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# atualidade

longo dos tempos o Homem foi ocupando os ecossistemas naturais, retirando deles água, alimento e energia, criando sociedades e desenvolvendo economias, sem frequentemente, ter consciência e/ou valorizar a finitude dos recursos. O impacte global do crescimento populacional das últimas décadas e a consequente urbanização, associados aos atuais padrões de consumo, trouxeram-nos alterações climáticas, como ondas de calor e secas que têm gerado a mortalidade massiva de árvores, pássaros, morcegos e peixes. Não se trata apenas de um problema ambiental, porque afeta diretamente a economia, o desenvolvimento, a segurança, a ética, entre outros (WWF, 2022). Se não enfrentarmos com medidas eficazes a crise climática e a perda da biodiversidade não atingiremos os 17 ODS.

No que concerne à água, se os atuais padrões de consumo à escala mundial se mantiverem, prevê-se que em 2030 tenhamos apenas 60 % da água que necessitamos (UN Water Report, 2021).

Se é certo que a água para consumo humano deve ser absolutamente prioritária, é questionável se será aceitável a quantidade de água que tiramos da Natureza, tratamos para consumo humano, e que perdemos antes de chegar às nossas torneiras. No panorama nacional em 2020, as entidades gestoras da água em baixa reportaram perdas que em média representam cerca de 5 m3/h de água potável por km de conduta, numa realidade nacional de um sistema de distribuição com mais de 110 000 km de condutas

(ERSAR, 2021). Um rio não pode mais ser encarado como um canal de água para os humanos usarem...é um ecossistema aquático cheio de vida, que precisamos de manter. No último ciclo de avaliação do estado das massas de água em Portugal, constatou-se de um modo generalizado um agravamento do cenário, não só das águas superficiais (estados ecológico e químico), mas também das águas subterrâneas (estados quantitativo e qualitativo), encontrando-se justificação para tal na acentuada e crescente pressão antrópica e na diminuição da precipitação média sobretudo a sul do Rio Tejo (APA, 2022).

Se nos focarmos em Portugal, que em 2020 tinha 10 343 066 residentes (CENSUS, 2021), cada um consumiu em média 190 L/dia de água (ERSAR, 2021) e gastou 19,9 kWh/dia de energia, 54 % de fontes renováveis (eólica, hídrica e outras) e 46 % não renováveis (gás natural, cogeração fóssil e carvão). A alimentação é igualmente um fator relevante e altamente dependente dos ecossistemas naturais, e tem sofrido grandes alterações nos últimos 50 anos. Os consumos de carne e de doces dispararam e os de hortícolas tornaram-se mais ocasionais, com consequências nefastas para a nossa saúde e para a saúde do planeta (Graça, 2020 in PORDATA, 2021). Os nossos padrões de consumo (alimentares e não só) privilegiam produtos tipicamente mais baratos, transportados a longas distâncias, embalados e conservados para permanecerem em bom estado mais tempo, mas que produzem grandes quantidade de resíduos sólidos urbanos, nesse ano foram recolhidos 1,40 kg/dia por residente (ERSAR, 2021). Por tudo isto, e numa lógica de mobilidade e de produção industrial maioritariamente suportada por combustíveis fósseis, no século que se pretende a descarbonização, cada residente nacional emitiu em 2020, 5,5 t CO2e (PORDATA, 2021).

As cidades são atualmente consideradas os pontos mais vulneráveis do planeta, onde se concentra mais de metade da população mundial, se localiza a maioria dos edifícios e das infraestruturas, se consome a maior parte da água, energia e alimento, e onde se geram

70 % das emissões de CO2e. Em 2020 na União Europeia morreram precocemente 310 000 pessoas com doenças cardiorespiratórias associadas à poluição atmosférica, sobretudo nas cidades (European Environment Agency, 2021). As ações locais para adaptação das cidades à crise climática, por um lado às ondas de calor cada vez mais intensas, e por outro às inundações cada vez mais frequentes, são de prioridade absoluta para a segurança das pessoas. Assim, nos últimos anos muitos centros de investigação e desenvolvimento têm aprofundado estudos sobre quantificação dos diversos serviços ecossistémicos e do papel que a Natureza deve ter nas zonas urbanas.

A integração de espaços verdes nas cidades como elementos de gestão territorial que assegurem serviços ecossistémicos fundamentais à qualidade de vida das pessoas passo a ser prioritário. Devem selecionar-se espécies autóctones tendo por base o conhecimento científico do seu papel, em termos de escorrências evitadas, controlo térmico, remoção

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