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ISCAP Ética e Deontologia Docente: Zita Romero Discente: Sónia Moura Maio 2014 2013/2014
Relativismo
Universalismo
Pluralismo
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“ Os valores são o que permite dar sentido às nossas vidas”. (autor desconhecido)
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Índice Introdução ..................................................................................................................................... 2 Pluralismo...................................................................................................................................... 2 Conclusão ...................................................................................................................................... 2 Webgrafia/Bibliografia .................................................................................................................. 2 Anexo I........................................................................................................................................... 2
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Introdução
“Afirmar que qualquer coisa existe, não é somente afirmar o ser com o qual esta coisa se relaciona, quer dizer uma necessidade da qual ela depende e que lhe permite darmos-lhe um sentido, é ainda afirmar que qualquer coisa deve ser, quer dizer tem um valor.” Jules Lagneau, Célèbres leçons et fragments. Paris.
Os valores implicam sempre uma relação entre um sujeito humano e a realidade. O sujeito é aquele que prefere, deseja e formula juízos acerca de objetos ou atos. O nosso universo é essencialmente um mundo de valores. Ou seja: perante uma dada realidade, a nossa atitude raramente é de indiferença. Quando falamos da beleza ou das vantagens de determinado objeto estamos a atribuir valências, valores. É sabido que diferentes pessoas têm diferentes perspetivas assim como diferentes culturas têm normas e padrões morais distintos. Durante séculos, as diferentes culturas foram encaradas como bem definidas, homogéneas e estáveis. Porém, esta ideia tem sido constantemente posta em causa, principalmente desde a II Guerra Mundial, com o processo de globalização das culturas e ainda da imigração, processos que tornam as sociedades multiculturais e por isso, instáveis e heterogéneas. Em relação à forma como encaramos as diferenças culturais existem três teorias éticas: O Relativismo, o Universalismo, e o Pluralismo. O relativismo cultural contraria uma ideia absoluta. Este ponto de vista é extremamente oposto ao etnocentrismo, preconceituoso por definição, onde uma determina sociedade discrimina a outra, julgando-se melhor ou pior. As pessoas que se identificam com o relativismo, mesmo achando determinados atos errados do seu ponto de vista, aceitam as dissemelhanças culturais, não considerando que o outro lado esteja “errado” mas que é simplesmente “diferente”.
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Na teoria relativista, as sociedades com culturas diferentes têm uma moralidade distinta e nenhuma está mais certa ou errada que as outras. Cada sociedade cria os seus códigos morais sendo o bem e o mal convenções estabelecidas e aprovadas em cada uma. Neste caso, as normas que as pessoas apreendem no percurso das suas vidas são as normas da sociedade onde se inserem. Assim, para uma sociedade poderá ser perfeitamente aceitável trocar e vender mulheres, apedrejar pessoas até à morte, o que para a sociedade ocidental simplesmente parece ser desumano e cruel.
“O ser humano é um animal mamífero bípede, dotado de inteligência e razão, e eminentemente social”. Autor desconhecido
O universalismo moral afirma a existência de certos princípios que são, à partida, universalmente incontestáveis e ao ditar obrigações e deveres éticos, permite criar um guia para a conduta de todos os grupos sociais e manter um senso de ordem e valores universais na sociedade. Esta teoria defende ainda que os valores, entidades eternas, existem independentemente dos sujeitos e que persistem apesar das mudanças histórico-culturais. Nesta teoria, há a defesa de que os valores devem ser iguais para todos, cabendo à sociedade, ao Homem, aceitá-las e interioriza-las.
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Pluralismo
O Pluralismo é uma posição ética que se encontra entre o relativismo e o universalismo, uma vez que considera que alguns valores devem ser universais enquanto outros são mais subjetivos, dependendo de cultura para cultura. É uma postura que defende que cada sociedade/cultura deve manter as suas tradições, costumes e estilos de vida, partilhando porém, aspetos de outras sociedades/culturas, sendo um exemplo os negócios, o comércio. Deste modo, os indivíduos devem preservar a sua independência, as suas crenças, dependendo de cada um aquilo que considera como certo ou errado. Não existe uma sociedade dominante, sendo que cada uma deve aceitar as suas diferenças e considerar alguns valores como universais. Esta doutrina visa resistir à homogeneidade cultural principalmente quando isto significa submeter as outras culturas a particularismos e dependência. Uma sociedade pluralista deve assentar na heterogeneidade dos seus elementos. Atualmente é já uma realidade que as sociedades são na sua maioria etnicamente pluriculturais, processo impulsionado ainda mais pela globalização económica e cultural, que une os diversos povos, assim como os processos de imigração. O pluralismo pode ser encarado igualmente do ponto de vista político, justificando a existência de diferentes grupos com interesses ideológicos divergentes sem que haja domínio completo por parte de um grupo, de modo a não impedir a existência dos restantes membros da sociedade.
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Conclusão
“ Na vida real, o relativismo do livro de texto não funciona. Para evitar a anarquia, a sociedade deve estabelecer até certo ponto uma conduta aceitável. A maioria das pessoas acederia em proibir uma lista de ações, entre elas o assassinato, a violação, o incesto, o roubo.” Lou Marinoff, Más Plató y menos Prozac. Barcelona, Sine Qua Non, 2001
O relativismo cultural, no meu ponto de vista, está correto ao rejeitar o “nós estamos certos e eles errados” alegando a necessidade de compreender as culturas e as sociedades a partir de dentro. No entanto, defende que se a nossa sociedade considera algo como um bem, então devemos aceitar a perspetiva da maioria desprezando por consequência as minorias, que estão erradas, criando o seguinte silogismo: “A minha sociedade aprova A, logo A é bom.” Para mim, esta assunção não faz sentido, porque enquanto seres dotados de raciocínio e sentido crítico, não podemos simplesmente aceitar as coisas se estas vão contra os nossos próprios princípios. Para além disso, de acordo com a conceção relativista não podemos condenar valores como o terrorismo ou o crime. Se os valores são relativos e dependem dos contactos que cada individuo tem com a sua sociedade, não é possível estabelecer valores universalmente aceites e qualquer discussão relativa sobre a beleza de um quadro ou sobre o 11 de setembro, é uma perda de tempo. Esta teoria é também pouco concretizável, na medida que defende que o mundo está dividido em sociedades distintas, o que efetivamente não acontece, uma vez que todos nós pertencemos a imensos grupos e comunidades, o que faz de nós indivíduos multiculturais. O universalismo é uma doutrina que a meu ver deixa muito a desejar. Nenhuma moral sobre o rótulo de universal se deve impor a uma moral particular, esmagando e ignorando as diferenças culturais de outras sociedades que não as ocidentais – partindo do pressuposto que esta moral universal é muitas vezes criada pelo ocidente.
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Um outro aspeto desta teoria com a qual não me identifico é o facto de os valores permanecerem iguais apesar da passagem do tempo. A título de exemplo, na nossa própria sociedade assistimos a mudanças visíveis. Aos meus avós e até mesmo aos meus pais foram incutidos valores que hoje são esquecidos. Alguns persistem, é verdade, mas a sociedade está em constante movimento e mudança, afetada pela globalização e por diversos outros fatores, que fazem com que os valores sejam igualmente mutáveis. Por um outro lado, concordo com o universalismo na medida que devem existir valores universais, como o direito à vida, a luta contra o terrorismo, o racismo e contra o crime. Ainda assim, esta é uma questão que acho controversa e que exploro um pouco mais à frente no anexo I. Concluindo, existe na teoria relativista e universalista aspetos que vão contra a minha forma de ser e estar perante a sociedade, embora também haja pontos concordantes. Mas a doutrina com a qual me identifico e me situo é a doutrina pluralista, que conjuga o melhor das duas outras doutrinas abordadas. Esta teoria ao sugerir um consenso entre culturas, perfeitamente possível em determinados contextos, defende a tolerância mútua. Na prática sustenta que as diferentes culturas devem interagir sem entrar em conflito, aceitando assim os seus diferentes estilos de vida. Mas não se trata só de evitar conflitos. Ao interagirmos com pessoas de diferentes culturas, estamos também a aprender, a expandir os nossos horizontes e a evoluir enquanto seres humanos. Mas para que tudo isto seja possível é preciso aceitar as diferenças, não deixando para trás porém, a nossa própria identidade. Não nos podemos esquecer, com todo o processo de globalização, das nossas raízes e de quem somos, para não dar origem, num possível futuro longínquo, a uma sociedade global homogénea.
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Webgrafia/Bibliografia
http://www.notapositiva.com/pt/apntestbs/filosofia/10_relativismo_cultural.htm
http://jornaldefilosofia-diriodeaula.blogspot.pt/2011/01/relativismo-etico.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Relativismo_%C3%A9tico
http://pt.wikipedia.org/wiki/Etnocentrismo
http://sociuslogia.blogspot.pt/2009/01/universalismo-versus-relativismo_27.html
http://www.dicio.com.br/pluralismo/
http://jopiresobrien3.wordpress.com/tag/immanuel-kant/
http://edukavita.blogspot.pt/2013/12/definicao-da-universalismo-conceito-da.html
http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Relativismo-e-UniversalismoCultural/40660.html
https://espectivas.wordpress.com/2009/03/30/universalismo-e-nominalismo/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Direitos_humanos
http://www.infopedia.pt/$pluralismo;jsessionid=WF+CtRUULsq4re+Y0YCrPw__
http://pt.wikipedia.org/wiki/Multiculturalismo
http://smeduquedecaxias.rj.gov.br/nead/Biblioteca/Forma%C3%A7%C3%A3o%20Cont inuada/Artigos%20Diversos/internet/PLURALISMO%20CULTURAL%20E%20POL%C3%8 DTICAS%20DE%20CURR%C3%8DCULO%20NACIONAL.htm
http://www.ufsj.edu.br/portal2repositorio/File/revistaestudosfilosoficos/art12_rev6.pdf
https://www.youtube.com/watch?v=ZvoCo0n0nYs
Power Point apresentado na aula pela professora.
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Anexo I
Relativismo versus Universalismo - A questão dos direitos humanos “ Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.” Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos do Homem
No ensaio “Paz Perpétua”, Kant descreveu a evolução do mundo em direção a uma sociedade “ideal” que seria, a seu ver, uma federação mundial de Estados que geraria a cidadania global e por consequência a paz perpétua na Humanidade. Apesar de o universalismo político de Kant ter entrado para o rol das utopias quando a guerra assolou a Europa, a verdade é que esta sua ideologia haveria de apontar o caminho para a criação da Organização das Nações Unidas e da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em 1948, a Assembleia Geral da ONU adotou e proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, sendo estes reconhecidos em escala universal. Contudo, a aplicação de tais direitos produz controvérsia, na medida em que esta declaração não gera a certeza de que todos os povos partilham os mesmos valores. O Universalismo e o Relativismo encontram-se em campos opostos em relação aos direitos humanos: A posição relativista defende que não deve ocorrer a imposição de valores, uma vez que as ideias sobre o direito surgem dentro e de acordo com a cultura de cada sociedade, não existindo, portanto, um conceito universal sobre o direito. Afirma que a posição universalista põe em causa o direito à diferença cultural quando impõe determinadas normas ocidentais como universais. Por outro lado, a posição universalista ressalta que os Direitos Humanos surgiram com o intuito de dar aos seres humanos direitos invioláveis, razão pelo qual o Estado não deve violar o direito dos seus cidadãos, com base no argumento de que a cultura tem que se perpetuar. Para além do mais, apesar de existirem valores morais e éticos distintos a verdade é que somos todos seres humanos e como tal, quando ocorre uma guerra, por exemplo, todos somos atingidos. Assim, não se trata de ignorar singularidades culturais mas sim proteger os direitos que, segundo a teoria universalista, todos os cidadãos devem ter.
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