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A CIDADE

DOMINGO, 18 DE MARÇO DE 2012

Especial

CONHECIMENTO EM SÉRIE Voltarelli apostou em Couri, jovem doutorando que entrou para a história da medicina no tratamento de diabet

Os novos cientistas que ‘voam’ com o pre Voltarelli teve a ideia que ninguém mais pensou e cooptou Couri, então com 27 anos, para o desafio SIMEI MORAIS simei@jornalacidade.com.br

MEDICINA

Em 2003, Júlio Voltarelli teve uma ideia. Mas era algo que ninguém havia pensado, apesar de seguir uma lógica que outros pesquisadores, como seu colega americano Richard Burt, já dominavam: o “reset” no sistema imunológico. Voltarelli tinha relação profissional intensa com Burt, da Northwestern University, em Chicago, que fazia o reset em pacientes com várias doenças autoimunes, como lúpus e esclerose sistêmica. O raciocínio em todos esses procedimentos era o de atacar o sistema imunológico, que, “rebelado”, provocava a doença no próprio organismo. Zerando-o, eles poderiam inserir células-tronco, reiniciando a “máquina.” O professor da USP queria usar tal procedimento numa doença de alta prevalência, conta o endocrinologista Carlos Eduardo Couri, do HC-RP. 60 ANOS

À época, Couri era um jovem cientista de 27 anos, terminando o doutorado. “O Voltarelli chegou em mim e perguntou ‘você topa tocar a parte de endocrinologia?’,” recorda. Mineiro prosador que se encaminhou para endocrinologia por ter acompanhado o pai diabético, Couri diz que nunca havia imaginado que, um dia, tiraria a insulina de um paciente. “É graças a ela que o diabético sobrevive,” compara. Entre 2003 e 2004, a equipe fez o TCT em 25 portadores de diabetes tipo 1. Primeiro, eles receberam drogas que, em três dias, liberam na rede sanguínea as células hematopoéticas, que desenvolvem sangue. De cada um, se retirou meio litro de plasma com as células-tronco (CT) para serem congeladas. Em seguida, cada paciente recebeu altas doses de quimioterapia por cinco dias, para zerar o sistema imunológico. A partir desse estágio, recebiam, na veia, as hematopoéticas. O processo dura um mês. “Isso não muda o DNA da pessoa, mas ela ganha um novo sistema imunológico, sem vícios”, explica. Vinte e um deixaram a insulina. Alguns voltaram a usá-la meses depois, mas bem menos que as habituais três injeções diárias. Após a publicação dos resultados, Argentina, Polô-

ESPERTEZA Couri, na unidade de TCT, no HC: “fomos tenazes em usar uma técnica conhecida com uma doença ainda não explorada.”

nia e China começaram a replicar o procedimento, também com sucesso. Em 2011, Voltarelli conseguiu autorização do FDA (Food and Drug Administration) para repetir a pesquisa nos Estados Unidos. Essa segunda etapa ocorrerá também no Brasil e na Fran-

ça, coordenada pela equipe ribeirão-pretana. “A grande maioria dos protocolos vêm desses países para fazermos aqui. Dessa vez, eles vão seguir um protocolo a partir de um raciocínio nosso, brasileiro”, comemora Couri. Nessa fase, 50 diabéticos vão participar, porém, com

quimioterapia mais agressiva. “Achamos que o reset deixou escapar algumas células do ‘bando ruim’, [que deturpou novamente o sistema],” expõe. O primeiro a se submeter, um maranhense de 35 anos, já está sem insulina há quatro meses.

LIVRES

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se livraram ou reduziram insulina, após o 1º TCT do mundo em diabetes tipo 1


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