A nova moeda de troca 18/09/11

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A CIDADE

DOMINGO, 18 DE SETEMBRO DE 2011

Especial

PELO DE OURO O sumiço de cães de raça começou a aparecer nos inquéritos policiais de Ribeirão, até com pedido de resgate

A NOVA MOEDA DE TROCA

F.L PITON / A CIDADE

Um shitzu foi trocado por drogas em uma boca de fumo e o traficante se recusa a devolvê-lo SIMEI MORAIS simei@jornalacidade.com.br

Nas páginas de Economia, todo ano se analisa o incremento financeiro dos pet shops no Brasil. No ano passado, o segmento movimentou R$ 11 bilhões, segundo a Anfalpet (Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos para Animais de Estimação). Tamanha pujança se justifica, no senso comum, ao carinho que se sente pelos animais, o mesmo sentimento que agora faz dos peludos um objeto do mercado negro: o furto de cães de raça. Em Ribeirão, o sumiço de lulus grifados já virou caso de polícia e de Justiça. A dona de um shitzu desaparecido em abril entrou numa espécie de disputa com um traficante por causa de seu cachorro, usado como moeda de troca em uma negociação numa boca de droga. O caso, que entrou para o rol das bizarrices policiais no município, começou em abril, quando o funcionário do pet shop em que o cachorro tomava banho toda sexta-feira resolveu buscar droga enquanto fazia o trajeto que seria da casa dela até a loja. Deixou o carro do patrão cheio de adesivos de animais na lataria como pagamento por algumas pedras de crack. O peludo ficou no porta-malas. Desde então começou o tormento da moça que havia ganhado o bicho do namorado. “Entrei em desespero, passei a rodar ruas e bocas de fumo atrás dele. Me meti em situações que jamais imaginei”, conta. A polícia não tinha respostas. O carro foi encontrado uma semana depois, na avenida Presidente Vargas, com menores. Mas ninguém sabia do cachorro porque o funcionário do pet shop também havia su-

RESGATE

5 mil

reais foi o valor que o traficante pediu para devolver o shitzu à dona verdadeira

IGUALZINHO Josiana teve um pug igual a esse levado nos Campos Elíseos (foto no detalhe)

mido. “Soube que ele apareceu há três semanas, mas não deu pistas à polícia”, diz ela, cujo nome é mantido em sigilo por segurança. Enquanto o caso seguia na polícia, em um boletim de ocorrência, ela fez uma investigação paralela até descobrir que seu mascote agora está em poder de um “grande traficante.” Ela tentou negociar com ele durante três semanas, por meio de pessoas que conheceu nessa empreitada. “Ele pediu R$ 5 mil de resgate, um valor que não tenho condições de pagar, acho que para encerrar a conversa.” O “novo dono” mandou recado para que ela não se envolvesse mais a fim de que a polícia não o encontrasse. “Há dois meses que parei de ir atrás, com medo de que matassem o cachorro para eliminar provas.” O cão fez um ano em agosto. Nesse período, ela entrou na Justiça com ação de indenização por danos morais e materiais contra o pet shop.

F.L PITON / A CIDADE

‘Dói mais do que perder o carro’, diz delegada O sumiço do shitzu foi parar na polícia, em um BO de roubo e receptação de veículo, mas foi o primeiro desse tipo no município, diz a delegada Luciana Renesto, que cuida do caso. Ela diz que o inquérito, por mais inusitado que seja, não atrapalha o andamento de outras investigações consideradas “tradicionais.” “Para mim, isso é uma questão importante, porque perder o cachorro causa mais dor do que perder um carro”, compara. A delegada comenta que os bandidos já descobriram que esse é um mercado novo e cita um caso de sequestro de cachorro registrado em São Paulo. “É muito mais fácil sequestrar um animal do que uma pessoa”, diz. Para ela, a raridade da raça não influencia no pedido de resgate, e sim o valor sentimental.

GRANDE ENGANO Rosângela passou uma semana à procura de Baby, que foi devolvido na delegacia

Um suposto furto e peludo devolvido Além do shitzu trocado por pedras de crack, um pug e um spitz alemão entraram nos anais policiais ribeirão-pretanos. O pug, uma cadela chamada Pucca, desapareceu no feriado de 7 de setembro, nos Campos Elíseos. A dona dela, a comerciante Josiana Aparecida da Silva, chegou a distribuir cartazes no bairro com promessa de gratificação caso alguém informe o paradeiro da mascote. Ela oferece R$ 1 mil a quem trouxer a filhote de focinho achatado, com dez meses. “Quero a minha cachorra, não quero outra. Esse valor é pelo valor afetivo, ela é tão querida que dorme comigo na cama”, comenta Josiana. Pucca desapareceu após a família de Josiana chegar a uma festa de aniversário de criança. A pug e uma poodle de 13 anos desceram do carro sem coleira e foram cheirar uma árvore na calçada. “Enquanto

abraçávamos os parentes, ela sumiu.” Josiana diz que ouviu de moradores do bairro que o freguês de um bar levou a cadela. Ele teria deixado para trás um espetinho de carne e uma cerveja inteira, já pagos, ao partir com a pug no carro. A polícia ouviu o dono do bar, que disse não ter visto nada naquele dia, afirma o investigador Wilson de Mello. Em 43 anos de profissão, Mello diz nunca ter investigado um suposto furto de cachorro. “É como um caso qualquer, em que temos de reunir informações para solucionar. Vamos continuar investigando”, diz.

RECOMPENSA

mil

reais é quanto Josiana oferece por Pucca. O telefone dela é (16) 8836-9663.

Caso encerrado O sumiço do spitz alemão Baby, de cinco anos, agitou o 1º Distrito Policial por uma semana. A manicure Rosângela Lopes, dona do cão, foi todos os dias à delegacia. Ela divulgou na imprensa a imagem que a câmera na calçada da frente de seu salão de beleza captou do cão sendo levado por duas moças. As amigas, que já tinham dado o animal a uma pessoa que cuidasse, devolveram o spitz quatro dias depois. “Achamos que estivesse perdido”, afirma uma delas. A delegada Luciana Renesto ouviu testemunhas e concluiu que tudo não passou de um engano. Ela faz um alerta aos donos que deixam cães passearem sem coleira. “As pessoas têm de tratá-los com estima, mas não são objetos nem seres racionais e precisam de proteção. Deixá-los sozinhos pode provocar até atropelamento.”


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