DELIGHT fanzine curated by Ricardo Cruz aka SUNNY
FLASH INTERVIEW
“To achieve our profession or anything that we want to accomplish, we need to be open to go out of our conforte zone. To be open and vulnerable to the world, is the only way to receive all its gifts.� FILIPA MENDES Biologist and Ecologist Wildlife researcher
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Bedside
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Luiz Henrique
Barra Limpa
1967
Vinicius de Moraes dizia que existia um “génio internacional” neste “manezinho da ilha”, e não se enganou. Luiz Henrique Rosa partiu em 1965 para os EUA, morou com Hermeto Pascoal, conviveu com João Gilberto e tornou-se íntimo de Liza Minelli. Em 1967 (ano da mítica edição do Festival de MPB do Brasil, relatado no documentário “Uma noite em 67”), Luiz Henrique toca no Festival de Jazz de Newport (pesquisem no youtube “The Five Faces of Jazz") e lança “Barra Limpa”, pela Verve. Das 11 faixas, 4 são versões de clássicos, incluindo uma “Vivo Sonhando” acelerada e uma “Mas Que Nada” tão densa que parece um afrosamba. Nas originais, algumas com co-autoria de Oscar Brown Jr., Luiz Henrique canta em português e inglês, ou combina monssílabos e dissílabos, como na “A Waltz For Diane”. Os diálogos musicais com o acordeão trauteado de Sivuca são deliciosos. Ouçam o álbum numa aparelhagem stereo (ou com uns bons headphones) e atentem na forma como este álbum está gravado. O baixo e a
bateria quase sempre do lado direito, Sivuca e o piano do lado esquerdo, e Luiz Henrique ao centro. Volta e meia vão trocando, como em “If you want to be alover” (“a jazz waltz in three-quarter time”), onde a guitarra varia para o flanco esquerdo, deixando o centro para o piano. Reparem se a “I Know You Go For Me” não caberia perfeitamente num filme do Jacqes Tati. Acho que a “Minha Lagoa” tinha ficado bem como musica final do álbum, ou Luiz Henrique não tivesse voltado para a sua querida ilha poucos anos mais tarde, onde acabou por falecer, apenas com 46 anos. O projeto da capa de “Barra Limpa” é assinado por Acy R. Lehman, co-autor de Andy Warhol no artwork de “The Velvet Underground & Nico” (o da famosa Banana na capa, que na edição original podia ser “descascada”). Outra curiosidade é a presença do diretor de engenharia de som Val Valentim, cujo nome surge associado a álbuns como “Ella and Louis” e “Getz/Gilberto”. por Indivíduo | projectoindividuo@gmail.com
Path to Desire
EP a ser editado em breve pela Way Out Records
Interpretação da paisagem sonora por João Morado
A experiência era subjectiva e os objectos criados consoante a necessidade. A distinção entre o mundo físico e o mundo das ideias era unicamente temporal: assim que um objecto era imaginado, logo a sua criação se materializava, sem que houvesse forma de controlar o seu aparecimento. A destruição de criações perigosas e indesejáveis à sociedade era assumida, desde que havia registos, por uma organização chamada Larom, encarregada de exercer normativas secretas que definiam as medidas de profilaxia do pensamento. Em Onov, todos os membros da sociedade, desde que nasciam, a elas eram sujeitas, sendo que uma formatação especial do fluxo de consciência era feito a membros da Larom, a fim de permitir que estes tivessem a capacidade de identificar os chamados “pensamentos desviantes”. Porém, contrastando com outros universos distópicos onde o controlo das ideias era um postulado para o controlo dos indivíduos, em Onov a prevenção do aparecimento de ideias desviantes era feita com o objectivo de limitar danos a “O bem maior”. O bem maior - assim se chamava a religião de Onov - era uma forma de imaginação colectiva partilhada por todos os seus cidadãos e que servia como um guia prático e espiritual. A população estava inquieta e isto verificava-se pela quantidade de objectos estranhos que tinham aparecido em diferentes cidades. Tinha já sido confiscado e destruído um chapéu que, quando usado, introduzia aleatoriedade no pensamento, o que tinha levado ao aparecimento de vários objectos excêntricos e bizarros. Havia, no entanto, um rumor que circulava há várias semanas e que dava conta de que, algures na pequena cidade de Esed, uma criança, que por assim o ser estava mais propícia a tais acontecimentos, chamada Oj, tinha imaginado um portal que unia Onov a Dlo. Dlo era uma cidade mitológica da antiguidade, conhecida pois a sua história estava inscrita no livro d’O bem maior, a maior referência literária de Onov. Em Dlo, diziam os estudiosos, era possível pensar de uma forma distinta. Para investigar a veracidade da existência de tal portal, tinha sido destacada uma equipa especial da Larom, liderada por Tango. Assim que chegaram a casa de Oj, depararam-se com um belo quadro na sala de Oj. Acidentalmente, Tango tocou ao de leve no quadro, sendo imediatamente transferido para um local exótico, que prontamente assumiu tratar-se de Dlo. Curioso, deambulou pelas ruas, observou os seus habitantes e as suas interacções. Deparou-se com uma sociedade que pensava por prazer e onde a imaginação não se subjugava ao utilitarismo – esta era, sim, a força motriz do progresso, um acto de liberdade individual, algo visceral e útil em si mesmo. Consternado, Tango pensou: qual é, então, o valor da imaginação se esta nem sempre se projecta no mundo físico? Quais são as consequências de permitir que tudo seja imaginado e que, portanto, tudo tenha, por princípio, o mesmo valor? Quais são os critérios usados para seleccionar e atribuir valor às ideias que surgem quando a própria definição de um critério é dificultada pela não finitude das suas possibilidades? Para Tango, a infinidade de possibilidades tornava a imaginação estéril – tudo era risível se tudo fosse possível.
#3 Ninjah João José Indivíduo Joana Amorim Zalez Caroline Pires José Valente Lírio Ana Miguel Santos João Morado - Way Out Records Pedro Rolo