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Almada Negreiros

por Nuno Henrique Duarte

Apresentar uma prancha sobre o patrono da nossa mui nobre e respeitável loja Almada Negreiros é uma responsabilidade acrescida. Espero estar á altura de tamanha empreitada.

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Sobre Almada Negreiros dada a sua diversidade, pluralidade, versatilidade e multidisciplinaridade, tudo o que vos direi será muito pouco dada a sua dimensão.

Quis o destino que apresentasse este trabalho no dia 9 de Maio, aquele que é o dia da Europa cuja frase que a define é In Uno Plures - Unidos na Diversidade. Se bem analisada pode ser quiçá maçónica? Pois em 1950 quem a proferiu foi Robert Schumann (na altura ministro dos Negócios Estrangeiros francês e um dos arquitetos do projeto integração europeia, juntamente com Jean Monnet, grande impulsionador da mesma e que deu origem à digamos “iniciática” europeia CECA (Comunidade Europeia do Carvão e Aço).

De seu nome José Sobral de Almada-Negreiros Nasceu a 7 Abril 1893 em São Tomé e Príncipe (dia do Nascimento de São Francisco Xavier, missionário Jesuíta e fundador da Companhia Jesus, dia da fundação da Organização Mundial saúde em 1948 cuja definição mais difundida é a encontrada no preâmbulo da Constituição da Organização Mundial saúde: Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças. Dia da data de nascimento simbólico da Internet). Faleceu a 15 junho 1970, em Lisboa (Dia Mundial do Vento desde 2009 que é uma fonte de energia limpa e renovável). Viveu em Portugal e revelou-se como um artista e um escritor polifacetados: artista plástico, poeta, ensaísta, romancista e dramaturgo… até no bailado se expressou.

Almada Negreiros é uma figura ímpar no panorama artístico português do século XX. Essencialmente autodidata (não frequentou qualquer escola de ensino artístico), a sua precocidade levou-o a dedicar-se desde muito jovem ao desenho de humor.

Pela morte da mãe no parto do 3 º filho, Almada e o Irmão António foram internados num colégio Jesuíta (Coincidência? Acaso? pois nasceu no mesmo dia de S. Francisco Xavier conforme já referi).

Aí “Fechado no colégio, onde permanece com António (irmão), e sem a companhia dos colegas durante os meses de verão, o irrequieto Almada entretém-se a devorar livros da biblioteca dos jesuítas, sobretudo os de geometria e mecânica e escapa-se da sala de estudo para pintar e desenhar. Faz caricaturas, redige e ilustra jornais gráficos que revelam estar a par do seu tempo – “O Progresso”, “A República”, “A Pátria”. Tudo isto com a cumplicidade dos padres, que reconhecem naquele rapaz com “olhos de gigante” capazes de devorar o mundo, uma natureza particular. É-lhe concedida uma sala, onde monta um ateliê e que lhe proporciona uma liberdade de atos e aprendizagem que toda a vida transportará na sua bagagem. O colégio dos Jesuítas, lugar inaugural de um programa de pensamento e reconhecimento autodidata, será transposto para a sua geografia artística e intelectual”. *

Mas a notoriedade que adquiriu no início de carreira prende-se acima de tudo com a escrita, interventiva ou literária. Almada teve um papel particularmente ativo na primeira vanguarda modernista, com importante contribuição para a dinâmica do grupo ligado à Revista Orpheu com Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, sendo a sua ação determinante para que essa publicação não se restringisse à área das letras. Aguerrido, polémico, assumiu um papel central na dinâmica do Futurismo em Portugal: “Se à introversão de Fernando Pessoa se deve o heroísmo da realização solitária da grande obra que hoje se reconhece, ao ativismo de Almada deve-se a vibração espetacular do «futurismo» português e doutras oportunas intervenções públicas, em que era preciso dar a cara”.

Utilizou sempre uma linguagem considerada mais elementar que a do seu desenho e construiu a sua obra literária por entre tensões - dividido entre a intuição e a análise, entre a vocação poética e o espírito ensaístico. Em todas estas manifestações criativas mostrou sempre uma grande capacidade de invenção.

Por muitos classificado como alguém de “fulgurante dispersão”. Sem se fixar num domínio único e preciso, o que emerge é sobretudo a imagem do artista total, inclassificável, onde o todo supera a soma das partes. Também neste aspeto Almada se diferencia dos seus pares mais notáveis, Amadeo de Souza-Cardoso e Fernando Pessoa, cuja concentração num território único, exclusivo, foi condição necessária à realização das obras máximas que nos deixaram como legado.

Autor profuso e diversificado, Almada Negreiros pôs em prática uma conceção heteróclita do artista moderno, desdobrado por múltiplos ofícios. Toda a arte, nas suas várias formas, seria, para Almada, uma parte do «espetáculo» que o artista teria por missão apresentar perante o público, fazendo de cada obra, gesto ou atitude um meio de dar a ver uma ideia total de modernidade.

Almada pintou o famoso Retrato de Fernando Pessoa em 1954 para o restaurante Irmãos Unidos, local de encontro da geração de Orpheu a que ambos pertenciam. Dizia ele “o desenho é o nosso entendimento a fixar o instante“.

Almada assumiu a modernidade como a sua identidade, partindo sempre à descoberta do novo. Almada Negreiros considerava a “representação das relações geométricas como a base de toda a representação”. O que leva a um paradoxo entre abstração e figuração, na sua pintura dita abstrata.

Almada Negreiros foi e será sempre Maçon tal como muitos ilustres portugueses, desde escritores como Alexandre Herculano, Antero de Quental, Aquilino Ribeiro, Camilo Castelo Branco, Almeida Garrett, etc., a jornalistas como Heliodoro Salgado, a arquitetos como Afonso Domingos, Cassiano Branco, Carlos Mardel, Ventura Terra, a historiadores como

Oliveira Marques, a militares como o herói nacional General Gomes Freire de Andrade, médicos como Azevedo Neves, Bissaya Barreto, clérigos como D. João de Deus Pinto, compositores como Domingos Bomtempo, políticos como Fontes Pereira de Melo, Afonso Costa, Ferreira Borges, cientistas como Gago Coutinho e Egas Moniz, entre muitos outros. Mas também presidentes da República, como Bernardino Machado e Mário Soares.

É uma personalidade incontornável. Segundo alguns de Almada Negreiros fica sobretudo a imagem de “português sem mestre” e, também, tragicamente, “sem discípulos”. Poderemos e deveremos contrariar esta última parte pois cabe-nos a nós Respeitável Loja Almada Negreiros diligenciar no perpetuar da sua memória.

Dizia Almada: “Isto de ser moderno é como ser elegante: não é uma maneira de vestir, mas sim uma maneira de ser. Ser moderno não é fazer a caligrafia moderna, é ser o legítimo descobridor da novidade.”

A Dialética Hegeliana

Por Paulo Réfega

Hegel foi o maior expoente do idealismo alemão. Na filosofia, idealismo é uma corrente filosófica que faz das ideias o princípio interpretativo do mundo. Segundo o idealismo, conhecemos o mundo a partir das ideias que temos feito de todas as coisas materiais. O princípio básico do idealismo está no próprio homem (na subjetividade), ou seja, a realidade descobre-se através do homem e é ele quem “define a realidade”. Podemos considerar Platão como o primeiro idealista onde, para ele, a realidade estava no “mundo das ideias”, nas formas inteligíveis, atingíveis apenas pela razão. Dentro do idealismo hegeliano há a procura pela resposta a um problema que já vinha sendo discutido por filósofos como Kant: a questão de sujeito e objeto, consciência e mundo. Como se dá o conhecimento? Segundo Hegel “o real é racional e o racional é real”.

Hegel afirmava que a filosofia está sempre enraizada na História, embora persiga sempre uma concepção de realidade como um todo em evolução, em que cada parte é animada por todas as outras. Por isso criticou todas as concepções anteriores de filosofia como sendo sem vida, tendenciosas e não históricas.

Hegel desenvolveu a ideia da dialética, que não era um conceito novo ou desconhecido. Dialética é uma palavra grega que significa “arte do diálogo, de convencer, de persuadir ou raciocinar”. É um debate de ideias diferentes, chegando a uma conclusão a partir desses pensamentos diversos que se tornam num novo conceito que pode ser contrariado novamente. A dialética nascera no ambiente da Escola de Eleia, principalmente com Zenão, e tinha alcançado o seu zénite com Platão. Foi retomada por Kant, que contudo lhe retirava o valor cognitivo. Para alguns filósofos, como Sócrates, Platão e Aristóteles a dialética é uma maneira de filosofar.

A dialética para Hegel é o procedimento superior do pensamento é, ao mesmo tempo, “a marcha e o ritmo das próprias coisas”. Hegel parte da dialética clássica, mas dá dinamismo e movimento conceitos universais. Embora estes conceitos já tivessem sido descobertos pelos filósofos gregos, tinham porém permanecido rígidos, sem evolução. O âmago da dialética torna-se a assim o movimento, e precisamente o movimento circular ou em espiral. Os três momentos do movimento dialético são:

1 - A Tese, que corresponde a um pensamento, uma ideia,

2 - A Antítese, um pensamento diferente da tese, uma ideia contrária.

3 - A Síntese, que é uma conclusão da tese com a antítese, ou seja, após o debate de ideias chegaria a uma conclusão resumida. No entanto, essa síntese passa a ser uma nova tese para uma dialética.

Essa estrutura dialética, segundo Hegel, seria aplicada a todos os campos do real, desde a aquisição do conhecimento até os processos históricos políticos. Estes momentos sucedem-se como um movimento em espiral, que não se fecha.

Dando um exemplo prático, a Tese seria a Revolução Francesa, a Antítese seria o Reino de Terror que se lhe seguiu e teria como resultado a Síntese, o Estado constitucional e os direitos dos cidadãos.

Este conceito de tese, antítese e síntese dá a noção errada de que ideias ou coisas são opostas ou contraditas por coisas que vêm do seu exterior. Pelo contrário, a noção fundamental da dialética hegeliana é que ideias ou coisas têm contradições internas.

O processo dialético é um processo racional original, no qual a contradição já não é o que deve ser evitado a todo o custo, mas, pelo contrário, se transforma no próprio motor do pensamento, ao mesmo tempo em que é o motor da história, uma vez que esta não é mais do que o Pensamento que se realiza.

Vemos assim que Hegel desenvolveu um sistema chamado dialética, que é um processo espiral sobre o conhecimento, partindo da uma ideia base que é chamada de tese, contrariada por outra ideia, chamada de antítese e chegando a uma conclusão chamada de síntese, que passa a ser uma nova tese. É uma espiral, algo que não tem fim, mas sim uma evolução de uma ideia.

As mais recentes correntes filosóficas afirmam que explicar a filosofia de Hegel em termos de tese, antítese e síntese é impreciso. Contudo, esta interpretação surge ainda em inúmeros tratados filosóficos e só prova a importância de Hegel e a sua influência no pensamento moderno.

Sons da Minha Pedra

por João Crispim

Até lá, trabalho a minha pedra, desperto para o sentir do pulsar da música que surge pelo golpe do malhete no cinzel... em nuances que distinguem o som ritmado dando-lhes uma identidade única e não repetível.

Desde o meu renascimento, no passado abril, no tempo-espaço que atravesso tenho recebido dos Irmãos, sabedoria que me ajuda a consolidar os alicerces na vida e nesta Augusta Ordem: ritos, sinais, representações e seus significados, profundidade, palavras, gestos, objetos, alusões, silêncios - abordagem que vai transformando o meu olhar em estar mais atento aos detalhes que me rodeia, a avaliar cada situação, e a procurar respostas com maior profundidade. Depois do desafio de um nosso Irmão, em prestar melhor atenção aos sons que me rodeiam, durante este período de férias que passei com as minhas netas, concentrei-me no terceto das suas vozes, associando-as a alguns instrumentos:

- Na mais velha (11 anos) encontro um naipe de entoação complexa que balanceia entre o clarinete, o violoncelo e o saxofone. Do timbre e suas diversas nuances sai um registo que vai desde o sopro balanceado e gracioso, ao grito acre da impulsividade.

- Na do meio (6 anos), a voz eleva-se com doçura terminando as frases em vogais abertas. Pelo ar pairam como uma brisa, tons de flauta, oboé e violino.

- Na mais nova (3 anos), ao querer impor-se às irmãs, rompe um vozeirão de trompete, ou trombone misturado com xilofone. A sua marcada presença ouve-se em todos os cantos da casa - afirma que está ali!

Distanciando o olhar da aparente cacofonia, apesar do rebuliço, solicitude física e atenção que as suas idades nos exigem, talvez pareça incoerente como estes sons traduzem conforto que interiormente me pacifica - apenas fazem sentido pela ligação afetiva que transmitem.

A partir daí alarguei o espetro e refleti em quem passou pela minha vida. Imagens de sons concordantes ou dissonantes espelhados em diálogos, sensações, interesses de momento, num aparente turbilhão e dispersão sonora onde cada qual segue o seu caminho. O que ficou, pelo que me fez crescer, refletir, repensar, aprender e repartir, são pedaços de notas soltas que associadas integram a construção de um esboço musical, desenhando a minha identidade mais ou menos coerente.

Tendo a idade igual à minha neta mais nova (3 anos), vejo que há um caminho a percorrer e muito a desbastar. Apesar de consciente sobre as limitações do meu espaço-tempo, não apreço, nem corro. Pretendo continuar este caminho-construção, sustentado em passos firmes e seguros, a agarrar o chão que piso.

Se desde a minha juventude reflito sobre o meu papel neste mundo, e o que se espera de mim, fruto do despertar em que vivo, passou a estar presente uma maior inquietude: de onde vens (conhece-te)?, o que és (aceita-te)? , para onde vais (supera-te)?, já não apenas como simples grão num vasto areal, mas empenhado em melhorar com retidão e verticalidade, para que o esquadro, nível e fio de prumo possam medir e avaliar o resultado, na meia-noite em ponto onde o GADU dará por encerrados os meus trabalhos.

Até lá, trabalho a minha pedra, desperto para o sentir do pulsar da música que surge pelo golpe do malhete no cinzel, não num tom forte do trompete, ou trombone misturado com xilofone, mas em nuances que distinguem o som ritmado dando-lhes uma identidade única e não repetível. No caminho da minha aprendizagem, o tocador de ferrinhos apenas quer contribuir com o seu desempenho, na complementaridade dos sons e instrumentos que cada um transporta e se apresenta entre colunas de sabedoria, beleza e força, de onde a melodia emerge ondulando num sincopado harmónico que trabalha para transformar a humanidade numa sinfonia justa e perfeita.

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