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O Descobrir de Uma Âncora Comum

por White Louis

Comparo o Batismo de Mergulho a uma Iniciação Maçónica, em que, na véspera e no próprio dia, vem a tal dose de mistério e talvez ansiedade antes da Iniciação…. e no fim termina com uma grande satisfação por se terem cumprido as “formalidades” desta cerimónia.

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O “Mergulho”, como desporto aquático e também conhecido como mergulho autónomo, confere ao mergulhador a capacidade de respirar através de um equipamento específico, chamado de Scuba (acrónimo de: self-contained underwater breathing apparatus). Daí que o mergulho seja também conhecido internacionalmente como a expressão Scuba Diving.

A modalidade Mergulho Recreativo é a versão que tem mais adeptos e tem como objetivo estar próximo da natureza subaquática de uma maneira divertida e relaxante (para praticar aos fim de semana e/ou durante as férias).

Batismos de mergulho:

É, na prática, o primeiro contacto com o mundo subaquático e normalmente ocorre numa piscina (também pode ser realizado num lago ou numa praia com águas pouco profundas) – e deixa de ser apenas uma fantasia reservada aos adeptos do Nacional Geographic misturado com Jacques Cousteau.

Antes desta experiência, é natural que levemos connosco uma dose de “mistério”, de “desconhecido” e até comecemos a imaginar: “mas como será?”, “será que vou gostar?” e “será que nas próximas férias já posso fazer mergulho no Algarve/ Açores/Madeira?”.

Durante esta aventura aprendemos algo de novo e a maioria termina com uma sensação de ”Yes, isto é muito Cool” e levam consigo uma dose emocional bem expressiva (outros nem por isso, mas experimentaram esta Aventura).

Para esta aventura basta trazer fato de banho, toalha e chinelos (é simples!).

Comparo o Batismo de Mergulho a uma Iniciação Maçónica, em que na véspera e no próprio dia, vem a tal dose de mistério e talvez ansiedade antes da Iniciação…. e no fim termina com uma grande satisfação por se terem cumprido as “formalidades” desta cerimónia.

No final do dia, em ambas as situações, quando vamos para a cama começamos a pensar na Experiência que passamos, que será marcante para toda a vida (eu não me esqueci nem do Batismo nem da minha Iniciação, está bem presente em mim).

Para os profanos, o Batismo será o equivalente a entrar num Templo Maçónico, fora do horário de uma Sessão Maçónica claro, e verificar a decoração, as luzes, os símbolos, o chão preto e branco, … e começar a pensar “ O que será que eles fazem aqui? O que dizem eles durante essas reuniões?”.

Ambos possuem um local próprio:

Mergulho = em águas confinadas (piscina, lago, “praia” de baixa profundidade) e o mar para mergulhos mais profundos.

Maçonaria = Templo ou outro local apropriado para se efetuar uma Sessão Maçónica, por ex: no Templo Ecuménico Universalista (Sessão realizada a 04/Set/21) ou na Igreja de Santiago no Castelo de Palmela (a 29/Jan/22).

Ambos possuem Condições/Requisitos de entrada:

Mergulho = saber nadar é essencial (não que esta competência seja o que mais interessa, mas sim o estar “à vontade na água” – e, para isso, o “saber nadar” é o que mais se aproxima). Outro aspeto a ter em conta é que não ter problemas auditivos, por causa da pressão na água pois, por cada metro que descemos, a pressão aumenta e pode ser desconfortável.

Maçonaria = é primordial ser Homem de bons costumes e acreditar que há algo Superior, acreditar num Deus de um Livro Sagrado (referente à Maçonaria Regular).

Níveis de Conhecimento:

Na Maçonaria temos as chamadas Lojas Azuis – grau de Aprendiz, Companheiro e Mestre.

No Mergulho, há algo semelhante e está intimamente relacionado com os conhecimentos adquiridos em cada nível (semelhante à Maçonaria).

Simplificando, há um curso inicial chamado Open Water (podendo ser equiparado ao Grau Aprendiz). Depois, o Advanced Diver que será um upgrade (o nível do grau de Companheiro) e, por fim, considero um Rescue Diver (alguém já com uma mestria subaquática), comparando-o com o grau de Mestre Maçom.

Para além destes, ainda existem outros cursos de mergulho, de categoria avançada em termos de experiência e conhecimentos teóricos e práticos, para os quais faço equivalência aos “Altos Graus da Maçonaria”.

Desenvolvendo um pouco mais este curso Open

Water (nível inicial), aqui ensina-se a introdução à teoria subaquática (a flutuabilidade, a pressão, …) e praticam-se exercícios em piscina e no mar. Na Maçonaria, estamos perante o grau de Aprendiz e aqui os Aprendizes adquirem conhecimentos sobre a Simbologia Maçónica, o significado da Pedra Bruta cinzel e malhete, a parte Ritualística em Loja, os sinais utilizados, o uso da Linguagem Maçónica entre os Maçons, a história da Maçonaria Especulativa, onde dão os primeiros passos na sua reflexão interior e qual o caminho que pretendem percorrer na Vida.

Ensino vs Aprendizagem:

Há uma grande diferença neste tópico que carece de uma nota especial.

No mergulho, o Instrutor ensina e os alunos são ensinados.

Na Maçonaria não se ensina, “Aprende-se”, e cada um de nós tem o seu ritmo, tem o seu Tempo, cada um faz o seu caminho interior sem datas marcadas.

Há uma grande distinção relativamente à forma de expor os conhecimentos e de os absorver entre [Formador-Aluno] e [Mestre-Aprendiz/ Companheiro].

Sozinho ou acompanhado:

Não se mergulha sozinho (regra base no mergulho recreativo). Um mergulhador deve sempre mergulhar com outro(s), de preferência fazendo uma parelha, pois o facto de ter um buddy (o outro elemento do par) poderá ajudá-lo caso haja um funcionamento anormal do equipamento (é pouco frequente mas poderá acontecer) ou caso um dos mergulhadores se sinta mal por alguma razão.

Na Maçonaria, não é por acaso que usamos com frequência a palavra Fraternidade. De que serve sermos Maçons para vivermos sozinhos?

Um Maçom não “trabalha” apenas para si mesmo, mas também para o(s) outro(s) - por isso, reunimo-nos em Loja para depois refletirmos na sociedade - além de de também contribuir para a sua Obediência e Loja apresentando Pranchas, divulgando a sua sabedoria pelos seus II’.

Quais são as Organizações?

No Mergulho há diversas organizações de Formação: PADI, SSI, CMAS, BSAC, ..., e todas com um objetivo comum: formar mergulhadores, em segurança, claro! Há um denominador comum em todas estas organizações: têm de estar integradas no World Recreational Scuba Training Council, organismo dedicado à segurança mundial do mergulho recreativo e a garantia que todas as orientações são cumpridas nas diversas organizações participantes.

O mesmo se passa com a Soberana e outras Grandes Lojas/Orientes: estas também seguem as orientações das(os) Grandes Lojas/Orientes “líderes” (usei a palavra “líderes” para simplificar a compreensão). Por exemplo, a Soberana segue a United Grand Lodge of England (UGLE) como matriz orientadora da Maçonaria Regular.

Durante o curso (inicial) de mergulho:

Quando estamos em aulas práticas em piscina, totalmente equipados, ficamos habitualmente na parte mais funda da piscina e de joelhos, para receber as indicações do Instrutor.

Para o Maçom, o estar de joelhos é também posição de receber algo, o que demonstra, no nossos íntimo, uma dose de humildade, pois é também uma posição para se efetuar um Juramento sobre o Livro da Lei Sagrada.

Outro exercício praticado nas aulas de Mergulho é o chamado “pivô” – em que o aluno equipado está deitado e virado para o fundo da piscina, sempre acompanhado pelo Instrutor. Nessa posição, começa a insuflar ar no seu equipamento em pequenas doses, aos poucos, começando a “elevar-se” - a Flutuabilidade Neutra – mas sem subir até à superfície nem descer até ao fundo (é o ponto-chave para qualquer mergulhador) – muito semelhante a ser um Astronauta na lua, com aquela leveza…

Maçonicamente falando, eu sinto a mesma “sensação” quando estou numa Cadeia de União, de mão dadas aos II’s, num momento muito interno e profundo, onde o corpo parece não ter qualquer peso…(por vezes, parece que estou a flutuar ao longo do Cosmos).

Como já foi referido o Ponto-Chave de qualquer mergulhador, também para um Maçom, o que é essencial está escrito nos Rituais, podemos começar a re-ler o Ritual de Aprendiz na 1º Instrução, está tudo lá!

Agora já no mar mas ainda à superfície e a aguardar o preciso momento para começar a descer, é preciso retirar o ar que se encontra no equipamento e nos pulmões (apenas durante alguns segundos), o suficiente para começar a descer e a ingressar no mundo subaquático…este processo, é equivalente ao que fazemos antes de começar uma Sessão Maçónica em Loja – estamos à entrada do Templo (nos Passos Perdidos), e através do Mestre-de-cerimónias, dá o aviso aos presentes para se “prepararem” para a Sessão, o tempo suficiente para nos abstrairmos da vida profana e prepararmo-nos mentalmente para ingressar num ambiente mais espiritual – Sessão Maçónica.

Após toda a atividade de mergulho e, posteriormente, lavar e cuidar do equipamento, é tempo de conviver numa esplanada, beber algo e trocar história de mergulho = o mesmo quando termina uma Sessão em Loja, arrumamos os paramentos e depois vamos para o Ágape conviver, comer e beber.

“Narcose”:

Nos mergulhos mais profundos (aumento da pressão) e se não estivermos em boas condições físicas, podemos sofrer a chamada “Narcose” cujos sintomas são semelhantes a uma pessoa embriagada = o mesmo acontece se excedermos com a Pólvora Fulminante!

O Ambiente à volta do Mergulho:

Por norma, antes de qualquer mergulho, há sempre a menção da Proteção Ambiental: não deitar lixo, trazer lixo e não tocar na fauna e flora subaquática. Na Soberana, temos os projetos de Solidariedade, com o auxílio aos sem-abrigo, do projeto de ajuda aos “Meninos do Barreiro” (jovens que foram retidos dos seus pais para possibilitarem terem uma Vida melhor).

Navegação subaquática:

Antes de mergulhar é fundamental saber qual o percurso a fazer, por exemplo, mergulhar no sentido Norte-Sul ou andar à volta de um barco afundado, onde agora é um recife artificial e cheio de vida marinha.

Nós, Maçons, também devemos saber qual o Caminho que pretendemos seguir, um Caminho rico de sabedoria, de partilha, de ajuda, até onde for possível.

Curiosidades:

No mar, lá “em baixo” há um silêncio peculiar, e facilmente, quem passa pela experiência do mergulho, entende porque é que o livro de Jacques Cousteau se chama “O Mundo Silencioso”, pois também é uma história de descoberta e aventura submarina. Esta obra, traduzida em 22 idiomas e com mais de 5 milhões de cópias vendidas, serviu de base para um documentário galardoado com um Óscar.

White Louis

Mestre Maçom (& Instrutor de mergulho)

RL Almada Negreiros

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