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PARTICIPAÇÃO ESPECIAL COM

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Marcelo Brambilla

Marcelo Brambilla

A Escritora Cristina Cimminiello

A carta

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- Paulo o que é isso? Nos conhecemos a tantos anos e você está me olhando como se eu estivesse com uma doença contagiosa. Tudo isso por curiosidade?

- Você está enganada Laura, estou preocupado com você. Sei quem mandou a carta e o quanto ele a fez sofrer. Por isso estou aqui esperando-a para saber o que ele quer agora.

Laura respirou fundo e disse calmamente:

- Explicar porque me deixou naquela noite.

- Depois de todo esse tempo? Você não vai aceitar as explicações dele vai?

- Paulo eu nem terminei de falar, o que há com você?

- Você não percebe não é? Eu estou aqui todos os dias a sua espera e você não me vê. Procuro você em todos os lugares e você não consegue me enxergar não é mesmo? Sou um idiota, com certeza você vai aceitar as explicações e recebê-lo de volta.

Laura olhava-o boquiaberta:

- Por que você nunca me falou dos seus sentimentos? Sempre me fez acreditar que não queria compromisso. Agora me acusa de não entendê-lo? Tudo por causa de uma carta que você nem sabe o que contém?

- Laura eu amo você há muito tempo. Sempre tive medo de revelar-lhe meus sentimentos por medo de ser rejeitado. Sei o quanto ele era importante para você.

- Então se eu não tivesse recebido aquela carta você jamais se declararia?

Paulo sentiu-se ruborizar e apenas sacudiu a cabeça.

- Meu Deus Paulo, quanto tempo perdido. Estamos juntos praticamente todos os dias e separados por uma dúvida sua. Você devia confiar mais em si mesmo e entender que uma carta muitas vezes serve apenas para solucionar um vazio do passado. Uma situação não resolvida. Nada além disso.

- Laura me sinto um adolescente pego numa travessura. Por favor me dê uma nova chance, me permita amá-la como eu sempre sonhei.

- Com uma condição.

- Todas as que você impuser.

- Nunca mais falaremos sobre o passado.

Paulo sorriu e beijou-a ternamente. Abraçados seguiram para mais um dia de trabalho, enquanto a carta permanecia fechada dentro da bolsa de Laura.

Participa O Especial Com O Escritor Roberto Mello

Duelo

A tristeza, a amargura, o vazio, compõem o manto da insatisfação que o cavaleiro solitário arrasta ao longo do seu dia a dia. A jornada que lhe fora atribuída transforma segundos em horas fatídicas e penosas que assaltam, sem piedade, seu espírito, sua alma, seu eu.

Que este sonho faça-se materializar; Que minha vida torne a agradar.

Agora, apenas o silêncio e o vento. Seu olhar de abandono torna-se caçador ao ouvir uma réplica a ecoar entre as robustas árvores.

Qual encantamento admoesta teu nobre coração, cavaleiro das sombras?

Ele olha ao redor; conclui como algo imaginário e insiste:

A solidão proveniente de guerras Arrebata sentimentos de outrora

Transformando sonhos em secas terras Sem o sabor doce de uma ardente aurora.

Atento a alguma resposta, nada escuta. Seus olhos procuram por algo indescritível, entretanto, constata a inexistência de qualquer vida próxima a ele. E replica:

Vejo o horizonte resplandecer a minha frente Nada posso fazer, também nada a negar Entristecido dessa vida; torno-me ausente, Até mesmo ao modo de respirar.

Participa O Especial Com O Escritor Roberto Mello

Finaliza com suspiro. Uma e outra lágrima desliza pelas cicatrizes profundas em seu rosto. E ouve a voz majestosa que responde: Insatisfação tenaz arrebata tua alma Duelas perdido como um nada Questiona a si e porque te calas? Imploras ajuda sem nenhuma calma. Aquiete teu coração, nobre cavaleiro das sombras! Aceite teu duelo com mansidão Desfrute do instante com a razão Sem se perder pela emoção.

O cavaleiro se acomoda junto ao poderoso carvalho que desenha sombras em seu entorno. Então, o guerreiro já cansado pelas infinitas labutas e contendas, se harmoniza com a delicada brisa que o acaricia junto à face.

Agora, ele de olhos cerrados e aparência descontraída, transmite a ideia de que a própria alma aproveita o ensejo e se desnuda diante do frescor sublime que o acalenta.

O minuto torna-se infinito ao som de lindas melodias de pássaros que habitam naquelas folhagens. Após vagar pelos labirintos secretos do próprio eu, ele se ergue, se afasta um pouco daquela nobre árvore, abre os braços, levanta a cabeça com o olhar fixo na direção do céu e pergunta:

Quem argumenta aos meus questionamentos? Quem propõe tal prerrogativa para minha recusa? Quem discorda sem tentar me entender? Quem propõe aceitação ao meu dia a dia?

Ao pronunciar tais palavras, ajoelha-se.

A seguir, encosta sua testa à terra coberta de folhas secas. Alguns segundos depois, estende seus braços. As mãos mergulham naquele profundo tapete floral que ali repousa. Folha a folha, os dedos as resgatam apertando-as com força.

Finalmente, desabafa um grito de pavor e revolta que ecoa em todas as direções.

Alguns segundos de silêncio.

Permanece atento ao mínimo som. E nada ouve. E nada enxerga além do seu campo visual. Ergue-se, ajeita sua espada e segue em direção ao seu fiel companheiro.

Seu corcel negro com olhar tímido e humilde apenas o observa.

O homem valoroso se aproxima do belo animal, toma-o pela rédea e começa a lhe fazer afagos. Nisso, atenta para as dicções que invadem de forma abrupta sua zona de conforto.

Encontrarás em teu grito a possível solução às tuas questões?

Então, resolutamente afirmo:

Fadigar-te-á diante de tal indecisão

Teu crepúsculo inibirá tua ação

Revoltado causará intriga ao teu nobre coração.

Perdes tempo reclamando ao teu dia a dia Tua nobreza é medida pela sua irritação

Aceite suas batalhas com toda sua energia

E assim, na brevidade de um instante, ouvirás uma suntuosa canção.

O cavaleiro atribulado pelas vozes que adentram sua humilde consciência, fita o horizonte arbustivo em posição contemplativa e profere:

E quem escuta minhas indagações?

E quem analisa meus lamentos?

E quem responde com palavras apaziguadoras?

E se vós, que solenemente afirmas dessa maneira, Então, desconheces meus duelos secretos ornados pelas falsas verdades.

Ele, inquieto, anda em círculos e observa a origem das respostas. Sem exalar qualquer suspiro profundo, evita o pisar sobre as folhas secas que repousam a sua volta.

Procura total silencio desejando captar a origem de seu desafiador.

Ainda com os olhos abrilhantados, busca compreensão visual que justifique tamanha experiência.

Tem ciência de algumas Leis do Universo, contudo carrega indagações quanto à constatação. Enquanto aguarda a voz argumentadora, andarilha no traçado da figura geométrica imaginária sobre as folhas.

O registro de suas pegadas aflora um círculo.

Desembainha sua espada com a mão direita, coloca a ponta no centro do círculo. Logo depois, traça uma linha do centro até a borda demarcatória do limite da circunferência por ele criada com os pés. A seguir, aviva a envoltória da circunferência. Nisso, percebe o raio do círculo. Ele se admira com a figura que resplandece diante de seus olhos. Ainda assim, fita ao seu redor demonstrando curiosidade em saber quem o revidara. Então, prossegue com outros verbetes.

Aqui estou ao centro deste círculo

Envolvido em meus questionamentos

E sem respostas do meu Eu.

Assim sendo, encontrar-me-ei no limite da visão interna, E ouvirei respostas que tanto procuro

Para ultrapassar o limite de minha limitação.

Desconheço a fundo, a insondável profundidade de minha alma. Será um corredor sombrio como ponte?

E ao atravessá-la?

Libertar-me-ei dos pesadelos que me açoitam?

E outra resposta: Engana-te cavaleiro por tal conclusão. Busca compreensão sem nenhuma devoção

A tua mente conclui por fatos do imaginário Sem ao menos perceber ou entender Que estás preso a própria indagação.

E assim, ele conclui: Sendo de bom grado, continuarei minha jornada sob outra visão. Ele ajusta a sela do seu corcel, segura a rédea, monta e retoma a cavalgar em direção ao Leste.

Depois de cerca de 50 anos afastado do teatro, Dimas Oliveira, jornalista, memorialista e especialista em cinema, voltou aos palcos em 2022. Ele se integrou ao Movimento de Artes Aprisco (Maap) e agora faz teatro cristão.

Primeiro, em parceria com Paty Brito, Dimas fez uma adaptação da passagem do Evangelho de João que trata da Sant Ceia com “Um Grão de Trigo”, peça teatral em dois atos, levada ao palco da Aprisco Church, na noite do Domingo de Páscoa, 17 de abril. Dirigido por Paty Brito, Dimas interpretou Judas, contracenando com Nei Nascimento (Jesus) e outros 11 intérpretes dos apóstolos.

A encenação da Santa Ceia, relevante na montagem do momento emocionante e enlevante da vida de Cristo com seus discípulos, superou todas as expectativas do público que lotou o espaço. Foi um memorial da Ceia do Senhor para que a Igreja recorde continuamente o sacrifício vicário de Cristo na cruz em favor de todos.

Um grão de trigo é apenas um grão de trigo. Mas, assim como Jesus o grão de trigo quando cai na terra necessita primeiro morrer para depois gerar a vida que abençoará a quem dele comer. Sem a morte do trigo não existirá a vida.

Participa O Especial Com O Escritor Dimas Oliveira

Dimas Oliveira nas veredas do teatro cristão

Segundo a diretora Paty Brito, a encenação teve como objetivo reproduzir um momento da vida de Cristo com seus discípulos, a Santa Ceia. “Traz o entendimento de que o plano da salvação é através de Jesus, para todos aqueles que creem em seu nome possam ser salvos e ter um novo nascimento, uma nova vida”.

Depois, Dimas Oliveira atuou como narrador da peça “O Peregrino: O Destino Final”, texto de Matheus Moura, adaptado do clássico da literatura cristã, “O Peregrino”, de John Bunyan, escrito há mais de 130 anos, em 1890, que foi encenada uma semana antes do Natal, na Aprisco Church, em 18 de dezembro de 2022. O próprio Matheus Moura protagoniza o personagem Cristão.

Com essa peça, depois do monólogo “Cristão”, apresentado em março, e de “O Caminho do Peregrino”, em junho, a trilogia se completou.

A peça sintetiza sobre o caminho da salvação, que é estreito e difícil. É a história de Cristão, um homem em necessidade que entendeu que precisa de Nosso Senhor Jesus para transformar sua vida.

Assim, uma alegoria da vida de um peregrino, personagem que enfrenta uma caminhada da Ci- dade da Destruição para a Cidade Celestial em trajetória de perigos e maldades e também de esperança e boa vontade.

Para este novo ano, Dimas Oliveira pretende adaptar a parábola d’O Filho Pródigo, contida no livro de Lucas 15: 11 a 32.

Era uma vez Geraldo Lima, autor do livro “O Teatro em Feira de Santana”, lançado em 25 de setembro de 2015, foi quem incentivou Dimas Oliveira a participar do movimento teatral de Feira de Santana. Corria o ano de 1967, mesmo período em que ele começou a escrever sobre cinema para o jornal “Situação” - colunas publicadas até 1970 compõem o livro “cinema demais” de sua autoria, lançado em 2014.

Primeiro, ele acompanhou os ensaios de “Só o Faraó Tem Alma”, de Silveira Sampaio, direção de Raymundo Pinto, com Antonia Veloso, Antonio Brasilino, José Carlos Teixeira, Luciano Ribeiro, Gilberto Duarte e Geraldo Lima. Fez parte do coro, que em voz-off dizia em várias cenas: “Nós queremos almas, nós queremos almas”. Foi encenada em março daquele ano no palco do Cine Santanópolis.

Ainda em 1967, participou como contra-regra da peça infantil “Dona Patinha Vai Ser Miss”, de

Artur Maia, encenada pelo Meta-Scafs, com direção de Deolindo Checcucci, e elenco formado por Antonia Veloso, Aliomar Simas, Alvaceli Silva, Marcus Superbus, entre outros.

Naquele mesmo ano, foi sonoplasta da encenação de “Os Justos”; do argelino Albert Camus, no palco da Rádio Cultura. Com os dedos fazia o som das patas de cavalos de uma carruagem que chegava.

1967 foi um ano profícuo em montagens do Meta-Scafs, que também montou do pernambucano Nelson Rodrigues a peça “Viúva, Porém Honesta”, com direção de Nemésio Garcia, na qual Dimas Oliveira fez o personagem Dr. Lambreta, contracenando ao lado de nomes como os de Mary Barbosa, Gildarte Ramos, Alvaceli Silva, Letícia Regia, Geraldo Lima, mais os falecidos Aliomar Simas, Egberto Costa e Luiz Artur.

Com direção de Antonio Miranda, chegou a ensaiar a peça infantil “O Patinho Preto”, como o Pato Amarelo. Quando Hosannah Leite substituiu Miranda nos ensaios ele acabou saindo da montagem. A peça foi encenada no Cine Santanópolis.

Outra peça infantil, que ele atuou na parte técnica foi “A Árvore Que Andava”, de Oscar Von Pfuhl, direção de Antonio Miranda, encenada no Cine Santanópolis em novembro de 1968, com Luciano Ribeiro, Leticia Régia, Geraldo Lima, Aliomar Simas e Luiz Artur.

Em 29 de janeiro de 1971, participou do elenco da peça “Cleóputo”, de Antonio Miranda, que inaugurou o Teatro Margarida Ribeiro, na rua Carlos Gomes, ao lado de Mary Barbosa, Aliomar Simas, Geraldo Lima, José Brandão e Naron Vasconcelos. No mesmo ano, em setembro, estava no elenco da peça que fechou o espaço, “Ezuma”, também inventado por Antonio Miranda, junto com Geraldo Lima, Ideval Alves, Naron Vasconcelos, Renato Silvestre e outros. Foi o último espetáculo a ser apresentado no local, na noite de um domingo. Na segunda-feira seguinte, o teto do espaço estava no chão.

Em 1975, Dimas dirigiu a peça infantil “Margarida do Castelo”, de Nilda Maria Quadros, para o Grupo de Arte Teatral do Sesi (Gart-Sesi), encenada em espaço do Centro João Marinho Falcão, no Cruzeiro. No elenco, Cezar Ubaldo, Loide Augusta, Maria Luiza Mascarenhas, Antonio Cerqueira, Luís Aguiar e Ruth Gusmão.

No mesmo período, também dirigiu e atuou na peça “O Hóspede Esperado”, encenada na Igreja Presbiteriana. Foi sua primeira participação no teatro cristão.

Ainda com relação ao teatro, ele escreveu textos de apresentação - ou não - em programas de várias peças. Também foi bilheteiro, porteiro e carregou cenário do local de ensaio, a Escola de Música, para local de apresentação, o Cine Santanópolis.

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