleiro que, ancorado em pleno mar, derramava sobre ele toneladas de petróleo bruto, enquanto lavavam despreocupados os porões do navio. E logo o mar se transformou num enorme charco emporcalhado. Peixes, focas e animais marinhos vinham à superfície em busca de socorro, socorro que não mais iriam encontrar. E os seus corpos jaziam agora sobre as negras e poluídas águas. Guidinha olhou o velhinho e perguntou?

– Quem és tu homem velhinho? Porque nos fazes ver coisas que eram lindas transformarem-se num espaço triste e moribundo?

- Não sou mais do que o tempo, meus queridos.

- Sei que somos ainda crianças, sei que o futuro estás nas nossas mãos, mas quando chegarmos à idade adulta, o que poderemos fazer se nos entregarem o Planeta Terra arruinado, quase sem vida?

- Antes de vos poder responder, vamos descer. Então, vos direi o que tendes a fazer, como proceder para tentar remediar tamanhos estragos, agora, parte do vosso quotidiano.

Quando chegaram ao solo, viram-se de novo no seu lar, onde a avó Francisca continuava a observar o jardim, a mãe continuava na azafama da cozinha, o pequeno Julinho dormia, tudo voltava ao normal, como se o tempo não tivesse passado. Então, o velhinho fixou os seus olhos e disparou:

- Eu sou o tempo, um ano prestes a findar, a dar lugar a novo período, mais jovem e que nasce cheio de esperança. É assim cada ano que chega. No entanto, cada dia que passa, cresce a arrogância, a ganância… e o planeta Terra a este ritmo, não vai aguentar muito tempo. De tudo o que vos disse, tentem lembrar-se e comecem a mudança, hoje. Olhem ao redor e quando bateram as doze badaladas, é a vossa vez de agir. Gritem, alertem, exijam e mostrem aos que vivem ao redor que o planeta é também vosso.

Façam deste ano um ano mais alegre e feliz. A vida começa agora. Se o meu percurso foi pesaroso e triste, esqueçam-no, que seja um incentivo a que este seja melhor. Que a Esperança possa raiar em cada um de vós e que possam ser um estimulo para que o amanhã seja para todos mais risonho e feliz...

As crianças entreolhavam-se com espanto mas do seu olhar transparecia uma réstia de esperança.

Levantaram-se, dirigiram-se à cozinha e beijaram a mãe que, feliz e surpreendida, os abraçou com ternura.

A Campainha tocou.

- Mãezinha, disse Guidinha - vou abrir a porta, devem ser os nossos primos e tios que chegaram. E eram mesmo. Logo, a criançada trocou sorrisos e abraços. E logo Guidinha começou a falar-lhes sobre os seus planos para o novo ano, manifestando a sua grande esperança para ele, e manifestando o propósito de, com o apoio de todos, transformar o tempo que então se abrir em momentos de felicidade, durante o qual todos haveriam de envidar esforços para que a terra que nos rodeia se transforme num lugar aprazível, onde possa prevalecer a esperança, a paz e o amor.

This article is from: