Especial Marcello Grassmann_Pág6_A Cidade_18/12/11

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A CIDADE

Especial

DOMINGO, 18 DE DEZEMBRO DE 2011

LINHA DA VIDA São Simão SP - 23 de setembro

Rio de Janeiro RJ - Aconselhado por Goeldi, frequenta curso de gravura em metal com Henrique Oswald no Liceu de Artes e Ofícios e estuda litografia com Poty Lazzarotto

Gravador, desenhista, ilustrador, escultor, professor

S.D. - É membro da Comissão Nacio de Belas Artes. Ex-membro do Cons Artístico do MAM/SP

Viena (Áustria) - Cursa litografia na Academia de Artes Aplicadas e frequenta a Academia Albertina e outras casas de cultura europeia

São Paulo SP - Aos 12 anos, descobre as histórias em quadrinhos e ilustrações de Gustave Doré São Paulo SP - Frequenta os cursos de fundição, mecânica e entalhe em madeira no Instituto Profissional Masculino (Escola Técnica Getúlio Vargas)

Viena (Áustria) - Conhece Alfred Kubin, com quem mantém correspondência São Paulo SP - É bolsista da Fundação Vitae na área de artes visuais

São Paulo SP - Passa a se interessar pelo desenho e, e especial, pela xilogravura

São Paulo SP - Trabalha ilustrador do Suplemento Literário do Diário de Sã Paulo, dirigido por Geral Ferraz, com textos de Pa Rio de Janeiro RJ - Realiza ilustração para O Jornal

SEMPRE FECHADO O processo de produção de Grassmann é debruçar

Para muitos, é o maio Crítico da mídia superficial e da cultura rasa, ele sempre esteve longe dos holofotes SIMEI MORAIS simei@jornalacidade.com.br

DOCUMENTO

Como sedutores têm seus meandros, Grassmann não é uma figura linear. É cheio de reentrâncias, tal como os encavos que faz no metal para tirar suas complexas gravuras. Considerado por alguns críticos o maior artista plástico brasileiro vivo, mítico até, parece manter essa aura ao se esquivar de entrevistadores. Possui tanto um crivo apertado sobre a qualidade do jornalismo contemporâneo quanto um posicionamento de que artista não precisa de exibicionismo. Por fora, corre ainda a pecha de personagem “difícil”, inclusive no meio acadêmico. Léon Kossovitch o conheceu quando foi chamado para a rejeitada tarefa de mediar uma mesa com ele sobre o gravurista Oswaldo Goeldi, em 1995. “Nenhum professor queria”, lembra, às gargalhadas. No evento, Grassmann não respondeu ao que os organizadores queriam e divagou nas anedotas envolvendo os dois artistas. Em compensação, ele e Kossovitch travaram uma amizade quase de infância. O professor é um dos poucos com quem ele fala frequentemente. Grassmann não gosta nem de ficar de conversa com os ainda vivos de sua geração. O problema, explica, é que falam apenas de enfermidades e problemas de velhice. Produção No seu bunker da Consolação, Grassmann continua produzindo, apesar de ter doado a maior parte de seu ateliê a Zizi. A sala comprida do apartamento é repleta de buris, pigmentos, agulhas e desenhos espalhados sobre duas grandes mesas de madeira - uma delas feita por um de seus irmãos, marceneiro como o avô Martin, que tinha serralheria e marcenaria, em São Simão. Foi Martin, aliás, quem construiu o cineteatro da cidade. No dia em que acorda

disposto, debruça-se sobre os instrumentos e não faz outra coisa. Fica imerso num magnetismo que chama de tensão. “Sinto que estou preso num processo. É como se eu risse vendo a perna ser esmagada. Toda vez que entro em parafuso, tenho vontade de fazer alguma coisa, como se estivesse apaixonado, diante de uma emergência. Por um milagre, ganho consciência de que é nessa hora [que tenho de produzir], senão ‘vai perder’. Dane-se o resto e o que pensam de mim.” Guardadas as proporções, assim foi com nossa conversa, apesar dele refutar entrevistas. Saí da casa dele no início da madrugada, após dez horas de diálogo sem interrupções. Liguei depois do almoço para saber como estava de saúde, se fatigado pelo encontro do dia anterior. E disse que me esperava para continuarmos o assunto, ao término de sua sessão vespertina de fisioterapia. Nesse segundo dia, Grassmann esmiuçou o próprio Ars Moriendi que desenvolveu ao longo dos anos. A diferença para o original, além da expectativa de vida ser pelo menos o dobro da que havia na Idade Média, é que, na prática, a solução que o artista criou para si é um Ars Vivendi. Como só se prepara para a morte quem está vivo, tratou de vivê-lo paulatinamente, em cada uma de suas obsessões, até para dar tempo de ajustes. A arte de morrer, segundo Grassmann, parte do princípio de que o ser humano é ambivalente e “tudo cabe”, se houver uma justificativa genuína, pessoal. Vale inclusive morrer. Sedutor em seus profundos olhos azuis, Grassmann é um Astaire de coxia, longe de holofotes, como ele próprio pensa que o artista deve ser. É, não por coincidência, o mesmo posicionamento do gravurista austríaco Alfred Kubin, com quem trocava correspondência lá pela metade do século passado. “O Kubin levantou o Marcello pelo exemplo de ser artista sempre, fazendo arte e não priorizando a mídia. Era do tipo que ficava trancado trabalhando. Hoje conheço poucos que ralam assim, é um trabalho de resistência”, comenta Kossovitch. LEIA MAIS NAS PÁGINAS E7 E E8

MÁSCARAS, MONSTROS E O PODER FEMINI

Esboços e ensaios - 1

Esboços e ensaios - 2

Esboços e ensaios - 3

O NOSSO

Kubin

O gravurista austríaco influenciou Grassmann que se identificou com ele


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