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Pelos trilhos do Orgulho
Chegou o Outono. Os pássaros entram num silêncio devastador, as folhas caem, as árvores ficam despidas. Também eu, chegada ao Outono da minha vida, sinto-me como a estação do ano. Outono feita de pele, me calo; em mim caem ideias pré-concebidas como se de folhas se tratassem e, qual árvore, dispo-me de sentimentos inúteis, que só me desgastam. Um deles é o orgulho, que se instala nas nossas vidas como um intruso que, apesar de não ser convidado a entrar, se recusa a sair.
Vivemos a vida almejando algo: ter algo, comprar algo, vender algo, SER algo. Porém, tantas vezes nesta curta vida os nossos planos e objetivos são desmoronados pelo orgulho. É ele que, vezes a fio, nos proíbe ou coíbe de fazer o que queremos. É ele que amiúde trava as palavras que gostaríamos de dizer a alguém que magoamos. Mas também é ele que não nos deixa aceitar o pedido de desculpas daquela pessoa que tanto estimamos e que já significou muito na nossa vida. Ele é a prevalência da razão em detrimento do coração.
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Por orgulho, tantas famílias estão desfeitas, tantos casamentos foram destruídos, tantos amores
“O orgulho devora a si mesmo” William Shakespeare afastados… Do mesmo modo, por orgulho, alguns familiares digladiam-se por um pedaço de terra, como se os terrenos fossem mais valiosos do que a própria vida; os amigos deixam de o ser; os colegas optam por afastar-se.
Indubitavelmente, o orgulho faz parte da natureza humana, assim como a persistência no mesmo. É ele que impede que, por vezes, a pessoa admita os seus próprios erros. É esse mesmo sentimento que obstrui o pedido de ajuda ou até a aceitação da mesma.
Quantas vezes a nossa mente nos indica o caminho para mudarmos de atitude e perante a situação nos calamos, nos aquietamos e não permitimos mudar? Nessa não-atitude reside o crescimento da nossa angústia e da nossa amargura.
“
Mea culpa”, penso. Mas será a culpa apenas minha? Queremos procurá-la dentro de nós quando em certas situações ela está no Outro e não no Eu.
Gastamos o tempo inutilmente, com frivolidades, com vaidades, com egoísmos e mesmo quando achamos que estamos a aproveitá-lo nem sempre o fazemos. Damos valor ao materialismo, à aquisição de bens e propriedades, quando, afinal, um dia partimos e o que era nosso por direito deixa de o ser. Descuramos tanto na vida em prol do orgulho!
Com o passar do tempo, com a experiência da vida e as vivências que esta nos proporciona, por um lado, vamos aprendendo que de nada serve impor a nossa vontade ao outro e que é cansativo ser orgulhoso o tempo todo. Por outro lado, concluímos que a vida é curta para tanto orgulho e que a nossa passagem terrena deve servir para aprendermos a sermos nós sem estarmos na sombra de quem nos rodeia, para aprendermos na tentativa de melhorarmos a nós e aos outros no perdão; para aprendermos que devemos crescer na aceitação do que não podemos mudar. Hoje, neste outono da minha vida, vivo no desapego de situações que não me acrescentam nada e, apesar de acarretar comigo sentimentos de vazio, difíceis de preencher, o vaticínio é de que, com a ajuda do tempo, esses serão ocupados pela calma. Após ter percorrido os trilhos do orgulho e ter tentado lutar contra ele, pergunto “Valerá a pena preencher o coração com um sentimento tão egoísta?”.