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Terça-feira, 30 de outubro de 2012
Editorial Cidades sob nova direção O que mais chamou a atenção nas eleições deste ano foi o fato de que os candidatos de oposição nas cidades se deram muito bem. Foi esse o caso de Fernando Haddad (PT). Ele fez uma campanha claramente baseada em ataques ao atual prefeito Gilberto Kassab (PSD). A estratégia deu certo. Apesar de pouco conhecido, Haddad derrotou o ex-governador e ex-prefeito José Serra (PSDB). O tucano era o candidato da situação, porque é aliado de Kassab. Assim como em São Paulo, a regra nas prin-
cipais cidades do país também foi o sucesso da oposição. No grupo dos 85 maiores municípios, os oposicionistas venceram em 49. Isso não costuma ser assim. Em 2008, para ter uma ideia, os candidatos da oposição foram eleitos em apenas 32 dessas 85 cidades. Na Grande São Paulo, por exemplo, o PT ou seus aliados estavam no poder havia 30 anos em Diadema. Neste ano, foram derrotados por um estreante do PV. Em Santo André, o prefeito, do PTB, também acabou derrotado. Se consideradas apenas as capitais, a situação também não foi boa para os prefeitos. Dos
oito que tentaram se reeleger, apenas quatro conseguiram. Em 2008, dos 20 que disputaram a reeleição, 19 foram eleitos. Essa diferença tão grande talvez possa ser explicada pela economia. Quatro anos atrás, o crescimento econômico do país como um todo era muito alto. Neste ano, porém, o ritmo anda muito mais devagar. Ou seja, quando a economia vai bem, os prefeitos são recompensados. Quando vai mal, os eleitores pedem mudança no comando. Agora é ver se essa regra vai valer para a disputa presidencial de 2014.
Você pode mais Publicado desde 22 de março de 1999 Grupo Folha Presidente: Luiz Frias Diretor Editorial: Otavio Frias Filho Editor Responsável: Nilson Camargo Al. Barão de Limeira, 425, 5º andar CEP 01202-900, São Paulo, SP
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Destaque do dia
SP tem 3 prefeitos eleitos de origem libanesa em 20 anos Os libaneses na política Os Haddad
Aïn Aata - cidade onde nasceu Khalil Haddad, pai de Fernando Haddad (PT)
1
Mar Mediterrâneo
Zahle - local de origem da família de Norma Thereza Goussain Haddad, mãe do prefeito eleito
2
líbano
Beirute
Zahle
Abadi - cidade de origem da família de Salomão José Kassab, avô paterno do prefeito Gilberto Kassab (PSD)
3
Abadie Aïn Aata
■
Os Kassab
2
3
■
■
1 Os Maluf
Zahle - local de origem de Salim Farah Maluf, pai do deputado federal Paulo Maluf (PP)
síria
2
israel
■
os libaneses em são paulo A imigração libanesa para o Brasil começou, oficialmente, há 132 anos. Mas há relatos de imigrantes anteriores a essa data
Bairros onde libaneses se concentram
Paraíso (zona sul) ■ Vila Mariana (zona sul) ■ Planalto Paulista (zona sul) ■ Jardins (zona oeste) ■ Morumbi (zona oeste) ■ Higienópolis (região central)
Templos religiosos
Clubes Clube
■
SP
■ Clube Atlético Monte-Líbano ■ Zahle Clube do Brasil ■ Hasbaya Clube do Brasil ■ Clube Marjayoun do Brasil
Restaurantes
Entre os vários restaurantes árabes em São Paulo, destacam-se o Arábia, o Miski, o Folha de Uva e o Saj
Igreja Maronita do Brasil ■ Catedral Nossa Senhora do Paraíso (unidade da Igreja Greco-Católica Melquita no Brasil) ■ Catedral Ortodoxa ■ Mesquita Brasil ■ Mesquita do Brás ■
Fonte: Associação Cultural Brasil-Líbano
Pai de petista teve loja de tecidos
Rivaldo Gomes/Folhapress
Khalil Haddad, pai do prefeito eleito petista, foi um comerciante conhecido da rua Comendador Abdo Schahin, na região da 25 de Março. O imigrante libanês —que morreu em 2008, vítima de um AVC— teve por cerca de dez anos a loja Mercantil Paulista de Tecidos. Fernando Haddad chegou a trabalhar por um período com o pai no comércio. João Cury, proprietário do Empório Syrio, foi amigo do pai do petista. Cury conta que os dois e outros amigos se reuniam sempre para jogar pôquer por lazer. “Fizemos isso durante uns sete, oito anos. Conheci o
Khalil durante os anos 70 e me lembro do Fernando trabalhando na loja de tecidos. Sempre foi muito simpático.” A família do engenheiro Paulo André Jorge Germanos, 73 anos, é dona do imóvel onde Khalid Haddad teve a 30KL301 loja. “Era um homem muito respeitado. Me lembro tam2.0 bém do Fernando Haddad 19.0 trabalhando com o pai. Era um rapaz sério e comprometido. O pai tinha muito orgulho dele”, afirma. Hoje, João Perricci é inquilino no local onde funcionou a loja de Khalil Haddad. “Fiquei surpreso”, afirmou, após saber do fato pela re- ■João Cury, que foi amigo do pai do petista, diz que portagem. (Adriana Mompean) Haddad trabalhou em loja e era muito simpático
Paulo Maluf (PP), Gilberto Kassab (PSD) e agora Fernando Haddad (PT) são de famílias libanesas Nos últimos 20 anos, São Paulo elegeu três prefeitos descendentes de libaneses. Quem é da comunidade diz que Paulo Maluf (PP), eleito em 1992, Gilberto Kassab (PSD), em 2008, e Fernando Haddad (PT), que venceu anteontem o segundo turno, carregam traços da cultura libanesa na política. A tradição de bom negociador dos libaneses está presente no caso dos três. Os pais e avós dos três vieram ao Brasil para trabalhar, sobretudo no comércio, herança dos fenícios, sociedade de forte cultura comercial que vivia no território entre Líbano, Síria e Israel. “O libanês traz esse traço até hoje”, afirma Lody Brais, presidente da Associação Cultural Brasil-Líbano. “Eu fui influenciado por essa tradição árabe de administrar”, admite o prefeito Gilberto Kassab (PSD), que cresceu vendo o pai, Pedro Salomão Kassab, guiar uma tecelagem e um cinema na capital. Em 132 anos de imigração no Brasil, o projeto dos liba-
neses foi o de ascensão social das gerações. “E focavam na educação, para que os filhos ascendessem ainda mais”, afirma a historiadora Samira Osman, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). E desenvolveram inclusive em marketing pessoal. Era comum libaneses oferecerem comidas típicas para fazer amizade com os vizinhos, conta Lila Yussef, proprietária do restaurante Arábia. “Eles eram imigrantes e tinham de conquistar o espaço”, diz. Maluf É fácil reconhecer esses traços nos três prefeitos eleitos pelo aspecto mais comum das famílias libanesas: a tradição oral. O deputado Paulo Maluf diz que circula com seus três netos, de 28, 20 e 16 anos, todo domingo de manhã, as ruas de São Paulo, numa estratégia para repassá-los seu conhecimento pessoal sobre economia, empresas e até gestão da cidade. “Eu mesmo dirijo, para que não fiquem inibidos. Ponho uma música do Ipod e vamos conversando. Meu pai morreu quando eu tinha 12 anos e minha mãe me ensinou a ser empresário. Hoje, eu ensino meus netos.” (Simei Morais e Tatiana Cavalcante)
Eleito sabe negociar, diz mãe de petista
Danilo Verpa 28.out.12/Folhapress
Dona Norma Theresa Goussain Haddad, 74 anos, mãe de Fernando Haddad (PT), afirma: ele recebeu a tradição libanesa de negociar. “Ele aprendeu tudo com o 30KL302 pai, na loja”, diz. Khalil Haddad, morto em 1.0 2008 após um acidente vas15.0 cular cerebral, levou o filho para aprender a se virar nos negócios na Mercantil Paulista de Tecidos, na rua Abdo Schahin, 144. A loja ficava na região da 25 de Março, reduto de lojistas árabes que vie- ■Norma Theresa ram “fazer a América”. Goussain Haddad “Libanês é muito articulador, receptivo, não se fecha casal teve duas filhas. em si”, explica dona Norma. Khalil era muito próximo Ela diz que a casa estava sempre cheia de amigos, por do filho. “Ele ‘macaco’ do vontade do marido. E que Fernando. Dizia que ele seria Khalil soube influenciar o fi- presidente e mais não sei o lho. “Ele era muito orgulhoso quê. Ele jogou a bomba e dos filhos e fazia questão depois foi embora, mas agosempre da família unida”, ra ele deveria estar aqui para recorda. Além de Haddad, o ver”, brinca. (SM)