SG MAG #04
SUMÁRIO SG MAG Edição nº 4 Maio 2018
EDITORIAL ........................................................................................................ CRÓNICA: O oleiro invejoso – por Maurício Cavalheiro ................................ APRESENTAÇÃO: Fúria de Viver – por Isidro Sousa ................................... CONTO: Mulher alada – por Renata Loyolla .................................................... ENTREVISTA: Sandra Boveto – por Isidro Sousa .......................................... CONTO: Em busca da média aritmética – por Sandra Boveto ....................... REEDIÇÕES: Graças a Deus!, Uma Acção de Graças ............................... CONTO: Uma graça de conversa – por Everton Medeiros .............................. LANÇAMENTO: Dezoito, de Everton Medeiros ....................................... APRESENTAÇÃO: Sonho?... Logo, Existo! – por José Francisco T. Rolo ... REPORTAGEM: Lançamento de “Sonho?... Logo, Existo!” .................... APRESENTAÇÃO: Tempo de Magia – por Isidro Sousa .............................. CONTO: Estrela de Natal – por Teresa Morais ................................................ REPORTAGEM: Lançamento do livro “Nos Novelos da Memória” ...... CONTO: Romance andino – por Estêvão de Sousa .......................................... LANÇAMENTO: Rapto em Londres, de Estêvão de Sousa ...................... LANÇAMENTO: A Ribeira da Minha Terra, de Maria Alcina Adriano .. APRESENTAÇÃO: A Primavera dos Sorrisos – por Isidro Sousa ............... CONTO: A alegria de Illari – por Guadalupe Navarro ..................................... NOVAS EDIÇÕES: Devassos no Paraíso, Contos Sensuais e Eróticos .. REEDIÇÕES: Mar em Mim, de Rosa Marques ............................................ CONTO: Saudades de inverno – por Rosa Marques ........................................ LANÇAMENTO: Prisioneiros do Progresso, de Rosa Marques ............... APRESENTAÇÃO: Crimes Sem Rosto – por Isidro Sousa ........................... CONTO: Natal em família – por Manuel Amaro Mendonça ............................ NOVAS EDIÇÕES: Os Vigaristas, Contos do Vigário .............................. EM FOCO: Stephen King – por Sara Timóteo ................................................. LANÇAMENTOS: Diário Alimentar e Compassos, de Sara Timóteo .....
005 007 011 017 023 039 053 055 060 063 069 083 089 097 103 121 123 127 131 143 149 151 161 163 173 183 187 201
POESIA: Rafa Goudard, Marizeth Maria Pereira, Lucinda Maria .............. 207 POESIA: Isabel Martins, Paulo Galheto Miguel, Marilin Manrique .......... 211 POESIA: Rosa Marques, Isidro Sousa ............................................................ 214 LIVROS: O Mundo Exclamante, Fúria de Viver, A Viagem ...................... LIVROS: Graças a Deus!, Sonho?... Logo, Existo!, Tempo de Magia ....... LIVROS: 31 Dias 100 Poemas, A Primavera dos Sorrisos .......................... LIVROS: Intervenção Social – Um Projeto Solidário, Mar em Mim ......... LIVROS: Do Inferno Também se Volta, Rapto em Londres ......................
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REGULAMENTO: Sinfonia de Amor ........................................................... 233 LIVROS SUI GENERIS: Próximas edições ................................................. 241 AUTORES SUI GENERIS: Vários autores nas páginas seguintes ........... 242 3
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Isidro Sousa Editor da SG Mag
sg.magazin@gmail.com https://issuu.com/sg.mag
EDITORIAL Apresentamos o quarto número deste Magazine Literário, uma publicação Sui Generis ao dispor de toda a lusofonia. Verificou-se uma interrupção na saída regular da SG MAG; tal deveu-se a razões de força maior, a nível pessoal, relacionadas com saúde, que impediram o editor de desempenhar as necessárias tarefas para a feitura da revista. Retomamos agora a sua publicação, e tudo se fará para que, no futuro, a sua periodicidade normalize. A presente edição dá especial atenção à autora Sandra Boveto, que reside em Maringá, no Estado do Paraná, Brasil, e apresenta também, além dos diversos textos que a compõem, lançamentos de livros publicados nos últimos tempos. Além disso, um especial destaque para a cultura peruana, que se encontra bem retratada em duas partes da edição: nos contos dos autores Estêvão de Sousa e Guadalupe Navarro, ele português, ela natural do Peru. Agradecemos todas as contribuições que tornaram possível esta edição, que contempla ainda outros conteúdos, em que se incluem crónicas, poesia, opinião, prefácios e uma análise profunda à obra de Stephen King, e contamos com a vossa colaboração na sua divulgação. Desejos de boas leituras, e até à próxima edição!
SG MAG – Magazine Literário Ano 2 – Edição Nº 4 – Maio 2018 Editor e Director: Isidro Sousa Periodicidade: Trimestral ISSN: 2183-9573 Redacção e Publicidade: sg.magazin@gmail.com Endereço na Internet: https://issuu.com/sg.mag Colaboração nesta Edição: Estêvão de Sousa, Everton Medeiros, Guadalupe Navarro, Isabel Martins, Isidro Sousa, José Francisco Tavares Rolo, Lucinda Maria, Manuel Amaro Mendonça, Marilin Manrique, Marizeth Maria Pereira, Maurício Cavalheiro, Paulo Galheto Miguel, Rafa Goudard, Renata Loyolla, Ricardo Solano, Rosa Marques, Sandra Boveto, Sara Timóteo, Teresa Morais Os textos publicados são da exclusiva responsabilidade dos autores que os assinam; os conceitos emitidos pelos autores não traduzem necessariamente a opinião da revista.
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CRÓNICA
O OLEIRO
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INVEJOSO
m um indeterminado reino havia vários oleiros e, entre eles, aquele que se especializou em POR MAURÍCIO CAVALHEIRO criar pequenos e belíssimos vasos. Por serem magníficos, tornaram-no muito conhecido. O nome do oleiro era Setrabalho de Simplón era de baixa qualidade, era ñor Arcilla: profissional caprichoso, perfeccionista, de principiante. Arrematava, dizendo: «Ele só cheio de talento. quer aparecer.» Antes de colocar as mãos no barro, passava diQuando soube dos comentários maledicentes, as e noites elaborando o formato de cada vaso, Simplón ficou chateado, pensou em quebrar todos dentro da dimensão pré-estabelecida, para que os seus vasos e ir embora daquele reino. Só não cada um deles fosse digno de receber o selo de os quebrou porque seus admiradores o convenceoriginalidade. Sua produção era intensa e contíram a não dar importância ao ciúme do Señor Arnua. Por isso, o tempo que dedicava à família era cilla. diminuto e sem qualidade. Mas, por não querer ser causa de nenhum senO Señor Arcilla tinha um grande defeito: a imotimento negativo, Simplón procurou o Señor Arcildéstia. Batia no peito e dizia ser o maior entre tola e lhe disse: dos os oleiros daquele reino e de qualquer parte – Seus vasos são maravilhosos! do universo. Dizia, para quem quisesse ouvir, que – Eu sei que são. São simplesmente os mais beninguém o superaria naquela arte. Muitos não relos, os mais perfeitos. Ninguém me supera nessa futavam a perfeição das obras do oleiro, mas, em arte! Mas, se você tiver alguma dúvida, podemos razão da soberba, evitavam-no. fazer um concurso para que o povo decida quem é Havia outro oleiro que também fazia pequenos o melhor oleiro do reino. e belíssimos vasos. E, embora sua produção fosse Simplón recusou o desafio e disse: reduzida e esporádica, não se dedicava apenas à – Não precisa. Só existe um oleiro que foi, que confecção de vasos de pequena dimensão. Outro é e sempre será insuperável. detalhe que merece destaque é que ele diferia, O Señor Arcilla encheu-se de orgulho. totalmente, do Señor Arcilla, pois era modesto, se – Sou eu, é claro! dedicava à família e às crianças do reino. Seu no– Não. Não é o senhor. me era Simplón. – Não me faça rir. Quem é então? Eu o conheCom o tempo, a produção de Simplón ganhou ço? destaque, fato que não interferiu em seu compor– Acho que sim. O melhor oleiro entre todos tamento comedido e humilde. Por outro lado, o é... DEUS! Señor Arcilla ficou enciumado e espalhou que o 7
“Um autor deve ter uma relação obsessiva com a sua obra, porque é daquelas artes onde se é muito bom ou mais vale estar quieto. Posso revelar que uma razão que me levou a desistir de ser escritor foi ter lido certos fragmentos da obra de Tolstói. Lembro-me de num dos meus livros ter uma cena em que a personagem estava na iminência de morrer e esforcei-me muito por tornar aquilo uma cena importante do livro. Nesse momento estava a ler Guerra e Paz, onde existe uma cena durante a invasão napoleónica da Rússia, com o drama pessoal do príncipe, em que o mesmo era retratado de uma maneira de que eu nunca me aproximaria. Portanto, ou tinha uma relação obsessiva e tentava mesmo ser um bom escritor ou desistia e dedicava-me a ser uma espécie de escritor por procuração, que é ser editor. Assim, revejo-me um pouco através das obras dos autores que publico.” Francisco Vale, editor da Relógio D’Água, numa entrevista ao Diário de Notícias ( 9 de Agosto de 2017, DN Artes )
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APRESENTAÇÃO
FÚRIA DE VIVER ISIDRO SOUSA Nasceu em 1973, numa aldeia remota das Terras do Demo, concelho de Moimenta da Beira, e reside no Porto. Jornalista e editor de publicações periódicas desde 1996, fundou, dirigiu e editou revistas, jornais e guias turísticos, publicou a primeira antologia em Fevereiro de 2001, colaborou com três editoras, participou em várias dezenas de obras colectivas, foi distinguido num concurso literário e é o responsável pelos projectos da Sui Generis, que criou em Dezembro de 2015. Publicou dois livros: «Amargo Amargar» e «O Pranto do Cisne». Blogue do Autor: http://isidelirios.blogspot.pt Página no Facebook: www.facebook.com/isidro.sousa.2
“Fascinou-me mais a ideia de organizar esta antologia do que redigir a biografia. Lançado o desafio a quem desejasse participar, foram submetidos imensos trabalhos, em prosa e poesia. Resultou num Fúria de Viver bastante vasto e abrangente – vislumbrando-se uma “fúria de viver” em cada texto porque se gosta realmente de viver, ou podendo existir essa mesma “fúria de vida” por outras razões, talvez menos felizes... como numa situação de enfermidade em que o seu portador, de algum modo, se agarre furiosamente à vida, visando manter-se vivo.” POR ISIDRO SOUSA
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m tempos (eu nem imaginava ainda que viria a organizar antologias e, consequentemente, criaria a Sui Generis), talvez devido ao facto de ter tido, desde tenra idade, uma vivência nada facilitada, embora tão sofrida quão irreverente, destacando-se continuamente por uma certa “diferença”, foi-me sugerido, por várias pessoas, que redigisse uma autobiografia. Argumentavam que a minha vida era rica, fértil em emoções, tanto na esfera privada como na área profissional. E insistiam: se essa biografia fosse divulgada seria um sucesso. Ou algo parecido. Mas eu mostrava-me avesso a escrevê-la. Não lhe vislumbrava qualquer importância. Nem entendia que interesse poderia despertar em outrem... Gostei sempre de escrever, é um facto; desde a adolescência, apesar de só recentemente ter conseguido concretizar sonhos literários. Prefiro combinar ficção com realidade numa narrativa – esta fórmula, para mim, é o casamento perfeito, seja no drama ou na aventura. E esquivavame à biografia respondendo «Se querem conhecer a minha vida,
Se dei sempre (continuo a dar) Graças a Deus por tudo o que sucede na minha vida, porque não transformar esse sentimento, essa fé, esse louvor numa obra literária? Fi-lo, sem hesitar. Ocorreu-me algo similar quando decidi organizar esta nova obra colectiva intitulada Fúria de Viver. Se existe “fúria de viver” na minha pessoa e a literatura é, presentemente, o meu instrumento de trabalho, o que me impede de fazer um Hino à Vida sob a forma de literatura?
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leiam as minhas estórias». Imensos textos que desenvolvi revelam muito do seu autor. Pensamentos, emoções, sentimentos, alegrias, tristezas, sonhos, ilusões, vivências... Sim, gosto disso. De misturar. Fundir. Casar a ficção com a realidade. Construir outras tramas a partir daí... No entanto, não raras vezes dei comigo a pensar nessa sugestão que tantas vezes me fizeram de um modo deveras insistente. Tipo água mole em pedra dura tanto bate até que fura... Embora me mostrasse avesso a essa possibilidade, confesso que a considerei algumas vezes. E ao ponderá-la uma ideia desenhou-se-me na mente: «Se vier a escrevê-la, chamar-se-á Fúria de Viver.» Porque a “fúria de viver” caracterizame... é um certo reflexo da minha personalidade, ou a minha existência não fosse pautada, desde sempre, pela sede/fome de vida. O título não é inédito, tão-pouco é exclusivo de alguém. O actor James Dean protagonizou o filme de Nicholas Ray que recebeu o mesmo nome e a SIC exibiu, em 2002, uma telenovela que apresentava este título.
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Creio que foi nessa época que se me enraizou na mente. Registei-o no arquivo. Porque aplica-se, perfeitamente, à minha trajectória de vida. Porque, de facto, adoro viver. Adoro fazer. E fazer que gostem de viver. Vivo todos os dias com intensidade – cada dia como se fosse o último. Sim, tenho fúria de viver... ou vivo a vida com fúria, não haja dúvidas. Nunca redigi qualquer autobiografia; não obstante apreciar leituras biográficas, essa ideia não me seduz. Em 2015, a minha vida seguiria um rumo inesperado, fazendo-me organizar obras colectivas. E cada antologia, apesar de ser constituída por vários autores, contém sempre algo de mim – algumas contêm muito! Como, por exemplo, Graças a Deus!, publicada em Dezembro de 2016. Se dei sempre (continuo a dar) Graças a Deus por tudo o que sucede na minha vida, porque não transformar esse sentimento, essa fé, esse louvor numa obra literária? Fi-lo, sem hesitar.
Ocorreu-me algo similar quando decidi organizar esta nova obra colectiva intitulada Fúria de Viver. Se existe “fúria de viver” na minha pessoa e a literatura é, presentemente, o meu instrumento de trabalho, o que me impede de fazer um Hino à Vida sob a forma de literatura? Fascinou-me mais a ideia de organizar esta antologia do que redigir a biografia. Lançado o desafio a quem desejasse participar, foram submetidos imensos trabalhos, em prosa e poesia. Resultou num Fúria de Viver bastante vasto e abrangente – vislumbrando-se uma “fúria de viver” em cada texto porque se gosta realmente de viver, ou podendo existir essa mesma “fúria de vida” por outras razões, talvez menos felizes... como numa situação de enfermidade em que o seu portador, de algum modo, se agarre furiosamente à vida, visando manter-se vivo. O resultado global, sem mais delongas, é a belíssima obra que tendes nas mãos. Boas leituras! Prefácio de Isidro Sousa incluído no livro Fúria de Viver – Um Hino à Vida
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CONTO
MULHER ALADA “Eu sentia o peso do mundo apoiando-se RENATA LOYOLLA Nasceu em 1974, na cidade de Presidente Epitácio, SP, Brasil. Formou-se em Direito em 1997 e mudou-se para a cidade de Maringá, PR, para exercer advocacia. Após dois anos sentindo-se inadequada na profissão, iniciou uma nova carreira no campo artístico. Em 2005 inaugurou a sua escola de dança do ventre. Amante da literatura, experimenta, agora, a encantadora arte de expressar-se pela escrita, sendo co-autora da antologia «Fúria de Viver».
sobre as minhas costas, o peso da minha
Página da Autora: www.facebook.com/renata.loyolla.7
presa naquele mundo que não era meu.
escolha maltratando todo o meu ser, isso por dois longos e intermináveis anos. Fechei a persiana rapidamente e voltei-me a sentar. Naquele instante, senti que algo havia mudado dentro de mim. Felizmente, a minha essência não quis se calar e não permitiu que eu continuasse a viver ali,
Minha alma gritou, pedindo por liberdade! Uma fúria de viver tomou conta de todo o meu ser, como uma onda de calor crescente, que me encorajou a tomar uma das decisões mais importantes da minha vida: eu mudaria de profissão!” POR RENATA LOYOLLA
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lhos marejados, com o peito ardendo em angústia, lá estava eu no 19º andar do prédio em que trabalhava. Pela janela, meu olhar se fixava nas centenas de pessoas que caminhavam pela calçada. Lá fora o dia estava ensolarado e quente, mas dentro do escritório o clima era gelado, tal qual minha alma se encontrava. Para cada pessoa que eu via lá embaixo, eu tentava imaginar se eram felizes com a profissão escolhida, pois o erro da minha escolha já era um fato comprovado.
Os dias trabalhando em frente à tela daquele computador, montando processos e petições, pareciam não terminar jamais. Eu sentia o peso do mundo apoiando-se sobre as minhas costas, o peso da minha escolha maltratando todo o meu ser, isso por dois longos e intermináveis anos. Fechei a persiana rapidamente e voltei-me a sentar. Naquele instante, senti que algo havia mudado dentro de mim. Felizmente, a minha essência não quis se calar e não permitiu que eu continuasse a viver ali, presa naquele mundo que não era meu. Minha alma gritou, pedindo por liberdade! Uma fúria de viver tomou conta de todo o meu ser, como uma onda de calor crescente, que me encorajou a tomar uma das decisões mais importantes da minha vida: eu mudaria de profissão! A decisão estava tomada, mas havia um longo caminho a percorrer. Resolvi prestar vestibular novamente, então, para psicologia. Era o que parecia estar mais próximo da minha essência. Eu queria ajudar as pessoas. Sim, queria que elas enxergassem o que há de melhor dentro delas, que lutassem por seus sonhos e que pudessem ser realmente felizes.
A arte era a minha única válvula de escape. Era o que me mantinha sã e energizada. A arte da dança do ventre, com seus mistérios milenares, fazia parte dos momentos mais prazerosos da minha rotina. Nos momentos em que eu dançava, todo o meu ser se libertava; um novo plano se abria e eu me sentia leve e suave como uma brisa.
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Nesse mesmo período, a arte era a minha única válvula de escape. Era o que me mantinha sã e energizada. A arte da dança do ventre, com seus mistérios milenares, fazia parte dos momentos mais prazerosos da minha rotina. Nos momentos em que eu dançava, todo o meu ser se libertava; um novo plano se abria e eu me sentia leve e suave como uma brisa. Mas esses momentos duravam pouco, e logo eu precisava voltar à minha dura realidade. Passei no vestibular, isso me trouxe uma imensa alegria! Porém, perdi o emprego e outras preocupações começaram a surgir. Comecei a cursar a faculdade no período integral, mas estava muito inquieta, pois, apesar de todo o apoio da família, eu precisava buscar um trabalho que pudesse conciliar com o curso. Foi, então, que uma amiga me incentivou a dar aulas de dança. A princípio pareceu-me uma ideia absurda, mas aos poucos comecei a perceber que essa era a única possibilidade que a vida me apresentava, naquele momento. Resolvi arriscar-me.
Encarei o desafio e comecei a dar aulas de dança do ventre. E, por incrível que pareça, a dança tomou uma proporção incrível dentro de mim e da minha vida. Com o tempo fui percebendo as inúmeras transformações que ela causava nas praticantes. A dança tinha o poder de curar! Sim, ela atuava sobre o corpo e a mente das mulheres,
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curando dores antigas e gerando um novo olhar amoroso sobre si mesmas. Nunca, em minha vida, eu havia presenciado transformações tão rápidas e tão eficazes na autoestima de uma mulher. Após dois anos cursando psicologia, resolvi dedicar-me, exclusivamente, às aulas de dança do ventre. A arte fisgou-me e, dentro dela, eu me sentia viva e plena! E assim meu mundo girou, girou e girou... E lá estava eu, no meu primeiro espetáculo. Teatro lotado e uma ansiedade crescente faziam minhas mãos suarem intensamente. Era o primei-
ro espetáculo de dança do ventre que aconteceria na cidade. A expectativa era imensa, tanto das participantes, quanto do próprio público que, pela primeira vez, assistiria algo do gênero.
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Havia setenta e cinco mulheres lindamente produzidas; figurinos brilhantes, olhos maquiados e cabelos encantadores. O cenário era de uma riqueza ímpar: tecidos coloridos formavam uma linda tenda e dez lustres imensos iluminavam o palco. Meu coração parecia não caber dentro do peito. Batia de maneira tão intensa que parecia que eu estava nascendo novamente ali, naquele momento. Soou o terceiro sinal. O show ia começar. Fiz o sinal da cruz, respirei profundamente e desejei boa sorte a todas as participantes. As cortinas vermelhas se abriram e todos os olhares se voltaram para o centro do palco, onde havia uma pirâmide dourada de quatro metros de altura. O foco de luz central iluminava apenas a pirâmide, o restante do cenário ainda seria uma surpresa. A música começou a tocar e o suspense aumentou. E eu, com meu figurino branco ricamente bordado, com imensas mangas flutuantes que mais pareciam asas, aguardava escondida atrás da pirâmide o momento da minha entrada. Comecei a subir as escadas e, a cada degrau, eu sentia meu espírito elevar-se aos céus. Eu era pura energia e êxtase! Finalmente, quando cheguei ao topo da pirâmide, abri meus braços e senti uma explosão de sentimentos tomarem conta de mim! Eu havia-me transformado em uma mulher alada, uma verdadeira Deusa Egípcia. A minha fúria de viver, finalmente, assumira sua forma física! Entre movimentos ondulatórios e tremidos de quadril, eu sentia meu corpo todo arrepiado. O público parecia hipnotizado. Aquele momento ficaria para sempre na minha memória e era, apenas, o início de uma nova era, de um novo ser e de uma nova vida: a minha tão sonhada e verdadeira vida!
A cada degrau, eu sentia meu espírito elevar-se aos céus. Eu era pura energia e êxtase! Finalmente, quando cheguei ao topo da pirâmide, abri meus braços e senti uma explosão de sentimentos tomarem conta de mim! Eu havia-me transformado em uma mulher
Texto incluído no livro Fúria de Viver, páginas 35-37. Fotos da autora, gentilmente cedidas pela mesma.
alada, uma verdadeira Deusa Egípcia. 21
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ENTREVISTA
SANDRA BOVETO Sandra Boveto (Maringá, PR, Brasil) ingressou no universo literário em 2015, buscando a publicação do seu primeiro livro solo, «O Mundo Exclamante», escrito a pedido de seu filho. Desde então, tem participado em antologias no Brasil e em Portugal. Tem formação académica em Letras e Direito e actua como Auditora Fiscal da Receita Federal do Brasil. No seu tempo livre, faz da escrita a sua segunda actividade profissional. Dedica-se também à dança do ventre, como hobby. Apesar do ritmo frenético da sua rotina, o seu amor pela arte, especialmente a literatura e a dança, encontra sempre um espaço para se revelar. POR ISIDRO SOUSA
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PREFÁCIO
O MUNDO EXCLAMANTE A especial inspiração deste livro nasceu no dia 02 de janeiro de 2008. Desde o seu primeiro ano de idade, Felipe demonstrou um interesse surpreendente por aprender. Sempre se mostrou curioso, detalhista e meticuloso. Bem cedo, ele se encantou com as letras. Costumava pedir para que lêssemos palavras e frases que lhe chamassem mais a atenção. Não havia nada com letras que não atraísse os seus grandes olhos verdes. Devido a esse especial interesse, a partir dos quatro anos sua leitura já estava aperfeiçoada e, então, iniciou a escrita. Gostava de inventar palavras ou expressões diferentes, ou adaptá-las ao que precisava em dado momento. Assim, surgiram “exclamado”, “metreletritos”, “céu de amor”, “tartagura voante”, entre outras, usadas ao longo deste livro. Aliás, há muito do Felipe e de suas brincadeiras e observações ao longo desta história de fantasia. Aos seis anos, ele me perguntou: “Mamãe, se você pudesse escolher outra profissão, o que você escolheria?”. Respondi que gostaria de ser escritora. Então, ele me pediu que escrevesse um livro para ele. “E aqui está o livro que você me pediu, inspirado e dedicado a você, meu filho!” O nome singular do personagem, Felipower, originou-se de um jogo, uma brincadeira que criamos na forma de um quadro de incentivos para o Felipe. Houve o Felipower 1.0, o Felipower 2.0, e assim sucessivamente. O uso da expressão “power” deve-se a uma gíria que Felipe, por volta dos quatro anos, ouvia de um amigo mais velho, e que lhe chamava muito a atenção: “Isso é power!” – dizia o amigo. Felipe apelidou o amigo de “tio Power”. Devido ao notório significado dessa palavra, pareceu adequado e sonoro juntar ao nome Felipe para incentivá-lo ainda mais na nossa brincadeira. E, como consequência, surgiu o nome do personagem principal deste livro. Felipower experimenta um mundo de novidades em um universo de fantasia, que a cada momento o surpreende, provocando nesse garotinho especial uma destemida curiosidade e um aprendizado significativo para sua vida. Sandra Boveto 24
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SG MAG – Como despontou o seu gosto pela escrita? SANDRA BOVETO – A literatura sempre me fascinou, por ser um meio de expressão e também de criação. Mas a primeira vez que notei que eu gostava de criar histórias e me expressar por meio das letras foi aos 15 anos, numa actividade da escola. Tínhamos que produzir um texto de ficção. Lembro-me que me encantei com aquele desafio e senti um prazer imenso em inventar uma história de suspense e mistério, transformada num livretinho rudimentar de 38 páginas, escrito à mão, sob o título «Traições». Poucos anos depois, a experiência se repetiu. Escrevi «Uncanny Cliff», um pequeno conto de mistério, para uma revista da escola de inglês que eu frequentava. Porém, à época, não havia percebido que aquilo seria, no futuro, uma paixão, um vício. Isso despontou quando, há aproximadamente 9 anos, comecei a me expressar no que seria um diário, mas acabou por tornar-se um conjunto de ensaios e reflexões sobre a vida de modo geral. No entanto, naquela fase, eu era a minha única leitora. Meu filho foi o responsável por despertar o meu lado escritora para um público além de mim mesma, quando me pediu para escrever um livro para ele.
necessidade de me expressar. A escrita foi a rachadura dessa represa. Mas, ao contrário de um estrago, encontrei nessa rachadura uma amiga silenciosa, compreensiva, fiel e parceira para todos os tipos de sentimentos, reflexões e aventuras criativas. Quando meu filho me perguntou o que eu gostaria de ser se tivesse outra profissão, respondi rapidamente: «Escritora». Foi quando ele pediu: «Mamãe, então escreve um livro pra mim». Comecei «O Mundo Exclamante» no mesmo dia. Nesse ponto, iniciou-se meu recente percurso literário. A partir daí, comecei a participar de antologias de contos no Brasil e em Portugal. Em meados de 2016, você, Isidro, observou que havia poesia em alguns escritos meus. Eu mesma nunca havia parado para pensar nisso. O seu convite para participar de uma antologia que você organizava [«Torrente de Paixões»] foi o ponto inicial de um novo caminho. A partir daí, não pude mais deixar de escrever também poesias.
Até editar um livro, em 2016, que caminho desbravou? E quais foram os momentos mais marcantes nesse percurso literário? Bem, até há pouco tempo, eu não olhava para mim mesma como alguém com habilidade para escrever textos ficcionais e poesia, apesar da brevíssima experiência na adolescência. Já adulta, escrevia muito, porém escritos de cunho técnico-profissional. Há cerca de 9 anos, como mencionei, comecei a registrar pensamentos em um diário. Parecia haver algo represado em mim, e sentia uma profunda
Explora vários universos na sua escrita, do drama à fantasia, da prosa à poesia. Quais são os temas que mais a seduzem? Para a leitura, todos os temas, sem exceção, seduzem-me, se percebo que foram escritos com autenticidade, originalidade e paixão.
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Para a escrita, estou no caminho de uma definição ainda. Por enquanto, percebo-me mais inclinada a textos introspectivos, tanto na prosa quanto na poesia. Também gosto de utilizar metáforas e analogias, de explorar as palavras em todos os seus possíveis significados e fazer delas brinquedos e quebra-cabeças. Mas também já me aventurei a escrever sobre mitologia, terror, suspense, filosofia, que são temas que muito me encantam como leitora e ainda pretendo desenvolvê-los como escritora.
estreia literária? O que a fascina no universo infantil? A motivação foi, principalmente, meu filho: tanto o pedido que ele me fez de escrever um livro para ele, quanto ele mesmo e sua personalidade, usados como fontes de inspiração. Ele sempre gostou de ler. Começou a ler muito cedo – um autodidata nas letras. O comportamento dele sempre me encantou, sob vários aspectos, o desenvolvimento, as inferências sobre a vida e o que o cerca, a curiosidade e a empatia que sempre teve, desde muito pequeno, tudo isso tornou rápido e fácil imaginar uma história infantil, tomando ele mesmo como modelo para o personagem principal.
Além do pedido do seu filho, Felipe, terá havido alguma outra razão para publicar um livro infantil? Porque escolheu esta temática para marcar a sua
O que significa «O Mundo Exclamante»? Porquê este título? E em que se inspirou para o escrever? O Felipe, logo que aprendeu pontuação na escola, um dia chegou em casa contando um episódio ocorrido. Disse que uma amiga havia ficado “exclamada” com determinada situação. Ele fez uso do ponto de exclamação, criando um adjetivo, sinônimo de espantado, admirado. Não se tratava do particípio do verbo exclamar, mas do uso como adjetivo mesmo. Essa era mais uma das expressões que ele usava como queria, mas sempre de modo adequado à situação. O “exclamado” ficou gravado na minha mente e, quando criei a história do livro, que se passa num universo muito especial, decidi usar «O Mundo Exclamante».
Percebo-me mais inclinada a textos introspectivos, tanto na prosa quanto na
poesia. Também gosto de utilizar metáforas e analogias, de explorar as palavras em todos os seus possíveis significados e fazer delas brinquedos e quebra-cabeças. Mas
Em que se baseia o enredo? E quais os aspectos mais relevantes que destaca na obra?
também já me aventurei a escrever sobre mitologia,
«O Mundo Exclamante» conta a história de Felipower, um garotinho muito especial, que se surpreende ao acordar em um mundo diferente de tudo o que ele já conhecia. Nesse desconhecido universo de cores, formas e sensações novas, Felipower encontra companheiros peculiares que o ajudam a desvendar esse novo mundo. A aventura desse garotinho o conduz a um aprendizado profundo e determinante para a maneira como ele enxergará o seu próprio universo e cada ser vivo do planeta.
terror, suspense, filosofia, que são temas que muito me encantam como leitora e ainda pretendo desenvolvêlos como escritora.
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Quais foram os principais desafios ao escrever para um público infantil? Acredito que a linguagem a ser utilizada foi o principal desafio. Criar uma história capaz de cativar uma criança depende muito do lado criança que ainda mora dentro de nós, das nossas lembranças e experiências. Quem tem o prazer de ter pequenos por perto (filhos, sobrinhos, alunos, por exemplo), também tem uma boa fonte de criatividade. Mas como escrever de forma a sensibilizar os pequenos e a transmitir a mensagem pretendida? Nossa maturidade nos afasta da linguagem infantil, do raciocínio infantil; dificulta que nos coloquemos do lado desse leitor especial, de forma a perceber como nossa história será realmente compreendida. Há a necessidade de passar a mensagem de forma clara e atraente a todo leitor, mas quando se trata de uma criança, esse cuidado deve ainda ser maior. Porém, acredito que não podemos subestimar uma criança, não podemos usar uma linguagem que não a estimule a querer desenvolver sua própria linguagem, a aprender novas palavras e a buscar novos conhecimentos.
Além de envolver os pequenos numa curiosa viagem, «O Mundo Exclamante» deseja transmitir algumas reflexões como: o benefício de se observar e respeitar as diferenças entre as pessoas, diferenças essas vinculadas ou não à imagem do corpo; que cada ser humano, com suas características boas ou ruins, é, ao mesmo tempo, aprendiz e fonte de aprendizado; demonstrar que, dentro de nós mesmos, podemos encontrar respostas sobre como lidar com o nosso mundo; e que todos somos partes de um todo, de uma vida que vai além de nós mesmos, e que temos a missão de tornar esse todo melhor.
Como avalia as críticas e reacções ao livro? O público-alvo do meu livro é naturalmente o infantojuvenil, mas não apenas. Recebi alguns feedbacks de adultos que viram nele um entretenimento agradável
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ao meu filho que me fez conceber esse livro, e me dediquei também com amor a essa criação. Existe nas entrelinhas da sua história afeto e admiração pela vida na forma de uma criança. Existe também uma entrega espontânea a um mundo de fantasia, como um meio de expressar uma visão pessoal e figurativa do que fazemos aqui, neste planeta. E tendo essa minha criação tomado a forma de um livro, ele me realiza. Sinto-me realizada, acima de tudo, com a expressão que vi no rosto do meu filho quando o leu – quase o tempo todo com um sorriso no rosto, atento, dando pequenas gargalhadas aqui e ali. O Felipe já leu o livro três vezes, sempre interessado e me fazendo perguntas sobre a história.
e reflexivo. Procurei usar uma linguagem acessível às crianças, porém não subestimando sua capacidade de compreensão e desenvolvimento do vocabulário (tomando meu filho como referência) e, com isso, percebi que «O Mundo Exclamante» acabou conquistando os maiores também, pelas mensagens subliminares que pretendi transmitir. Fiquei muito satisfeita com os comentários que recebi.
O livro foi gerado com o amor de uma mãe pelo filho. Não se
trata apenas de uma analogia. Foi o amor ao meu filho que me fez conceber esse livro, e me dediquei também com amor a essa criação. Existe nas entrelinhas da sua
Sente-se realizada?
história afeto e admiração pela
Sim, acima de qualquer expectativa. Sinto-me realizada sob muitos aspectos. Iniciei no universo literário atendendo a um pedido nobre do meu filho. Sinto-me realizada como escritora e como mãe de uma criança que ama ler, e como mãe que cumpre o que promete. Sinto-me realizada por ser mãe literária de um livro com qualidade não apenas de forma, mas também de conteúdo. O livro foi gerado com o amor de uma mãe pelo filho. Não se trata apenas de uma analogia. Foi o amor
vida na forma de uma criança. Existe também uma entrega espontânea a um mundo de fantasia, como um meio de expressar uma visão pessoal e figurativa do que fazemos aqui, neste planeta. 28
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Gostaria que essa experiência se repetisse com outros pequenos leitores. É o que espero, pois é muito gratificante perceber que o que escrevemos provoca emoção, reflexão e algum tipo de entrega à leitura.
King... e a lista é longa demais. Sempre amei interpretar ideias... especialmente as de poetas clássicos em versos de aparência complexa que, de algum modo, pareciam revelar a intimidade da sua alma. E não há como falar em versos e intimidade de alma sem lembrar de «Versos Íntimos» e de Augusto dos Anjos, o primeiro poema que me arrebatou, de um dos poetas que mais me fascinam. Na poesia, não posso deixar de citar também minha admiração por Álvaro de Campos (heterônimo preferido do gigante Fernando Pessoa) e Pablo Neruda, entre tantos outros.
Existem muitas influências na sua escrita ou nem por isso? Se sim, quais os autores que mais admira? Há, de fato, uma lista enorme de autores a quem admiro, cujas obras (não apenas de ficção) certamente trago sistematizadas em minha mente e somadas à minha própria história de vida, inspirando ideias e talvez o meu estilo de escrita. Apenas como exemplos, pouquíssimo abrangentes, posso citar: Clarice Lispector, James Joyce, Goethe, Shakespeare, José Saramago, Dan Brown, Stieg Larsson, Stephen
Participa frequentemente em diversas obras colectivas que abrangem variadíssimas temáticas, não só no Brasil mas também em Portugal. De que modo é que estas participações viriam a contribuir
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mais acessível, tornamos real o sonho da publicação. Nosso trabalho é disponibilizado ao público, seja ele o leitor, um outro escritor ou o editor da obra. A realidade é que um novo autor, desconhecido no mundo literário ou em qualquer meio artístico, regra geral, tem dificuldades de ser percebido ou reconhecido. As antologias proporcionam, ainda que de forma não tão ostensiva, que o autor seja conhecido em algum universo literário. Proporciona que pelo menos o organizador da antologia, alguém já experiente e envolvido
para a concretização de um sonho literário? Até buscar a publicação do meu livro, confesso que não conhecia o universo das antologias. Fiquei encantada com essa forma de publicação, por ser uma excelente oportunidade de exercício, especialmente para quem não pode dedicar o tempo integral à escrita. As antologias são, ao mesmo tempo, um caminho e um destino louváveis, pois, enquanto buscamos aperfeiçoamento, temos o gosto de ver trabalhos publicados. Nesse caminho, conhecemos profissionais novos e, também, os experientes, aumentamos o círculo de amigos envolvidos com o meio literário e conhecemos editoras e editores. É um meio rico de envolvimento ativo com o mundo literário.
Até buscar a publicação do meu livro, confesso que não conhecia o universo das antologias. Fiquei encantada com essa forma de publicação, por ser uma excelente oportunidade de exercício, especialmente para quem não pode dedicar o tempo integral à escrita. As antologias são, ao mesmo tempo, um caminho e um destino louváveis, pois, enquanto buscamos aperfeiçoamento, temos o gosto de ver trabalhos publicados.
Que importância atribui às obras colectivas? As obras coletivas têm a importância da realização. Quero dizer que, por meio delas, de um modo
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com o meio, possa ler seu trabalho. Além disso, os demais autores da antologia conhecerão a escrita desse novo autor. Seu trabalho será divulgado em redes sociais, seu nome constará nas capas de obras coletivas. O autor terá o que apresentar como histórico de obras publicadas. Enfim, são muitos os benefícios que uma obra coletiva tem, em termos de proporcionar publicidade. Mas claro que o autor deve se preocupar com a qualidade da editora/organizador da obra, pois participar de uma obra coletiva em que não há o mínimo de critério na escolha de seus participantes não é desejável, pois não lhe concede o reconhecimento da qualidade de seu trabalho. Portanto, importa também buscar editoras e organizadores cujos nomes e selos tenham qualidade, sejam confiáveis e valorizem aquela obra pela qual o novo autor torna-se conhecido.
de outras culturas, o que permite, apesar de não serem muito diferentes e de usarem todos o mesmo idioma, observar-se humores e tons variados na escrita. O universo de leitores expande-se, e também o universo de amigos. Um exemplo de como pode ser gratificante esse intercâmbio é ver meu livro solo atravessando o Atlântico para ser lido em Portugal. Não fossem suas antologias, Isidro Sousa, isso não teria acontecido tão rapidamente.
Após «O Mundo Exclamante», quais são os seus planos (ou objectivos) para os próximos tempos? Já está a pensar numa nova obra? Estou finalizando um livro de poesias, que pretendo ver publicado ainda neste ano ou até início do ano que vem. Infelizmente, meu tempo dedicado à escrita é diminuto, pois não posso torná-la a minha profissão principal, por enquanto. Por conta disso, meus projetos literários têm andado a passos extremamente lentos, em comparação ao que gostaria. Mas pretendo publicar meu primeiro livro de poesias tão logo eu o perceba pronto, e isso está próximo. Na sequência, tenciono continuar a escrever poemas, mas retornar à escrita da prosa, que anda presa pelo tempo, esse voluntarioso carcereiro.
As antologias Sui Generis, nas quais participa regularmente, privilegiam a lusofonia. Em que medida considera importante este intercâmbio cultural? Considero de suma importância, pelos mais variados motivos. Entre eles, está a oportunidade de conhecer escritores e editores de fora do Brasil. É importante porque conhecemos o estilo de escrita e expressão
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Ainda assim, gosto de me sentir ausente da minha identidade quando leio um livro.
Em que consistirá o próximo livro de Sandra Boveto? E para quando? Meu próximo livro será uma coletânea de poesias. Ele está com o original praticamente pronto. Minha intenção é publicá-lo ainda neste ano ou até início de 2019.
E o que faz de alguém que escreve um bom escritor? Acredito que conhecimento, trabalho e experiência. Esses conceitos podem ser subjetivos no campo da arte, mas, de qualquer modo, traduzem-se pela investigação, pesquisa e leitura na busca de conteúdo; pela disposição em trabalhar-se (com amor) um texto, sem pressa e aprimorando seu conteúdo e sua forma; e pelo aprendizado já adquirido por meio do estudo e do trabalho. O imediatismo na escrita não funciona, na minha opinião. Claro que isso depende da finalidade do escrito. Uma publicação descompromissada em rede social pode ser algo menos trabalhado, mas, ainda assim, há que se colocar um mínimo de preocupação com a qualidade do que se escreve, afinal, as redes sociais são um meio de divulgação importante, especialmente para novos escritores.
O que é para si um bom livro? Para mim, um bom livro é aquele que toma conta da minha mente, completamente. Seja prosa ou poesia, a obra tem que fazer a minha imaginação, a minha emoção ou o meu raciocínio pertencerem a ela. Deixo de ser eu mesma e passo a ser algo que se mistura com as páginas, as linhas e as letras, algo sem identidade ou preconceitos. Claro que isso não é possível, pois a leitura que fazemos, não apenas dos livros, mas do mundo, é resultado do que somos.
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Para que serve a literatura? Para mim, a literatura é um buraco de minhoca. Através dele, podemos chegar numa espécie de universo paralelo reorganizado. É o uso da estética para reorganizar a realidade, numa alternância constante entre fuga e reencontro. É fuga do caos obrigatório e encontro com a ordem escolhida. Não se enganem os rebeldes e nem os conservadores... a arte é a forma máxima de organização, é a entropia dominada, sob controle. Na literatura tudo faz sentido. Ela traz aquele sentido que não se encontra no que se supõe real, e que os inquietos buscam insaciavelmente. Na literatura, o amor, a angústia, a dor e os finais infelizes fazem sentido, ainda que apenas o sentido de serem desejados pelo criador. Ainda sim, os mais inquietos não se satisfazem e reinventam esse buraco de minhoca, encolhem, esticam, alargam, estreitam, mudam a cor, a forma, a textura e cada detalhe cuja existência perceberem.
O imediatismo na escrita não funciona,
na minha opinião. Claro que isso depende da finalidade do escrito. Uma publicação descompromissada em rede social pode ser algo menos trabalhado, mas, ainda assim, há que se colocar um mínimo de preocupação com a qualidade do que se escreve, afinal, as redes sociais são um meio de divulgação importante, especialmente para novos escritores.
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do que pegar um livro. A fonte dessa dificuldade toda também está na forma como a Educação é conduzida de modo geral, não recebendo a valorização, o foco e o investimento adequados. O cenário do sistema educacional e, por consequência, cultural é ainda muito susceptível a questões políticas, econômicas e de interesses particulares não vinculados a um progresso intelectual e cultural do povo. Por tudo isso, a arte e, em especial, a literatura, no nosso país que, pela sua amplitude populacional, poderia oferecer um campo fecundo de desenvolvimento, acaba revelando um número muito restrito de novos talentos. A vida de escritor no Brasil, regra geral, é, e ainda será por muito tempo, nutrida basicamente por empenho, persistência, abnegação e amor ao que se faz. Há um longo caminho até alcançarmos um país (povo e governo) que entenda a importância da arte como um valoroso meio de expressão e evolução do povo, e um delicioso alimento para a alma e o intelecto.
Como caracteriza o meio literário brasileiro? A arte, de modo geral, no Brasil sofre um contexto complexo demais. De um lado, há riqueza criativa e, de outro, há falta de visão e de aproveitamento e bom direcionamento dessa riqueza. Entre esses polos, perseveram os artistas em uma luta para que a arte não morra, mas seja reconhecida, apreciada e se desenvolva. Nesse meio difícil, há também um grande público potencial para essa arte, mas que ainda se debate para conseguir colocar comida na mesa. Seria comparável às fases de um jogo de videogame. O povo brasileiro, na sua maior parte, está num nível mais básico do jogo. Ainda não alcançou a fase de alimentar também a alma, como questão de sobrevivência. Além disso, há uma preguiça intelectual generalizada, motivada pelos mais diversos fatores, sejam eles culpáveis ou não. É mais cômodo, para alguns, estacionar passivamente na frente de uma televisão, depois de um dia cansativo,
Convive diariamente com outro autor (Everton Medeiros) dentro de portas. Qual é a mais-valia de ser casada com um homem que partilha a mesma paixão pelas letras?
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Meu marido sempre teve facilidade para a expressão escrita e muita criatividade. Ele já havia redigido um roteiro cinematográfico, anos atrás, para o cinema norte-americano, mas, devido ao curso que a sua vida tomou, parou no meio do segundo roteiro e não continuou nesse caminho. Logo que comecei a escrever para antologias, incentivei-o bastante a participar também, e ele gostou da experiência. Desde então, ambos dividimos esse gosto e usamos nosso tempo livre, lado a lado, escrevendo. Abandonamos nossas amadas
séries de televisão, entre outros entretenimentos que dividíamos no pouco tempo que nos sobrava para o lazer. Acredito que isso já demonstre como é positivo ter ao lado alguém que divide a mesma paixão, pois compreendemos a necessidade um do outro de usar o tempo livre para a escrita. Assim, encontramos apoio e incentivo bem perto, além de trocarmos ideias e opiniões sobre o que escrevemos.
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Que mensagem gostaria de transmitir aos leitores em geral?
E aos autores em particular? Aos autores em particular, eu diria que não percam de vista seus objetivos e pensem na escrita sempre como algo a evoluir, algo contínuo em termos de aperfeiçoamento. Estudem, pesquisem, trabalhem, trabalhem de novo e trabalhem mais um pouco seus textos. Conheçam seu instrumento principal de trabalho, a língua, ainda que seja para manipulá-la, dispensando conscientemente suas regras.
Não posso deixar de recomendar que embarquem seus pequenos (e juntem-se a eles) na viagem a «O Mundo Exclamante». Melhor que isso, embarquem os pequenos em todas as viagens desse fantástico mundo que é a literatura sempre que possível. Esse universo é encantador em todas as idades, mas é especial quando você pensa na infância, ou mesmo na adolescência, períodos em que os alicerces do conhecimento, da cultura e da própria vida são edificados. A literatura abre horizontes, estimula novas sinapses e revela, além do nosso próprio universo, infinitas possibilidades de mundos “exclamantes”. Devo ainda dizer que é missão do leitor manter acesa a chama literária. A leitura é um estímulo essencial à escrita, sob qualquer ângulo – seja do leitor, cujo interesse e capacidade de crítica incentivam e aprimoram os escritores; seja pelo ângulo do próprio escritor, que encontra nos livros um valioso instrumento para enriquecer a sua escrita.
Deseja acrescentar algo que não tenha sido abordado? Sim, gostaria de agradecer a oportunidade especial de fazer parte dessa edição da SG MAG. Parabéns por mais esse projeto, Isidro Sousa. Sinto-me honrada e muito feliz com seu convite e desejo-lhe um imenso sucesso.
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A autora também tem alguns exemplares consigo. Quem tiver interesse neste livro, pode entrar em contacto directo com Sandra Boveto por mensagem particular, através da sua página no Facebook: www.facebook.com/sandra.bovetodasilveira
O MUNDO EXCLAMANTE Encontra-se à venda nestas livrarias online: http://www.asabeca.com.br http://www.martinsfontespaulista.com.br http://www.ciadoslivros.com.br https://www.livrariacultura.com.br
Mais informações sobre «O Mundo Exclamante» podem ser encontradas no blogue da autora: https://sandraboveto.blogspot.com.br
Em Maringá, PR, Brasil, cidade onde a autora reside, está disponibilizado fisicamente nas Livrarias Curitiba.
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CONTO
EM BUSCA DA MÉDIA ARITMÉTICA SANDRA BOVETO Nascida em 1969, reside na cidade de Maringá, PR, Brasil. Possui graduações académicas em Letras e Direito. É autora do livro «O Mundo Exclamante», uma obra infanto-juvenil publicada em Agosto de 2016, tem participações (poemas e contos) em várias obras colectivas, no Brasil e em Portugal, e trabalhos publicados na plataforma Wattpad. Participou nas antologias «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Sexta-Feira 13», «Fúria de Viver», «Tempo de Magia» e «Os Vigaristas» da Colecção Sui Generis. Página da Autora: www.facebook.com/sandra.bovetodas ilveira
“Uma influência sobrenatural agiu, poderosamente, sobre mim. Eu sei, eu sei! Essa não é uma explicação razoável, porém, é a única aplicável. Uma explicação adequada para uma atitude estapafúrdia. Fiz a coisa mais ridícula e indevida que um ser humano, com as minhas características físicas e psicológicas, e com uma consciência carrasca, poderia fazer. Escrevi uma carta declarando os meus “sentimentos” para ele. Que sentimentos? Sentimentos de alma! Uma bizarrice no mundo das emoções! Possivelmente, toda aquela afinidade e companheirismo fizeram aflorar um sentimento platônico e confuso.” POR SANDRA BOVETO
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em graça, quadradinha, com espinhas, cabelos teimosamente desgrenhados e usando uma túnica larga – esse era o meu reflexo no espelho, no primeiro dia do meu novo trabalho. Eu era tímida, muito tímida, e meu olhar entregava a minha insegurança. Havia muitas coisas naquele espelho para eu melhorar. Até sabia mais ou menos o que tinha que mudar, mas nem tudo dependia da minha modesta atitude. Sabia de alguns “o quês”, mas não conhecia os “comos”. O espelho continuou no meu pensamento até eu chegar ao escritório. Esqueci o espelho e bateu uma conhecida ansiedade. Novas pessoas. Pessoas! Que medo! Mas eu me acalmei. Já havia percebido que, quanto mais desconhecidos houvesse ao meu redor, menos eu apareceria. Isso me dava uma espécie de conforto. Dirigi-me ao setor de Recursos Humanos e assinei os devidos papéis. Fui para a minha nova sala. Poucas pessoas lá. Meu novo chefe, ufa, uma energia ótima! Colegas diferentes! Falei um “oi” acanhado para cada um. Ocupei uma mesa num canto da sala e comecei a ler sobre as minhas novas atribuições. Logo ele entrou, sério, de ombros meio caídos, olhando desconfiado em volta. Sem graça como eu. Trocamos um cumprimento chocho e ele se sentou à mesa ao lado. Enfrentar um novo trabalho foi a nossa primeira expressão de afinidade. Para mim, não apenas o trabalho era novo, havia muito mais: a cidade, as pessoas, a casa, o ritmo de vida, tudo novo! Sempre amei novidades. Apesar de raras, eu as encarava como se fossem oportunidades para encontrar novos espelhos com reflexos diferentes. Ele, meu colega da mesa ao lado, era a pessoa mais próxima de mim naquele novo universo.
Mais próximo pela mesa, do que por outra coisa, no início. Porém, não demorou a que nos uníssemos mais! Dias e semanas sucederam-se. Almoçávamos juntos todos os dias. Depois do almoço, costumávamos comprar guloseimas para lambiscar durante a tarde. Eu sei. Aquela não era uma atitude inteligente para quem queria um espelho mais gentil. Conversávamos bastante. Aos poucos, percebi uma afinidade de almas que eu não imaginava que pudesse existir na realidade. Contudo, tratava-se apenas de conexão de almas e pensamentos. Não havia a mínima atração física da minha parte. Da parte dele, evidente que não também, ora! Gostava da maneira como ele trabalhava, escrevia, desenhava, calculava e falava. Admirava a sua inteligência. Gostava de ficar perto, de conversar. Conversávamos sobre muitas coisas e des40
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cobri que partilhávamos incontáveis interesses, preferências e aspirações. Iniciamos um curso à noite. Passávamos, então, o dia inteiro juntos, de segunda a sexta. Ficávamos lado a lado, o tempo todo, no trabalho, no almoço, num lanchinho antes do curso e no curso. Uma convivência assídua, agradável, tranquila, amigável, com muita conversa, dividindo gostos, dividindo o tempo, sentindo muito prazer na companhia um do outro, mas sem qualquer espécie de paixão. Mais de um ano se passou e, então, uma influência sobrenatural agiu, poderosamente, sobre mim. Eu sei, eu sei! Essa não é uma explicação razoável, porém, é a única aplicável. Uma explicação adequada para uma atitude estapafúrdia. Fiz a coisa mais ridícula e indevida que um ser humano, com as minhas características físicas e psicológicas, e com uma consciência carrasca, poderia fazer. Escrevi uma carta declarando os meus “sentimentos” para ele. Que sentimentos? Sentimentos de alma! Uma bizarrice no mundo das emo-
Aos poucos, percebi uma afinidade de almas que eu não imaginava que pudesse existir na realidade. Contudo, tratava-se apenas de conexão de almas e pensamentos. Não havia a mínima atração
física da minha parte.
ções! Possivelmente, toda aquela afinidade e companheirismo fizeram aflorar um sentimento platônico e confuso. O fato é que eu já sabia o que era atração física sem muitas afinidades. Vivia, a partir de então, a experiência de identificar uma prazerosa versão de mim mesma em um homem que não me atraía fisicamente.
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Não me pergunte agora o conteúdo da carta. Não me lembro de uma palavra. Sabe-se que a nossa psique, convenientemente, deleta certas memórias, visando uma espécie de autopreservação. Portanto, apaguei da minha mente os detalhes daquela atitude irrefletida e despropositada. Eu era uma pessoa tão extraordinariamente sem graça que nada do que eu fazia era digno de arrependimento. Por outro lado, havia uma grande lista de arrependimentos de coisas que nunca fiz. Pois bem, aquela carta foi a primeira coisa feita da qual me arrependi. Como pude estragar uma amizade tão bonita, tão agradável? Pior que isso. Que tipo de pessoa escreve uma carta declarando seus “sentimentos de admiração”, ainda que platônicos, para um homem já comprometido? Aquilo atacava a minha consciência de uma maneira impiedosa. Sim, ele tinha namorada. Que
feio! Mas fiquei protegida das consequências materiais do meu ato por um mês. Escrevi a carta no computador, imprimi e joguei pela fresta da gaveta trancada dele, depois do expediente do meu último dia de trabalho, antes das minhas primeiras férias. Viajei para a minha cidade e lá fiquei por um mês, amargurando o meu ato criminoso. No entanto, tive que voltar. Precisava do meu emprego e do meu salário. Tinha que enfrentar os efeitos nefastos do meu ato. Era o primeiro dia de retorno das férias. Eu já estava na minha mesa de trabalho quando ele chegou, com os ombros de sempre e o olhar de sempre. Trocamos um cumprimento frio e desajeitado. Passei o resto da manhã em silêncio, com o estômago revirado e me sentindo um avestruz sem buraco. Ele também não me dirigiu uma vogal sequer. E chegou a hora do “almoço sempre juntos”. Não, nada de almoçarmos juntos. Ele saiu sem dizer uma palavra. Levantei e fui atrás dele, carregando o estômago que escondia o tal buraco do avestruz. Eu tinha que tentar esclarecer a carta criminosa. Desci as escadas atrás dele e o chamei. Ele olhou para trás meio assustado. Desconcertada, e querendo que o mundo acabasse com efeitos retroativos à data da carta, falei: – Olha! Aquilo não tinha nada a ver, tá? Não sei onde eu estava com a cabeça, mas quero só a sua amizade. Misturei as coisas! Foi uma enorme besteira! Isso mesmo, sem graça e monótona até para me explicar. Ele apenas acenou positivamente com a cabeça e resmungou alguma coisa da qual eu não me lembro direito, tipo um “tudo bem”. Só! Fiquei magoada e decepcionada! Não por achar que ele tinha que ficar comigo. Nada disso! Eu realmente não pretendia um namoro. Não mesmo! O que eu pretendia? Sei lá! Aquela carta foi um enigma em minha vida. É só o que posso dizer.
Escrevi a carta no computador, imprimi e joguei pela fresta da gaveta trancada dele, depois do expediente do
meu último dia de trabalho, antes das minhas primeiras férias. Viajei para a minha cidade e lá fiquei por um mês, amargurando o meu ato criminoso. No entanto, tive que voltar. Precisava do meu emprego e do meu salário. Tinha que enfrentar
os efeitos nefastos do meu ato.
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Fiquei magoada porque a amizade esfriou. Não almoçamos mais juntos. Nossas conversas ficaram escassas. Fiquei decepcionada, porque nossa amizade não era tão forte quanto pensei! Poucos meses depois, GRAÇAS A DEUS, fui transferida para a minha cidade e deixei o maior embaraço da minha história para trás. Em pouco tempo, conheci alguém. Do trabalho! Sim! De novo! Vida social muito agitada a minha! Em um ano, estávamos casados. Mas, com o tempo, meu casamento mostrou tratar-se de mais um exemplo de relação de poucas afinidades, baseada em uma paixão inicial. Todo fogo deixado ao vento, em algum momento, apaga-se, especialmente após alguns baldes de água fria para acelerar o processo. Após quase quatro anos de casamento, eu me divorciei. Sete meses depois da minha separação, recebi um e-mail. Claro que do velho amigo! No e-mail, meu amigo de alma dizia que havia sonhado comigo na noite anterior. Disse que caminhávamos de mãos dadas sobre uma rua de
paralelepípedos. Sabia que eu havia me separado e me contou sobre a separação dele. Estava divorciado havia seis meses. Isso mesmo! E ele se casara um mês antes de mim. Coincidência, não? Enfim, o inesperado sonho (e, talvez, a famigerada carta e, possivelmente, o tédio) estimulou-o a entrar em contato comigo. Começamos a trocar e-mails diariamente. Falávamos sobre tudo. Descobri que, à época, uma lamentável vaidade havia inspirado meu amigo a mostrar a carta para a namorada. Era óbvio que ela não aceitaria mais aquela nossa estreita amizade. Portanto, ele se afastou. Descobri também que aquele garoto desajeitado, sem graça e com cara de virgem, era uma espécie de tarado. Calma! Um tarado do tipo civilizado. Seus e-mails eram um tanto provocantes para um amigo enviar a uma amiga, igualmente sem graça! Trocamos fotos. Ele estava mais interessante e parece que o tempo, e um pouco mais de maturidade, também me deixou mais interessante para ele. Acho que eu havia aprendido al43
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guns “comos” para aqueles “o quês”, que deveriam ser melhorados. Éramos as mesmas pessoas, porém, nosso relacionamento partia de um zero instigante! A distância de mais de 400 km e a via de comunicação tiravam um pouco da minha excessiva timidez. Acho que fez o mesmo com ele. Conversávamos livremente, e assunto não faltava. Ele fazia questão de jogar pimenta em quase todos os e-mails. Descobri que eu gostava de pimenta e resolvi também usar o temperinho. Minha irmã mudara-se para a cidade em que ele morava, pouco antes de iniciarmos nossos contatos. Eu estava para visitá-la no feriado seguinte. Combinamos um encontro. Como ficou suficientemente claro, eu sempre fui muito tímida e insegura. Portanto, tratava-se de uma situação que, em princípio, provocaria alguma ansiedade. Mas, novamente tomada por uma inspiração alienígena, nem ansiosa fiquei para reencontrar meu velho, estranho, novo e
surpreendente amigo. Mais esguia, com a pele mais lisa, cabelos escovados, com uma roupa mais ajustada e sentindo-me dona de mim – esse era meu reflexo no espelho, no primeiro dia do resto da minha vida. Será que conto isso? Certamente sobrou dentro de mim um pouco de inibição e das minhas antigas neuras, para achar que é muita exposição o que vou contar. Bem, estou aqui para isso. O fato é que... Fomos direto para um motel. Forças ocultas, eu já expliquei! O que aquela criatura ou as forças enigmáticas que a acompanhavam faziam comigo? Eu, aquela coisinha sem coragem para nada e cheia de neuras, indo direto para um motel com alguém, bem, nem tão estranho assim! Mas... Foi uma experiência, digamos, surpreendente! Muito, mas muito, positivamente surpreendente! Houve uma contínua alternância entre palavras e ação. Fomos magicamente alvejados por todas as formas de atração possíveis. Foi um encontro completo, perfeito, maluco, espiritual, físico, indescritível! Voltei para a minha cidade. Voltamos aos e-mails. Ah, faltou um detalhe: poucos meses antes, quando começamos a nos comunicar, surgiu uma oportunidade no trabalho, que me permitiu optar entre voltar para a cidade do amigo ou ficar na minha cidade. A cidade do amigo oferecia possibilidades de crescimento profissional, que eu não vislumbrava na minha pequena cidade. Aquela tal força sobrenatural fez com que surgisse essa alternativa, simultaneamente ao sonho dos “paralelepípedos de mãos dadas” na cabeça do velho amigo. Sinceramente, eu não planejava um relacionamento futuro com ele. Digamos que o compartimento do meu cérebro destinado a romances estava no modo “fechado para balanço”. Não pensava em relacionamentos. Afinal, estava divorciada havia pouco tempo e estava dedicandome a uma espécie de aperfeiçoamento pessoal. Não pensava em ter ou não ter outra pessoa. Pen-
Uma lamentável vaidade havia inspirado meu amigo a mostrar a carta para a namorada. Era óbvio que ela não aceitaria mais aquela nossa estreita amizade. Portanto, ele se afastou. Descobri também que aquele garoto desajeitado, sem graça e com cara de virgem, era uma espécie de tarado. Calma! Um tarado do tipo civilizado.
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estávamos juntos, era uma espécie de “tudo ou nada”. Antes, dividíamos experiências, conhecimentos e interesses de alma, como se nossos corpos não existissem. Naquele nosso reencontro, fomos de uma maneira cega direto ao ponto, temperando os intervalos com a nossa boa amizade. Cinema? Passeio? Não sabíamos lidar com aquilo. Antes, andávamos por aí somente como bons amigos, daqueles que mal trocam beijinhos na bochecha. Portanto, como andar de mãos dadas ou trocando selinhos agora? Estranhíssimo! Na sala de cinema, quando
sava em estudar para dar um up na minha vida profissional e financeira. Cuidava de mim, preenchendo meu tempo livre com atividade física, tratamentos estéticos e muitos filmes locados. Descansava. Curtia minha amada solidão. Estava muito bem! Por isso mesmo, a ideia de mudar novamente de cidade não me agradava tanto, apesar de ir ao encontro do meu objetivo de melhorar profissionalmente. Isso falou mais alto. Optei por trocar de cidade, novamente. Alguns dias após a minha mudança, combinamos um cinema. Piratas do Caribe havia estreado. Tudo ficou meio esquisito. Não sabíamos como agir um com o outro. Nossa experiência, quando
O que aquela criatura ou as forças enigmáticas que a acompanhavam faziam comigo? Eu, aquela coisinha sem coragem para nada e cheia de neuras, indo direto para um motel com alguém, bem, nem tão estranho assim! Mas...
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singular. Abraça ou não abraça? Beija ou não beija? Saiu um abraço desajeitado de quadris afastados. Precisávamos aprender a tirar uma média aritmética entre amizade e taradice. Nosso segundo encontro foi uma ida ao supermercado. Pois é, não sei exatamente o que éramos. Muito agradável ir ao supermercado com o velho, novo amigo with benefits. Desde o dia do cinema, a cada vez que nos falávamos, ele fazia questão de registrar que não pretendia ter um relacionamento sério tão cedo. Eu ouvia esse comentário e só não dava uma resposta muito mal-educada porque eu não conseguia ser mal-educada com alguém tão fofo, agindo de um modo tão bobo. No entanto, meu preocupado amigo, confusamente, queria passar todas as noites comigo. Eu achava engraçada a confusão de sentimentos dele. Eu sentia uma paz enorme, sozinha e, especialmente, ao lado dele. Era um dia 11 de setembro e, como sempre, depois do agarramento, tagarelávamos. Surgiu o assunto sobre como deveríamos classificar nosso relacionamento. O angustiadíssimo tarado amigo esperou passar a meia-noite entre o dia 11 e 12 de setembro para, formalmente, me pedir em namoro. Claro! Ainda que não fôssemos supersticiosos, quem quer comemorar aniversário de namoro em um dia 11 de setembro? Éramos, então, amigos-namorados.
Cinema? Passeio? Não sabíamos lidar com aquilo. Antes, andávamos por aí somente como bons amigos, daqueles que mal trocam beijinhos na bochecha. Portanto, como andar de mãos dadas ou trocando selinhos agora? Estranhíssimo! Na sala de cinema, quando a Elizabeth botou fogo no rum do Jack Sparrow, meu amigo pediu permissão para colocar a mão sobre a minha. Pediu sim! Insólito! Já havia
colocado a mão em tanta coisa sem pedir permissão!
a Elizabeth botou fogo no rum do Jack Sparrow, meu amigo pediu permissão para colocar a mão sobre a minha. Pediu sim! Insólito! Já havia colocado a mão em tanta coisa sem pedir permissão! Saímos do cinema e andamos perdidos pelo shopping. Ele me levou para casa. Passamos a noite juntos. Nunca tomei um café da manhã tão longo! Não parávamos de conversar. Como ele falava! Depois de umas duas horas de café da manhã, ele saiu. Nossa despedida foi
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Após uns quatro meses, compramos mais um guarda-roupa. Em seis meses morávamos juntos em um minúsculo apartamento de um quarto. Resolvemos voltar a estudar para o tal concurso, o mesmo para o qual fazíamos aquele curso à noite, na nossa vida anterior. Ele estava no primeiro ano da segunda faculdade. Trancou quando o ano virou. Pegamos uma licença sem salário e vendemos o carro dele para “comê-lo” e pagar as contas. Passávamos, então, harmoniosamente, dia e noite, noite e dia, lado a lado, colados, apertados no espaço e na conta bancária. Forçamos a barra, viajando um pouco. Porém, a maior parte do nosso tempo, ao longo do ano que se seguiu, transcorreu dentro do nosso cubículo, estudando, comendo e assistindo a filmes e séries. Um modesto paraíso! Fomos aprovados, ao mesmo tempo, no tal difícil concurso. Casamos. Nossa nomeação levou-nos para uma mesma terceira cidade. E, mais uma vez, interferências alheias à nossa razão decidiram que deveríamos permanecer juntos, juntos, muito juntos! Sem que sugeríssemos, em meio a uma considerável gama de possibilidades, colocaram-nos novamente em mesas lado a lado no nosso novo trabalho. Claro que sempre ouvíamos comentários, tais como: “vocês não se cansam um do outro?”; “trabalhar juntos não é saudável para o casamento!”; ou “é importante um sentir falta do outro, pois aumenta a magia!”. Mas que magia precisava ser aumentada? Já nos sentíamos magicamente conduzidos por uma aleatoriedade anômala, que persistia em conspirar para a nossa união. Decidimos, então, dar ao mundo mais um ser humano. Nada poderia significar melhor a nossa harmoniosa e ampla conexão do que o anjo que estava para enriquecer e iluminar as nossas vidas. Alguns dizem que ele já estava impacientemente
esperando, pois, em menos de dois meses, eu estava grávida. Quatro anos depois, nosso menino encantador, de palavras e gestos que valeriam uma trilogia, virou para mim e disse: – Mamãe, eu não poderia ter outra família, sabia? Antes de nascer, eu escolhi você e o papai para serem meus pais! Meu pequeno anjo falou exatamente isso. E falou mais de uma vez. Teorias existenciais à parte, ali estava a perfeita razão, a obstinada força sobrenatural determinada a nos ver inevitavelmente juntos.
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Sandra Boveto (esquerda), Tayná Messi (centro) e Renata Loyolla (direita), co-autoras Sui Generis de Fúria de Viver
“Fúria de Viver, organizada por Isidro Sousa, é uma obra Sui Generis em muitos sentidos, entre eles, o de proporcionar que uma amizade muito especial, originada na dança, evoluísse para a escrita. Esse momento foi duplamente marcante, não é Tayná Messi e Renata Loyolla? Meninas, obrigada pela alegria de estarmos juntas num livro, na dança e, principalmente, na vida. Adoro vocês! De fato, é um livro recheado de participações especiais. Parabéns, Everton Medeiros, Nardélio F. Luz, Jonnata Henrique, Guadalupe Navarro, Tânia Tonelli, Suzete Fraga, Deise Zandoná Flores, Anderson Furtado, Adriano Ferris e a todos os coautores.” Sandra Boveto, 20/12/2017
“Foi uma honra poder compartilhar esta obra com duas amigas queridas e talentosas; gratidão pelo incentivo, carinho e auxílio, Sandra Boveto, que nos deu todo o apoio para participar desta linda antologia de poemas ao lado de grandes escritores de Portugal e Brasil. Sou grata ao Isidro Sousa pelo belo trabalho e oportunidade. Parabéns a todos que participaram desta antologia e aos queridos Everton Medeiros e Jonnata Henrique.” Tayná Messi, 19/12/2017
“As emoções não cabem no peito? Escreva um conto! Nesse ano de 2017, a escrita tem sido, além da dança, mais uma prática libertadora. Naqueles dias em que as emoções saem pelos poros e que a mente está um verdadeiro turbilhão, escrever me ajuda a manter o equilíbrio. Em Mulher Alada eu falo da minha transição de advogada para bailarina. E agora tenho a alegria de ter uma pequena parte da minha história publicada no livro Fúria de Viver, coordenado por Isidro Sousa, ao lado de outros 55 autores, do Brasil e de Portugal, dentre eles, os meus queridos amigos Sandra Boveto, Tayná Messi e Everton Medeiros. Meu agradecimento especial à minha amiga Sandra, por ter sido a maior incentivadora! Você é encantadora!!! Agradeço também ao meu pai Godoy pois ele me deu o exemplo da escrita! Agradeço ainda a todas as circunstâncias da vida que me fizeram rir ou chorar, pois é a partir delas que eu materializo a minha arte!” Renata Loyolla, 20/12/2017
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REEDIÇÕES
GRAÇAS A DEUS! Antologia de Natal organizada em 2016 pela Sui Generis reeditada em 2017
A antologia Graças a Deus!, uma Acção de Graças sob a forma de Literatura que conta com a participação de 51 Autores Lusófonos contemporâneos, organizada para a Colecção Sui Generis na quadra natalícia de 2016, foi reeditada no passado mês de Novembro, para o Natal de 2017. Não se tratou de uma simples reimpressão da obra. Os conteúdos da 1ª Edição mantêm-se, porém, a 2ª Edição foi totalmente revista, tendo sido
alvo de actualizações e correcções nalguns textos a pedido dos respectivos autores. Este livro em prosa e poesia, que tem 214 páginas e inclui poemas e declarações de Sua Santidade o Papa Francisco e Cânticos e Salmos da Bíblia Sagrada, está disponível na livraria online da editora Euedito e também, entre outras plataformas de distribuição digital, na Amazon. Na foto: Isidro Sousa durante um encontro no Porto com Neca Machado, autora de Mitos e Lendas, fotografado pela mesma
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CONTO
UMA GRAÇA DE CONVERSA “– Tá aqui o panfleto. EVERTON MEDEIROS Reside na cidade de Maringá, PR, no Brasil. É engenheiro e AuditorFiscal da Receita Federal do Brasil. Em 2000, iniciou na arte da escrita com a produção de um roteiro cinematográfico, voltado ao mercado norte-americano, e participou em diversos concursos desse género nos EUA. O seu primeiro roteiro de longa-metragem foi registado no Brasil e nos EUA em 2001. Possui diversos contos e poemas publicados em antologias de prosa e poesia no Brasil e em Portugal. Da Colecção Sui Generis, participou em «Graças a Deus!», «Sexta-Feira 13», «Fúria de Viver», «Tempo de Magia», «Devassos no Paraíso» e «Os Vigaristas». Lançou o seu primeiro livro solo, «Dezoito», em 2017 pela Editora Scortecci. Página do Autor: www.facebook.com/everton.medeiros .br
– Finalmente, hein?! Ainda serve pra alguma coisa. – Acho que sim. O panfleto tá meio amassado, mas serve sim. – Primeiro: não perguntei nada. Segundo: tô falando de você, homem! – Olha que você ainda vai me perder. Daí eu quero ver! – Quer ver o quê? – Você correr atrás de mim. – E você acha que eu sou mulher de correr atrás de homem? – Vixx, que mulher chata! – murmurou Antônio. – Se você for embora, sabe o que eu vou fazer? – O quê? – Vou dar Graças a Deus! – Tá bom. Nem Deus acredita nisso.”
POR EVERTON MEDEIROS
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– Jesus me abane!!!... Que calor é esse, Diabo!!! – esbravejou a esbaforida Gertrudes. – Como é que é? – replicou seu marido Antônio. – Tá surdo, homem!... Não aguento mais esse calor! – Jesus e Diabo ao mesmo tempo? É ruim, hein?! – Não me enche, Antônio!!! – Olha sua boca, mulher! Quer ir pro inferno? – Não enche!!! – Não pode falar assim, não! Tem que respeitar o nome do Senhor! – Tá vendo alguém aqui falando mal Dele? – Ai, ai. – Que hora começa a missa? – Não sei. – Como não sabe, homem? – Ué, como vou saber? – E cadê o panfleto que eu te dei? – Quando cê me deu? – Ontem à noite. Ai, Diabo! Tá ficando gagá, homem? – Vixx. – O que foi, homem? – Agora que percebi. Como tem homem na sua vida, hein?! – Como é que é? – Tudo é homem pra cá, homem pra lá. – Nem vou te responder! Procura aí o panfleto! – Não tá comigo. – Você deixou em casa? – Não, eu comi o panfleto! – Antônio, Antônio, mais respeito comigo!
– De tanto que você fala, eu já tô com calor também. – Eu devia ter ouvido minha mãe. É isso que dá! – Ouvido o quê? – Ela disse que você era da peste. Que era vagabundo. – Sua mãe disse isso??? – Disse, mas faz tempo. Agora ela gosta de você. – Bem que eu desconfiava. – O meu pai é que não gosta muito. – sussurrou Gertrudes. – O que cê disse? – Nada não. – Tá aqui o panfleto. – Finalmente, hein?! Ainda serve pra alguma coisa. – Acho que sim. O panfleto tá meio amassado, mas serve sim. – Primeiro: não perguntei nada. Segundo: tô falando de você, homem! – Olha que você ainda vai me perder. Daí eu quero ver! – Quer ver o quê? – Você correr atrás de mim. – E você acha que eu sou mulher de correr atrás de homem? – Vixx, que mulher chata! – murmurou Antônio. – Se você for embora, sabe o que eu vou fazer? – O quê? – Vou dar Graças a Deus! – Tá bom. Nem Deus acredita nisso. – Agora é você que vai pro inferno. – Que inferno o quê?! 56
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– Olha aí a hora da próxima missa! – A próxima é... 11 horas. – Que horas são? – Acabei de falar... 11 horas. – Tô perguntando que hora é agora, homem! – Hoje tá difícil, hein?! – Tá mesmo. – Se o meu relógio não tiver atrasado, agora são 10 horas. – Ele tá atrasado? – Não sei. Ontem ele parou de funcionar. Eu dei um soco e ele voltou. – E o quê que adianta um relógio que atrasa? – É só girar esse pino aqui, acho que é coroa o nome. – Eu mereço, viu! – Merece o quê? – Se você já tá assim agora, imagina com cinquenta anos?! – Hein? Ah, tá. Entendi agora. – Demora, mas você entende. – Vou perguntar a hora pra aquela moça ali.
– Toma vergonha! Só por que ela é bonita? – Ó moça, por favor... Que horas são? – 11h28, senhor! – Muito obrigado, moça! Muito agradecido! – Quanta delicadeza com a moça! Com mulher feia você não fala assim todo meloso. – Nem reparei se ela é bonita. – Fica se achando, fica! Ela não é pro teu bico, não! – Hoje tá difícil mesmo, viu?! – Nem me fale, esse calor tá me matando! – Então, a missa já era! O que você quer fazer agora? – Que pena, eu queria ver o sermão do padre! – E eu queria ver o padre dizer “Que Deus vos acompanhe!”. – Toma vergonha, homem! Olha que o inferno tá lá te esperando! – Se eu for pro inferno, você vai comigo? – Cruz credo!!! Claro que não!!! – Graças a Deus!!! Texto incluído no livro Graças a Deus!, páginas 23-25.
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LANÇAMENTO
DEZOITO O autor Everton Medeiros faz a sua estreia literária com um livro de dezoito contos, publicado no Brasil pela Scortecci Editora
canadense na Segunda Guerra Mundial, seguindo para uma viagem de carro sobrenatural numa sexta-feira 13, e depois para o ano 3316 da Era Cristã, quando a Humanidade alcançará o fim e o início de tudo. Nos textos seguintes, vemos o horror de uma nova e destrutiva guerra mundial, o drama de um órfão à espera da adopção, a descoberta das Américas pelo genovês Cristóvão Colombo com algo mais que a História não contou, o prenúncio do fim do planeta Terra, entre outros contos sobrenaturais, de ficção científica, romance, suspense, drama e comédia.
N
a Cabala, o número 18 tem um significado especial e corresponde ao poder de vontade da alma. Ele é equivalente ao valor numérico da palavra hebraica “Chai”, que tem como significado “vivo” ou “vida”. E vida é aquilo que é dado por Everton Medeiros aos inúmeros personagens, humanos ou não, que compõem os 18 contos desta variada obra: Dezoito. Neste seu primeiro livro, o autor viaja no tempo, no espaço e por diversos géneros de conto. A obra inicia-se com o drama vivido por um tenente 60
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«É difícil saber o que dizer quando publicamos um livro. Acho que, nesta hora, as palavras fogem para bem longe. Mas, ainda que elas sumam, um sentimento fica: um delicioso sentimento de completude, de realização», declarou Everton Medeiros na sua página do Facebook, no dia em que divulgou o lançamento de Dezoito. «Publicar um livro talvez não seja o que de melhor alguém possa fazer. Contudo, é algo bom, positivo e importante, e não somente para quem publica, como também para quem lê», prosseguiu, finalizando com estas palavras: «Estou muito feliz em publicar meu primeiro livro pela Editora Scortecci. Esse livro contém 18 contos de diversos gêneros (160 páginas no formato 16 x 23 cm), alguns já publicados no Brasil, outros em Portugal e outros inéditos. Agradeço à minha esposa, Sandra Boveto, pelo apoio irrestrito nesta jornada, e aos demais amigos que me leem e incentivam a escrever, cada um à sua maneira. Obrigado a todos!»
Everton Medeiros, brasileiro, natural de Porto Alegre, RS, casado com uma escritora amante da literatura, é engenheiro e Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil. Iniciou na escrita no ano de 2000, com a elaboração de um roteiro cinematográfico (género ficção científica) voltado ao mercado norte-americano. Em 2001, participou em diversos concursos dessa categoria nos Estados Unidos, onde registou o seu primeiro roteiro de longa-metragem. Conta com diversas participações em antologias de poesia e prosa, no Brasil e em Portugal. Dezoito é o seu primeiro livro solo. Pontos de venda onde se pode encontrar este livro: Cia dos Livros: www.ciadoslivros.com.br Portal do Escritor: www.portalescritor.com.br Amazon: www.amazon.com.br Livraria Asabeça: www.asabeca.com.br Livraria Cultura: www.livrariacultura.com.br Livraria Martins Fontes: www.martinsfontespaulista.com.br
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APRESENTAÇÃO
SONHO?... LOGO, EXISTO! LUCINDA MARIA Nasceu em Oliveira do Hospital, nos anos 50 do século passado. Fez um percurso académico muito bom e tirou o curso do Magistério Primário, começando a leccionar em 1972. Teve sempre uma grande paixão pela Língua Portuguesa. Desde muito nova gosta de escrever, tanto em prosa como em poesia, embora goste mais de se expressar em poemas, que brotam do seu coração sensível. É uma idealista, às vezes utópica, uma sonhadora... características que a definem. A sua poesia é o seu EU... a sua alma sempre insatisfeita... Nela, faz uma catarse íntima dos sentimentos que a avassalam, muitas vezes de forma saudosista e nostálgica. Uma frase sua: «Escreverei até que o coração me doa!». (Não escreve segundo as normas do AO 90, do qual discorda.) Página da Autora: facebook.com/lucindamaria.brito
“A professora Lucinda Maria, em cinco sessões catarse – e que mal se forem mesmo catarses? – revelou-nos partes do seu olhar profundo e suave, sobre as coisas que a inquietam e que a despertam. Sobre a sua alma. Partes que a impelem fazer, construir, edificar em forma de palavras... para depois nos convidar a entrar dentro delas. E dentro deles, seus cinco livros, como cinco dedos de uma mão – que aberta em forma generosa tem estendido – sempre – até nós.” POR JOSÉ FRANCISCO TAVARES ROLO
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«
... Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordoas, derreto-as... Amo tanto as palavras... As inesperadas... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem...» in Confesso que Vivi, Pablo Neruda.
os vícios! – se revelam através das luzes da vida cívica. A luz da cidadania, essa condição tão humana, quando pela cultura nos conseguimos elevar, rasgar horizontes, perceber o diferente e desigual, aceitar o plural; absorvermos o mundo, as pessoas e criamos sociedade, geramos diversidade e tolerância, e essa crença inquebrável no devir melhorado dessa mesma condição humana. Que combustível – fóssil – esse, o optimismo! Há quem lhe chame utopia, qual forma prática e consequente de organizar e dar forma e sentido aos sonhos. Redescobri a professora Lucinda Maria precisamente na luz da partilha cívica, na tentativa da construção de um guia para a felicidade e para o bem-estar que a mais, muitos mais, esse caminho certo contemplasse. Quis a cidadania, qual vício de dizer: – presente!, nos apresentasse e nos colocasse a falar. E da fala viesse a partilha, e da partilha se dissesse a sério matéria leve, trivial – como trivial é a vida – e nada, nada truculenta entre quem se quer respeitar. E dissemos de forma viva, livre e solta, coisas sérias sobre a vida, os sonhos, os anseios, as angústias e os medos. E com certeza as alegrias e o avatar das nossas personalidades. A de Lucinda Maria serenamente autoconfiante, de radicular identidade, perscrutante, com os seus contornos de “alma inquieta de nortada”. De que matéria são feitos os sonhos? Figuras de estilo à parte, claro que conhecia a professora Lucinda Maria. Tenho a certeza que até me cruzei com ela milhares – sim, milhares – de vezes aí pelas ruas da nossa vila e, depois, da nossa cidade. E aqui emerge a dimensão do tempo de convivência pelo si-
De que matéria são feitos os sonhos? A vida, felizmente, permite-nos surpresas, momentos marcantes, pessoas inesquecíveis. Partilhas em cadeia, daquelas que não se podem quebrar, em que pela correnteza só temos que somar, acrescentar, gerar densidades, também em forma de afectos... porque não? A professora Lucinda Maria não foi minha professora; não fiz com ela uma viagem a um lugar único ou inesquecível; não fazemos parte de uma tertúlia permanente, ordeira ou militante; não temos um percurso longo e próximo de vidas cruzadas em comum. Até sabemos muito pouco um do outro. Mas é importante sabermos muito uns dos outros? Muito? Nos pormenores? Nos recantos e lugares marcados das nossas vidas, quais cartas de marear ou mariolas amontoadas pela serra da Estrela para guiar quem na montanha busca o sentido e o fazer da vida? Não. A professora Lucinda Maria faz parte daquele troço das nossas vidas, em que primeiro os personagens, depois as personalidades, depois os hábitos, depois os vícios – tão humanos que são 64
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lêncio e pelo olhar. Por quantas pessoas passamos todos os dias, partilhamos espaços, sem que gostos, sonhos, desejos, conscientemente se interceptem? Bem questionam poetas, cientistas e filósofos os mistérios da vida!... De que matéria são feitos os sonhos? E houve um momento para o reencontro, há alguns anos, sem que um contasse ao outro, ou sequer de tal fizesse comentário, como quem faz uma longa viagem com um desconhecido que vivia na própria cidade... os sinais unificadores foram-se revelando. A cidadã livre pensadora, civicamente empenhada, apaixonada pela sua terra, pela memória colectiva e pelas palavras organizadas em livros. Que é isso de viver a cidade, sentir a terra, este chão e os milhares de identidades que dão forma e espessura a este corpo comum e não ter voz? E que essa voz não se possa juntar a outras vozes e com outros braços e mãos e não criem uma cadeia de união que nos aproxime, vincule e nos abrace num campo comum, partilhado? E porque a cidadã livre, corajosa, participante, criadora, sabia que essa condição é tanto mais forte quanto mais trocarmos palavras, partilhar-
Prosa ou poesia, há em Lucinda Maria as marcas da vida, de uma vida, das
vidas, de vidas cruzadas. De uma existência, hoje serena, amanhã veremos. Inexpugnável, surpreendente, com estes sonhos partilhados Lucinda Maria diz-nos: – Confesso que vivi. E tanta vida tem dentro de si! Tanto para partilhar!
mos vivências, descobrirmos o mundo – o interior e esse aí à nossa roda – descobri-lo pelo ir e tocar, ou ser-nos revelado, dado a conhecer, pelo registo lido e interiorizado de um autor mais atrevido.
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Sim, atrevido. Que se atreveu a convencer-nos que também tu, também aquele, pode criar, recriar e verter em páginas todo um mundo que em geometria variável sai de nós e vem até nós, nos circunda e nos inunda, nos envolve e nos preenche os dias. E há quem diga, sábios desde o princípio dos tempos, que nos pode preencher a alma. A professora Lucinda Maria, em cinco sessões catarse – e que mal se forem mesmo catarses? – revelou-nos partes do seu olhar profundo e suave, sobre as coisas que a inquietam e que a despertam. Sobre a sua alma. Partes que a impelem fazer, construir, edificar em forma de palavras... para depois nos convidar a entrar dentro delas. E dentro deles, seus cinco livros, como cinco dedos
de uma mão – que aberta em forma generosa tem estendido – sempre – até nós. A quem gosta de ler. A quem quer aprender a ler. A quem gosta de folhear. A quem gosta de sublinhar. A quem gosta de ler alto. A quem gosta de ler baixinho. A quem gosta de declamar. A quem gosta de editar. A quem gosta de publicar. Aos seus amigos. Literatos ou não. Amantes da escrita ou não. Que é uma oferta, um presente apresentado para cada um folhear à vontade do pulsar do seu coração... parece-me que é assim. Sim. Prosa ou poesia, há em Lucinda Maria as marcas da vida, de uma vida, das vidas, de vidas cruzadas. De uma existência, hoje serena, amanhã 66
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veremos. Inexpugnável, surpreendente, com estes sonhos partilhados Lucinda Maria diz-nos: – Confesso que vivi. E tanta vida tem dentro de si! Tanto para partilhar!
Pode-se descobrir uma pessoa por um livro? Por cinco livros? Pode-se descobrir a Humanidade através de um livro! E precisamos tanto de humanidade! E precisamos tanto de palavras. Das palavras certas e seguras. Sim. Escrevi-o com convicção. E precisamos que as palavras transformem. De que matéria são feitos os sonhos? De vida. De vida vivida. Que a reinventam. Que a recriam. Dizer obrigado à professora Lucinda Maria, pela vida que nos transmite, chega? Não. Pedir-lhe para nos dar mais vida em forma de sonhos? Vamos deixar ao seu livre arbítrio. Cogitar, sonhar, criar, criar mundos no mundo muito dela e esperar, esperar... Esperar: essa terra da virtude, onde o tempo não conta. Só aquilo que ele nos oferece. E digo: a nossa gratidão por tudo, todos os momentos, todas as manifestações que a professora Lucinda Maria nos tem dado. De que matéria são mesmo feitos os sonhos?
Prefácio de José Francisco Tavares Rolo incluído no livro Sonho?... Logo, Existo!, da autora Lucinda Maria
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REPORTAGEM
LANÇAMENTO DE “SONHO?... LOGO, EXISTO!” A autora Lucinda Maria apresentou o seu quinto
viva, a sessão de lançamento revelou-se um êxito:
livro, «Sonho?... Logo, Existo!», um belíssimo livro
auditório cheio com um ambiente muito intimista,
de poesia editado com o selo Sui Generis, que
momentos musicais protagonizados pelo jovem
reúne 93 poemas (maioritariamente sonetos, mas
Rafael, várias intervenções pautadas pela
também outros géneros poéticos) ao longo de 130
sinceridade e genuinidade que caracteriza os
páginas, no passado dia 18 de Novembro.
oliveirenses e a poesia de Lucinda Maria lida
A sessão de lançamento, apoiada e organizada
e sentida pelos seus leitores de eleição.
pela autarquia local, ocorreu na Biblioteca Munici-
De acordo com as palavras de António Monteiro
pal de Oliveira do Hospital, onde a autora reside,
nas redes sociais, foi «um extraordinário momen-
e a obra foi apresentada pelo vice-presidente
to... inesquecível, assim como a “nuvem” e o que
da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital.
ela encerra e representa. Também ela inesquecí-
Esta sessão foi inicialmente agendada
vel... para sempre. Pessoas extraordinárias que
para o dia 28 de Outubro, porém, devido aos
sentiram o momento plenamente. Que estavam
acontecimentos de má memória que ocorreram
presentes e com gosto, com muito gosto. Sentiu-
no dia 15 de Outubro – os múltiplos incêndios que
se ternura e calor humano. Pelos presentes
deflagraram em simultâneo por todo o País, de
e pelos “ausentes”».
que resultaram largas dezenas de mortes e tendo
Nas próximas páginas apresentamos imagens do
sido o concelho de Oliveira do Hospital uma das
evento, e as palavras da autora sobre o mesmo.
zonas mais afectadas pela tragédia – a sessão
Resta acrescentar que, no passado dia 26 de
foi adiada para o dia 18 de Novembro.
Janeiro, foi feita uma segunda apresentação da
Não obstante a tristeza que pairava no ar, com a
obra na Biblioteca/Ludoteca de Lagares da Beira.
lembrança dos trágicos incêndios ainda muito
Parabéns, Lucinda Maria! 69
BEM HAJAM! Soltaram-se emoções e a poesia, Brotou do âmago e da essência, Rodopiando em suave cadência, Impregnando as almas de magia.
Momentos, foram momentos bons, Uma catarse íntima e partilhada, Sedutora... a fantasia rendilhada, Numa teia bordada de muitos tons!
Aquela nuvem que toldou a alma, Sentiu-se ali latente, na tarde calma, Mas juntos, estivemos em comunhão.
Foi bom ter-vos comigo, meus amigos, Num aconchego que constrói abrigos, Sonhos intensos que realizados serão!
Lucinda Maria (2017/11/18)
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Lucinda Maria na sessão de lançamento do seu último livro de poesia, «Sonho?... Logo, Existo!», no passado dia 18 de Novembro, na Biblioteca Municipal de Oliveira do Hospital.
Mais fotografias nas próximas páginas...
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PALAVRAS DA AUTORA NAS REDES SOCIAIS
UM DIA ESPECIAL POR LUCINDA MARIA 18 DE NOVEMBRO DE 2017
H
oje foi mesmo um dia especial... diferente. Para mim, como autora. Para mim, artesã das palavras... amante da Língua Portuguesa. Apresentei mais um livro, a minha quinta obra... um outro filho parido com igual emoção... com amor. Sim, eu escrevo com amor. Eu escrevo por amor. Eu sonho... e porque sonho, existo. Penso. Transmito para o papel o meu sentir... o meu EU mais profundo, desnudo a minha alma. Inteira. Sincera. Atormentada. Inquieta. Sonhadora. Sempre fui. E... apesar de tudo, não desisto de ser! Na Biblioteca Municipal da minha terra, da terra do meu coração, os sentimentos rodopiaram numa dança de palavras... reflectiram-se no íntimo de cada um dos presentes. Senti isso. Não se podem escamotear ou esquecer os momentos que vivemos e estamos a viver. Não. E não o fizemos. A recente calamidade esteve sempre latente nos nossos corações. Notou-se nas vozes embargadas... nos olhos marejados... nos semblantes entristecidos. Não éramos gente se isso não tivesse acontecido! E nós todos somos gente. Beirã. Pura. Genuína. Valente. Corajosa como granito, mas terna e doce como mel... ou como requeijão... ou queijo Serra da Estrela! Houve tanto sentimento nesta apresentação! Eu estava feliz? É sempre um momento feliz o da partilha, o da comunhão. Estar ali rodeada de muitos amigos foi muito bom, aqueceu-me... inebriou-me a alma. Estou-lhes tão grata por terem estado comigo! Se não fosse aquela nuvem cinzenta que pairava no ar... teria sido perfeito! Mas... era necessário sentir a presença dessa nuvem, para tudo ser perfeito, como foi!
Momentos musicais protagonizados por um jovem: Rafael – uma surpresa boa! Ele lembrou-se que eu gosto de ouvir cantar em Português e fez isso mesmo e muito bem, dois belos poemas seguramente interpretados. Belo! A minha poesia lida e sentida pelos meus leitores de eleição. Magnífico! As várias intervenções pautadas pela sinceridade, pela genuinidade que nos caracteriza! Maravilhoso! O melhor de tudo foi o ambiente são, sem exageradas formalidades, como eu gosto. Íntimo. Intimista. Sereno. Sincero. Os meus amigos disseram “sim”, alguns vindos de longe... mas estiveram ali, de mãos dadas... em união... em partilha. Quando escrevo não é por vaidade... não é por ostentação. Escrever é uma necessidade que se tornou parte de mim. Por isso, escrevo. Quando publico, não almejo o sucesso... nem o lucro. É apenas um desejo de sentir que sou lida, de transmitir algo, de ajudar alguém, de dar prazer... Se o conseguir, já tive sucesso. Se o conseguir, sentir-me-ei rica. Para mim, continua a ser mais importante o “ser” do que o “ter”! Sonhadora? Sim. Utópica? Talvez. Sempre fui. E continuo a ser. Foi um dia especial. Foi um dia diferente. Sonho?... É claro que sim. E hoje, não sonhei sozinha... sonhei convosco, meus amigos! Logo, existo! Pois claro que existo, vivo... e hoje vivi convosco, meus amigos! Bem hajam!
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SONHO?... LOGO, EXISTO!
O MEU LIVRO POR LUCINDA MARIA 27 DE NOVEMBRO DE 2017
“
Pouco antes de partir, o actor António Feio escreveu: «Não deixem nada por fazer... não deixem nada por dizer...». Ele tinha razão. Enquanto somos bafejados pelo sopro da vida, temos de aproveitar todos os momentos. Cada pedacinho de
Quando se folheia
tempo é importante para sentir plenamente que estamos vivos.
o meu livro,
Desfrutar deles é uma preciosidade... negligenciá-los, um desperdício irrecuperável. Os anos vão passando e vejo agora, niti-
dele brotam outras
damente, o que já perdi... o que deixei por fazer... o que deixei
folhas que não as
por dizer... Não me sinto velha. Tenho capacidades ainda incólumes e não sou fútil. Uma das coisas que mais adoro fazer é
dele: são as que
isto: transpor para o papel o que sinto, o que vivo, o que
me aconchegam
aprendo... e todos os dias aprendo.
e me beijam. É que,
Moldando as palavras, componho sentimentos que me preen-
quando escrevo,
chem. O meu livro tem vida que sai das minhas mãos ávidas de saber. Quando se folheia o meu livro, dele brotam outras folhas
não deixo nada por fazer... não deixo
que não as dele: são as que me aconchegam e me beijam. É que, quando escrevo, não deixo nada por fazer... não deixo nada por dizer... O meu livro é tudo! Nele, pulsa o meu coração, em ím-
nada por dizer...
petos de esperança, de amor... Nele sorri o meu olhar transparente de sinceridade... Nele corre o sangue das minhas veias, percorrendo-me... O meu livro é a minha VIDA!
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APRESENTAÇÃO
TEMPO DE MAGIA “Em 1223, São Francisco de Assis produz o primeiro presépio do Mundo, em argila, ISIDRO SOUSA Nasceu em 1973, numa aldeia remota das Terras do Demo, concelho de Moimenta da Beira, e reside no Porto. Jornalista e editor de publicações periódicas desde 1996, fundou, dirigiu e editou revistas, jornais e guias turísticos, publicou a primeira antologia em Fevereiro de 2001, colaborou com três editoras, participou em várias dezenas de obras colectivas, foi distinguido num concurso literário e é o responsável pelos projectos da Sui Generis, que criou em Dezembro de 2015. Publicou dois livros: «Amargo Amargar» e «O Pranto do Cisne». Blogue do Autor: http://isidelirios.blogspot.pt
numa floresta da cidade de Greccio, em Itália, com a presença de uma manjedoura, um boi e um burro, para melhor explicar o Natal às pessoas comuns, camponeses que não conseguiam entender a história do nascimento de Jesus – e outras figuras são incorporadas no presépio, representando não só o nascimento do Menino mas também o cantar dos anjos e a adoração dos pastores e dos Reis Magos ao Menino Jesus. Este costume vai-se espalhando pelas principais
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catedrais, igrejas e mosteiros da Europa durante a Idade Média. Já no Renascimento, o presépio passa a ser montado, também, nas casas de Reis e Nobres e no século XVIII dissemina-se pela Europa o hábito de montálo nas casas comuns, e depois pelo Mundo.” POR ISIDRO SOUSA 83
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s circunstâncias que envolvem o nascimento de Jesus de Nazaré, proclamado Messias e Senhor, rodeiam-se de misticismo e magia. Se as representações no presépio, tal como chegaram ao nosso conhecimento, terão acontecido verdadeiramente ou se são fruto de lendas não se sabe ao certo. Mas sabe-se, e muitos factos o atestam, que Jesus existiu, e as principais religiões do Mundo ocidental reconhecem a sua existência – para os Cristãos, é o Filho de Deus tornado homem, pilar da Igreja Católica, cuja história sustenta a construção desta instituição; os Muçulmanos consideramno um Profeta e os Judeus, por sua vez, vêem-no como uma espécie de charlatão. Pessoalmente, acredito em Jesus, acredito na sua vida terrena e admirolhe a trajectória enquanto homem, um ser humano fascinante que revolucionou a época em que viveu e a sua mensagem, uma mensagem essencialmente de amor, perdura ao longo dos tempos. De acordo com a Bíblia Sagrada, Jesus nasceu em Belém, a cidade de David, na província romana da Judeia, na época do imperador César Augusto, de uma mãe ainda virgem. O evangelho de São Lucas narra que o anjo Gabriel anuncia a uma virgem chamada Maria que ela irá conceber o Filho de Deus, ao qual porá o nome de Jesus. Mais tarde, Maria e José, seu esposo, viajam a Belém para se recensearem, não acham lugar na hospedaria da cidade e abrigam-se numa gruta, onde ela dá à luz. Anjos anunciam o nascimento do Messias a humildes pastores que guardam os seus rebanhos na região; estes deslocamse a Belém para adorar o Menino Jesus e encon-
tram-no deitado numa simples manjedoura. Neste cenário, outro evangelho, de São Mateus, acrescenta três Magos do Oriente. Diz o relato de São Mateus que estes astrónomos, mais tarde popularizados como Reis Magos, são guiados por uma estrela, para levarem presentes ao Menino Jesus: ouro, incenso e mirra. O rei Herodes, temendo “o rei dos Judeus que acaba de nascer”, ordena o massacre de todas as crianças daquela região com menos de dois anos de idade. E José, avisado em sonhos, foge com Maria e o Menino para o Egipto, para salvar Jesus do “martírio dos inocentes”, de onde só regressam após a morte do rei Herodes, estabelecendo-se na Galileia, numa cidade chamada Nazaré – sendo aqui que finaliza o período conhecido como Natividade. Mais tarde, no Século III, a Igreja Católica oficializa o Natal, ou o Dia de Natal, passando então a comemorar-se, no dia 25 de Dezembro, o nascimento de Jesus Cristo. Em 1223, São Francisco de Assis produz o primeiro presépio do Mundo, em argila, numa floresta da cidade de Greccio, em Itália, com a presença de uma manjedoura, um boi e um burro, para melhor explicar o Natal às pessoas comuns, camponeses que não conseguiam entender a história do nascimento de Jesus – e outras figuras são incorporadas no presépio, representando não só o nascimento do Menino mas também o cantar dos anjos e a adoração dos pastores e dos Reis Magos ao Menino Jesus. Este costume vai-se espalhando pelas principais catedrais, igrejas e mosteiros da Europa durante a Idade Média. Já no Renascimento, o presépio passa a ser montado, também, nas casas de Reis e Nobres 84
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e no século XVIII dissemina-se pela Europa o hábito de montá-lo nas casas comuns, e depois pelo Mundo. Em paralelo, foram ganhando vida inúmeras lendas e tradições relacionadas com o Natal, que estão, presentemente, bem vincadas nestes festejos. Alguns exemplos: as estrelas, as bolas, o madeiro, as fogueiras e o pinheiro de Natal, a Missa do Galo, o Pai Natal ou, a nível culinário, o BoloRei, que marca forte presença nesta quadra. Estes e muitos outros itens contribuem para tornar ainda mais mágico o evento natalino. É em torno da celebração do nascimento de Jesus e da sua envolvência que se debruçam os textos incluídos neste livro, em prosa e poesia, escritos por mais de quarenta autores lusófonos contemporâneos e intercalados com poemas e
contos de autores clássicos portugueses, tais como Abel Botelho, Eça de Queirós, Raul Brandão, Fernando Pessoa, Bocage, Mário de Sá-Carneiro, entre outros, que tanto oscilam para o lado festivo do Natal como para a sua vertente melancólica, estando presente, nalguns deles, a visão do Natal tradicional das aldeias do Interior de Portugal que, com os seus costumes e tradições, caracterizam o Natal lusitano. Foram também incluídas, nesta selecção, lendas tradicionais portuguesas relativas à época do Natal. O conjunto de todos estes textos resulta numa obra literária muito rica... plena de magia natalícia. Desejos de um Feliz Natal. Prefácio de Isidro Sousa incluído no livro Tempo de Magia – Antologia de Natal
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CONTO
ESTRELA DE NATAL TERESA MORAIS Nasceu em São Mamede de Infesta, Matosinhos, em 1952. Quando a aposentação lho permitiu, redescobriu a paixão pela escrita. É co-autora de diversas obras colectivas, sobretudo através do Grupo Múltiplas Histórias e da Sui Generis, e tem participado em concursos literários e campeonatos de escrita criativa. Em 2017, publicou o seu primeiro livro: «Nos Novelos da Memória». Da Colecção Sui Generis, participou em «A Bíblia dos Pecadores», «Graças a Deus!», «Saloios & Caipiras», «Crimes Sem Rosto», «A Primavera dos Sorrisos» e «Tempo de Magia». Página da Autora: facebook.com/teresa.morais.98837
“O ar gélido do entardecer fazia-o soltar baforadas de ar, densas como fumo, os pés entorpecidos pelo frio, o coração acelerado pela constatação do impossível, totalmente esquecido do reconfortante jantar que o aguardaria na taberna da aldeia nessa noite de 25 de Dezembro, apenas mais uma no seu calendário anual de homem triste e só. Voltou a pensar que nem sequer acreditava no Natal e nas patacoadas que pais e catequistas lhe tinham tentado inculcar na mente e que desafiavam toda a sua razoabilidade de homem adulto e esclarecido. E o espírito de festa de família tinha-o perdido de vista nos muitos abanões que a vida lhe dera...” POR TERESA MORAIS
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Foi subindo, em passo ligeiro e cadenciado, apesar das botas de cano alto se enterrarem na fofa camada de neve que se formara sobre o solo. Os flocos, que continuavam a cair ininterruptamente, eram empurrados por um vento agreste, batendo-lhe no rosto e picando-o como afiadas agulhas. Apesar da boa condição física,
a respiração foi-se-lhe tornando
C
ofegante, à medida que progredia
orreu o fecho da parka até ao queixo e enterrou na cabeça, com força, o gorro de lã verde. Enrolou o cachecol listado, que a mulher lhe tricotara em dias de felicidade e bonança, à volta do pescoço. Uma, duas, três voltas. Só então calçou as velhas luvas de pelica forradas a lã de merino e bateu a porta de casa. Alberto sabia que nevara intensamente toda a gélida noite, por isso a paisagem branca não o surpreendeu nem desmotivou. Gostava de subir a montanha em dias frios e de neve, a brancura da natureza a contrastar com o negrume da sua alma. Se é que ainda lhe restava alma, porque pensava, muitas vezes, que até isso ela lhe levara, deixando-lhe apenas um invólucro com aparência humana. Foi subindo, em passo ligeiro e cadenciado, apesar das botas de cano alto se enterrarem na fofa camada de neve que se formara sobre o solo. Os flocos, que continuavam a cair ininterruptamente, eram empurrados por um vento agreste, batendo-lhe no rosto e picando-o como afiadas agulhas. Apesar da boa condição física, a respiração foise-lhe tornando ofegante, à medida que progredia em direcção ao cimo da montanha. De olhos semicerrados, observava a paisagem branca, típica
em direcção ao cimo da montanha. De olhos semicerrados, observava a paisagem branca, típica de postal natalício, mal conseguindo distinguir, por baixo do manto alvo, as espécies autóctones que tão bem conhecia – o carvalho negral, a azinheira, o medronheiro; e o freixo e o salgueiro, junto aos pequenos cursos de água. Também o pinheiro-bravo e o pinheiro-lariço.
de postal natalício, mal conseguindo distinguir, por baixo do manto alvo, as espécies autóctones que tão bem conhecia – o carvalho negral, a azinheira, o medronheiro; e o freixo e o salgueiro, junto aos pequenos cursos de água. Também o pinheiro-bravo e o pinheiro-lariço. 90
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Era Dia de Natal, a festa da família (dizia-se), mas que ele passaria só. Sorriu tristemente, ao reflectir sobre o conceito, até esse esmaecido na sua mente. A família era ele. Ninguém mais restara, digno desse nome. Interrompeu o pensamento, ao ouvir aqueles gritos horrendos, não sabia se de homem, se de bicho, se de assombração, que o penetraram e abalaram até às entranhas. Instintivamente, deslizou, tropeçou montanha abaixo, detendo-se apenas na humilde taberna da aldeia, praticamente vazia naquelas primeiras horas da tarde.
crédito, é meio apoucada das ideias... Alberto procurou-a na pequena casa e no quintal. Não estava. As portadas de madeira das janelas estavam abertas, deixando-o perceber o interior da pequena habitação, apenas iluminada pelas brasas da lareira. A neve continuava a cair suavemente, estendendo um manto uniforme sobre os caminhos e as casas da aldeia, a emprestar à paisagem pinceladas mágicas. Afastou-se da casa, aconchegando-se na parka bem acolchoada e enrolando-se mais no cachecol. Percebeu um vulto de mulher, sentado na base do pelourinho. Só podia ser a Rosário: minúscula, alquebrada, vestida de negro, os cabelos em desalinho cobertos de flocos de neve. Fixou-o com um olhar angustiado, enquanto as palavras lhe saíam aos soluços: – Vi-o... com estes... que a terra há-de comer! Horrendo... enorme, meio-homem... meio-bicho. Os olhos amarelos... as mãos peludas de macaco... a arrastar-se descalço na neve... lá no cimo do bosque. Devo... ter cometido muitos pecados... para merecer esta assombração!
*** O taberneiro e os dois clientes riram-se-lhe na cara: – Oh, homem, bebeste de mais com o estômago vazio! Lá em cima, só há silêncio. O único barulho é o do ribombar do trovão e o do estalar do raio, que não é o caso no dia de hoje... mas olha, fala com a Rosário, que também já veio ontem contar uma história esquisita. Ninguém lhe dá 91
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Então, sempre era verdade! Qualquer coisa estranha se passava no cimo da montanha. Não tinha sido uma alucinação causada pelo álcool que ingerira ou pela fome de uma manhã de longa caminhada. Afastou-se da figura negra sem se voltar para trás, enquanto uma força, quase magnética, o fez voltar a galgar a encosta. Caminhava com urgência e sem se deter, a escorregar, frequentemente, na terra coberta de neve. Não acreditara nas palavras da Rosário nem no Abominável Homem das Neves, apenas um mito nórdico, mas tinha que haver uma explicação para os gritos de dor e desespero que ouvira. O ar gélido do entardecer fazia-o soltar baforadas de ar, densas como fumo, os pés entorpecidos pelo frio, o coração acelerado pela constatação do impossível, totalmente esquecido do reconfortante jantar que o aguardaria na taberna da aldeia nessa noite de 25 de Dezembro, apenas mais uma no seu calendário anual de homem triste e só. Voltou a pensar que nem sequer acreditava no Natal e nas patacoadas que pais e cate-
quistas lhe tinham tentado inculcar na mente e que desafiavam toda a sua razoabilidade de homem adulto e esclarecido. E o espírito de festa de família tinha-o perdido de vista nos muitos abanões que a vida lhe dera... Chegou ao cimo da encosta e soube que não era uma visão, uma ilusão de uma mente perturbada: numa pequena clareira do bosque de pinheiros-lariços, distinguiu o abrigo de pedra, de apoio a pastores e montanhistas. Limpou a neve acumulada no vidro da única janela: um recémnascido mal agasalhado estava pacificamente deitado numa pequena caixa de madeira, sob o olhar vigilante de uma mulher jovem e de um homem já de meia-idade. E sobre a clareira, iluminando a família, cintilava a estrela mais bela e brilhante daquele céu estrelado. Cumprira-se o Natal. Texto incluído no livro Tempo de Magia, páginas 17-19
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REPORTAGEM
LANÇAMENTO DO LIVRO “NOS NOVELOS DA MEMÓRIA” Teresa Morais apresentou o seu primeiro livro, «Nos
os novelos da sua memória. Deixou a certeza de que os
Novelos da Memória», no passado dia 23 de Setembro.
novelos são muitos mais e a vontade de os conhecer
A sessão de lançamento, que contou com a participa-
cresceu. As palavras ditas não tiveram a eloquência das
ção musical do Grupo de Fados da FDUP, teve lugar no
expressões e dos sorrisos que se estampavam em to-
Centro Cultural de Leça do Balio e a obra foi apresenta-
dos os presentes. Era deles, dos amigos (agora leito-
da por Maria Helena Costa Padrão e Fernando Morga-
res), a alegria de estarem presentes e de, com palavras
do. Sobre o êxito deste evento, transcrevemos as pala-
mudas, exprimirem à Teresa o amor que lhe têm.
vras que Fernando Morgado divulgou nas redes sociais:
Como alguém dizia: pouco importa o destino se não
«Há momentos que ficam ali, onde aconteceram, re-
aproveitarmos o caminho. Cruzamo-nos nos caminhos
féns de uma memória que nunca os deixará esque-
da escrita, no mesmo caminho onde fomos juntando
cer. A magia não é só a arte do prestidigitador, ou en-
amigos que ontem apareceram para confraternizar. A
tão o encantamento nasce na lura do fascínio, e a ma-
Natália, a Raquel, a Natércia, o Amaro, a Suzete, a Te-
gia faz-se com palavras ditas, com palavras mudas e
resa e eu! Sei que muitos outros gostariam de estar
com sorrisos. Ontem [23 de Setembro], aconteceu um
presentes. A Teresa Morais é uma excelente escritora.
desses momentos. A sala estava cheia. Os amigos en-
Esta convicção sempre me deu a certeza de que este
cheram aquela sala com carinho, com amor, com ener-
momento estava marcado no seu destino, no seu cami-
gia. A Teresa Morais prometeu a todos a magia das
nho. Obrigado, Teresa. Foi bom ter participado na sua
suas palavras escritas, a leveza do seu encanto, a inten-
festa; permita-me, na nossa festa.» Parabéns, Teresa
sidade e grandeza dos seus sentimentos. Mostrou-nos
Morais! (Nas páginas seguintes: fotos do evento.)
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CONTO
ROMANCE ANDINO “O Sol no ocaso proporcionava um feérico ambiente com a sua cor ESTÊVÃO DE SOUSA Nasceu em Lisboa, em 1937. Já aposentado, dedicou-se à escrita. Editou quatro livros: «Nesta Terra Abençoada», «Tráfico no Rio Geba», «Irina – A Guerrilheira» e «Rapto em Londres». Além destes, tem no prelo: «Ouro Negro» e «Retalhos de uma Vida». Tem ainda trabalhos publicados em cerca de quinze antologias e colectâneas. Página do Autor: www.facebook.com/francisco.estevao desousa
avermelhada, projetando-se nas serranias das redondezas e na pequena cidade. O momento era de enlevo! O local bucólico, com o verde exuberante da vegetação fazendo lembrar um fofo e cómodo tapete; o sussurrar das águas do rio, o chilrear dos pássaros, tudo convidava ao amor, e... bem juntinhos, beijaram-se ardentemente, num ato espontâneo, que os dois desejavam. Os corpos dominavam os sentidos; tão juntos que quase se fundiam num só. A ânsia – de tão avassaladora – ia-se tornando incontrolável.” POR ESTÊVÃO DE SOUSA
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jovem licenciado em História Antiga pretendia defender tese sobre as antigas civilizações Andinas, especialmente Incas e Maias. Neste contexto, pensou deslocar-se ao continente americano, nomeadamente ao Peru e México, para in loco ver a famosa pirâmide de Kukulcán que, bela e imponente, nos seus trinta metros de altura, se encontra perto das praias da Riviera Maia, e também a “do Adivinho” que, com quarenta metros, e oitenta e um de largura, é um impressionante monumento arqueológico, a qual que se julga ter sido inaugurada 560 anos d.C. e se situa na península do Yucatán, sendo estes dois magníficos templos obras do povo Maia. Sabedor de que, quando Cristóvão Colombo chegou à América, em 1492, encontrou o continente habitado por vários povos com culturas diferentes, sendo os principais os Astecas, Maias e Incas, cuja ordem de desenvolvimento é inversa à indicada atrás – os Incas, mais desenvolvidos, dominando estes dois últimos, razoavelmente a
matemática, a astronomia, a medicina, bem como técnicas de construção e de metalurgia e cerâmica. Os próprios invasores Espanhóis ficaram admirados com os conhecimentos destes povos quando invadiram e tomaram os seus domínios, que se estendiam pelos países que hoje conhecemos como El Salvador, Guatemala, Colômbia, Equador, México, Peru, Bolívia e norte da Argentina. Não sendo o objetivo destes invasores colonizar, mas sim dizimar e saquear, transferindo todas as riquezas, que eram muitas – nomeadamente em ouro e prata – para o continente, acabaram destruindo as civilizações, sendo a última cidade Maia (Tayasal) destruída em 1697, sem que, todavia, o povo Maia tivesse sido completamente extinto, existindo até hoje populações consideráveis na área da antiga Maia. Já quando, em 1532, Francisco Pizarro deu início à destruição do Império Inca, o que veio a concretizar-se por volta de 1690, se lhe seguiu a extinção daquele povo.
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Conhecedor destes factos – conhecimentos adquiridos no curso que acabava de fazer – e admirador confesso destes povos, ardia em desejos de ver ao vivo os monumentos por eles construídos, entrosando-se melhor nos costumes daqueles obreiros, para que a tese que pensava defender fosse algo que contribuísse cientificamente para a completa divulgação da existência de tão importantes civilizações. Assim, numa segunda feira de Junho, às 7h00, embarcou no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, com destino a Lima, no Peru. A viagem decorreu sem incidentes, aterrando o nosso amigo na cidade de Lima cerca das 20h00, depois de ter feito escala em Paris. Tratou de se instalar no Marriott Hotel Lima, com uma vista privilegiada para o Pacífico, ótimas instalações
e magnífico serviço. No dia seguinte iria ver alguns pontos de interesse da cidade. Começou por visitar a Praça de Armas, no centro de Lima, que foi a capital do Império Espanhol na América do Sul durante cerca de dois séculos. Após ter admirado a praça, com seus jardins e prédios antigos muito bem cuidados, resolveu dessedentar-se num dos bares existentes debaixo das arcadas de um dos prédios que a ladeiam. Estando sentado a tomar um refresco, reparou ocasionalmente numa rapariga que, também ela, tomava uma bebida, sozinha. Na altura em que olhou para a linda rapariga que, como que por magnetismo, também olhou para ele, sentiu um autêntico frémito percorrer-lhe o corpo; dir-se-ia que, naquele cruzar de olhares, aconteceu assim a modos como que uma química, uma sensação tão agradável que os levou a rirem-se um para o outro. Levado por um impulso superior à vontade, levantou-se e aproximando-se da mesa onde a causadora do seu entusiasmo estava sentada, dirigindo-se-lhe, disse:
Estando sentado a tomar um refresco, reparou ocasionalmente numa rapariga que, também ela, tomava uma bebida, sozinha. Na altura em que olhou para a linda rapariga que, como que por magnetismo, também olhou para ele,
sentiu um autêntico frémito percorrer-lhe o corpo; dir-se-ia que, naquele cruzar de olhares, aconteceu assim a modos como que uma química, uma sensação tão agradável que os levou a rirem-se um para o outro.
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– Olá! Posso sentar-me? Ela, olhando para ele, sorrindo, confirmou num torvelinho: – Si, yo soy de Alcalá del Valle, España, Cadiz, Andalucia, mi nombre es Carmen y estudio la arqueologia, pero también hablo un poquito português! – Bueno, yo no hablo nadia de español – disse ele rindo-se, ao mesmo tempo que se sentava na mesa, junto dela. Assim começou um longo diálogo em “espanholês”, em que ele lhe contou a viagem que pretendia fazer e qual a sua finalidade. Ao ouvir isto, ela, ficando tremendamente entusiasmada, confessou-lhe que adorava arqueologia, curso que andava a tirar na universidade de Sevilha, estando ali com o objetivo de visitar Machu Picchu, a cidade perdida. Após terem tido um alegre e simpático diálogo, o Wanderley convidou-a a acompanhá-lo na visita que ia fazer a alguns pontos de
interesse da cidade, disponibilizando-se ela de imediato, visto que, por ter chegado na véspera, ainda não conhecia ali nada. Pegaram cada um em sua mochila e zarparam direitos ao Museu Arqueológico Rafael Larco, na Av. Simon Bolivar, o qual se encontra instalado numa construção do século XVIII, edificada em cima de uma pirâmide précolombiana. Aí apreciaram artefactos e fotos dos quatro mil anos de história do Peru pré-colombiano, incluindo peças Huaco (peças de confeção delicada produzidas por civilização pré-hispânica dos Andes centrais). Acabada a visita, dirigiram-se à Basílica Menor e convento de São Francisco, o Grande, classificados como Património Mundial pela UNESCO. Ao visitarem o convento mais parecia estarem dentro de outro museu, tão grande era o número de obras de arte ali expostas. A Carmen ficou tão entusiasmada ao ver os azulejos sevilhanos, pintados com cenas diversas da terra dela, que ele, a brincar, lhe disse:
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– É melhor fechares a boca que há quase quinze minutos manténs aberta, correndo o risco de engolires algum azulejo! Ela, olhando-o e agarrando-se-lhe ao braço, deu uma estridente gargalhada, que fez com que as pessoas que admiravam as peças em silêncio os olhassem com ar de reprovação. Estando já a anoitecer, e encontrando-se algo cansados, combinaram deixar para o dia seguinte mais algumas visitas que não queriam deixar de fazer antes de partirem de Lima. Assim, despediram-se, indo ele para o hotel onde estava hospedado e ela para o Gran Hotel. Como combinado, no dia seguinte encontraram-se para rumarem ao centro histórico a fim de visitarem a catedral que, muito semelhante à de Sevilha, a fez vibrar de alegria, não se cansando de a elogiar e tirar fotografias. Dali seguiram para a praça de San Martin, também no centro histórico, considerada Património Cultural da Humanidade, pela UNESCO, e que tem ao meio a estátua do libertador, Don José de San Martin, a cavalo. Esta praça prima pelos seus belos edifícios do tempo colonial, como, aliás, todo o centro histórico da cidade. Voltaram novamente à Plaza Mayor, para visitarem o palácio do Governo do Peru, também
conhecido por Casa de Pizarro, cuja enorme figura se encontra à entrada. Muito mais haveria para ver, mas os nossos turistas, que tinham pressa em ver a “cidade perdida”, apressaram-se a embarcar no avião para Cusco, de onde no dia seguinte partiriam, de trem, para Águas Calientes, apanhando aí o ónibus para Machu Picchu, no alto da cordilheira dos Andes Peruanos. Ao chegarem ao cimo, ficaram positivamente sem respiração; primeiro: porque a 2.400 metros de altitude o ar é bastante mais rarefeito, requerendo enorme esforço para respirar; segundo: porque a imponência do lugar era tal que era mesmo de cortar a respiração. Era absolutamente inimaginável! Toda a envolvência da cidade perdida era tão espetacular que, em presença da imponência das montanhas circundantes e da cidade em si, sentiam-se pequeninos, insignificantes! Refeitos da surpresa inicial e já mais adaptados à elevada altitude, continuaram a admirar aquela maravilha da engenharia Inca; para tanto, subiram a um ponto mais alto, de onde usufruíam de uma panorâmica perfeita de toda a cidade e das maravilhosas serranias que a envolvem. Dali puderam admirar a forma organizada como Machu Picchu 107
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As mãos, como que numa dança exótica, iam numa atividade febril, explorando todas as zonas dos corpos com sofreguidão, e as bocas procuravam-se ansiosa e vorazmente, tomandose avidamente num prazer inexcedível. Estiveram assim até que o desejo, suplantando os sentidos, os devorou: possuíram-se numa vontade desmedida, até atingirem o clímax. Relaxando, aperceberam-se que estava a anoitecer e que só voltariam a ter comboio de regresso a Cusco no dia seguinte; teriam de procurar alojamento em Águas Calientes. Levantaram-se, foram à procura de hotel e conseguiram alojamento no Hotel Cabana Machu Picchu, onde passaram uma noite de intenso amor. Ao amanhecer, alegres e bem dispostos, apanharam novamente o comboio, numa viagem inesquecível feita por pai-
havia sido construída: o perfeito sistema de esgotos e drenagens, a imponente muralha, onde existiu uma entrada com um portão fechado pelo interior através de um mecanismo de segurança, os arruamentos bem delineados, a zona dos palácios, o cemitério e os terraços para a agricultura construídos em socalco. Tudo havia sido minuciosamente programado. Ao saírem, deliberaram fazer o regresso até Águas Calientes a pé, numa distância de nove quilómetros, que sendo a descer era fácil de percorrer. Vinham extremamente felizes, a visita à “cidade perdida” tinha sido divina e o companheirismo entre os dois tinha-se revelado inexcedível! Após cerca de uma hora de marcha, chegaram quase ao fundo do vale, perto das margens do rio Urubamba (rio sagrado dos Incas). O local, idílico e sossegado, levou-os a sentarem-se na relva. Sentiam-se bem ali! O Sol no ocaso proporcionava um feérico ambiente com a sua cor avermelhada, projetando-se nas serranias das redondezas e na pequena cidade. O momento era de enlevo! O local bucólico, com o verde exuberante da vegetação fazendo lembrar um fofo e cómodo tapete; o sussurrar das águas do rio, o chilrear dos pássaros, tudo convidava ao amor, e... bem juntinhos, beijaram-se ardentemente, num ato espontâneo, que os dois desejavam. Os corpos dominavam os sentidos; tão juntos que quase se fundiam num só. A ânsia – de tão avassaladora – ia-se tornando incontrolável.
Aperceberam-se que estava a anoitecer e que só voltariam a ter comboio de regresso a Cusco no dia seguinte; teriam de procurar alojamento em Águas Calientes. Levantaramse, foram à procura de hotel e conseguiram alojamento no Hotel Cabana Machu Picchu, onde passaram uma noite de intenso amor.
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sagens magníficas, junto ao rio Urubamba, entre floresta e serrania. Chegados a Cusco, apanharam o avião novamente para Lima. Na capital do Peru, tão felizes que andavam que ela se havia esquecido do casamento da irmã, o qual se realizava do sábado seguinte a oito dias, ou seja, dez dias depois, ao qual não podia faltar. Assim: – Olha, meu querido! Lembrei-me agora que se vai dar o casamento da minha irmã, pelo que te-
nho de estar em Cadiz nessa data, dia 18. – Então, mas isso não nos dá tempo para visitar as pirâmides no México! – Exclamou ele, aborrecido. – Perdoa-me amor, mas nunca mais me lembrei. Vai tu. Não alteres os teus planos por minha causa, que eu sigo para Espanha. – Mas ainda dá tempo para visitarmos juntos pelo menos uma. Vamos optar pela de Kukulcan. Se ainda hoje tivermos voo para a cidade do México, seguimos para lá e amanhã apanhamos avião para Cichén Itzá. Seria uma pena estares aqui e não teres possibilidade de ver uma das sete maravilhas do mundo! Que me dizes? – Achas que dá tempo? – Dá pois! Conseguimos viajar para lá e visitar a cidade conhecida como “Meca dos Maias”, de modo a poderes embarcar para Espanha antes do casamento da tua irmã. – Então, vamos para o aeroporto, ver se conseguimos voo! 109
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assim resolveram: amanhã vamos viajar para a cidade de que ainda se desconhece qual o povo que deu início à sua construção, que remonta ao ano de 300 a.C. e que, como se sabe, também foi habitada pelos Maias, os quais, quando os invasores lá chegaram, já a tinham abandonado, sem que se tenha encontrado, até hoje, uma explicação para o facto. Ao chegarem, depararam com um complexo de pirâmides de onde sobressai uma que, pela sua envergadura, se destaca das restantes: é a pirâmide do Sol! Sendo a segunda maior do México e a terceira maior do mundo. Por informações recolhidas in loco, souberam que aquele local é atualmente o mais visitado do México. Findo mais um dia bem passado, regressaram ao hotel, onde entraram abraçados e cheios de vontade de estarem a coberto de olhares indiscre-
Metendo-se num táxi, rumaram ao aeroporto de Lima. Quando ali chegaram ficaram maravilhados ao verem que daí a duas horas tinham avião para o destino pretendido. 5h50 após terem embarcado estavam a sobrevoar a cidade do México. Já estava a anoitecer e o tempo urgia, não deixando muito livre para visitas à cidade. No entanto, depois de terem escolhido o Hilton Hotel Aierport, que ficava só a 15 minutos de caminho, o Wanderley convidoua a disporem do dia seguinte para visitarem as pirâmides de Teotihuacan localizadas a 48 quilómetros da Cidade do México. Segundo ele, valia a pena alugarem um carro sem condutor e irem ver um tão belo complexo de pirâmides que havia sido uma bela cidade, chegando a ser a maior cidade da época précolombiana. Ela acabou concordando, e 110
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tos. Assim que entraram no quarto, deram largas ao entusiasmo e começaram a tirar as roupas com uma avidez descontrolada. Já nus, agarraram-se e rebolaram na cama – que soltou um lamento de desconforto – beijando-se loucamente até que, em “brasa”, fizeram sexo. – Amor, vamos tomar um duche e, após o jantar, abanar o “capacete” ao som de uma boa música mexicana? – Ó pá! Adoro a música mexicana, por ser tão parecida com a da minha Andaluzia! – Disse ela com cara de malandra, sorrindo com aquela expressão que ele nunca havia visto em ninguém. E aquelas duas covinhas que fazia no rosto quando ria? Adorava vê-la rir. «Estou a ficar completamente apanhado por esta gata», pensou. Dançaram até tarde. Quando regressaram ao hotel já era de madrugada. – É às oito horas que temos de apanhar o avião para Chichén Itza? Olha, eu vou só com um olho aberto e o outro fechado!
– Não faz mal, se for preciso levo-te ao colo! – Ah, então está-me a parecer que não abro nenhum! – Ai abres, abres, nem que eu te tenha de dar duas palmadas no traseiro!
Assim que entraram no quarto, deram largas ao entusiasmo e
começaram a tirar as roupas com uma avidez descontrolada. Já nus, agarraram-se e rebolaram na cama – que soltou um lamento de desconforto – beijando-se loucamente até que, em “brasa”, fizeram sexo. 111
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– Querido, tenho a impressão que estamos a ser seguidos por dois desconhecidos! – Olha que tu sempre tens cada uma! Quem é que teria interesse em nos seguir, sendo nós dois normalíssimos turistas que como tantos outros por aqui vagueiam? – Meu amor, pode ser que tenhas razão e isto não passe de uma obsessão minha, mas que acho que nos seguem lá isso acho! Continuando o passeio, ao aproximarem-se da última pirâmide que, precisamente por ser mais afastada, deixaram para último, foram abordados pelos dois indivíduos e, enquanto um encostava o cano de uma pistola às costas do Wanderley, imo-
– Oh, assim lá terei de abrir bem os dois olhos! – Lá foram brincando um com o outro, até que se deitaram e... adormeceram. O voo para Chichén Itza demorou cerca de duas horas, tempo que aproveitaram para dormir um pouco. Chegaram à cidade considerada a “Meca do povo Maia” a qual, no ano 900 d.C., foi construída com o propósito de albergar grandes multidões. Tudo nela é espaçoso. Edifícios, espaços livres, campo de jogos dos prisioneiros, praça das mil colunas, templo dos guerreiros, etc. Ao centro encontra-se o templo principal, a celebre pirâmide de Kukulkan, conhecida como o castillo e construída em honra do deus Kukulkan (serpente emplumada, na língua Maia), detentora de uma escadaria com 365 degraus. A cidade, abandonada por volta do século XIII, continuou a ser objeto de peregrinações, que depositavam as suas dádivas no cenote sagrado (poço profundo, caverna ou gruta cheia de água). Já praticamente acabada a visita, era quase noite e, tendo o último avião para a cidade do México daí a duas horas, dispunham-se a ir embora quando ela reparou que, no meio dos muitos visitantes que ainda ali se encontravam, havia dois que os iam seguindo e olhando disfarçadamente. Como isto já acontecesse há algum tempo, a Carmen, puxando-o pela mão, disse-lhe em voz baixa: 112
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antagonista, dando-lhe dois socos que o desequilibraram e puseram meio zonzo, o qual, aos tropeções, o largou e virando a arma na sua direção desfechou um tiro cuja bala só por milagre o não atingiu, passando a assobiar-lhe junto aos ouvidos. Ao ruído do tiro, os poucos visitantes debandaram em surdina, atropelando-se, chegando a ouvir-se alguns gritos de mulheres a entrarem em histeria. Felizmente, os guardas do recinto apareceram de imediato, fazendo com que os assaltantes se pusessem em fuga, tendo-a ele encontrado desmaiada, após aturada procura, sem no entanto ter chegado a perceber qual tinha sido o móbil do crime, visto não a haverem molestado nem lhe terem roubado nada. – Olha amor, como estamos relativamente perto da Riviera Maia, que achas se dispusermos destes dois dias para visitar aquela zona que dizem valer a pena? Sentes-te com força? – Eu estou a ficar com pouco dinheiro, querido. Por falar nisso: quero fazer contas contigo, visto teres pago tudo até agora. Ou pensavas que eu te queria cravar? – Disse ela, beijando-o.
bilizando-o, o outro, agarrando-a, arrastou-a para onde não havia ninguém. Tudo isto foi perpetrado sem que alguém dos que ainda por ali andavam desse por nada, visto a visibilidade ser quase nula. Ela bem estrebuchou, mordeu o braço do homem e gritou, mas só conseguiu levar uma pancada na cabeça que a pôs a dormir. Quando acordou, sem saber quanto tempo havia estado adormecida, viu-se deitada numa marquesa, com a cabeça envolta por uma ligadura e o Wanderley debruçado sobre ela, com ar preocupado, perguntandolhe como estava. Ao recuperar completamente a consciência, ele informou-a de que havia sido raptada, enquanto ele tentou lutar com o seu
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hotéis carregados de requinte e conforto. Sendo uma cidade moderna, tudo o que não fossem hotéis eram residências onde imperava o bom gosto. As praias que circundavam parte da cidade eram, na sua maioria, belíssimas. – Sabes que gosto disto! – Disse ela, mal chegaram. – Pois é, mas também sabes que não é este o nosso destino, a menos que queiras ficar por aqui. – Não! Prefiro ir para a Praia del Carmen. Já agora, sempre quero ver como é a “minha praia”. – Ao dizer isto, ria-se com aquele riso maroto que a tornava irresistível. Ele, completamente dominado por aquele sentimento que cada vez mais o avassalava, disse-lhe, enquanto a abraçava e beijava carinhosamente: – Vá lá minha querida, vamos então apanhar o autocarro para o nosso destino e arranjar alojamento. Estou desejoso para dar um bom mergulho! Arranjar hotel em Praia del Carmen não é coisa difícil, dada a enorme oferta existente, e quem
– Fique a menina sabendo que não me deve nada! Tenho todo o prazer em ter suportado as despesas até agora. E... depois, não sou eu que pago: é o papá! Riram-se ambos. Mesmo assim, ela insistiu: – Não quero viver às custas do seu papá, meu senhor! Insisto que quero pagar a minha parte das despesas, senão não vou contigo a mais lado nenhum! – Mas isso é chantagem pura e dura! Pronto, façamos um acordo: o que está para trás para trás está, e a ida a Cancun pagamos os dois. De acordo? – Já me parece melhor, muito embora ainda não esteja completamente restabelecida, mas como não quero abdicar do prazer da tua companhia tão cedo, vou fazer das fraquezas forças. Vamos lá! – Rindo-se e beijando-se amorosamente, foram comprar as passagens para Cancun. Após uma hora de avião começaram a sobrevoar a cidade da Riviera Maia. Era, pelo aspeto, uma cidade virada completamente para o turismo e para gente endinheirada. Abundavam os 114
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quiser ficar bem acomodado, por um valor aceitável, tem no centro pequenos hotéis com boas condições e bons preços. Foi exatamente isso que o Wanderley e a Carmen fizeram. Depois de devidamente acomodados trataram de dar uma volta até à praia e pela cidade. Encantados com a tonalidade e temperatura da água do mar das Caraíbas, imediatamente mergulharam, tendose mantido na praia até ao anoitecer. À noite, dirigiram-se ao “Fusion” – agradável restaurante com música ao vivo – onde jantaram, findo o que foram dar um passeio pela quinta avenida e, para fazerem tempo, deslocaram-se novamente até à praia. Aí, sentados na areia, usufruíram de um espetáculo inebriante: a Lua, em fase de Lua Cheia, mostrava-se em toda a sua beleza, num céu sem nuvens, espraiando a sua luminosidade sobre as águas cálidas e tranquilas de um
mar azul-turquesa, mesclando-as de inebriantes tons prateados. – Que espetáculo magnífico, amor! – Lindo de morrer, minha amada, um autêntico sortilégio! Contagiados pelo ambiente que os rodeava, beijaram-se e acariciaram-se com amor ardente. Quando, após alguns momentos de sublime enlevo, se resolveram levantar e dirigir-se para a 10ª avenida, a fim de no “Coco Bongo” passarem
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boa parte da noite, vendo um show e bebendo algo, ainda a Lua continuava lá no alto como que, a sorrir-lhes, convidando-os a serem felizes. No dia seguinte, acordaram já altas horas, bem dispostos, repetindo o ritual do dia anterior, ou seja: passarem o dia na praia! À noite, após jantarem num dos vários restaurantes da 5ª avenida, foram até à praça Marina, ao Señor Frog’s – perto do ferry para Cozumel – só para ouvir música e beber um daqueles copos de cerveja de 800 ml.; acabaram dançando ao som de boa música. Embora o serão tivesse sido ótimo, iam cabisbaixos; no dia seguinte a Carmen embarcaria para a Cidade do México, de onde seguiria para Espanha. Ao chegarem junto do hotel, o Wanderley, parando e virando-se para ela, olhando-a nos olhos, disse-lhe com toda a espontaneidade: – Queres casar comigo? Apanhada de surpresa, estática e balbuciante, ela respondeu-lhe: – Tu... não estás a brincar comigo... pois não, meu amor? – Nunca falei tão sério em toda a minha vida! – Oh, querido! Mas há lá alguma coisa que eu mais deseje? Ali mesmo, à luz de
um lampião público, caíram nos braços um do outro, beijando-se longamente. Já no quarto, ele expôslhe o plano que havia idealizado: – Minha querida, em virtude de tu seguires para Espanha, como havíamos combinado, eu fico por aqui a preparar a tese com os elementos que colhi nesta viagem. Logo que a tenha pronta, sigo para Portugal para a defender, após o que “damos o nó”. Ah! E podes ter a certeza de que esta será a tese que alguma vez foi preparada em menos tempo! Parece-te bem, amor? – Claro que sim, querido! Vou ficar ansiosa a contar os dias um a um! Decorridos três meses e incontáveis ligações telefónicas entre La Playa de Carmen e um pueblo blanco chamado Alcalá Del Valle, eis que alguém, nesse povoado, bate à porta de uma bonita moradia branca! A moça vestida de Andaluz, penteada com umas lindas tranças, deixou o que fazia para ir abrila, interrogando-se: «Quem será? Não espero ninguém, a menos que o malandro do meu irmão Manolo tenha faltado à escola novamente!» Abriu a porta. Ele estava ali, de braços abertos, pronto a abraçála. Ela, esfuziante de alegria, caiu-lhe nos braços, dizendo apenas: – Oh, meu querido! 116
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LANÇAMENTO
RAPTO EM LONDRES Estêvão de Sousa lançou um novo romance; desta vez, a estória de um sequestro
O autor Estêvão de Sousa publicou o seu quarto romance através da Edições Hórus: «Rapto em Londres», uma obra policial que se passa na alta sociedade londrina e narra a estória de uma jovem e estonteante cientista, formada em física nuclear, que se vê envolvida num sequestro perpetrado pelo seu próprio marido, um antropólogo, professor na universidade de Greenwich, que se encontra ao serviço de uma tenebrosa rede terrorista internacional e quer obrigá-la a construir uma bomba para esse grupo terrorista; o drama da bela cientista só terminará com a intervenção de dois membros da Câmara dos Lordes, o
superintendente da Scotland Yard e um luso-inglês que vem a ser a sua grande paixão, vendo-se assim envolvido numa trama de arrepiar o cabelo! «Rapto em Londres» é um thriller arrebatador cuja acção se desenvolve em Inglaterra, Brasil e Portugal, e as inúmeras e inesperadas situações desenroladas ao longo da trama fazem que o leitor se sinta ávido em descobrir o seu desfecho. Este livro policial pode ser adquirido através de algumas plataformas de distribuição digital como a Amazon, Wook e Bertrand, e também através da página do autor no Facebook (www.facebook.com /francisco.estevaodesousa). 121
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LANÇAMENTO
A RIBEIRA DA MINHA TERRA Maria Alcina Adriano apresentou o seu sétimo livro, editado pela Euedito
Maria Alcina Adriano publicou um novo livro de poesia, «A Ribeira da Minha Terra», com a chancela Euedito. A sessão de apresentação teve lugar no Palácio da Independência, em Lisboa, no passado dia 18 de Novembro, e a obra foi apresentada pelo poeta Julião Bernardes. Maria Alcina Adriano nasceu em Vale Verde, concelho de Almeida, em 1950, tendo-se mudado para Lisboa em 1970, por razões profissionais. Concluiu a Licenciatura na Faculdade de Direito de Lisboa em Outubro de 1989, conciliando a vida universitária com a sua vida familiar e profissional. Durante mais de 40 anos trabalhou na Admi-
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nistração Pública, onde atingiu o topo da carreira
que acordam a madrugada, para ouvir o coaxar
profissional, no desempenho de funções jurídicas.
das rãs nas noites em que a insónia entra pela
Começou a escrever poesia enquanto aluna do
porta e não tem vontade de sair.
Liceu, mas só depois de se ter aposentado, em 2010, passou os poemas para o computador
Maria Alcina Adriano tem participações em
e estruturou-os, de forma a organizar os livros que
diversas antologias (entre outras, em «Vendaval
tem editados. Nos poemas, a autora encontrou
de Emoções», «Graças a Deus!», «Fúria de Viver»,
uma forma de falar dos seus sonhos, dos seus
«A Primavera dos Sorrisos» e «Tempo de Magia»
amores, das suas vivências e experiências no País
da Colecção Sui Generis), participa em várias
e nos diversos Países que tem visitado, de ques-
tertúlias de poesia, é membro da Associação
tões sociais, das suas perdas e desilusões, sem
Portuguesa de Poetas e da Associação Portuguesa
nunca se esquecer das suas origens rurais e das
de Escritores e, desde que começou a publicar,
dificuldades sentidas pelas populações da Beira
editou as seguintes obras poéticas: «Flores Verdes
Interior, regressando muitas vezes à sua terra
em Tempo de Guerra», «O Meu Corpo é Como
para receber os abraços das suas gentes,
Um Rio», «As Searas São Vermelhas», «A Magia
para sentir os cheiros característicos da aldeia
da Vida», «A Primavera dos Meus Sonhos»
e dos campos (ou cobertos de geada, ou floridos
e «As Ondas dos Seus Olhos»; «A Ribeira da
e verdejantes, ou gretados pelo vento e pelo
Minha Terra» é o seu sétimo livro e encontra-se
calor), para respirar o ar puro sempre que abre
à venda na livraria online da editora Euedito
uma janela, para ouvir a sinfonia dos pássaros
(em www.euedito.com). 124
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APRESENTAÇÃO
A PRIMAVERA DOS SORRISOS ISIDRO SOUSA Nasceu em 1973, numa aldeia remota das Terras do Demo, concelho de Moimenta da Beira, e reside no Porto. Jornalista e editor de publicações periódicas desde 1996, fundou, dirigiu e editou revistas, jornais e guias turísticos, publicou a primeira antologia em Fevereiro de 2001, colaborou com três editoras, participou em várias dezenas de obras colectivas, foi distinguido num concurso literário e é o responsável pelos projectos da Sui Generis, que criou em Dezembro de 2015. Publicou dois livros: «Amargo Amargar» e «O Pranto do Cisne». Blogue do Autor: http://isidelirios.blogspot.pt Página no Facebook: www.facebook.com/isidro.sousa.2
“Todas as pessoas são sensíveis à Natureza, aos animais e à beleza da Primavera, e é em torno desta estação (a estação das flores, dos sorrisos e dos amores, em que a Natureza se reveste de verde e a Vida recomeça a vibrar com toda a sua intensidade) que se debruçam os textos, em prosa e poesia, redigidos por 36 autores lusófonos, incluídos nesta antologia – a primeira de quatro obras colectivas dedicadas a cada estação do ano: Primavera, Verão, Outono e Inverno.” POR ISIDRO SOUSA
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A
Primavera é a estação do ano tipicamente associada ao reflorescimento da flora terrestre, cuja chegada, após meses de frio e chuva, é aguardada com a ansiedade de quem deseja voltar a desfrutar do ar livre. É nesta altura do ano que as árvores se cobrem de flores e novas folhas, fazendo a paisagem regressar aos tons verdes. As temperaturas começam a subir, os dias tornam-se cada vez maiores, as flores desvendam todo o seu esplendor, uma parte significativa de animais exibe as novas crias ou ninhadas, os rios correm mais fortes e os panoramas naturais mostram-se com toda a sua diversidade, sendo os melhores exemplos da diversidade geográfica e da importância de preservarmos os mecanismos dos ecossistemas, desde o ciclo da água às relações que existem entre as inúmeras espécies que partilham o mesmo espaço.
Enquanto tempo de renovação, esta estação é uma boa altura para se conhecer coisas novas, visto que
Enquanto tempo de renovação, esta estação é uma boa altura para se conhecer coisas novas, visto que a profunda regeneração da Natureza é um laboratório vivo e vibrante que pode trazer muitas lições de botânica, biologia, geografia, ecologia e de outras ciências. Para as crianças, por exemplo, a Primavera mostra-se perfeita para novas descobertas, já que é sinónimo da saída de casa e de alternativas às brincadeiras no interior, à televisão e aos jogos electrónicos. Correr, jogar à bola, regressar à praia (mesmo que seja cedo para banhos de mar), passear em jardins ou descobrir os encantos da vida campestre são óptimos programas para toda a família.
a profunda regeneração da Natureza é um laboratório vivo e vibrante
que pode trazer muitas lições de botânica, biologia, geografia, ecologia e de outras ciências. Para as crianças, por exemplo, a Primavera mostra-se perfeita para novas descobertas, já que é sinónimo da saída de casa e de alternativas às brincadeiras no interior, à televisão e aos 128 jogos electrónicos.
Perante as árvores que se revestem de novas folhas e flores, torna-se mais fácil explicar aos mais pequenos o processo de renovação vegetal e de que forma as plantas que pareciam tão secas no
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Inverno estavam, afinal, somente adormecidas, preparando-se para a nova fase. Este fenómeno ajuda, também, a mostrar como funciona o ciclo da vida, em especial se tivermos disponível um grupo de pintainhos, cãezinhos, gatinhos...
obras colectivas dedicadas a cada estação do ano: Primavera, Verão, Outono e Inverno. E embora o livro seja editado durante a terceira estação, creio que o mais importante são as leituras que proporciona, leituras que poderão ser apreciadas em qualquer altura do ano, contribuindo, desse modo, para que a Primavera se torne eterna.
Todas as pessoas são sensíveis à Natureza, aos animais e à beleza da Primavera, e é em torno desta estação (a estação das flores, dos sorrisos e dos amores, em que a Natureza se reveste de verde e a Vida recomeça a vibrar com toda a sua intensidade) que se debruçam os textos, em prosa e poesia, redigidos por 36 autores lusófonos, incluídos nesta antologia – a primeira de quatro
Boas leituras! Prefácio de Isidro Sousa incluído no livro A Primavera dos Sorrisos – Antologia em Prosa e Poesia
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CONTO
A ALEGRIA DE ILLARI “Andava um pouco chateada com este meu GUADALUPE NAVARRO Nascida em Lima, Peru, vive no Rio de Janeiro, Brasil. É bacharel em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, com pós-graduação em Filosofia Contemporânea. Em 2014, publicou os seus primeiros poemas; em 2015, estreou-se na prosa com a sátira A Estátua de Sal, na antologia «A Bíblia dos Pecadores». Participou em «Boas Festas», «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Os Vigaristas» e «Devassos no Paraíso», da Colecção Sui Generis. Publicou dois livros: «Poemas da Alma» (Pastelaria Studios, 2015) e «Decifra-me... ou Devoro-te!» (Sui Generis, 2017). Página da Autora: www.facebook.com/rubionav
nome, mas desde que comecei a estudar quéchua e a história dos incas estou começando a gostar dele. Illari significa amanhecer, resplandecente, fulgurante... Sou tudo isso!!! Acordo com o amanhecer do dia! Resplandeço, pois sou linda e fofa! E meus negros olhos com o fulgor de seu brilho ofuscam tudo e todos!!! Tenho orgulho de ter nascido nesta terra que fazia parte do Tahuantinsuyo, o império dos incas que era formado pelo que hoje é Peru, Bolívia e Equador, o sul da Colômbia e boa parte do Chile e da Argentina. Ah... como gostaria de ter vivido na corte do imperador Pachacutec, que foi o maior de todos os soberanos incas!” POR GUADALUPE NAVARRO
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A
manhecia. Ao ouvir os primeiros ruídos e ver os primeiros raios de sol entrando pelas cortinas de seu quarto, Illari espreguiçou-se em sua cama. Virando o rosto, viu o livro que estivera folheando antes de cair no sono. Levantou-se, sacudiu o pequeno corpo e olhandose no espelho disse: – Andava um pouco chateada com este meu nome, mas desde que comecei a estudar quéchua e a história dos incas estou começando a gostar dele. Illari significa amanhecer, resplandecente, fulgurante... Sou tudo isso!!! Acordo com o amanhecer do dia! Resplandeço, pois sou linda e fofa! E meus negros olhos com o fulgor de seu brilho ofuscam tudo e todos!!! Tenho orgulho de ter nascido nesta terra que fazia parte do Tahuantinsuyo, o império dos incas que era formado pelo que hoje é Peru, Bolívia e Equador, o sul da Colômbia e boa parte do Chile e da Argentina. Ah... como gostaria de ter vivido na corte do imperador Pachacutec, que foi o maior de todos os soberanos incas! Além dele, foram mais doze... Illari escutou passos. A porta abriu-se, uma bela e risonha moça entrou e pegando Illari no colo disse-lhe: – Minha filhota, amanhã temos que ir na celebração do Coya Raymi. Mandei fazer este vestido para você... Chegou ontem de noite, mas você estava tão concentrada em seus estudos de quéchua que nem notou... Espero que goste. Illari olhou o vestido e deu pulos de alegria. Era um vestido feito com um tecido de toca-
pus, figuras geométricas em sequência típicas das roupas incas. A mãe de Illari despediu-se explicando que tinha de ir trabalhar e a linda fox terrier, de pouco mais de um ano, continuou admirando o vestido. – Nossa!!! Vou arrasar com este modelito!!! Aposto que todas as outras quatro patas vão estar com motivos florais. Falta de imaginação usar vestidos com flores na celebração do solstício da Primavera! Ainda mais se a festa vai ser no jardim do Museu Arqueológico de Lima e é organizada
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por uma associação que promove a recuperação satisfeitos e por egoísmo, a castigaram cobrindo o do nosso passado inca! Não posso esquecer que seu corpo com um casco... que só eles podiam Primavera em quéchua é T’ikaypacha... Que verabrir, para saborearem a sua carne! Que maldagonha seria se esquecesse a língua dos meus ande!!! Ah, estes deuses... Sejam hebreus, romanos, tepassados! Antepassados? Será que existiam fox gregos, nórdicos ou incas, sempre estão apronterriers na época dos incas?! Sei lá... E não intetando!!! Por isso, sou agnóstica! Melhor ler um ressa! Sou peruana e, portanto, me considero pouco a história dos Sapa Incas, como eram chadescendente dos incas e está na moda a redescomados os imperadores. O primeiro foi Manco berta de nossas origens incas. Eu sou antenada e Capac, personagem meio mítico, mas que parece com estes modelitos que miter existido de verdade. Era nha mãe compra, todos feitos sábio e fez leis muito justas... com motivos incaicos, sou faAdorava o deus do sol, ou Inti. shion e estilosa! Agora, vou Construiu um templo perto de – Não entendo como tomar meu leite e comer Cuzco, para as ñustas, sacermeus biscoitos light porque dotisas que tinham de ser de existem pessoas que não posso engordar uma grasangue nobre e virgens... Acho não gostam de animais! ma! que hoje em dia seria difícil Esquecem-se que, Após alimentar-se, Illari encontrar candidatas a ñusvoltou ao livro sobre os incas. tas... Virgens?!? Do jeito que por mais Homo Sapiens Abriu na parte das lendas, devão as coisas... Sei não! Deque sejam, não passam bruçou-se sobre as inúmeras pois, veio o seu filho, Sinchi, de animais. Sobra-lhes lendas incas e exclamou: com Mama Ocllo. Sinchi bati– Mas é plágio!!! Dilúvio zou de Qosco, em quéchua, a “humanidade”, mas não é da Bíblia! Bem, ao meuma cidade que herdara do falta-lhes o coração! nos não tinha arca, nem casais pai. Qosco virou Cuzco quanVivem rezando, fazendo de animais... Mas havia uma do chegaram os espanhóis. montanha onde o povo se Sinchi também criou uma faidiscursos em favor refugiou, que crescia conforxa de várias cores que virou dos menos favorecidos, me as águas subiam. Depois, uma espécie de bandeira do mas na hora de ajudar quando parou de chover, a tal império. montanha aumentou de taE a espevitada fox terrier de verdade... manho... Ué?!? Deve ter sido continuou a leitura da biogra– Não fazem nada!!! feita de esponja... Absorveu a fia dos imperadores incas água, cresceu e com o fim das mas, ao ouvir passos de alchuvas voltou ao tamanho naguém aproximando-se da portural... Nossa, uma moça enta de sua casa, saiu disparada gravidada por um deus metamorfoseado em pásem direção ao armário onde os seus biscoitos saro! Outra que, fugindo de um deus, se jogou no eram guardados. Abriu a porta, deu um pulo, pemar e virou ilha! gou um pacote de biscoitos e foi rapidamente até “E a tartaruga, coitada! Era divina, até que calo portão. culou mal a comida que serviu aos deuses em um – Olá Ollantay, como vai? Falei com mamãe e banquete e estes, com fome, começaram a xingar ela concordou em doar um pacote de biscoitos a a coitada que, com vergonha, transformou-se em cada dois dias para seus amigos sem teto. Tamcarne com gosto de cada animal. Os deuses, não bém procurei uma clínica veterinária que atende
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de graça. Fica na esquina da Praça da Paz com a Rua da Solidariedade. – Illari, obrigado. Sabe, quando te vi pela primeira vez achei você metida e snobe. Mas você conversou comigo, interessou-se pelos meus amigos que não têm a sorte de ter família, nem casa. E me contou a história do general inca cujo nome eu levo. Fui abandonado quando era pequeno. Meu pai morreu e a família dele nunca gostou de animais... – Não entendo como existem pessoas que não gostam de animais! Esquecem-se que, por mais Homo Sapiens que sejam, não passam de animais. Sobra-lhes a “humanidade”, mas falta-lhes o coração! Vivem rezando, fazendo discursos em favor dos menos favorecidos, mas na hora de ajudar de verdade... – Não fazem nada!!! Bem, agora tenho que ir... Tenho muitos amigos famintos esperando por este pacote. Volto em dois dias. – Volte com algum amigo, pois vou dar alguns cobertores. Está fazendo muito frio.
– Puxa, você é demais! Até. Ollantay foi embora, levando o pacote de biscoitos, e Illari levou um susto ao ouvir uma voz rouca bradar: – Aquele vira-lata roubou seus biscoitos!!! Vou pegá-lo! – Winston!!! Você e sua mania de espiar os outros! Aquele é Ollantay, meu amigo. Não tem a sorte de ter uma casa, vive em um galpão com outros amigos e recolhe comida para alimentar os mais velhos. Não roubou nada!!! Aliás, você bem que poderia contribuir com pedaços de frango... seu pai não tem um aviário? E não leva para casa frangos e joga fora as partes de que não gosta? Então, junte e traga, que eu dou para Ollantay. Há uma senhora que faz sopa para eles, Ollantay pode levar os pedaços de frango e esta senhora pode aproveitar e fazer mais sopa. – E porque eu faria isso? – Escute aqui, seu buldogue de meia tigela: porque ninguém está livre de um dia precisar de ajuda!!! E se amanhã o seu pai morre e a família 134
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dele joga você na rua, hein? Vai ter fome e frio! – Verdade, nunca tinha pensado nisso. No congelador tem muitos frangos... Subo em um banco, abro a porta, tiro um e trago. E você dá para Ollantay. Mas me conte a história do tal general inca... esse Ollantay. Duvido que tenha sido mais valente que Montgomery! Sem Monty, talvez a história da II Guerra Mundial tivesse sido outra... – Winston, você e sua mania de arrasar tudo que é inglês! Está certo, nossas raças são originárias da Inglaterra, mas não podemos ficar obcecados com isso! O mundo é muito maior que um yorkshire pudding! – Não vou brigar com você, Illari. Te conheço e, se eu reagir, você não me contará a história deste Ollantay. – Winston, eu deveria mandar você ir catar coquinho! Mas como adoro contar histórias, não vou perder a oportunidade. “O maior imperador inca foi Pachacutec. Expandiu o império como nenhum outro tinha feito. Muitos o consideram o Carlos Magno da América pré-hispânica. Era ótimo administrador, grande estrategista... Enfim, um estadista! Seu melhor general era Ollantay, que comandou os exércitos imperiais nas mais importantes batalhas. Pachacutec nunca se importou com o fato de ele ser plebeu. Deu-lhe honrarias, cargos e o privilégio de ter acesso à corte. Uma das filhas de Pachacutec, Kusi Quyllur, ou alegre estrela, apaixonou-se por Ollantay. Conquistou-o e os dois encontravam-se com a ajuda da rainha-mãe Anahuarqui. Amavamse muito... Tanto que Ollantay, esquecendo a tradição pela qual princesas incas tinham de casar com membros da realeza ou da nobreza, pediu permissão para casar com Kusi Quyllur. Pachacutec lembrou a tradição quanto ao casamento de princesas incas acusando Ollantay de estar querendo subir muito alto. Logo, expulsou-o da corte. A pobre Kusi Quyllur foi mandada para a Acllahuasi, casa onde as mulheres realizavam trabalhos têxteis ou faziam a chicha para o inca beber. Ollantay pensou que a sua amada havia sido assassinada e organizou uma revolta armada contra
Pachacutec. – Mas esse Ollantay é um safado!!! Desafia a tradição e arma uma rebelião... Deveria ter sido considerado traidor e enforcado! Bem que eu desconfiei que não chegava aos pés do Monty!!! – Como ousa falar assim do grande Ollantay?!? Você não sabe o que é capaz de fazer alguém quando está apaixonado. Não conto mais nada!!! – Bem... Já que você insiste... E Illari continuou a narrativa da história de Ollantay, o bravo general inca que lutou, durante dez anos, contra o grande Pachacutec. Kusi Quyllur continuou em cativeiro, onde teve uma filha,
Uma das filhas de Pachacutec, Kusi Quyllur, ou alegre estrela, apaixonou-se por Ollantay. Conquistou-o e os dois encontravam-se com a ajuda da rainha-mãe Anahuarqui. Amavam-se muito... Tanto que Ollantay, esquecendo
a tradição pela qual princesas incas tinham de casar com membros da realeza ou da nobreza, pediu permissão para casar com Kusi Quyllur. Pachacutec lembrou a tradição quanto ao casamento de princesas incas acusando Ollantay de estar querendo subir muito alto. Logo,
expulsou-o da corte.
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grande amor. Ollantay e a princesa inca casaram-se e só foram separados pela morte. Emocionada, Illari perguntou ao seu amigo: – Não é uma história linda? Isso sim, é amor verdadeiro. Ah... – Hummmm... Muito melosa! – Winston!!! Perco o meu tempo contando e você diz isso?!!! Até outra hora, seu cabeça dura! Illari passou o resto do dia entre estudos de quéchua e tentativas de aprender alguns passos de huayno, dança tradicional das festas incas. Dormiu tarde, acordou com o nascer do sol. Inquieta, acalmou-se com a chegada do cabeleireiro... – Olá, Otávio! Hoje quero estar radiante!!! Capriche, viu? Após duas horas sendo banhada, escovada, tendo as unhas cortadas e vestindo o lindo modelo que ganhara, estava pronta para celebrar o seu primeiro Coya Raymi. Saindo de casa com a sua mãe para subir no carro, Illari não pôde deixar de dar um grito de alegria: – Ah!!! Ollantay, você está lindo!!! – A senhora que faz a sopa para os meus amigos resolveu ir na festa e arrumou este traje de general inca... – Está perfeito! A mãe de Illari sorriu. Cumprimentou a senhora que trouxera Ollantay e comentou: – Acho que já sabemos o fim desta história... O importante é que eles sejam felizes! Vamos, temos que chegar na hora.
fruto de seus amores com Ollantay e a quem deu o nome de Ima Suma. A menina cresceu sem saber nada sobre os seus pais, mas descobriu a verdade sobre a sua origem, dez anos após o seu nascimento, e pediu para ser recebida pelo novo imperador, Tupac Yupanqui, pois Pachacutec morrera. Tupac Yupanqui fez um acordo com Ollantay, a quem devolveu o seu antigo posto no comando do exército imperial. Ao ser recebida por Tupac Yupanqui, Ima Suma disse que a sua mãe era uma nobre, tinha sido presa injustamente e que, como era costume, o novo imperador deveria dar mostras de ser uma pessoa justa. Tupac Yupanqui pediu que a mãe de Ima Suma fosse trazida à sua presença e, mesmo com as marcas do sofrimento de dez anos passados como prisioneira, reconheceu a sua irmã, que julgava morta. O novo imperador permitiu o casamento da irmã com o seu
Texto incluído no livro A Primavera dos Sorrisos, páginas 67-73
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NOVAS EDIÇÕES
DEVASSOS NO PARAÍSO A primeira Antologia Sui Generis dedicada à sensualidade e ao erotismo
Devassos no Paraíso é uma obra colectiva, organizada e coordenada por Isidro Sousa para a Colecção Sui Generis e editada pela Euedito, que reúne Contos Sensuais e Eróticos de trinta autores lusófonos: de Portugal, Brasil e Cabo Verde. Este novo livro inclui, ao longo de 274 páginas, textos repletos de sensualidade erótica dos autores: Amélia M. Henriques, Ana Maria Dias, António Manuel Gonçalves, Apolo, Carlos Arinto, Carlos Asa, Carmine Calicchio, Cássio Rocha, Catalão Marçal, Diamantino Bártolo, Estêvão de Sousa, Everton Medeiros, Florizandra Porto, Gil Ferreira, Guadalupe Navarro, Isidro Sousa, Jander Gomez,
João Tiago da Silva, Jonnata Henrique, Jorge Pincoruja, José Porto, Lírio de Xangai, Lúcia José, Petchella, Ricardo Solano, Rosa Marques, Sakura Shounen, Sara Timóteo, Selva Alves, Suzete Fraga. Nas duas páginas seguintes, apresentamos alguns excertos de Devassos no Paraíso e na próxima edição ser-lhe-á dado um maior destaque. Esta obra está disponível na livraria da Euedito, em www.euedito.com/suigeneris, onde pode ser adquirida... tanto o livro impresso como o ebook. A versão impressa da obra ficará também disponível, a qualquer momento, em várias plataformas de distribuição digital; entre elas, na Amazon. 143
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REEDIÇÕES
MAR EM MIM Livro de Rosa Marques reeditado pela Sui Generis em Fevereiro de 2018
O primeiro livro de poesia da autora Rosa Marques, Mar em Mim, publicado em 2016 com o selo Sui Generis, foi reeditado em Fevereiro deste ano. Não se trata de uma simples reimpressão da obra: os conteúdos da 1ª Edição mantêm-se, porém, a 2ª Edição foi totalmente revista, tendo sido alvo de actualizações e verificaram-se / rectificaram-se (algumas) pequenas incorrecções que haviam ocorrido, por lapso, na 1ª Edição.
Mar em Mim, que tem 128 páginas e é composto por 73 textos poéticos, resulta de «um conjunto de emoções sentidas perante a beleza de duas ilhas, Madeira e Porto Santo, e o fascínio que o Mar e a Natureza exercem na autora. Emoções apreendidas desde a mais tenra idade...» Este livro pode ser adquirido na livraria Euedito ou contactando a autora por mensagem privada através do Facebook (página Maria Correia).
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CONTO
SAUDADES DE INVERNO ROSA MARQUES Nasceu na Madeira, onde viveu até aos dezoito anos. Após casar, mudou-se para Porto Santo, onde reside e trabalha como administrativa até à data. Preocupa-a a situação precária em que o mundo se encontra, a condição humana (principalmente as crianças) e todos os que vivem em condições desumanas, nos países subdesenvolvidos e nos países em guerra. Gosta de ler e de tudo o que está ligado à literatura e à arte. Participou em diversas obras colectivas, em Portugal e no Brasil, e publicou dois livros de poesia com o selo Sui Generis: «Mar em Mim» (reeditado em 2018) e «Prisioneiros do Progresso». Página da Autora: Facebook: Maria Correia
“Carolina pega no casaco para se proteger do frio e sai. Vai até ao fundo do quintal, na extremidade mais afastada da casa, onde florescem as saudades-de-inverno. Nesta época do ano há muitas e de variadas cores. As castanho-alaranjado, as rosa-vivo, as brancas e as amarelas, que são as suas predilectas. Precisa ajudar a mãe no arranjo da casa, para que no almoço do dia seguinte, com os tios, tudo esteja em ordem. Os tios são emigrantes nos Estados Unidos e estão de visita à região, a mãe convidara-os para o almoço de domingo.” POR ROSA MARQUES
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suas predilectas. Precisa ajudar a mãe no arranjo da casa, para que no almoço do dia seguinte, com os tios, tudo esteja em ordem. Os tios são emigrantes nos Estados Unidos e estão de visita à região, a mãe convidara-os para o almoço de domingo. Veio ali colher alguns ramos de flores, para fazer um arranjo na sala de jantar, e as amarelas e brancas ficariam bem com a toalha branca. A bonita toalha bordada pela mãe, de que Carolina tanto gosta, mas que é destinada apenas a ocasiões especiais. Já próximo do canteiro, pára e fica a contemplar as flores, em silêncio; aspira-lhes o aroma, embevecida por aquele espectáculo magnífico que os seus olhos nunca se cansam de ver. Olha a paisagem à volta, sente a quietude que envolve todas as coisas... de repente o vislumbre de uma sombra ainda ao longe perpassa pelo seu olhar. Presta mais atenção e distingue um vulto... alguém que acaba de entrar na vereda e vem em direcção à casa, porém, está ainda distante para que ela possa reconhecê-lo. Carolina interroga-se sobre quem poderá ser àquela hora da manhã, e aguarda atentamente... Semiencoberto pelas árvores, que ladeiam uma grande parte da vereda, o vulto desaparece várias vezes da sua vista, para reaparecer escassos segundos depois, e logo Carolina reconhece Luís Miguel, o seu namorado. Que terá acontecido para o Luís Miguel aparecer tão cedo? Não tínhamos nada combinado... E dirige-se imediatamente para o portão, ao seu encontro.
manhã de inverno, choveu durante a noite e lá fora está um frio cortante que penetra até aos ossos. Um Sol ténue ilumina mas não aquece, faz cintilar as pequeninas gotas de água da chuva, que permanecem ainda suspensas dos arbustos e das flores do jardim. Carolina pega no casaco para se proteger do frio e sai. Vai até ao fundo do quintal, na extremidade mais afastada da casa, onde florescem as saudades-de-inverno. Nesta época do ano há muitas e de variadas cores. As castanho-alaranjado, as rosa-vivo, as brancas e as amarelas, que são as
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Mal ele a vê, diz-lhe: – Preciso falar contigo! – Assim, à queima-rou-
Carolina deixa-o a falar sozinho... vira-lhe as costas, para que ele
pa. Surpreendida, Carolina olha-o mas não profere palavra, no entanto estuda-lhe o rosto e nota-lhe a perturbação... Tem um pressentimento, de que não é coisa boa o que Luís Miguel tem para lhe dizer. Perante o silêncio dela, ele continua: – Andava para te contar, mas não sabia como... Desvia o olhar do dela e cala-se... olha para o chão, e depois... numa voz sumida e pouco segura, vai dizendo que é melhor afastarem-se... que é apenas por algum tempo... até ele resolver um problema. Petrificada, Carolina sente que o chão lhe falta debaixo dos pés, não consegue pensar em nada para dizer e limita-se a escutar o que ele diz. Que não sabe como aconteceu... envolveu-se com uma rapariga, uma colega que trabalha na mesma empresa que ele... nada se passara entre eles... fora apenas um devaneio, mas as pessoas falavam... Carolina deixa-o a falar sozinho... vira-lhe as
não lhe veja as lágrimas, e como
um autómato caminha em direcção à casa, atónita com o que acabara de ouvir. Era a última coisa que esperava de Luís Miguel. Namoravam há quase dois anos e já falavam em casamento, as famílias dos dois conviviam... visitavam-se em dias festivos e o casamento entre eles era
tido como certo por todos.
costas, para que ele não lhe veja as lágrimas, e como um autómato caminha em direcção à casa, atónita com o que acabara de ouvir. Era a última
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coisa que esperava de Luís Miguel. Namoravam há quase dois anos e já falavam em casamento, as famílias dos dois conviviam... visitavam-se em dias festivos e o casamento entre eles era tido como certo por todos. Apesar de gostar muito dele, tudo o que Carolina sente naquele momento é um misto de raiva e revolta que se apodera dela, restituindo-lhe todo o discernimento. Lembra-se então de que está a usar o anel que ele lhe ofereceu no início do noivado e com um gesto impulsivo arranca-o do dedo... olha e vê que Luís Miguel continua parado junto ao portão. Volta para trás e, quando já está perto dele, atira-lhe bruscamente o anel e diz-lhe que vá embora dali, que desapareça, porque não o quer ver mais. Enquanto ele tenta encontrar o anel jogado ao chão, Carolina afasta-se rapidamente, não lhe dando oportunidade para dizer mais nada. Já quase à porta de casa, repara na tesoura que traz na mão e dá-se conta de que ainda não apanhou as flores. Retardando o passo, regressa ao jardim... Precisa recompor-se, não pode entrar em casa assim, a mãe notará que ela não está bem e não descansará enquanto não souber o que se passa. E Carolina por enquanto não pretende contar nada... não quer que a mãe se preocupe, ou que alguma coisa perturbe a visita dos tios, que são também padrinhos de Martim, o seu irmão mais novo de apenas oito anos, e recorda que prometeu ao irmão fazer um bolo de chocolate para a sobremesa... precisa organizar-se para ter tempo para tudo. A visita dos tios era sempre esperada com muito entusiasmo e agradável. Com eles vinham também os primos, a casa ficava cheia... e alegre com as brincadeiras, com o riso das crianças. Não pode perder mais tempo a pensar no que aconteceu com Luís Miguel e faz tudo para o afastar do pensamento. Mas é impossível... está profundamente magoada e não consegue deixar de pensar no sucedido. Carolina tem a certeza de que Luís Miguel deixará de fazer parte da sua vida para sempre...
Não tem qualquer dúvida. Se ao menos fosse outro o motivo do desentendimento... talvez entre eles ainda tudo se arranjasse e compusesse, como já acontecera outras vezes, mas tratando-se de traição o seu coração dizia-lhe que não. Que jamais poderá voltar a confiar nele. Por muito que lhe custe o desgosto que vai dar aos pais, Carolina está consciente de que não pode esconder a verdade por muito tempo... decide contar-lhes ainda antes de os tios chegarem. Até porque o tio, com a sua boa disposição e confiança que sempre o caracterizou, perguntar-lhe-á pelo namorado e... para quando é o casamento? 154
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LANÇAMENTO
PRISIONEIROS DO PROGRESSO Segundo livro de Rosa Marques editado com o selo Sui Generis
A autora Rosa Marques publicou recentemente o seu segundo livro de poesia, Prisioneiros do Progresso, uma obra que inclui largas dezenas de textos poéticos – 67 poemas, mais algumas frases, ou pensamentos da autora – ao longo de 120 páginas, que reflectem questões sociais bastante pertinentes. Os temas abordados são muito actuais, e deveras preocupantes! A síntese desta belíssima obra editada pela Sui Generis e com o prefácio assinado por Isidro Sousa, que pode ser lida na contracapa do livro (ver página anterior), diz tudo!
A sessão de apresentação de Prisioneiros do Progresso irá realizar-se brevemente na ilha de Porto Santo, onde a autora reside, mais concretamente na Biblioteca Municipal de Porto Santo – e, embora no fecho desta edição o dia exacto não esteja ainda definido, ou decidido, prevê-se que ocorra antes das festas de São João. Não obstante, este livro já está disponível para venda. Pode ser adquirido na livraria online Euedito ou contactando a autora por mensagem privada através do Facebook (página Maria Correia). 161
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APRESENTAÇÃO
CRIMES SEM ROSTO “Era inevitável que viesse a organizar uma antologia dedicada ao policial, especialmente ISIDRO SOUSA Nasceu em 1973, numa aldeia remota das Terras do Demo, concelho de Moimenta da Beira, e reside no Porto. Jornalista e editor de publicações periódicas desde 1996, fundou, dirigiu e editou revistas, jornais e guias turísticos, publicou a primeira antologia em Fevereiro de 2001, colaborou com três editoras, participou em várias dezenas de obras colectivas, foi distinguido num concurso literário e é o responsável pelos projectos da Sui Generis, que criou em Dezembro de 2015. Publicou dois livros: «Amargo Amargar» e «O Pranto do Cisne». Blogue do Autor: http://isidelirios.blogspot.pt Página no Facebook: www.facebook.com/isidro.sousa.2
quando o próprio organizador, apesar de apreciar diversos géneros literários, é amante aficionado da literatura policial. Uma Antologia de Contos Policiais jamais poderia ser olvidada nesta Colecção! Todavia, em Crimes Sem Rosto não se impõe a fórmula que exige a presença de um crime e do respectivo investigador para o desvendar. Haja ou não haja detectives ou personagens com funções similares envolvidos, podemos criar um bom enredo com contornos policiais. Mais do que a comparência (ou inexistência) do investigador que apresenta soluções, privilegia-se, nos textos deste livro, a presença de um ou de vários crimes sem rosto, logo, não desvendados, cujo mistério é ou pode ser conhecido apenas pelo leitor.” POR ISIDRO SOUSA
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A
literatura policial fascina-me desde que li o primeiro livro deste género. Achei-o numa das visitas iniciais, durante a adolescência, à Biblioteca Municipal de Moimenta da Beira, da qual me tornaria frequentador assíduo; esta biblioteca regional, instalada na conceituada Casa das Guedes, era o meu refúgio quando saía da escola. Perscrutando estantes repletas de livros, chamaram-me a atenção as prateleiras reservadas aos policiais. Agatha Christie, Arthur Conan Doyle, Erle Stanley Gardner, Patrícia Highsmith, Jorge Ibargüengoitia e Ruth Rendell são alguns autores cujas obras devorei sofregamente. Sim, devorei literalmente todos os livros que encontrei destes autores e não só, tornando-se o género policial, desde logo, a minha leitura predilecta. Heróis da cena policial como Miss Marple, Hercule Poirot, Sherlock Holmes ou Perry Mason encantavam-me. E se mais não li foi porque não havia; ou talvez não achasse... Foi igualmente nessa época que a minha veia
Nos textos que integram esta antologia literária, escritos por 18 autores portugueses e brasileiros, mais importante do que a solução do crime, ou a revelação do criminoso, é a existência do crime que não é desvendado na sociedade em que se insere,
logo, que não tenha um rosto visível, apesar de, com bastante frequência, os autores desses crimes deixarem transparecer ao leitor, nalgum momento, as suas façanhas.
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literária despertou. Embora já redigisse, nas aulas de Português, pequenas estórias à laia de redacções, quase nada ou pouco elaboradas, seria a rainha do policial Agatha Christie (ou inspirado nela), após ter lido uma reportagem sobre a sua vida e dezenas dos seus livros, quem me faria aventurar em algo maior... na minha primeira obra literária: uma novela. A temática, influenciado pelas leituras de então, não poderia ser outra: policial. Talvez devido ao factor idade, fiz de um jovem estudante – um adolescente de 14 ou 15 anos, tal como o seu criador – o meu Hercule Poirot, construindo uma trama que se ambientava numa escola secundária provinciana, algures na Beira Alta, um estabelecimento de ensino fictício inspirado naquele que frequentei, no qual uma aluna pereceria. Suicídio ou assassínio era a (principal) questão que dominava toda a narrativa, sendo esclarecida somente nas derradeiras páginas. Mantive
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esse personagem adolescente, um estudante perspicaz com ares de detective, noutras novelas juvenis que concebi nessa altura, tendo-o recuperado mais tarde, volvidas cerca de duas décadas, para protagonizar uma obra de maior fôlego, sendo agora um homem maduro, jornalista bemsucedido, que larga a monotonia da advocacia para se dedicar à emoção da investigação e procura desvendar várias mortes misteriosas, ocorridas sem qualquer elo de ligação, ao longo de um bastante complexo serial killer. E atrevi-me, ainda nos meus tempos de estudante, enquanto redigia a referida novela, a apresentar, num concurso literário promovido lá na escola, o primeiro conto que ousei mostrar: uma estória policial dactilografada em duas folhas, o mesmo texto que, transcorridas quase três déca-
das, resgataria da gaveta para o rever, amadurecendo e desenvolvendo algumas partes da narrativa, sem alterar a linha original, com o firme propósito de o incluir na primeira antologia literária dedicada ao género policial que decidi organizar. Quanto à literatura policial, esta é caracterizada, regra geral, pela presença, na sua estrutura narrativa, de (pelo menos) um crime, da sua investigação e da revelação do malfeitor. Neste género literário, o foco remete para o processo de elucidação do mistério, empreitada a cargo de um detective, seja ele profissional ou amador. A essência da narrativa policial é a busca da identidade desconhecida, pela totalidade dos indícios, achando-se sempre (ou quase sempre) o criminoso entre quem menos se espera, ou suspeita, demonstrando que não pode haver crime perfeito, 166
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logo, não há lugar para a impunidade, isto é, para das obras dos autores anteriormente citados; cono crime sem punição, como sucede habitualmente tudo, estes crimes permanecem sem rosto na nas obras de Agatha Christie e de Erle Stanley Garinvestigação policial. dner. Com o lançamento da Colecção Sui Generis, e O texto de minha auapós tantos e variados toria inserido nesta antemas já terem sido tologia desvia-se um abordados nas suas pouco desse padrão. obras colectivas, era Apresenta, numa “priinevitável que viesse a A literatura policial é caracterizada, meira vista” como senorganizar uma antologia regra geral, pela presença, na sua do a trama principal, um dedicada ao policial, esepisódio num restauranestrutura narrativa, de (pelo menos) pecialmente quando o te perpetrado por um próprio organizador, um crime, da sua investigação e casal de marginais dediapesar de apreciar dida revelação do malfeitor. Neste cados ao roubo que acaversos géneros literábará por ser detido, no rios, é amante aficionagénero literário, o foco remete entanto, verifica-se em do da literatura policial. para o processo de elucidação paralelo, na mesma traUma Antologia de Condo mistério, empreitada a cargo de ma, com alguma subtiletos Policiais jamais poza, uma sucessão de dederia ser olvidada nesta um detective, seja ele profissional litos bastante mais graColecção! Todavia, em ou amador. A essência da narrativa ves do que o acto de Crimes Sem Rosto não policial é a busca da identidade roubar, crimes hedionse impõe a fórmula que dos praticados há muiexige a presença de um desconhecida, pela totalidade tos anos cuja autoria só crime e do respectivo indos indícios, achando-se sempre será conhecida num movestigador para o des(ou quase sempre) o criminoso mento de pânico – em vendar. Haja ou não haque a personagem que ja detectives ou persoentre quem menos se espera, os cometeu, escondida nagens com funções siou suspeita, demonstrando que sob a máscara de pessoa milares envolvidos, ponão pode haver crime perfeito, logo, virtuosa e acima de demos criar um bom enqualquer suspeita, é redo com contornos ponão há lugar para a impunidade, confrontada com outra liciais. Mais do que a isto é, para o crime sem punição, situação assaz perigosa comparência (ou inexiscomo sucede habitualmente e, vendo a sua vida de tência) do investigador novo em perigo, remeque apresenta soluções, nas obras de Agatha Christie mora o mal que fizera privilegia-se, nos textos e de Erle Stanley Gardner. no passado. Aqui, esses deste livro, a presença crimes mostram um rosde um ou de vários crito porque a pessoa que mes sem rosto, logo, os executou, deixando-se levar pelas emoções, não desvendados, cujo mistério é ou pode ser confessa-se ao leitor sob a forma de dolorosas reconhecido apenas pelo leitor. cordações, associando-lhes o seu rosto somente São disso exemplo os contos de Grazielle Pacini nestas circunstâncias, algo que difere na maioria Segeti, Manuel Amaro Mendonça e Teresa Mo-
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rais. No primeiro caso, as polícias chilena e brasileira que investigam a morte de uma mulher num tonel de vinho não chegam ao autor desse crime, que se revela somente ao leitor. No segundo caso, um jantar natalício que decorre na tranquilidade familiar só é perturbado pela notícia de outro homicídio ocorrido em escassos meses, sem que a polícia vislumbre qualquer pista que a conduza ao assassino, mas o leitor vê-lo-á a desfazer-se da arma do crime. No terceiro caso, a autoria dos assassinatos que abalam uma pacata aldeia, cometidos por uma reservada mas afável solteirona, apenas interessada no seu tricot e na sua jardinagem, só será revelada na mente da criminosa. Cito ainda o texto confessional de William Schmahl Barros cuja protagonista desprovida de algum tipo de arrependimento ou remorso se desnuda assumindo os seus crimes para justificar o seu sucesso profissional: Todas as mortes foram necessárias para que eu me tornasse quem sou hoje. Podia mencionar mais exemplos, mas não me parece conveniente expor a totalidade dos contos neste prefácio. E se a obra no seu todo contém outras estórias cujos crimes narrados se desvendam no
decorrer das tramas, afastando-se do tema proposto, não deixa de ser verdade que, pelo menos por algum tempo, os mesmos ter-se-ão mantido sem rosto. Na cena real, inúmeros crimes permanecem demasiado tempo sob investigação até que a verdade seja conhecida, mas também há aqueles cujos malfeitores nunca são descobertos. Ainda que, por vezes, se verifique (em assassínios, por exemplo) algum crime perfeito, sem qualquer rosto associado, a maioria dos casos acaba sempre por ganhar, mais cedo ou mais tarde, um rosto. Nos textos que integram esta antologia literária, escritos por 18 autores portugueses e brasileiros, mais importante do que a solução do crime, ou a revelação do criminoso, é a existência do crime que não é desvendado na sociedade em que se insere, logo, que não tenha um rosto visível, apesar de, com bastante frequência, os autores desses crimes deixarem transparecer ao leitor, nalgum momento, as suas façanhas. Boas leituras! Prefácio de Isidro Sousa incluído no livro Crimes Sem Rosto – Antologia de Contos Policiais
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CONTO
NATAL EM FAMÍLIA MANUEL AMARO MENDONÇA Nasceu em São Mamede de Infesta, reside no concelho de Matosinhos e é licenciado em Engenharia de Sistemas Multimédia pelo ISLA de Gaia. Tem três livros publicados pela CreateSpace e distribuídos pela Amazon: «Terras de Xisto e Outras Histórias» (2015), «Lágrimas no Rio» (2016) e «Daqueles Além Marão» (2017). E tem participações com contos de sua autoria em mais de uma dezena de obras colectivas de várias editoras como a Papel D’Arroz, Sui Generis, Silkskin Editora e Lua de Marfim. Foi distinguido com o 3º Prémio no 6º Concurso Literário da Papel D’Arroz Editora e com o 1º Prémio no 7º Concurso Literário da mesma editora. Mantém um blogue, onde se apresenta publicamente e publica alguns dos seus trabalhos.
“O jornalista fazia uma relação das vítimas que foram assassinadas nas próprias casas, e dos produtos roubados. Eram, na sua maioria, mulheres com posses, que viviam sozinhas ou não tinham companheiro certo. Os roubos eram normalmente dinheiro e jóias, além de algumas obras de arte esporádicas. O assassino sempre fora cuidadoso em deixar de lado peças famosas, ou demasiado valiosas, que pudessem ser identificadas. Mas desta vez cometera um erro: uma das peças era muito valiosa e tinha,
Blogue do Autor: http://manuelamaro.wixsite.com/autor Página do Autor: www.facebook.com/manuel.amarome ndonca
inclusivamente, seguro próprio. No ecrã foi exibida a fotografia de um magnífico pingente de ouro e pedras preciosas e o jornalista pediu que quem visse aquela peça participasse imediatamente às autoridades.” POR MANUEL AMARO MENDONÇA
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fonso deu um último arranjo à toalha de mesa que estava um pouco encorrilhada. As crianças, Maria e Pedro, de doze e nove anos respetivamente, riam e empurravam-se em tentativas simuladas para derrubar o outro da cadeira. Ele deitou um olhar em volta; a luz que inundava a sala espaçosa, a árvore decorada com cores vivas e brilhantes, os presentes por baixo. Tudo estava a regressar ao normal. Sim, tudo iria ficar bem. – Podes sentar-te, “morzito”. – A sua esposa, Francisca, nunca perdera o hábito de o tratar por aquele apelido carinhoso. E ali estava ela, com a travessa das batatas cozidas com bacalhau, tão típicas da época. Era uma tradição que ele detestava, mas suportava. Sentou-se, compôs os pratos, moveu-os uns centímetros para um lado ou para o outro, nervosamente. Compôs os talheres em cima dos guardanapos enquanto admoestava as crianças: – Vá, meninos, comportem-se agora. Vamos comer senão ainda acabam por magoar-se. – Sim, papá!!! – Gritou Maria com a voz propositadamente esganiçada, como ela gostava de fazer. – Maria! – Avisou Francisca. – Então, que é is-
so? Comporte-se, menina! – Sim, papá!!! – Gritou Pedro, imitando a irmã. – Então?!? – A voz forte do homem fez-se sentir, num ralho carinhoso. – Vamos sentar quietos e fazer o jantar de Natal como deve de ser ou não? – Pai. – O tom de voz de Maria mudou radicalmente para o de criança mimada. – Posso ver o que o Pai Natal me trouxe, antes de jantar? – Eu também quero!!! – Exclamou Pedro. – Não. Ninguém vai ver prendas antes de acabar de jantar. – Determinou Afonso. – Primeiro vamos todos comer como deve de ser. Vamos portar-nos muito bem e só depois veremos as prendas. – Brincou Francisca, compondo o guardanapo à volta do pescoço de Pedro. – O Pai Natal disse que só se pode abrir depois de jantar, senão para o ano não traz nada e põe o nosso nome na lista dos mal comportados. – Eu não sou mal comportado, pois não mãe? – Quis saber Pedro. – Não, meu querido filho, claro que não, és um menino muito bem comportado. Tu e a tua irmã são as maiores prendas que Deus nos poderia ter trazido. – Mãe! – Exclamou Maria. – Se tu já tens “estas 174
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prendas”, eu posso ficar com o que o Pai Natal trouxe para ti? Os pais soltaram uma gargalhada quase em coro. – Não podes querer tudo para ti. – Afonso passou, carinhosamente, a mão pela cabeça da filha. – Este ano temos prendas para todos. A refeição correu de forma pacífica e era visível, no rosto agradavelmente corado de Francisca, que ela estava muito feliz. Conseguiram conversar de forma mais ou menos amena, envolvendo as crianças o mais possível, falando da escola e dos professores, das peripécias do recreio e dos colegas. Cada vez que cruzavam olhares, milhares de palavras eram passadas de um para o outro sem qualquer som. Havia muita conversa para pôr em dia. Assim que acabaram de jantar, foi um furacão
que varreu a área onde estavam os presentes. Num instante, todo o chão da sala estava cheio de pequenos bocados de papéis. Maria sentou-se no chão, ao pé do sofá, a brincar com o kit de maquilhagem e a enorme boneca que a deixou felicíssima. Pedro estava deitado no chão da sala a brincar com a garagem com vários pisos cheios de automóveis que ele havia pedido ao Pai Natal mais do que uma vez. Afonso e Francisca, recostados e enlaçados, no sofá, apreciavam as brincadeiras da sua prole. – Já não sabia o que era um Natal em família... mas este ano foi todo diferente. – Ele comentou pensativamente enquanto ligava a televisão com o controlo remoto. – Já há mais de quatro anos que não estavas disponível nesta altura. – Francisca confirmou. – O teu trabalho, como enviado do jornal no Alto Co175
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missariado para os Refugiados, estava a afastar-te muito de nós. Como que a propósito, na televisão, estavam a passar imagens da chegada de mais umas centenas de imigrantes africanos às praias italianas. As cenas de dor, crianças e adultos desesperados, o resgatar dos corpos do mar, a chuva intensa que caía, eram imagens dolorosas. – Estes pobres diabos vêm da fome e da guerra para a fome e indiferença. – Afonso tinha lágrimas nos olhos. – Antes a indiferença que a guerra! – Afirmou Francisca. – E não somos assim tão indiferentes. Estamos a fazer mais por eles, que são de outros países, do que às vezes pelos nossos. Também há fome por cá. Graças a Deus não há guerras. – Concordo de certa forma mas... é uma dor de alma. – Já agora, nunca explicaste completamente o que se passou, para deixares a tua função no Alto Comissariado. – Oh, isso foi... um pequeno desentendimento com um elemento do staff do Guterres. Mas já
Na televisão passava agora a notícia de mais um homicídio na cidade. Já se contavam sete homicídios no espaço de poucos meses ligados a um assassino em série a que chamavam “A Sombra”. A polícia, desesperada, não
conseguia pistas para o apanhar.
passou; “convidaram” o jornal a tirar-me daquelas funções, mas eu não me importei muito, já estava farto. O cretino que causou essa confusão toda também não teve muita sorte. Ouvi dizer que foi assassinado num assalto, lá na Itália, à saída de um bar. Nem conseguiu ter a felicidade de me ver sair do País. Cá se fazem e cá se pagam... – Que horror! Não devias ficar contente com a morte de alguém, ainda que nos tenha feito mal. – Francisca soergueu-se para o olhar nos olhos.
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– Não estou contente nem triste. O tipo era-me completamente indiferente, só achei engraçada a coincidência... Deus não dorme! – Piscou-lhe um olho e beijou-lhe rapidamente os lábios. – Pelo menos assim estás mais próximo de nós, não tens todas aquelas viagens para fazer, apenas umas noitadas por entre outras. – Sim, estou feliz por regressar... retomar o meu lugar na redação do jornal, voltar a escrever artigos mais genéricos. Na televisão passava agora a notícia de mais um homicídio na cidade. Já se contavam sete homicídios no espaço de poucos meses, ligados a um assassino em série a que chamavam “A Sombra”. A polícia, desesperada, não conseguia pistas para o apanhar. – Terrível, este assassino. – Comentou Francisca. – Dizem que agride as vítimas com algo pesado e, depois de estarem sem sentidos, faz-lhes um corte na jugular e deixa-as a morrer. – Então, até não é muito mau. – Afonso deu um sorriso trocista. – A maior parte deles nem deve perceber o que lhes aconteceu. – Parvo! – Ela exclamou. – Isso é coisa que se diga? – A sério! – Ele continuou. – Podia torturá-las, tirar-lhes bocados, como fazem os grandes assassinos que vemos nos filmes, sei lá. Mas põe-nas a dormir e depois manda-as à vida... ou à morte, mais propriamente.
A notícia continuava e o jornalista fazia uma relação das vítimas que foram assassinadas nas próprias casas, e dos produtos roubados. Eram, na sua maioria, mulheres com posses, que viviam so-
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ro: uma das peças era muito valiosa e tinha, inclusivamente, seguro próprio. No ecrã foi exibida a fotografia de um magnífico pingente de ouro e pedras preciosas e o jornalista pediu que quem visse aquela peça participasse imediatamente às autoridades. A família da vítima oferecia uma choruda recompensa, assim como a companhia de seguros. – Tá tramado! – Disse Afonso pensativamente. – Parece impossível que ande por aí alguém a matar pessoas e a polícia não consiga fazer nada. – Francisca estava apreensiva. – Não é fácil. Estes criminosos estão cada vez mais evoluídos. Têm acesso a informações e tecnologias como nunca tiveram antes. Acho que vou abordar esse tema na minha próxima crónica de opinião no jornal. Será “Polícia versus criminosos, estaremos a perder a corrida?”. – Oh!... A tua crónica? Já ta deram outra vez? – Não te disse que tenho estado a reocupar o meu lugar na redação? Eles têm que reconhecer o meu valor. – Mas não tinham dado a crónica ao... àquele tipo horrível, com o capachinho ruivo e os óculos grossos... o Norberto, não era? – Sim, era esse, mas eu avisei logo o meu chefe que o Norberto não era de confiança. Tinha aparecido há coisa de um ano e tal, sem ninguém saber de onde, armou umas confusões na redação, “calcou cabeças” e “subiu às costas” de quem pôde para conseguir o que queria. Agora, penso que já deve ter atingido os objetivos dele, desapareceu há umas semanas... não atende o telemóvel, a casa alugada está vazia e com a renda paga até ao fim do mês.
zinhas ou não tinham companheiro certo. Os roubos eram normalmente dinheiro e jóias, além de algumas obras de arte esporádicas. O assassino sempre fora cuidadoso em deixar de lado peças famosas, ou demasiado valiosas, que pudessem ser identificadas. Mas desta vez cometera um er178
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– Por isso devolveram-te a crónica. – E um bónus, que eu reclamei logo. – Afonso soltou uma gargalhada. – Caiu muito bem agora, nesta altura do Natal. Beijaram-se ternamente e começaram a acariciar-se. – Não achas que são horas de as crianças irem para a cama? – Ele perguntou. – Penso que sim. – O sorriso dela dizia tudo. – Meninos, vamos dormir. – Oooohhh, mãe!!! – As crianças gemeram em uníssono. – Nada de confusões! – Insistiu ela erguendose e batendo as palmas. Afonso deixou-se ficar um pouco, com um sorriso nos lábios, olhando a sua adorada família. Por fim, ergueu-se também e gritou para a área dos quartos: – Vou à cave ver a caldeira e já vou ter contigo ao quarto. Era realmente um homem afortunado, com uma família bela e feliz como aquela... que mais poderia desejar? Acendeu a luz da escadaria da cave e desceu, pensativamente. Na ampla divisão, dirigiu-se a um armário, que abriu com uma chave que trazia no bolso. Pegou
uma mochila preta do interior e caminhou para a porta da caldeira onde ardia um lume forte, visível através do vidro. Abriu a portinhola e, de dentro da mochila, tirou uma cabeleira ruiva e uns óculos com armações de massa, que olhou por uns segundos com um sorriso nos lábios. Atirou os objetos para o fogo com estas palavras de despedida: – Adeus Norberto! Espero que encontres um jornal onde escrever lá no Diabo que te carregue. Mais uns segundos a olhar para o fundo da mochila e tirou um fantástico pingente em ouro e pedras preciosas que fez rodar em frente dos olhos enquanto comentava: – É uma pena... ias render bom dinheiro. Se as outras renderam o que renderam, tu ias garantir umas boas férias com a família... Atirou a peça para o lume enquanto comentava para consigo: – Sete homicídios?! Palermas! Já passei os vinte. Atirou também a mochila para o interior da caldeira, fechou a porta e abandonou a divisão, a caminho da cama onde a sua adorada mulher o aguardava. Texto de Manuel Amaro Mendonça incluído no livro Crimes Sem Rosto, páginas119-124
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NOVAS EDIÇÕES
OS VIGARISTAS Uma Antologia Sui Generis que reúne Crónicas, Poemas e Contos do Vigário Os Vigaristas é uma obra colectiva, organizada e coordenada por Isidro Sousa para a Colecção Sui Generis e editada pela Euedito, que reúne Crónicas, Poemas e Contos do Vigário de 25 autores lusófonos contemporâneos, de Portugal, Brasil e Cabo Verde. Eis os seus nomes: Ana Maria Dias, Angelina Violante, Carlos Arinto, Carlos Fernandes, Diamantino Bártolo, Espedita China, Estêvão de Sousa, Everton Medeiros, Florizandra Porto, Gil Ferreira, Gisa Borges, Guadalupe Navarro, Isidro Sousa, João Almeida, Jonnata Henrique, Luiggi Steffan, Madalena Cordeiro, Marcella Reis, Mari-
zeth Maria Pereira, Rosa Marques, Sandra Boveto, Sara Timóteo, Sertorius, Suzete Fraga e Tito Lívio. Esta obra, dedicada aos vigaristas, inclui ainda contos de dois autores clássicos consagrados, grandes vultos da Literatura Portuguesa – Camilo Castelo Branco e Fernando Pessoa – totalizando, desse modo, 27 autores desta obra colectiva. Nas páginas seguintes, apresentamos alguns excertos de Os Vigaristas e na próxima edição serlhe-á dado um maior destaque. Esta obra estará brevemente disponível na livraria online Euedito e em várias plataformas de distribuição digital. 183
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EM FOCO
STEPHEN KING O conceito não foucaultiano de morte do autor: dois romances por Stephen King SARA TIMÓTEO Publicou vários livros: «Deixai-me Cantar a Floresta» e «Chama Fria ou Lucidez» (Papiro Editora, 2011); «Refúgio Misterioso» (2012), «Os Passos de Sólon» (2014), «Elixir Vitae» (2014) e «Os Quatro Ventos da Alma» (2014) pela Lua de Marfim Editora; «O Telejornal» (Cadernos de Santa Maria, 2015); «O Corolário das Palavras» (Rui M. Publishing, 2016, e-book); «Refracções Zero» (Orquídea Edições, 2016); «Compassos» e «Diário Alimentar» (Costelas Felinas, 2017). Participou em diversas antologias da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Crimes Sem Rosto», «Tempo de Magia», «Devassos no Paraíso» e «Os Vigaristas».
“Stephen King publicou no ano de 2000, na sequência de um acidente de viação que o manteve imobilizado durante vários meses, o manual sobre a arte de bem escrever On Writing. Neste manual, King (2000) sugere que o aspirante a escritor escreva sobre aquilo que conhece, não só em termos de relações, amizades e interesses, mas sobretudo sobre trabalho. On Writing devolve, de certa forma, o autor à categoria de artesão, tal como o subtítulo da obra indica:
Página da Autora: www.facebook.com/wind.sidh
A memoir of the craft.” POR SARA TIMÓTEO
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bretudo sobre trabalho. On Writing devolve, de certa forma, o autor à categoria de artesão, tal como o subtítulo da obra indica: A memoir of the craft. A este propósito, podemos analisar o seguinte parágrafo de Lisey’s story: «Por um momento Lisey fica aturdida com o que ouve (ou talvez seja a recordação da mão estropiada, que procura afastar), demasiado aturdida para responder. Scott fala do seu ofício, é sempre assim que se lhe refere nas conferências, nunca é arte, é ofício, como uma alucinação. E isso é loucura.» Também em Hearts in Atlantis Stephen King refere que «No final de contas, alguém tinha de escrever histórias, do mesmo modo que alguém tinha de remendar os canos quando se rompiam ou mudar as lâmpadas de Commonwealth Park quando se fundiam.». Nesta perspectiva, King
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o dia 23 de Agosto de 2014, foi noticiada a morte de Stephen King no Facebook. Com muita rapidez, a notícia foi divulgada por todo o mundo da world wide web, mas no próprio dia foi publicado um desmentido pelos representantes legais do autor. Tal como a morte do autor que ocorre nos romances The Shining e Misery, este incidente pouco tinha de foucaultiano – tratava-se da notícia da morte física de Stephen King. Stephen King publicou no ano de 2000, na sequência de um acidente de viação que o manteve imobilizado durante vários meses, o manual sobre a arte de bem escrever On Writing. Neste manual, King (2000) sugere que o aspirante a escritor escreva sobre aquilo que conhece, não só em termos de relações, amizades e interesses, mas so188
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distancia-se de Wilde que, em The Decay of Lying afirma, pela voz de Vivian, que as únicas coisas belas são aquelas que não nos dizem respeito e que tudo aquilo de que necessitamos ou que granjeia a nossa simpatia é exterior à esfera da arte. Também se distancia de Rilke (1904) na medida em que não apresenta escrúpulos em abordar temas tradicionalmente abordados, tais como a natureza e conflitos resultantes das relações amorosas. King, tal como Rilke (1904) e Wilde (2010) adopta uma perspectiva deflacionada do autor naquilo que escreve. As personagens-autor, ao longo de The Shining e Misery, são vítimas de compulsões externas (possessão por parte de fantasmas, no caso de Jack Torrance, e rapto pela fã número 1 de Misery Chastain, no caso de Paul Sheldon). A literatura, o estatuto dos senhores autores de nada valem perante a morte: é esta que se lhes impõe. Estes encontros de terceiro grau (de acordo com a escala originalmente concebida por Josef Allen Hynek em 1972) com mortos e com loucos assumem uma dinâmica particular em ambos os romances: mesmo os mortos estão loucos – e são os loucos que trazem a morte ao autor. Como se define, neste contexto, a morte do autor? Na primeira dimensão que apresentámos do conceito de morte do autor, a morte do autor é física. Para Stephen King, sem dúvida, trata-se de uma morte do corpo, muitas vezes precedida de variados avisos. A morte do autor não corresponde a um evento inesperado. Dan Torrance tem visões com a palavra «ASSASSINO» que se reúne caracter a caracter de uma maneira que reproduz o reflexo do espelho; acorda assolado por imagens da banheira onde só a mão da mãe, sem movimento, pende e é visível. Por sua vez, os mortos que tomam conta do corpo de Jack Torrance estão enlouquecidos; por isso Jack torna-se na COISA MÁ. Paul Sheldon, durante os períodos de inconsciência após o acidente de automóvel,
A literatura, o estatuto dos senhores autores de nada valem perante a morte: é esta que se lhes impõe. Estes encontros de terceiro grau (de acordo com a escala originalmente concebida por Josef Allen Hynek em 1972) com mortos e com loucos assumem uma dinâmica particular em ambos os romances: mesmo os mortos estão loucos – e são os loucos que trazem a morte ao autor.
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em grande parte, na descrição pormenorizada por parte de uma empregada de andar dos sinais físicos de decadência de um autor ao longo dos anos em que o hotel contara com ele na categoria de cliente. Na obra Lisey’s story, o marido da protagonista, que é também escritor, sofre um primeiro atentado à vida e morre como resultado de um segundo atentado. Lisey sabe que Scott vai morrer assim que é atingido pela arma de fogo. A morte do autor é fruto da obra de um louco que balbucia coisas incompreensíveis. Em The Tommyknockers, Bobbi (Roberta Anderson) tem vários sonhos e visões antes de ser inteiramente consumida pela mutação alienígena que a despoja do seu cão de estimação e também da sua humanidade. Neste caso, a morte de Bobbi é originada pela loucura alienígena que trouxe a morte aos anteriores habitantes da nave e trará a morte à autora que a encontrou e que primeiro entrou em contacto com o artefacto não-humano. Esta é a autora, entre todos, que mais se aproxima do ideal do senhor escritor em torre de marfim: a torre de marfim de Bobbi é uma casa no meio de nenhures onde ninguém a visita (excepto o editor) e de onde raramente sai.
sonha acerca da situação em que se encontra. Após um destes sonhos, ele afirma que Annie Wilkes é a fã número um dos livros que escreve. Annie limita-se a confirmar aquilo que Sheldon já sabe. Wilkes tem surtos psicóticos e, no decurso desses surtos, converte-se em raptora, carcereira e executora de Sheldon. A morte do autor surge com bastante frequência noutras obras de Stephen King. Em Nightmares & Dreamscapes, o conto «Dedicatória» centra-se,
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Em The Dark Half, Thad Beaumont é confrontado por George Stark, o pseudónimo que enterrou numa cerimónia formal e que ganhou vida. Após a fuga da campa onde se encontrava encerrado (um pouco como o génio Aladino), Stark elimina todos aqueles que possam contribuir para a sua morte definitiva enquanto autor e o último passo será enfrentar o seu criador, Thad Beaumont. A morte definitiva de George Stark foi também precedida por uma primeira morte reconhecida pelo enterro do pseudónimo. Numa segunda dimensão de análise, a morte do autor pode assumir uma vertente simbólica. Neste sentido, aproximamo-nos do conceito da morte do autor preconizado por Barthes e Foucault, que se insurgem contra uma certa determi-
nação do poder do autor sobre a sua criação. No entanto, Barthes e Foucault divergem quanto ao alcance da expressão «morte do autor»: se para Barthes a morte do autor marca o fim de uma espécie de instituição literária herdada do romantismo e que procura delinear a figura do autor como «dono» final daquilo que produz (e nada mais contrário a esta ideia do que ser raptado pela fã número um de Misery e ser obrigado a escrever um manuscrito de ressurreição de uma personagem morta), Foucault apresenta uma abordagem menos centrada na pessoa do autor, na medida em que considera que o autor é sinónimo de um procedimento de controlo do discurso, isto é, uma função-autor – e é a possibilidade de enunciar esse discurso em termos históricos 192
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que Foucault questiona. As ideias de Barthes e Foucault convergem com as ideias defendidas por Stephen King, na medida em que nada existe de reverencial perante aquele que escreve. Ainda assim, Stephen King diverge num ponto fundamental relativamente à abordagem de Foucault: como refere Bloom (2014) em Génio, a perspectiva foucaultiana reduz o autor a energia social, o leitor a um compilador de fonemas e as grandes personagens da literatura como Falstaff, Hamlet e Cleópatra a papéis para actores e actrizes. Para King, o autor não é uma energia social. Muito pelo contrário: ambas as personagensautor de The Shining e Misery surgem dotadas de uma espécie de vinil riscado que parece condenálas ao ridículo, mas que na verdade as resgata de serem consideradas como parte de um qualquer fluxo de energia social, dado que as individualiza na sua fragilidade. São os papagaios ou os psitacismos do autor. Vejamos: Jack Torrance, por exemplo, repete sem cessar: «...matá-lo. Tens de matá-lo a ele, Jack, e a ela também. Porque um verdadeiro artista tem de sofrer. Porque todos os homens matam aquilo que amam. Porque eles estão sempre a conspirar contra ti, tentando deter-te e arrastar-te para o abismo.» (King, 2005, p. 233). Por sua vez, Paul Sheldon tem períodos de monólogo em que emergem palavras como as que
Para King, o autor não é uma energia social. Muito
pelo contrário: ambas as personagens-autor de The Shining e Misery surgem dotadas de uma espécie de vinil riscado que parece condená-las ao ridículo, mas que na verdade as resgata de serem consideradas como parte de um qualquer fluxo de energia social, dado que as individualiza na sua fragilidade. São os papagaios ou os psitacismos do autor.
se seguem: «Annie Wilkes. / (He read at just three! Can you imagine!') / That spirit of... of fanlove... / ('He's always writing things down, making things up.') / Now I must rinse. / (Africa. That bird came from')» (King, 1987, p. 25). O discurso que se assemelha a uma repetição em vinil parece evidenciar a falta de aptidão das personagens-autor para a sobrevivência, dado que se converte num discurso que mantém as mesmas numa zona de conforto de onde não emergirão até ser tarde demais. Tarde demais, na obra de King, significa que, se a personagem-autor deixa de ser necessária à narrativa, dado que não contribui para o enredo a partir do ponto de não-retorno,
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essa personagem morre (como todas as outras personagens que se tornam supérfluas). De modo contrário ao conceito de energia social, Stephen King traz-nos a economia de contingência: se algo não é necessário (e o ego inflacionado do autor é a mais desnecessária ocorrência na ficção de King), esse algo é eliminado. O leitor de Stephen King está no extremo oposto ao do colector de fonemas delineado por Foucault e distante do leitor sem forma e sem psicologia apresentado por Barthes. Vejamos: em oposição à concepção de Barthes, em On Writing, Stephen King afirma ter encontrado a sua Leitora Ideal na esposa, Tabitha. King afirma que, sem o
Leitor Ideal, o aspirante a escritor se torna numa voz a arengar para o vazio e é nesse aspecto que se aproxima de Barthes (que identifica a morte do autor como condição necessária para o nascimento do leitor) e de Foucault (que indica ser essencial o estudo de apropriação e de valorização do discurso emitido pelo autor). Tabitha como ilustração de Leitora Ideal torna concreta a figura do leitor. Para Stephen King, o autor não precisa de morrer para que o leitor nasça, como Barthes defende. Nesse sentido, King incorre naquilo que Foucault denomina como «excesso enigmático da obra relativamente ao autor», ou seja, na permanência de um conceito de escrita que reforça a 194
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ideia de autoria. Há, no entanto, autores que sobrevivem: o autor que sobrevive porque não cessa de contar histórias e o autor que sobrevive devido a um conceito hiperbolizado de autoria – é o autor nimbie que se mantém presente na narrativa custe o que custar, embora negue fazê-lo. Foucault (2001) apresenta o primeiro caso de sobrevivência do autor sobre o qual nos debruçamos nesta apresentação: o das mil e uma noites, o da narrativa que existe para que o autor (Sherazade) possa sobreviver a mais uma noite. É a narrativa que procura imortalizar o autor através da não-cessação do acto de contar histórias. Em Stephen King, encontramos ecos dessa sobrevivência, por exemplo, em Patrícia (Trisha) MacFarland, A Rapariga que adorava Tom Gordon e que, para se sentir segura mesmo enquanto é perseguida pela «coisa» que a ameaça de morte física, ouve o relato dos Red Sox no seu walkman a pilhas quando dá por si perdida na floresta entre o Maine, o New Hampshire e o Canadá. Os relatos
acerca da equipa preferida de Trisha desempenham um papel semelhante ao das mil e uma histórias de Sherazade, mas a dado momento o walkman fica sem pilhas e esse relato é suprimido; Trisha fica então sozinha com as cólicas, a febre e a «coisa» que quer matá-la. Trisha tem apenas nove anos, mas é já confrontada com a morte do autor: se não conseguir contar a história (e contar a história implica conseguir fugir do que a atormenta e encontrar ajuda, nem que seja no Canadá), significa que deixou de ser útil e essa inutilidade desembocará na morte. O mesmo acontece com Rose Madder, que em O Retrato de Rose Madder, em vez de ser confrontada com um quadro ao estilo de Dorian Gray, foge através desse quadro e, enquanto os motivos desse quadro estiverem por explorar, conseguirá fugir ao seu perseguidor. Rose Madder sobrevive ao contar a si própria as histórias que se desenrolam a partir do quadro, histórias que, como as de Sherazade, poderão advir de recordações ou de ocorrências com que se depara ao procurar rememo195
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rar episódios que já há muito esqueceu. Há uma diferença entre contar histórias para sobreviver e ter de sobreviver para poder contar a história; no primeiro caso, o das Mil e uma noites, a sobrevivência do autor depende do agrado do leitor face à narrativa; no segundo caso, o de Trisha e o de Rose Madder, a sobrevivência do autor implica a possibilidade física de contar a história em que sabe que ninguém irá acreditar. O segundo caso de sobrevivência é o do autor nimbie. Como Foucault refere, «é necessário que
o autor faça papel de morto no jogo da escrita». Poderíamos dizer que o autor nimbie é malsucedido neste jogo e que ao fazer-se de morto se revela mais vivo do que nunca. A ilustração a que podemos recorrer na obra de Stephen King é a de Paul Sheldon em Misery. Ao matar a personagem principal de tantos bestsellers, Misery, Sheldon pretende ausentar-se da obra que produz. Contudo, não consegue abstrair-se e é por isso que cria o manuscrito que Annie Wilkes pretende com um sentimento de culpa e exaltação. Embora num 196
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primeiro momento reforce a ideia de que a morte de Misery sucedeu apenas de forma natural (como acontece na vida, porque afinal a vida imita a arte), apercebemo-nos de que, tal como para Wilde, Sheldon «permaneceu demasiado fiel a si próprio para que a arte imitasse a vida» e por isso a morte da personagem surgiu como uma resolução natural para o ódio que sentia pela mesma após a publicação do terceiro livro da série Misery. Tal como em Tristram Shandy, onde Laurence Sterne nos delicia com pormenores picarescos acerca do processo de narração por parte de Tristram, Stephen King revela-se meticuloso acerca do modo como Fast cars (o novo manuscrito de Sheldon) é destruído e Annie cuida do autor, o mutila e lhe oferece a máquina de escrever Royal para que possa redigir uma sequela de Misery. Poderíamos ainda apresentar a noção de sobrevivência do autor através da hipérbole de autoria com recurso a uma situação mais extrema: a de Jack Torrance, que pretende estar o mais presente possível na peça que irá escrever. Mas, como sabemos, Jack morre no hotel Overlook (este nome não constitui certamente um acaso, houve algo que escapou a Torrance em todo o processo narrativo e talvez
Há uma diferença entre contar histórias para sobreviver e ter de sobreviver para poder contar
a história; no primeiro caso, o das Mil e uma noites, a sobrevivência do autor depende do agrado do leitor face à narrativa; no segundo caso, o de Trisha e o de Rose Madder, a sobrevivência do autor implica a possibilidade física de contar a história em que sabe que ninguém irá acreditar.
por isso acabe por morrer) e Sheldon morre como autor após o cativeiro prolongado com Annie Wilkes. Nesse caso, qual a especificidade da morte do autor na obra ficcional de Stephen King? O caso particular é que, aliada à morte física da persona-
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nagem que detestava. A deflação do autor significa, em Stephen King, que nenhum autor está a salvo seja do que for. Stephen King retrata polícias de giro, guardas prisionais, agricultores, condutores, canalizadores, donas de casa, mulheres vitimadas, estudantes e deficientes com uma postura reader-friendly. Essa postura altera-se quando aborda os autores como personagens – pois, para além de serem percepcionados como irrelevantes no esquema geral das coisas e de morrerem durante a narrativa, os autores de King são dementes e/ou viciados. Tal como a personagem Carrie do romance homónimo, o autor em Stephen King is carried away e resta-lhe a luta pela sobrevivência nesse mundo sem regras que a criação literária revelou. O escritor é um canal mais ou menos bem-sucedido dessa força que quase sempre acaba por destruí-lo. É como a máquina Royal de Sheldon, aquela a que faltavam teclas, tal como a ele lhe faltavam o pé e o polegar. O grau de destruição parece ser tanto maior quanto maior for a convicção da personagem-autor acerca da sua própria importância.
gem-autor ao longo da narrativa (e não no sentido que Barthes ou Foucault atribuem à morte do autor), emerge a deflação do autor enquanto personagem. O autor morre, não como resultado destes encontros com mortos enlouquecidos ou vivos psicóticos, mas como parte de uma espécie de fim previsível para a inflação do seu ego enquanto autor. Vejamos: Jack Torrance teve um fim tanto mais violento quanto maior era a sua convicção de que iria escrever a peça de teatro que faltava ao panorama literário norte-americano. Sheldon foi aprisionado contra vontade na exacta altura em que, como autor, havia logrado libertarse de Misery enquanto personagem – uma perso198
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BIBLIOGRAFIA ADORNO, Th. W. (2003) – Experiência e criação artística: paralipómenos à ‘teoria estética’. Trad. Artur Morão. Lisboa: Edições 70. ISBN 972-44-1153-2. ASSIS, Machado de (1888) – Bons dias! [Em linha]. [Consult. 01-07-2016]. Disponível na WWW: <www.machadodeassis. org.br/abl_minisites/media/Bons_Dias_.rtf>. BACHMAN, Richard (2002) – Os Reguladores. Trad. Maria Emília Ferros Moura. Lisboa: Círculo de Leitores. ISBN 972-422844-4. BARTHES, Roland (2004) – «A morte do autor». In BARTHES, Roland (2004) – O Rumor da Língua. São Paulo: Martins Fontes. BLOOM, Harold (2014) – Génio: os 100 autores mais criativos da história da literatura. Lisboa: Temas e Debates/Círculo de Leitores. ISBN 978-989-644-270-5. DOSTOIEVSKI, Fédor Mikhaïlovitch (2007) – O pequeno herói. Lisboa: Diário de Notícias. ISBN 972-1-05266-X. DUMAS, Alexandre (2011) – As tumbas de Saint-Denis. In VV.AA. (2011) – Contos espantosos. Lisboa: Diário de Notícias. ISBN 978-989-8520-01-2. FOUCAULT, Michel (2001) – «O que é um autor?» In FOUCAULT, Michel – Ditos e Escritos: Estética – literatura e pintura, música e cinema (vol. III). Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, pp. 264-298. HYNEK, Josef Allen (1972) – The UFO experience: A scientific enquiry. Chicago: Regnery. ISBN 978-1-56924-782-2. MARDRUS, J. C. (1993, 1194) – As mil e uma noites. [Lisboa]: Círculo de Leitores. 6 vols. KAFKA, Franz (2002) – A metamorfose. 5.ª ed. Barcarena: Editorial Presença. ISBN 972-23-1652-4. KING, Stephen (1987) – Misery. Kent: Hodder & Stoughton, 1987. ISBN 0 450 41739 5. KING, Stephen (1989) – The Dark Half. Kent: Hodder & Stoughton, 1989. ISBN 0-340-50911-2. KING, Stephen (1996) – The Green Mile. New Jersey: New Amer Library, E Rutherford. ISBN 978-045-11-9057-4. KING, Stephen (1997a) – Meia-noite e dois. Trad. Manuel Cordeiro. [S.l.]: Círculo de Leitores. ISBN 972-42-1704-3. KING, Stephen (1997b) – O Retrato de Rose Madder. Trad. Lucinda Maria dos Santos Silva. [S.l.]: Círculo de Leitores. ISBN 972-42-1632-2. KING, Stephen (1998) – Meia-noite e quatro. Trad. Manuel Cordeiro. [S.l.]: Círculo de Leitores. ISBN 972-42-1742-6. KING, Stephen (1999b) – Sonhos e pesadelos I. Trad. Manuel Cordeiro. [S.l.]: Círculo de Leitores. ISBN 972-42-2030-3. KING, Stephen (2000) – On Writing. New York: Scribner. ISBN 0-7432-1153-7. KING, Stephen (2001) – The Dreamcatcher. Kent: Hodder & Stoughton, 2001. ISBN 0 340 792 235 3. KING, Stephen (2002a) – A Rapariga que adorava Tom Gordon. Lisboa: Temas e Debates. ISBN 972-759-535-9. KING, Stephen (2002b) – Corações na Atlântida. Trad. Eugénia Antunes. Rio de Mouro: Círculo de Leitores. ISBN 972-422641-7. KING, Stephen (2005) – Shining. Trad. Maria Filomena Duarte. Rio de Mouro: Círculo de Leitores. ISBN 972-42-3429-0. KING, Stephen (2006) – A história de Lisey. Trad. Vítor Antunes. Rio de Mouro: Círc. de Leitores. ISBN 978-972-42-4050-3. KING, Stephen (2013) – A Cúpula. Trad. Ana Lourenço. Lisboa: Bertrand. 2 vols. ISBN 978-972-25-2740-8. JORGE, Lídia (2014) – Os Memoráveis. Alfragide: Dom Quixote. ISBN 978-972-20-5436-2. PALMER, John (2009) – Parmenides and presocratic philosophy. Oxford: Oxford Scholar. ISBN 978-019-95-6790-4. PROUST, Marcel (1913-1927, reimp. 2003 e 2005) – Em busca do tempo perdido: vols I-VII. Trad. Pedro Tamen. Lisboa: Relógio d’Água. PUSKINE, Alexandre (2007) – A dama de espadas. Lisboa: Diário de Notícias. ISBN 972-1-05575-1. RILKE, Rainer Maria (2001) – Duino Elegies. [Em linha]. [Consult. 01-07-2016]. Disponível na WWW: <http://poetryintranslation.com/PITBR/German/Rilke.htm>. RILKE, Rainer Maria (1904) – Letters to a young poet [Em linha]. [Consult. 01-11-2013]. Disponível na WWW: <http://www.carrothers.com/rilke_main.htm>. SHAKESPEARE, William (1596-8) – The Merchant of Venice [Em linha]. Consult. 01-11-2013]. Disponível na WWW: http://shakespeare.mit.edu/merchant/merchant.4.1.html STERNE, Laurence (2005, 1760) – The life and opinions of Tristram Shandy, a gentleman: a sentimental journey through France and Italy. Munich: Günter Jürgensmeier. WILDE, Oscar (2010) – The decay of lying [Em linha]. Edição electrónica compilada e revista por Margaret Lantry. CELT: The Corpus of Electronic Texts. Cork: CELT, 2010, actual. 14-11-2010. [Consult. 01-11-2013]. Disponível na WWW: <URL: http://www.ucc.ie/celt/online/E800003-009/>. Text ID Number: E800003-009. WILDE, Oscar (2002) – O retrato de Dorian Gray. Trad. Januário Leite. Lisboa: Public. Dom Quixote. ISBN 972-20-2394-2.
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LANÇAMENTOS
DIÁRIO ALIMENTAR
E COMPASSOS Estêvão Sousa lançou umdois novo romance; desta vez, a estória de um sequestro A autorade Sara Timóteo publicou novos liFacebook (www.facebook.com/artesanal.livro). vros através da editora Costelas Felinas: «Compassos», uma obra poética de 45 páginas que convida cada um de nós a mensurar os caminhos que percorre, e «Diário Alimentar», um livro de 32 páginas que procura lançar bases para a reflexão sobre a alimentação emocional em que, nos dias de hoje, todos incorremos. Estes livros podem ser adquiridos através do blogue da editora (https:// artesanallivros.blogspot.com) e da sua página no
Sara Timóteo participa com bastante frequência em obras colectivas de diversas editoras, sendo os seus textos uma presença regular nas antologias Sui Generis, e tem uma vasta obra (individual) publicada, desde 2011: «Deixai-me Cantar a Floresta», «Chama Fria ou Lucidez», «Refúgio Misterioso», «Os Passos de Sólon», «Elixir Vitae», «Os Quatro Ventos da Alma», «O Telejornal», «O Corolário das Palavras» e «Refracções Zero». 201
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POESIA
RAFA GOUDARD CIDADE (VI)ZINHA Na praça central, Lá no meio, Aposentados jogando Conversa fora, Assuntando Sobre a vida da vizinhança. Nas pequenas cidades Todo mundo se conhece. Conhece A vida de cada família, A história do mercadinho, Do bar, da padaria, do açougue, Da barbearia. Conhece O surgimento do bairro E o município de hoje. Ah! Pequena cidade.
Administrador, músico, pianista, escritor, poeta, cronista e compositor. O seu hobby é ler livros; também adora tocar piano nas horas vagas, escrever poesias de madrugada, andar a cavalo quando sobra um tempo e escutar e estudar vários estilos de músicas. Tem poesias publicadas, desde 2015, em várias editoras do Brasil e de Portugal. Em 2016, participou em três concursos e obteve um prémio literário. Em Portugal, participou nas antologias «Boas Festas», «Vendaval de Emoções», «Saloios & Caipiras», «Torrente de Paixões» e «Fúria de Viver». Página no Facebook: www.facebook.com/rafa.goudard
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POESIA
MARIZETH MARIA PEREIRA MARIZETH MARIA PEREIRA Nascida em Brotas de Macaúbas, BA, Brasil, em 1968, reside na cidade de Osasco, SP, onde participa em vários eventos culturais. Eleita Conselheira Municipal pelo direito da mulher na Coordenadoria da Mulher, Igualdade Racial e Diversidade Sexual, faz parte da Directoria de Cultura do partido político PROS MULHER, no qual luta pela inclusão cultural e igualdade social. Autora dos livros «Reflexos da Vida» e «Segredos de Uma Vida», usa os seus poemas em palestras e eventos culturais com os quais chama a atenção das pessoas para situações polémicas e reais da sociedade. Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Sexta-Feira 13», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia» e «Os Vigaristas». Página da Autora: www.facebook.com/marizeth.mariape reiraii
SE DEUS QUISER Deus é Deus de encontros... E despedidas... Da morte... E da vida... Dos acertos e desacertos... Deus é Deus... Não tem explicação... Tem coisas que não entendo... Por exemplo: Quando choro por você... Sem saber o porquê. E se ainda tento um sorriso... Ele escapa por você... Não tente me entender... Talvez eu parta... Sem te olhar nos olhos... E também sem abraçar você... Eu sei... Que foi Deus quem permitiu... Você surgir... Você existir...
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Portanto... NĂŁo me deixe ir... E tambĂŠm nunca me queira pra ti... Quem sabe em alguma Primavera... De um lugar qualquer... Haja um encontro... De um homem... Com uma mulher... Sem barreiras... Sem pecado... Apenas encontro... De primavera Homem e mulher... Se Deus quiser!
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POESIA
LUCINDA MARIA LUCINDA MARIA Lucinda Maria Cardoso de Brito nasceu em Oliveira do Hospital, em 1952. Fez um percurso académico muito bom e tirou o curso do Magistério Primário, começando a leccionar em 1972. Encontra-se aposentada, mas continua a ensinar, agora artes decorativas, na Universidade Sénior de Rotary de Oliveira do Hospital. Tem cinco livros publicados – «Palavras Sentidas» (2013), «Alma» (2014), «Divagando...» (2015), «Terra do Meu Coração» (2016) e «Sonho?... Logo, Existo!» (Sui Generis, 2017) – e participações em variadíssimas obras colectivas. Da Colecção Sui Generis, participou em «A Bíblia dos Pecadores», «Graças a Deus!», «Vendaval de Emoções», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos» e «Tempo de Magia». Como autora, gosta de identificar-se apenas por Lucinda Maria e não escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990.
OLHOS DE DOR Só há tristeza nos olhos de dor, Embaciados de lágrimas cruas, Rolando pelos rostos derredor, Negras, embalsamadas e nuas... Nos rostos de quem tudo perdeu, Devorado pela voragem mordaz Há ainda incredulidade de breu, Amarras de prisão, força tenaz... Velhos viram arder as suas vidas, Sepultadas num vale de escombros, Casa onde nasceram, o seu quintal... Semearam amores, curaram feridas, Suportaram fardos sobre os ombros... E agora? Será que ainda resta ideal?
Página da Autora: facebook.com/lucindamaria.brito
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POESIA
ISABEL MARTINS ISABEL MARTINS Leitora atenta que acompanha diversos e variados eventos literários. Escreve pontualmente poemas e divulga-os na sua página do Facebook. Participou em quatro antologias organizadas pela Sui Generis: «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver» e «A Primavera dos Sorrisos». Reside em Palmela. Página da Autora: facebook.com/isabel.martins.395669
ROSAS ENCARNADAS Nada pode ser como era, Quando ontem maltrataste. A folha onde se escreveu, Terminou, chegou ao fim, Essa já não existe, morreu. Tudo acaba, há que pensar. Nem vale a pena chorar... Se a roseira é bem cuidada, Ela vai sempre florir... E a Primavera encantada, Quando a vir, vai-lhe sorrir. Então, terás muitas rosas, E a que for mais encarnada, Se souberes, será só a tua. Terá que ser muito amada, No coração bem guardada, Não pode ser maltratada!...
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POESIA
PAULO GALHETO MIGUEL PAULO GALHETO MIGUEL Brotou para o mundo em 1962 e cedo se apaixonou pela escrita, como forma de perpetuar aquilo que diz e pensa. Existe melhor perto do mar, bem como do afecto das coisas mais elementares, tais como: sorrir, ler, amar e, finalmente, deixar que a vida faça o resto. Precisa de escrever; é como olhar nos olhos de quem lê as suas palavras, diluída no seu pensar, que se preocupa, sobretudo, com aquilo que à vista desarmada não é visível. É co-autor de várias antologias da Colecção Sui Generis: «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «Tempo de Magia» e «A Primavera dos Sorrisos». Publicou dois livros: «Vozes Que Sangram» (2015) e «Eminentes Transparências» (2016). Página do Autor: www.facebook.com/paulojorge.galhet omiguel
VIDA QUE CHAMA Podemos inventar uma história qualquer... Mesmo parados e trémulos... Mesmo fingindo que o café não esfria... Que a nossa Alma não arrefece... Mesmo achando estar vazia... Que o encanto de gostar não se perdeu... Que nada em nós se desvanece... Sentimos que precisamos de uma ponte... Para usufruir de verdade; da vida, aquilo que mais nos apetece... Uma luz que aponte para nós... Uma estrela que nos diga que ainda não temos que morrer... Que ecoe esse esplendor, dentro de cada um de nós... Muito mais que um vazio de emoções... Se possível, que cresça em nós uma outra voz... Mais do que um abalo sentido, que não cegue os nossos sonhos... Que nos ensine a tornar, a cada dia, mais perfeitos... Acometidos pela emoção do Amor, de tudo aquilo que em boa verdade... SOMOS!...
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POESIA
MARILIN MANRIQUE MARILIN MANRIQUE Goiana, nascida em São Luís de Montes Belos, em 1955, reside em Uberlândia (MG), Brasil. Publicou os livros «Dia a Dia em Poesia» (Books Editora), «A Busca Pela Felicidade e Outros Contos» (Editora Becalete), «Momentos Poéticos» (Editora Becalete) e «O Presente» (Editora Futurama). Participações em obras colectivas: «Sarau Brasil 2014» e «Sarau Brasil 2015» (Vivara Editora); «Emoções Poéticas II» e «Inspiração em Verso II» (Editora Futurama); «Rede de Palavras» e «Memórias e Passagens de um Tempo» (Editora Scortecci); «Poesias Encantadas IX» (Editora Becalete); em Portugal, é co-autora de seis antologias organizadas por Isidro Sousa: «Boas Festas», «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Fúria de Viver» e «Tempo de Magia». Página da Autora: www.facebook.com/marilin.molina.5
ÂNSIA DE VIVER Entristece o ser que não Sabe usufruir as dádivas do Senhor, Que não se encanta a cada dia Com as maravilhas da natureza E do amor, toda plenitude e beleza Entristece a cada dia o ser Que não sabe curtir com alegria O som de lindas melodias, A vibração dos pássaros cantando, O sol se abrindo e o dia iluminando. Quem caminha pela estrada da vida Sem agradecer as bênçãos recebidas, Sem perceber anjos abrindo caminhos, Sem aproveitar tudo de bom que existe, Fica cada vez mais triste e sozinho E morre a cada dia um pouco Pois o coração não resiste
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POESIA
ROSA MARQUES ROSA MARQUES Nasceu na Madeira, onde viveu até aos dezoito anos. Após casar, mudou-se para Porto Santo, onde reside e trabalha como administrativa até à data. Preocupa-a a situação precária em que o mundo se encontra, a condição humana (principalmente as crianças) e todos os que vivem em condições desumanas, nos países subdesenvolvidos e nos países em guerra. Gosta de ler e de tudo o que está ligado à literatura e à arte. Participou em diversas obras colectivas, em Portugal e no Brasil, e publicou dois livros de poesia com o selo Sui Generis: «Mar em Mim» (reeditado em 2018) e «Prisioneiros do Progresso». Página da Autora: Facebook: Maria Correia
SENHOR, AJUDA-ME A CAMINHAR Senhor, ajuda-me a caminhar, porque, Ingénua, aventurei-me sozinha na floresta, Atraída pela beleza da paisagem... Olhando as magníficas árvores em flor... A bela cascata, glamorosa... Descendo a montanha com leve fragor... Os pássaros saltitando de ramo em ramo. Encantada com as borboletas Que pousavam de flor em flor... A floresta fui adentrando, alegre caminhando, E não vi que, por entre o arvoredo, Habitavam lobos artificiosos... maldosos... Pelos recantos sempre à espreita... Esperando a incauta presa, Cheios de maldade, Lobos pejados de maleita. E eu, Senhor, Não aprendi a viver entre lobos. Por isso, peço-Te: Ajuda-me a caminhar!
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POESIA
ISIDRO SOUSA PÉTALAS DE SOL ISIDRO SOUSA Nasceu em 1973, numa aldeia remota das Terras do Demo, e vive no Porto. Jornalista desde 1996, fundou, dirigiu e editou revistas, jornais e guias turísticos, colaborou com várias editoras, participou em diversas obras colectivas, foi distinguido num concurso literário e é o mentor de todos os projectos da Colecção Sui Generis, que criou em 2015, cujas antologias organiza e coordena. Em 2016, publicou dois livros de contos: «Amargo Amargar» e «O Pranto do Cisne». Blogue do Autor: http://isidelirios.blogspot.pt Este poema foi incluído na antologia «A Primavera dos Sorrisos», lançada pela Sui Generis em Outubro de 2017
Na labareda dessa paixão avassaladora afogas-me num oceano de fogo infestado gélido, impiedoso, sufocante, tormentoso Nas asas ásperas deste vento acutilante cavalgo nas nuvens sombrias que expelem um corpo exaurido naquela pluma ardente Pétalas caprichosas da roseira encarnada desabrochadas na glamorosa aurora solitária Primavera distante da vida (outrora) incendiada essa arma portentosa surgindo no meio da rosa perfume inebriante que suaviza a alma amargurada proporcionando (este) novo bálsamo para reviver Renascido enlouquecido nesse sentido ressurgido – corpos no colchão sob o edredão num só coração sofrido e vivido, agora esculpido num gemido mergulho nos abismos desse teu ser colorido no almejado (e anunciado) horror desaparecido Pétalas de Sol jorradas em asa manhosa da nuvem melindrosa tornada gloriosa rouba-me do teu abraço feito mariposa devolvo os teus beijos no seio da rosa e assim embarcamos na ilusão perigosa Antevendo no meu olhar o teu desejo doce e belo sentimento que prevejo aquecer-me a solidão no teu beijo
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LIVROS
O MUNDO EXCLAMANTE
O MUNDO EXCLAMANTE Autora: Sandra Boveto Ilustrações: Jota Cabral Scortecci Editora ISBN: 978-85-366-4820-0 Literatura infanto-juvenil Formato 15 x 22 cm Páginas: 60 páginas 1ª edição – 2016 Encomendas: sandrabvt@hotmail.com Página da Autora: www.facebook.com/ sandra.bovetodasilveira
«Felipower surpreende-se acordando em um mundo diferente de tudo o que ele já viu. Esse curioso e corajoso menino experimenta uma aventura fantástica, ao lado de companheiros muito peculiares, que o ajudam a desvendar um misterioso universo, repleto de surpresas “exclamantes”! Essa nova experiência provocará nesse garotinho uma destemida curiosidade e um aprendizado significativo para sua vida. Eis alguns pedacinhos dessa aventura: “(...) Felipower tinha um objetivo nesse passeio: reencontrar o losango com a luz no centro, aquele que fizera com que ele voltasse para seu mundo. Mas não seria tarefa fácil encontrá-lo, porque os objetos movimentavam-se constantemente e não havia nada que pudesse indicar o lugar exato do losango. Então, pediu para Feliporquê ajudá-lo a montar objetos. – A gente só precisa juntá-los, Porquê. – Mas, por quê? – Eu não preciso te falar o porquê, Porquê! Porque você verá o porquê, entende? Os meninos começaram a juntar algumas formas, montando novos objetos. Mas nada acontecia. Felipower olhou para o companheiro e levou um susto. Ele estava meio transparente. – Porquê, você está ficando difícil de enxergar! ... – O que… quem é você? – Meu nome é Felipequeno. – Você só pode estar brincando! “Será que o Porquê está no Pequeno?” – pensou Felipower com cara de análise. ... Na natação, durante um mergulho, pensou “Será que existe algum Felipeixe em algum mundo aquático?” E soltou uma gargalhada borbulhante. ... “Metreletrito” era mais uma das expressões inventadas por Felipower. Mas essa palavra formava um conceito próprio composto por três medidas diferentes: tempo, distância e sensação.» Sinopse e citações do livro infanto-juvenil «O Mundo Exclamante», que Sandra Boveto publicou através da Scortecci Editora, no Brasil.
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LIVROS
FÚRIA DE VIVER Esta obra colectiva reúne textos em diversos géneros literários (contos, crónicas, cartas, reflexões, poemas, prosa poética e outros), de 56 autores lusófonos, que fazem um verdadeiro Hino à Vida. Lançado o desafio a quem desejasse participar, sob o lema “Celebrar a Vida!”, neste hino literário, o resultado global reflecte-se num «Fúria de Viver» bastante vasto e abrangente, cujas páginas, recheadas das mais variadas sensibilidades, apresentam uma grande pluralidade de estilos e graus culturais, vislumbrando-se uma “fúria de viver” em cada texto porque se gosta realmente de viver, ou podendo existir essa mesma “fúria de vida” devido a outras razões, por vezes menos felizes... como numa situação de enfermidade em que o seu portador, de algum modo, se agarre furiosamente à vida visando manter-se vivo.
FÚRIA DE VIVER Um Hino à Vida Organização: Isidro Sousa Autores: 56 Autores Colecção Sui Generis Editora Euedito Nº de Páginas: 214 páginas 1ª Edição: Julho 2017 ISBN: 978-989-8856-57-9 Depósito Legal: 429166/17 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com www.euedito.com/suigeneris letras-suigeneris.blogspot.pt
Organização e Coordenação: Isidro Sousa. Autores: Adelina Antunes, Adriano Ferris, Airton Parra Sobreira, Aldir Donizeti Vieira, Amélia Luz, Amélia M. Henriques, Ana Campos, Ana Horta, Ana Maria Dias, Anderson Furtado, Ângela Caboz, Angelina Violante, Beco da Preta, Carla Santos Ramada, Carlos Arinto, Daniel Vicente, Deise Zandoná Flores, Diamantino Bártolo, Ernesto Moamba, Estêvão de Sousa, Everton Medeiros, Graça Alves, Guadalupe Navarro, Isaac Soares de Souza, Isabel Martins, Isidro Sousa, Ivan de Oliveira Melo, Joaquim Matias, Jonnata Henrique, Jorge Manuel Ramos, José Lopes, Júlio Gomes, Lia Molina, Lucinda Maria, Luís Cardoso, Madalena Cordeiro, Maria Alcina Adriano, Marizeth Maria Pereira, Nardélio F. Luz, Neca Machado, Nicol Peceli, Paulo Galheto Miguel, Pedras Nuas, Rafa Goudard, Renata Loyolla, Roger Gonçalves, Rosa Marques, Roseni Gentilin Pintinha, Sandra Boveto, Sara Timóteo, Sténio Cláudio Afénix, Suzete Fraga, Tânia Tonelli, Tayná Messi, Tereza Santos Farias, Tiago Gonçalves.
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A VIAGEM Este livro é uma narrativa de factos reais, que aconteceram na íntegra durante uma viagem aos países da Escandinávia em finais de Julho de 1996, encanastrados num conjunto de personagens ficcionadas, que vão partilhando entre si informações e experiências, fruto de outras viagens feitas, que alimentaram a alma da autora, Jeracina Gonçalves. De acordo com as suas palavras, «é um livro que narra uma viagem, mesclada de várias viagens. Voe nas suas asas e experimente um pouco da emoção que me fizeram sentir. Quem esteja habituado a este tipo de férias não estranhará o entrelaçar de personagens e a facilidade com que se criam subgrupos, que mutuamente se enriquecem culturalmente com as experiências de cada um. Toda a narrativa se desenvolve sob os holofotes do ambiente e da época em que a viagem aconteceu.» As receitas da venda deste livro revertem a favor do Fundo de Bolsas de Estudo do Lions Clube de Barcelos, que ajudará estudantes do concelho de Barcelos, com capacidades intelectuais e dificuldades económicas, a prosseguirem os seus estudos superiores.
A VIAGEM Autora: Jeracina Gonçalves Editora: Euedito 1ª Edição: Junho 2017 Páginas: 114 páginas Encomendas: www.euedito.com Páginas da Autora: www.facebook.com/jeracina https://aposviagem.blogspot.pt
Jeracina Gonçalves nasceu numa vertente da Serra do Marão. Criada com simplicidade entre o verde dos campos, o alcantilado dos montes foi a sua alma formada e foi-lhe também facultado o ABC das letras, cumulado com o da vida. Desceu depois à cidade, prosseguiu a formação e obteve os requisitos para exercer a profissão. Aquém e além do mar, exerceu, durante 36 anos, o Magistério: desbravou virgens terrenos e escreveu páginas belas de amor e devoção. Páginas que também leu. Com as quais se inebriou. Guarda-as no coração. Publicou poemas, crónicas de viagens, contos e um livro de poemas («Janela Aberta», edição de autor). Durante vários anos, organizou os jornais «Rua da Imaginação», da última Escola onde exerceu, e «A Turma dos Estudiosos», ambos agraciados com um prémio do “Público”. «A Viagem» é o segundo livro de sua autoria.
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GRAÇAS A DEUS!
GRAÇAS A DEUS! Antologia de Natal Uma Acção de Graças Organização: Isidro Sousa Autores: 51 Autores Colecção Sui Generis Editora Euedito Nº de Páginas: 214 páginas 1ª Edição: Dezembro 2016 2ª Edição: Novembro 2017 ISBN: 978-989-8856-04-3 Depósito Legal: 434489/17 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com www.euedito.com/suigeneris letras-suigeneris.blogspot.pt
O livro Graças a Deus! reúne textos em diversos géneros literários de 51 autores lusófonos: contos, crónicas, cartas, reflexões, desabafos, poesia, etc. Embora fosse concebida para o Natal, muitos textos que esta antologia inclui não se focam no evento natalino; apresentam outros enredos, todavia, reflectindo sempre a fé no Senhor, ou mesmo gratidão – sejam sentimentos pessoais ou através de personagens fictícias. São estórias e poemas cuja variedade de estilos e graus culturais é sublime, recheados das mais variadas sensibilidades, que, não obedecendo a um tema específico, privilegiam, de algum modo, a crença em Deus. O leque de textos é soberbo! Textos que abordam uma emoção, uma tristeza, um amor, um desejo, uma mágoa, um reconhecimento, uma lembrança, uma felicidade, uma revolta, uma nostalgia, uma esperança... Todos os autores expressam, cada um com a sua particularidade, o que lhes vai na alma. Cada um transmite o que Deus significa para si. Mesmo aqueles que são agnósticos desvendam, de igual modo, a sua percepção. Ou os seus sentimentos. Sentimentos que se eternizam nas 214 páginas desta obra colectiva, cujos conteúdos se encontram ilustrados com belíssimas declarações de Sua Santidade, o Papa Francisco, e Cânticos e Salmos da Bíblia Sagrada. Uma verdadeira Acção de Graças que todos os autores ofereceram ao Senhor na quadra natalícia de 2016, sendo reeditada em 2017. E que trará leituras emocionantes ao longo dos próximos anos. Porque este livro deve ser lido em qualquer altura do ano. Organização e Coordenação: Isidro Sousa. Autores: Álvaro Moreyra, Amélia M. Henriques, Ana Maria Dias, Angelina Violante, Antônio de Pádua, Cadu Lima Santos, Carlos Arinto, Carlos Pompeu, Carmen Jara, Cauline Sousa, David Sousa, Diamantino Bártolo, Eduardo Ferreira, Elicio Santos, Everton Medeiros, Fernanda Kruz, Guadalupe Navarro, Isa Patrício, Isaac Soares de Souza, Isabel Martins, Isidro Sousa, Jeracina Gonçalves, João Pedro Baptista, Joaquim Matias, Jonnata Henrique, Júlio Gomes, Lia Molina, Lucinda Maria, Madalena Cordeiro, Marcella Reis, Maria Alcina Adriano, Maria Isabel Góis, Marizeth Maria Pereira, Mônica Gomes, Natália Vale, Neca Machado, Nicol Peceli, Paula Homem, Paulo Galheto Miguel, Ricardo Solano, Rogério Dias Dezidério, Rosa Maria, Rosa Marques, Sandra Boveto, Sara Timóteo, Scarleth Menezes, Sérgio Sola, Sténio Cláudio, Suzete Fraga, Tânia Tonelli, Teresa Morais.
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SONHO?... LOGO, EXISTO! Sonho? Sim, sonho sempre, sonho muito. Como dizia o poeta: «O sonho é uma constante da vida!» – e faz parte da minha, desde sempre. E fará enquanto eu tiver essa capacidade, até porque viver não é só existir. Logo, existo! – e porque existo, vivo; e porque vivo, sonho. A minha existência é rendilhada de quimeras que me fazem imaginar um mundo paradisíaco. Vou bordando com palavras o meu livro de quereres e de creres. Vou esculpindo nos meus versos o amor que me enche a alma de mel. Vou aspergindo de ternura a poesia que molda o meu ser. Por isso, continuo a escrever. Por isso, continuo a sonhar. Assim, sou sempre EU contra ventos e marés, contra males e adversidades, contra tudo e contra todos. Não conseguirão derrubar-me os que não sonham... os que privilegiam o TER. Nos poemas deste livro, está a minha pessoa inteira, desnudada, sincera. São sonhos que geram palavras ou palavras que geram sonhos? Não importa! Todos estes sentires aqui expressos têm dentro o amor que sinto pelas pessoas, pela natureza, pela sociedade, pelo mundo! O que será do mundo sem sonhar? O sonho é o ovo, a génese, o começo de tudo. Este livro fala de sonhos e é, ele mesmo, um sonho realizado. (Palavras da autora na contracapa do livro.) SONHO?... LOGO, EXISTO! Autora: Lucinda Maria Colecção Sui Generis Editora: Euedito Nº de Páginas: 130 páginas 1ª Edição: Setembro 2017 ISBN: 978-989-8856-71-5 Depósito Legal: 430909/17 Encomendas: www.euedito.com/suigeneris Página da Autora: facebook.com/lucindamaria.brito
Lucinda Maria nasceu em Oliveira do Hospital, nos anos 50 do século passado. Fez um percurso académico muito bom e tirou o curso do Magistério Primário, começando a leccionar em 1972. Teve sempre uma grande paixão pela Língua Portuguesa. Desde muito nova gosta de escrever, tanto em prosa como em poesia, embora goste mais de se expressar em poemas, que brotam do seu coração sensível. É uma idealista, às vezes utópica, uma sonhadora... características que a definem. A sua poesia é o seu EU... a sua alma sempre insatisfeita... Nela, faz uma catarse íntima dos sentimentos que a avassalam, muitas vezes de forma saudosista e nostálgica. Uma frase sua: «Escreverei até que o coração me doa!». (Não escreve segundo as normas do AO 90, do qual discorda.) 221
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TEMPO DE MAGIA
TEMPO DE MAGIA Antologia de Natal Organização: Isidro Sousa Autores: 62 Autores Colecção Sui Generis Editora: Euedito Nº de Páginas: 300 páginas 1ª Edição: Novembro 2017 ISBN: 978-989-8896-01-8 Depósito Legal: 434802/17 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com www.euedito.com/suigeneris letras-suigeneris.blogspot.pt
As circunstâncias que envolvem o nascimento de Jesus de Nazaré, proclamado Messias e Senhor, rodeiam-se de misticismo e magia. Se as representações no presépio, tal como chegaram ao nosso conhecimento, terão acontecido verdadeiramente ou se são fruto de lendas não se sabe ao certo. Mas sabe-se, e muitos factos o atestam, que Jesus existiu – tendo sido um ser humano fascinante que revolucionou a época em que viveu e a sua mensagem, uma mensagem essencialmente de amor, perdura ao longo dos tempos. No Século III, a Igreja Católica oficializa o Natal, passando a comemorarse, no dia 25 de Dezembro, o nascimento de Jesus. Em 1223, São Francisco de Assis produz o primeiro presépio do Mundo, com a presença de uma manjedoura, um boi e um burro, para melhor explicar o Natal. Este costume espalha-se pelas catedrais, igrejas e mosteiros da Europa durante a Idade Média. No Renascimento, o presépio passa a ser montado, também, nas casas de Reis e Nobres e, no século XVIII, este hábito dissemina-se pelas casas comuns. Em paralelo, criam-se inúmeras lendas e tradições que contribuem para tornar ainda mais mágico o evento natalino. É em torno da celebração do nascimento de Jesus Cristo que se debruçam os textos incluídos neste livro, escritos por 44 autores lusófonos contemporâneos e intercalados com poemas e contos de 18 autores clássicos portugueses, tais como Abel Botelho, Eça de Queirós, Mário de Sá-Carneiro, Ramalho Ortigão, entre outros, que tanto oscilam para o lado festivo do Natal como para a sua vertente melancólica, estando presente, nalguns deles, a visão do Natal tradicional das aldeias portuguesas. Incluíram-se também, nesta antologia, lendas portuguesas relativas a esta quadra. O conjunto de todos os textos resulta numa obra literária muito rica... plena de magia natalícia. Organização e Coordenação: Isidro Sousa. Autores: Abel Botelho, Afonso Duarte, Aldir Donizeti Vieira, Amélia M. Henriques, Ana Campos, Ana Isabel Bertão, Ana Maria Dias, Anderson Furtado, Angelina Violante, António Feijó, Ary dos Santos, Bocage, Brito Camacho, Cadu Lima, Carla Santos Ramada, Carlos Malheiro Dias, Carmem Aparecida Gomes, Célia Sousa, César Alves, D. João da Câmara, Daniel Vicente, DCM O Poeta Maldito, Diamantino Bártolo, Eça de Queirós, Everton Medeiros, Fernando Pessoa, Fialho de Almeida, Gomes Leal, Guadalupe Navarro, Isa Patrício, Isidro Sousa, Ivan de Oliveira Melo, Joaquim Matias, José Maria de Andrade Ferreira, Júlio Brandão, Leandro Dupré, Litas Ricardo, Lobo Alves, Lucinda Maria, Madalena Cordeiro, Manuel Timóteo de Matos, Maria Albertina Santos, Maria Alcina Adriano, Maria de Fátima Soares, Maria dos Santos, Maria Rosa Cunha Pinto, Marilin Manrique, Mário de Sá-Carneiro, Mary Rosas, Marizeth Maria Pereira, Olímpia Gravouil, Paulo Galheto Miguel, Pina de Morais, Ramalho Ortigão, Raul Brandão, Rosa Marques, Sandra Boveto, Sara Timóteo, Simone Marck, Sténio Cláudio Afénix, Tânia Tonelli, Teresa Morais.
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31 DIAS 100 POEMAS
31 DIAS – 100 POEMAS Autor: Manuel Timóteo de Matos Editora: Chiado Editora Nº de Páginas: 210 páginas 1ª Edição: Dezembro 2016 ISBN: 978-989-51-9734-7 Encomendas: www.chiadoeditora.com/livraria Página do Autor: www.facebook.com/m.timoteodem atos
Só perto dos 72 anos o autor Manuel Timóteo de Matos decidiu começar a escrever, tanto em prosa como em poesia, acabando por se dedicar apenas a esta algum tempo depois, a tempo inteiro, com a paixão e o empenho que o caracteriza, em seu dizer, um dos seus vários e grandes amores. No seu entender só com muito amor a sociedade pode melhorar em humanização, nunca se conseguindo a Paz senão através duma educação que se suporte em boas e fortes raízes no amor, num envolvimento e empenho de todas as famílias. Utopia sem dúvida que, e mesmo apesar disso ter consciência, sente dever dar o seu pequeno contributo, convidando todos a fazê-lo. Por isso os seus poemas, quase todos, reflectem essa sua característica com romantismo mas igualmente carregados de empenho pela justiça social, em que os desfavorecidos são uma sua preferência e o amor puro e nobre o seu ponto mais alto. A Natureza é outra área a que o autor se dedica com paixão, em ambientes bucólicos entrelaçados no louvar e caminhar do amor e, em particular, à mulher não só como tal, mas também como mãe. Num estilo próprio de muita simplicidade, mas carregado de paixão, os poemas sucedem-se num todo que dá cobertura não só às áreas referidas como também à família e, em menor escala mas também presente, alguma dose de humor crítico social. Neste livro tudo isso aparece de modo leve, simples, inebriante e agradável, com a particularidade de ter sido, todo ele, escrito num só mês: Janeiro de 2016. Natural de Turquel, Alcobaça, nascido em 1943, Manuel Timóteo de Matos iniciou a actividade escrita em Janeiro de 2015. Tem cinco livros de poesia publicados na Amazon: «Rima com Amor», «Melodias de Poeta», «Subtil Encanto», «Alma Florida» e «O Teu Sorriso». Participou nas antologias «Vendaval de Emoções», «Torrente de Paixões», «A Primavera dos Sorrisos» e «Tempo de Magia» da Sui Generis.
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A PRIMAVERA DOS SORRISOS
A PRIMAVERA DOS SORRISOS Antologia em Prosa e Poesia Organização: Isidro Sousa Autores: 36 Autores Colecção Sui Generis Editora: Euedito Nº de Páginas: 184 páginas 1ª Edição: Outubro 2017 ISBN: 978-989-8856-83-8 Depósito Legal: 433211/17 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com www.euedito.com/suigeneris letras-suigeneris.blogspot.pt
A Primavera é a estação do ano tipicamente associada ao reflorescimento da flora terrestre, cuja chegada, após meses de frio e chuva, é aguardada com a ansiedade de quem deseja voltar a desfrutar do ar livre. É nesta altura do ano que as árvores se cobrem de flores e novas folhas, fazendo a paisagem regressar aos tons verdes. As temperaturas começam a subir, os dias tornam-se cada vez maiores, as flores desvendam todo o seu esplendor, imensos animais exibem as novas crias ou ninhadas, os rios correm mais fortes e os panoramas naturais mostram-se com toda a sua diversidade, sendo os melhores exemplos da diversidade geográfica e da importância de preservarmos os mecanismos dos ecossistemas, desde o ciclo da água às relações que existem entre as inúmeras espécies que partilham o mesmo espaço. É em torno desta estação – a estação das flores, dos sorrisos e dos amores, em que a Natureza se reveste de verde e a Vida recomeça a vibrar com toda a sua intensidade – que se debruçam os textos, em prosa e poesia, redigidos por 36 autores lusófonos, incluídos nesta antologia. Organização e Coordenação: Isidro Sousa. Autores: Adriano Ferris, Amélia M. Henriques, Ana Campos, Ana Isabel Bertão, Angelina Violante, Armando Velho, Catalão Marçal, Cristina Sequeira, Deise Zandoná Flores, Diamantino Bártolo, Elizabeth Seixo, Erald Bast, Estêvão de Sousa, Fernanda Kruz, Geovany Barnabé da Silva, Guadalupe Navarro, Inês Carolina Rilho, Isabel Bastos Nunes, Isabel Martins, Isidro Sousa, Isilda Monteiro, Jeracina Gonçalves, José Antônio Loyola Fogueira, José Carlos Moutinho, Lucinda Maria, Manuel Timóteo de Matos, Maria Alcina Adriano, Marizeth Maria Pereira, Nardélio F. Luz, Natália Vale, Paulo Galheto Miguel, Rosa Marques, Sara Timóteo, Sónia Fernandes, Tânia Tonelli, Teresa Morais.
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INTERVENÇÃO SOCIAL UM PROJETO SOLIDÁRIO «Intervenção Social. Um Projeto Solidário» é uma antologia através da qual o seu autor se esforça por transmitir um conjunto de ideias que visam proporcionar: ao leitor em geral e aos técnicos que exercem funções na área das Ciências Sociais e Humanas, também no domínio das tecnologias e, no limite, em todas as actividades onde se verifica um relacionamento interpessoal, uma melhor preparação sociocultural e humanística, em conjugação com princípios e valores, numa aliança profícua com o profissionalismo. A obra é composta por 13 capítulos fundamentais, destacando-se: Atividade Social: Um Projeto Altruísta; Justiça Distributiva de Bens e Serviços; Gestão e Liderança Humanizadas das Pessoas; Filosofia para uma Sociedade Inclusiva; O Conflito na Tomada de Decisão; Trilogia para uma Sociedade Diferente; Vida Digna; Cultura Portuguesa: Perspectiva Antropológica; Fragilidades do Estado Democrático; O Líder do Século XXI; Intervenção Social e Comunitária e a Norma ISO 26000 – Responsabilidade Social Empresarial. Estão reunidos os ingredientes para se construir uma sociedade mais solidária e feliz. INTERVENÇÃO SOCIAL: UM PROJETO SOLIDÁRIO Autor: Diamantino Bártolo Edição: Estremoz Editora Nº de Páginas: 315 páginas 1ª Edição: Janeiro 2018 ISBN: 9789898744289 Encomendas: www.estremozeditora.com Página do Autor: www.facebook.com/diamantino.ba rtolo.1
Sobre o autor: Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo, casado, nascido no dia 5 de Julho de 1948, na Freguesia de Venade, Concelho de Caminha, Distrito de Viana do Castelo (Portugal). Tem duas filhas e quatro netos. Actualmente está aposentado da Armada Portuguesa (Polícia Marítima). Militar da Armada, Operador de Telecomunicações na Companhia de Diamantes de Angola, sócio-gerente em algumas empresas, Polícia Marítima, docente nos ensinos médio e superior, formador em diversos domínios do conhecimento e diferentes escolas, presidente da Junta de Freguesia de Venade. Intercalando com as suas múltiplas actividades, foi estudando, à noite, a partir da antiga 4ª classe, com o seguinte percurso: Licenciatura em Filosofia; Mestrado em Filosofia Moderna e Contemporânea; Doutorado (Curso Livre) em Filosofia Social e Política – Especialização: Cidadania LusoBrasileira, Direitos Humanos e Relações Interpessoais. 225
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MAR EM MIM Mar em Mim resulta de um conjunto de emoções sentidas perante a beleza de duas ilhas, Madeira e Porto Santo, e o fascínio que o mar e a Natureza exercem na autora. Emoções apreendidas desde a mais tenra idade... quando as brincadeiras ao ar livre eram interrompidas para contemplar o pôr-do-sol, o deslumbramento das árvores recortadas no horizonte em ouro.
MAR EM MIM Autora: Rosa Marques Colecção Sui Generis Editora: Euedito Nº de Páginas: 128 páginas 1ª Edição: Outubro 2016 2ª Edição: Fevereiro 2018 ISBN: 978-989-8856-02-9 Depósito Legal: 438042/18
A diversidade das flores, os pinheiros altos, os plátanos, as acácias e as giestas em flor alegraram, igualmente, a sua infância. E o canto dos pássaros, a Lua formosa e altiva, as mudanças operadas na paisagem em cada estação, e o mar sempre presente... O mar como elo fundamental para quem vive nas ilhas, sendo necessário transpô-lo para vencer as encostas íngremes da solidão. O mar amigo que fascina e atrai, mas também o mar adverso, condicionando e interpondo-se com toda a sua imponência, que é preciso respeitar. Rosa Marques nasceu em 1959, na Madeira, onde viveu até aos dezoito anos de idade. Após o seu casamento mudou-se para Porto Santo, onde reside e trabalha. Da beleza das ilhas e da necessidade de registar recordações da infância, surgem os poemas reunidos neste volume. Tem participações literárias em diversas obras colectivas, em Portugal e no Brasil. Mar em Mim é o seu primeiro livro.
Encomendas: rccorreiamarques@gmail.com www.euedito.com/suigeneris Telefone: (+351) 968237834 Página da Autora: Facebook: Maria Correia
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DO INFERNO TAMBÉM SE VOLTA
DO INFERNO TAMBÉM SE VOLTA Autora: Maria de Fátima Soares Edição: Chiado Editora Nº de Páginas: 286 páginas 1ª Edição: Outubro 2015 ISBN: 9789895152629 Encomendas: https://www.wook.pt www.chiadobooks.com Página da Autora: www.facebook.com/MariadeFatim aRSoares
«Sempre me senti bem sozinha. Ganhei o direito de escolher o que quero fazer da minha vida. Sou bem-sucedida profissionalmente. Tenho amigos, uma casa. A parte afectiva, por agora, não era de todo uma questão prioritária. Porém, o destino trocou-me as voltas e vime enredada numa situação completamente inesperada, que arrasaria, de certa forma, todas as minhas convicções. Alteraria, para sempre, o desenrolar normal da minha existência como a vivi, até aqui. Eu não estava minimamente preparada para aquela revelação. Muito menos para o que daí resultaria. Mas aceitei e segui o meu caminho, apesar de tudo. Da dor que transformava todos os meus dias, num angustiante martírio. Mais tarde, quando tudo podia ser tão simples e lógico... fui brindada com a mentira! Outro golpe infame. Mais uma provação. De rastos, graças a uma personalidade vincada, consegui a custo reerguer-me. Agora, o desejo de ser tratada condignamente está patente na minha forma de querer que tudo se desenrole como mereço. Não o aceito por menos! E se assim não for... prefiro arrancar o coração a voltar atrás.» (Palavras da autora sobre este seu livro divulgadas pela editora.) Maria de Fátima Soares nasceu em Lisboa, em 1956. Publicou vários livros, de poesia, romance, ficção e infantil. Participou em tertúlias de poesia, vários projectos para que foi convidada, escreve diariamente nos seus blogues e integra novos desafios. Colaborou com a Literarte e a Divulga Escritor e com alguns jornais, onde a sua poesia e contos foram publicados. É membro da Academia de Letras e Artes de Fortaleza, da Academia de Cabo Frio e do Círculo de Escritores de Espanha. Durante breve tempo, presidiu o Núcleo Académico de Artes de Lisboa. Recebeu vários prémios de poesia ao longo do seu trajecto literário. Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores» e «Tempo de Magia». 227
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RAPTO EM LONDRES Na cidade de Londres, uma linda cientista é raptada. O objectivo é o de utilizar os seus conhecimentos de física nuclear, pondo-os ao serviço de uma organização internacional, apostada no fabrico de uma bomba de neutrões. Só a Scotland Yard, com a colaboração de Robert de Sousa – um luso-inglês radicado em Londres – poderão evitar o êxito deste grupo terrorista! Para o conseguirem não se eximem a esforços, chegando a perseguir tenazmente os culpados em dois continentes. Será que vão conseguir os seus intentos?
RAPTO EM LONDRES Autor: Estêvão de Sousa Editora: Edições Hórus Nº de Páginas: 132 páginas 1ª Edição: 2017 ISBN: 978-989-8837-44-8 Depósito Legal: 432240/17 Encomendas: estevaodesousa@hotmail.com www.boa-leitura.simplesite.com Página do Autor: www.facebook.com/francisco.estev aodesousa
As inúmeras e inesperadas situações desenroladas ao longo deste arrebatador thriller fazem com que o leitor se sinta ávido em descobrir o seu desfecho. Estêvão de Sousa nasceu em Lisboa, em 1937. Aposentado, é autor literário de seis obras. Editadas: «Nesta Terra Abençoada», «Tráfico no Rio Geba», «Irina – A Guerrilheira» e «Rapto em Londres». Por editar: «Retalhos de uma Vida» e «Ouro Negro». Tem diversas colaborações em obras colectivas de várias editoras, em Portugal e no Brasil: «A Mulher do Próximo», «Crime Sem Castigo», «Sete Pecados Capitais», «Amar (S)Em Desespero», «Quando o Amor é Cego», «Deitado em Berço Esplêndido», «Obsessões», «Enigmas», «Boas Festas», «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Crimes Sem Rosto», «Devassos no Paraíso», «Os Vigaristas», entre outras.
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“Com este acordo ortográfico, o português europeu está a transformar-se num estranho dialecto, com regras escritas incompreensíveis, que se afastam da sua etimologia e das restantes línguas latinas. Com a agravante de nem sequer haver qualquer uniformização com os outros países de língua portuguesa que ou não aplicam o acordo ou do mesmo resulta que sigam regras diferentes, graças à pronúncia que utilizam. Um bom exemplo disto resulta da recente tradução do livro da escritora argentina María Gainza, que em espanhol se chama “El Nervio Óptico”, mas que no português acordista se transforma em “O Nervo Ótico”. O problema é que sempre se utilizou na língua portuguesa a expressão “ótico” como relativa ao ouvido, reservando-se o termo “óptico” para a visão. Tal é o significado dos respectivos antecedentes gregos “otikos” e “optikos”. O acordo ortográfico aboliu esta distinção essencial, mas apenas no português de Portugal, continuando a distinção a existir no português do Brasil. Será que isto faz algum sentido? E o mesmo sucede com outras palavras como “recepção”, “concepção”, que se conservam sem alterações na ortografia brasileira, mas que na portuguesa passam a “receção” e “conceção”, facilmente confundíveis com “recessão” e “concessão”. Qual a necessidade de abolir a grafia anterior se o que se consegue é criar uma ortografia que ainda mais se diferencia da dos outros países lusófonos? Isto já para não falar da multiplicação dos erros de escrita que o acordo ortográfico causou, com a absurda directriz de querer abolir as consoantes mudas, estando muita gente a abolir consoantes que continuam a pronunciar-se. É assim que já se viu aparecer erros como “fato”, “ineto”, “corruto”, que demonstram bem a falta de critério na abolição das consoantes pretensamente mudas. E por último deveria salientar-se o facto de o acordo ortográfico contribuir para levar à abolição das variantes cultas das palavras e às ligações etimológicas das mesmas. Assim, a expressão culta “ruptura”, mais próxima do latim, foi transformada em “rutura”, esquecendo-se que já existia a variante popular “rotura”. Fala-se em “ótico” para a visão, mas esquece-se que a medição da mesma continua a ser a “optometria”. E os egípcios, pelos vistos, passaram agora a viver no “Egito”, esquecendo-se que a palavra Egipto tem origem no deus Ptah que, que se saiba, ainda não passou a Tah. Com o acordo ortográfico, a língua portuguesa torna-se assim mais pobre e distante das suas raízes, transformando-se num idioma de laboratório.”
Luís Menezes Leitão 27/02/2018, in Jornal i
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REGULAMENTO
SINFONIA DE AMOR Antologia Sui Generis dedicada ao Amor... todas as formas de Amor. Submissão de textos em Prosa e Poesia até 15 de Julho de 2018.
limite para participar é o dia 15 de Julho de 2018. Leia o Regulamento e não hesite em contactar o Coordenador para dissipar qualquer dúvida que possa existir. E bom trabalho!
Depois de um Vendaval de Emoções e de uma Torrente de Paixões, chegou a vez do Amor... todas as formas de Amor nos mais variados géneros literários... para que a primeira antologia Sui Generis a ser organizada em 2018 se possa revelar uma autêntica sinfonia... Uma Sinfonia de Amor. Uma antologia literária sobre o Amor que irá mesclar nas suas páginas contos e poemas de grandes Autores clássicos há muito tempo desaparecidos com os textos seleccionados de Autores emergentes / contemporâneos que submetam os seus trabalhos. Se aprecia o tema do Amor (qualquer forma de Amor) participe neste projecto grandioso! A data
REGULAMENTO | CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO 1. «Sinfonia de Amor» é um projecto literário integrado na Colecção Sui Generis, organizado e coordenado por Isidro Sousa, que visa seleccionar textos em Prosa e Poesia, escritos na Língua Portuguesa, de Autores Lusófonos que residam em qualquer parte do Mundo, inde233
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nica, carta, poesia, prosa poética, etc. Podem apresentar: estórias de amor, cartas de amor, poemas de amor, declarações de amor, etc. Sobre todas as formas de amor: amor romântico, amor sensual, amor fraterno, amor filial. Amor correspondido, amor não correspondido, amor platónico, amor concretizado. Amor na infância, amor na juventude, amor na vida adulta, amor em qualquer idade. Amor entre familiares, amor entre amigos, amor na escola, amor no trabalho. Amor monogâmico ou poliamor. Amor genuíno, amor obsessivo, amor sereno, amor presente, amor distante, amor bandido. Amor entre homens, amor entre mulheres, amor entre homens e mulheres. Qualquer forma de Amor existente entre os seres humanos!
pendentemente das suas raças, crenças, filosofias de vida, orientações sexuais e identidades de género, para serem publicados num livro que deverá ter entre 100 e 300 páginas (mínimo e máximo). Só se aceitam participações que obedeçam a este Regulamento. Não é obrigatório que os textos sejam inéditos e a utilização do actual Acordo Ortográfico é facultativa.
3. Cada Autor pode apresentar 1 (um) texto – em Prosa ou em Poesia – com o mínimo de 1 (uma) e o máximo de 3 (três) páginas A4. Se participar com Poesia, pode apresentar até 3 (ou mais) poemas, desde que o conjunto dos poemas não ultrapasse a totalidade de 3 páginas A4. Pode ser considerada a aceitação de um texto em prosa (conto) que ultrapasse 3 páginas A4, mediante comunicação do Autor e acordo prévio. Os textos, já revisados pelos
2. O tema dos textos é o AMOR, podendo ser estórias fictícias ou textos reais, e o género literário fica ao critério dos Autores: conto, cró234
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Autores, estão sempre sujeitos a uma revisão final efectuada pela Sui Generis. Forma de envio dos textos: por email, em ficheiro Word, com letra Times New Roman, ou Arial, tamanho 12, espaçamento simples entre linhas e parágrafos. Rejeitam-se formatos de apresentação que sejam diferentes do Word.
ganizador reformulará as notas biográficas que ultrapassem o limite de 5 linhas e ignorará qualquer informação pessoal que as mesmas possam conter; privilegiará somente, para efeitos de publicação, descrições, gostos ou hobbies do Autor, ano e local de nascimento, localidade onde reside e respectivas obras publicadas, individuais ou colectivas.
4. Os textos devem ter títulos próprios (diferentes do nome da Antologia) e ser enviados para o email letras.suigeneris@gmail.com, com a referência «SINFONIA DE AMOR» na linha de assunto, até ao dia 15 de Julho de 2018. Os Autores podem assinar os textos com Nome ou Pseudónimo, devem declarar no corpo do email que aceitam as condições do Regulamento (caso contrário, as participações serão desconsideradas) e enviar uma nota biográfica, até 5 linhas, e contacto telefónico. O Or-
5. Cada Autor receberá uma breve comunicação acusando a recepção da sua participação, e a selecção dos textos será efectuada pelo Organizador, sendo o resultado global da selecção divulgado num prazo máximo de duas semanas, após a data limite para recepção dos trabalhos. Não poderá haver mudanças ou correcções após a divulgação dos Autores seleccionados, assim como acréscimo ou remoção de conteúdo, salvo indicação contrária. Todos
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7. Não é solicitado qualquer pagamento como taxa de inscrição para participar nesta Antologia, nem serão ofertados exemplares da mesma, e o Autor participante está ciente de que não receberá valores monetários referentes a direitos de autor – em contrapartida, terá o direito de comprar livros à Sui Generis por preços especiais, em determinados períodos definidos pela Sui Generis, sempre com desconto de 10% sobre o PVP. 8. A selecção do seu texto ou poemas para integrar esta Antologia implica a aquisição de um exemplar da obra finalizada, com o referido desconto sobre o PVP indicado no Ponto 7. Excepção: Autores que participaram nalgum projecto Sui Generis anterior e adquiriram o respectivo livro não têm obrigatoriedade de comprar a obra finalizada. 9. O pagamento do livro só será solicitado quando a sua produção estiver na fase final, mas antes de ser impresso, e deve ser feito até à data especificada pela Sui Generis. Se não recebermos qualquer notificação de um Autor seleccionado em tempo útil, ultrapassada a referida data entenderemos que esse mesmo Autor não teve interesse na sua participação – salvo se esse Autor se enquadrar na “excepção” salvaguardada no Ponto 8.
os textos submetidos serão lidos e avaliados dentro do prazo determinado pela Sui Generis e todos os passos efectuados na produção desta obra colectiva (ou eventuais alterações ao Regulamento) serão sempre comunicados aos Autores. 6. Pretende-se mesclar nas páginas deste livro (na mesma linha do que se fez na antologia Tempo de Magia) um número específico de contos e poemas sobre o Amor de Autores Clássicos que tenham caído no esquecimento, ou sejam menos conhecidos, com os textos dos Autores (contemporâneos) seleccionados. Desse modo, cada Autor participante pode sugerir, para posterior selecção – se desejar fazê-lo, junto com o envio dos seus trabalhos – um conto ou um poema de um Autor Clássico lusófono, ou do seu Autor/a preferido/a, desde que esses textos se encontrem em domínio público.
10. O PVP (preço de venda ao público) da Antologia será definido após a paginação do livro, tendo em conta o número de páginas da obra a ser editada. 11. Autores participantes em «Sinfonia de Amor» podem adquirir quantos exemplares pretenderem, sempre com desconto de 10% sobre o PVP, desde que os mesmos sejam adquiridos directamente à Sui Generis. 12. O livro estará à venda na livraria online Euedito e será enviado para várias plataformas de distribuição digital (Amazon, Ingram, Kalaiki, 236
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Fnac, Libros.cc e Arnoia), através das quais poderá também ser adquirido, após a aprovação das mesmas. Exemplares adquiridos na livraria online Euedito e noutras plataformas digitais não usufruem do desconto de 10% sobre o PVP nem de qualquer outra promoção feita pela Sui Generis.
to de 10% nos exemplares desta obra colectiva que os Autores possam querer adquirir, conforme especificado no Ponto 11. 14. «Sinfonia de Amor» é uma Antologia Sui Generis, integrada na Colecção Sui Generis (fundada e dirigida por Isidro Sousa), e será publicada com a chancela Euedito. As Antologias Sui Generis, representadas pelo Organizador, e a editora Euedito não reservam a exclusividade ou os direitos dos trabalhos editados. Após a edição do livro, cada Autor pode utilizar livremente os seus textos noutras publicações que considere importantes.
13. O envio de qualquer texto para o email indicado no Ponto 4 implica (automaticamente) a aceitação de todas as normas deste Regulamento e a autorização dos direitos de publicação na antologia «Sinfonia de Amor», sem qualquer outra contrapartida além do descon-
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15. Se porventura se verificar algum tipo de infracção na originalidade, autenticidade e autoria de um texto apresentado, será da exclusiva responsabilidade do respectivo Autor, ficando o Organizador e a Editora isentos de qualquer responsabilidade legal sobre a infracção cometida – nesse caso, o Autor em questão responderá perante a Lei por plágio, cópia indevida ou outro crime relacionado com direitos de autor.
Desde já, estão todos convidados a participar nesta Antologia. Esperamos os vossos textos... Prosa ou Poesia... plenos de Amor. Sejam bemvindos... e bom trabalho!
16. Recomenda-se que os Autores se mantenham atentos ao grupo «Sinfonia de Amor» no Facebook; através deste grupo, o Organizador estará em contacto permanente com os Autores participantes. Podem também seguir o Blogue e as Páginas abaixo indicados. Para esclarecimento de dúvidas ou informações adicionais, devem contactar por email.
Email: letras.suigeneris@gmail.com
*** SINFONIA DE AMOR Organização e Coordenação: Isidro Sousa Colecção Sui Generis
Internet: Blogue – http://letras-suigeneris.blogspot.pt Livraria – http://www.euedito.com/suigeneris Página – https://www.issuu.com/sui.generis
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LIVROS SUI GENERIS Ã&#x20AC; venda em http://www.euedito.com/suigeneris Leituras gratuitas em https://issuu.com/sui.generis
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LIVROS SUI GENERIS
PRÓXIMAS EDIÇÕES Novas antologias a serem publicadas nos próximos meses
A Sui Generis está a preparar o lançamento de novas obras colectivas. Três antologias lusófonas organizadas por Isidro Sousa para a Colecção Sui Generis: «Anjos & Demónios», «A Bíblia dos Pecadores – Os Três Testamentos» e «Filhos de Um Deus Menor». As respectivas capas serão brevemente divulgadas e prevê-se que a publicação destes três novos livros ocorra entre os meses de Junho e Agosto deste ano. Na próxima edição, divulgaremos informações mais concretas sobre cada um destes livros, que ficarão disponíveis para venda na livraria Euedito e em várias plataformas de distribuição digital, entre elas a Libros.cc e a Amazon. 241
Everton Medeiros (na foto com Sandra Boveto) é co-autor de Graças a Deus!, Sexta-Feira 13, Fúria de Viver, Tempo de Magia, Devassos no Paraíso e Os Vigaristas
Jonnata Henrique é coautor de A Bíblia dos Pecadores, O Beijo do Vampiro, Vendaval de Emoções, Graças a Deus!, Ninguém Leva a Mal, Saloios & Caipiras, Torrente de Paixões, SextaFeira 13, Fúria de Viver, Os Vigaristas e Devassos no Paraíso
Carla Santos Ramada ĂŠ co-autora de Saloios & Caipiras, FĂşria de Viver e Tempo de Magia
Ana Campos ĂŠ co-autora de FĂşria de Viver, Crimes Sem Rosto e A Primavera dos Sorrisos
Isidro Sousa é co-autor de A Bíblia dos Pecadores, O Beijo do Vampiro, Vendaval de Emoções, Graças a Deus!, Ninguém Leva a Mal, Saloios & Caipiras, Torrente de Paixões, Sexta-Feira 13, Fúria de Viver, Crimes Sem Rosto, A Primavera dos Sorrisos, Tempo de Magia, Devassos no Paraíso e Os Vigaristas
Litas Ricardo ĂŠ co-autora de Tempo de Magia
José António Loyola Fogueira é co-autor de Ninguém Leva a Mal e A Primavera dos Sorrisos
Angelina Violante é co-autora de A Bíblia dos Pecadores, O Beijo do Vampiro, Vendaval de Emoções, Graças a Deus!, Ninguém Leva a Mal, Saloios & Caipiras, Torrente de Paixões, Sexta-Feira 13, Crimes Sem Rosto, Fúria de Viver, A Primavera dos Sorrisos, Tempo de Magia e Os Vigaristas
Diamantino Bártolo é co-autor de Graças a Deus!, Saloios & Caipiras, A Primavera dos Sorrisos, Fúria de Viver, Tempo de Magia, Devassos no Paraíso e Os Vigaristas
Paula Homem é co-autora de A Bíblia dos Pecadores, Graças a Deus! e Sexta-Feira 13
Rosa Marques é co-autora de A Bíblia dos Pecadores, O Beijo do Vampiro, Vendaval de Emoções, Graças a Deus!, Ninguém Leva a Mal, Saloios & Caipiras, Torrente de Paixões, Sexta-Feira 13, Fúria de Viver, A Primavera dos Sorrisos, Tempo de Magia, Devassos no Paraíso e Os Vigaristas
Madalena Cordeiro é co-autora de Graças a Deus!, Torrente de Paixões, Fúria de Viver, Tempo de Magia e Os Vigaristas