Especial SANGUE E TINTA Roberto, o caçula, sucedeu Otto nas técnicas originais
DOMINGO, 18 DE DEZEMBRO DE 2011
A CIDADE
JOYCE CURY / A CIDADE
Os Grassmann viram família de impressão As doenças dos irmãos influenciaram a produção do artista, que se incumbiu de inserir todos na área SIMEI MORAIS simei@jornalacidade.com.br
DOCUMENTO
Em Santo Amaro, os Grassmann se instalaram em quatro casas ligadas, na mesma área. O único cômodo emque os parentes não circulavam era o ateliê. Marcello já era o timoneiro da família, recorda Roberto. Era ele quem buscava tratamento para os três irmãos tuberculosos, entre os médicos que conhecia das galerias de arte. “Era nosso apoio. Quando havia algum problema na família, era nossa muleta”, declara. Grassmann não suportou, porém, a morte dos irmãos. Nesses anos em que os perdeu, produziu intensamente seus famosos monstros, que prefere chamar de interseres: meio homens, meio animais, meio bestas-feras. Doenças viraram uma de suas obsessões. Ao enterrar os irmãos, o gravurista começou a carregar um termômetro no bolso do paletó, já que não prescindia mais do agasalho. Passou a estudar compêndios de medicina, a ponto de competir no diagnóstico com seus médicos. É comum amigos chamarem-no, ao telefone, de “doutor.” Ele refuta, entretanto, a alcunha de hipocondríaco, que, para ele, é quem escuta sobre uma enfermidade e pensa que a possui. “Eu sou autopesquisador”, diferencia-se. Irmão é mestre A família toda orbitava em torno de Marcello. Roberto conta que todos se envolveram no projeto dele de se tornar artista. Como nesse mercado a entrada de renda nem sempre é constante, a mãe, dona Elpídia, segurava as pontas com o ordenado de professora, no começo da carreira dele. “Era uma santa”, diz o caçula. Otto, um dos irmãos, que tinha o mesmo nome do pai, foi seu impressor até morrer do coração, em 1969. Foi então que Roberto, hoje com 78 anos, deixou o emprego de técnico em eletrônica numa grande empresa para assumir a prensa, que nunca havia manejado. Ao ensinar o mais novo, Marcello e o irmão acabaram desenvolvendo técnicas e instrumentos inexistentes no país, que ampliaram ainda mais a fama da família no meio das artes.
Depois de perder os irmãos, a morte virou uma obsessão para Marcello Grassmann. E também as doenças e as figuras deformadas, meio homens, meio animais.
Até hoje Grassmann se sente responsável pela suposta má escolha que o caçula fez, sob o ponto de vista financeiro, apesar de Roberto ter se revelado um meticuloso profissional. É tido no país, hoje, como o mestre da impressão.
“Marcello era o timoneiro da família. Era nosso apoio. Quando havia algum problema na família, era ele quem resolvia”
LEIA MAIS NAS PÁGINAS E4 A E8
Impressor e 1º modelo de Marcello
Roberto Grassmann
E3
MESTRES Enquanto Marcello é o ícone da gravura, Roberto virou referência na técnica da impressão