100 ANOS DE hISTóRIA, TRADIçãO E AMIzADE ouro Preto - minas Gerais
Leonardo Corrêa Bomfim
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m 12 de outubro de 2019, a república estudantil ouro-pretana Castelo dos
Nobres – juntamente ao 143º aniversário da Escola de Minas, aos 180 anos da Escola de Farmácia e ao Cinquentenário da UFOP – comemora o Centenário de sua fundação. A celebração dessa data carrega grande relevância histórica, devido ao fato de essa instituição ser a moradia estudantil em funcionamento mais antiga do Brasil e, até onde se tem informações, da América Latina. Nesse sentido, o presente livro foi redigido em comemoração a esse marco histórico de resistência estudantil, que, apesar de todas as dificuldades na manutenção de uma educação pública, gratuita e de qualidade, insiste em permanecer em pé sobre as imbricadas e tortuosas linhas do tempo da história. O intuito desta publicação busca exceder aspectos históricos, trazendo em seu conteúdo narrativas sobre vivências cotidianas, sociabilidades, identidades, afetividades e relações comunitárias e de pertencimento ocorridas nesta moradia estudantil. Sendo assim, entende-se que estes escritos trazem contribuições para o campo da história, educação, sociologia, antropologia, literatura e música. Inserida nesses diálogos transdisciplinares, esta pesquisa também aborda as trajetórias e transformações de instituições educacionais centenárias, como a Escola de Farmácia (1839) e a Escola de Minas (1876), que desencadearam o surgimento da UFOP (1969) e se caracterizam como elementos de grande relevância na constituição da própria cidade de Ouro Preto. Vida longa à Castelo dos Nobres! Viva a Escola de Minas, a Escola de Farmácia, a UFOP e... Viva o Centenário! 228
100 anos de história, tradição e amizade Ouro Preto - Minas Gerais
Leonardo Corrêa Bomfim
EDIÇÃO DO AUTOR 2019
Aquarela de Antonio Marcos de Paula (Tunico dos Telhados)
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“Cum Mente et Malleo et Nobilitas”
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república castelo dos nobres 100 anos Copyright © 2019 República Castelo dos Nobres 100 Anos de História, Tradição e Amizade Todos os direitos reservados.
Texto e Entrevistas: Leonardo Corrêa Bomfim Pesquisa histórica e iconografia: Leonardo Corrêa Bomfim Revisão: Andiara Souza Pinheiro Projeto gráfico e diagramação: Sylvia Vartuli Capa: Sylvia Vartuli sobre ilustraçÕES de Antonio Marcos de Paula (CASA em MARCA D’ÁGUA ) e DE BEATRIZ AGUIAR (ÍCONE DA CASA DA CASTELO ATUAL)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Agência Brasileira do ISBN - Bibliotecária Priscila Pena Machado CRB-7/6971
B695 Bomfim, Leonardo Corrêa . República Castelo dos Nobres : 100 anos de história, tradição e amizade / Leonardo Corrêa Bomfim . — Ouro Preto : Edição do autor, 2019. 224 p. : il. ; 21 x 29,7 cm. “100 anos : 1919-2019” Inclui bibliografia. ISBN 978-65-901349-0-5 1. República Castelo dos Nobres - História . 2 . Estudantes universitários - Habitações - História Ouro Preto (MG) . 3 . Educação e cultura . I . Título . CDD 378 . 8151
Todas as citações deste livro foram utilizadas de forma literal. Nas transcrições de entrevistas foi mantida a oralidade dos interlocutores. Esta publicação possui fotografias de várias épocas e qualidades diversas. Apesar dos esforços no tratamento dessas imagens, algumas apresentam baixa qualidade e deterioração, no entanto, foram mantidas pelo autor e pela designer devido a seu valor histórico e memorialista. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito, poderá ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios que possam ser empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação etc.
Realização:
patrocínio:
Quando utilizo o termo “nobre” neste livro, não me refiro unicamente a um adjetivo que revela um caráter ilustre e generoso de determinado indivíduo. Refiro-me a um substantivo, um posto, uma posição conquistada com muito esforço por todos aqueles que moram e, como ex-alunos, formaram-se nesta república, responsáveis por erigir mais um degrau, e escrever mais uma página da grandiosa história da Castelo dos Nobres em seu Centenário. No segundo semestre deste ano, especificamente em 12 de outubro de 2019, a república estudantil ouro-pretana Castelo dos Nobres – juntamente ao 143º aniversário da Escola de Minas, aos 180 anos da Escola de Farmácia e o Cinquentenário da UFOP – comemora o Centenário de sua fundação. A celebração desta data carrega grande relevância histórica, devido ao fato de esta instituição ser a moradia estudantil, em funcionamento, mais antiga do Brasil e, até onde se tem informações, da América Latina. Foram diversas e notáveis as personalidades construídas e abrigadas nesta casa e inenarráveis as experiências aqui vivenciadas ao longo desses 100 anos de idade. A longeva república, apesar de ainda jovem em espírito, comemora este ano seu Jubileu de Jequitibá e, inspirada nesta referência, que a Fortaleza dos Nobres permaneça, assim como essa anciã árvore, firme em suas raízes, estruturada em seu caule, mas sempre, do alto de sua copa, em contato com o céu. De modo que as tradições nunca sejam um impeditivo para o avanço e desenvolvimento de seu ideário. Nesse sentido, o presente livro foi redigido em comemoração a este marco histórico de resistência estudantil que, apesar de todas as dificuldades e inúmeras crises na Educação, insiste em permanecer em pé sobre as imbricadas e tortuosas linhas do tempo da história. Consonantes à composição deste barroco cenário mineiro, as trajetórias destas repúblicas federais também foram marcadas por inúmeros episódios de luta, reivindicações por direitos, manifestações, casos de ocupações, invasões de casas, ou ainda, negociações que resultaram em concessões e doações. A relevância deste projeto também está situada no valor memorialista deste documento impresso – que apesar dos esforços de alguns pesquisadores, ainda preservam lacunas históricas – para a construção de conhecimento sobre a República Castelo dos Nobres, assim como sobre as Repúblicas Federais de Ouro Preto. Sendo muitas dessas residências patrimônio da União e, grande parte dessas habitações, tombadas pelo patrimônio histórico da cidade (IPHAN). O processo de construção deste livro foi concebido a partir da pesquisa e leitura de livros, teses, dissertações, artigos e pesquisas acadêmicas em geral, jornais antigos, filmes, documentários, reportagens, livros e atas de reunião, livros de contas da república, álbuns de fotografias, documentos, depoimentos, questionários respondidos, entrevistas, dossiês das repúblicas, conversas ao telefone e materiais enviados por whats app. Entre os que contribuíram para a obtenção desses materiais estão ex-alunos e moradores da Castelo e de outras repúblicas, familiares, vizinhos, amigos, pesquisadores e funcionários de acervos e museus. 19
Além disso, o significado e intuito deste projeto visa superar parâmetros históricos, trazendo em seu conteúdo narrativas sobre vivências cotidianas, sociabilidades, identidades, afetividades e relações comunitárias e de pertencimento ocorridas no interior e relacionadas à moradia estudantil. Dessa maneira, entende-se que tais escritos trazem contribuições para o campo da história, mas também sociologia, antropologia, literatura e música. Inserida nestes diálogos transdisciplinares, esta pesquisa também aborda tangencialmente as trajetórias e transformações de instituições centenárias, como a Escola de Farmácia (1839) e a Escola de Minas (1876), que desencadearam o surgimento da UFOP (1969) e se caracterizam como elementos de grande relevância na constituição da própria cidade de Ouro Preto. Em seus capítulos foram abordados, na primeira parte, um breve histórico de Ouro Preto, marcado por disputas, rebeliões, traições, poder, a coexistência da pobreza e de enormes riquezas, mas também de marcos educacionais no país, como a fundação das referidas Escolas. Em torno dessas instituições, também surgiram organizações estudantis, centros e diretórios acadêmicos, juntamente às primeiras repúblicas, que ficaram marcadas na história ouro-pretana. A segunda parte destes escritos foi direcionada à memorável Castelo dos Nobres – em posicionamentos, por vezes, assumidamente saudosistas, sem se eximir ainda de um olhar mais crítico. Destaco sua trajetória na cidade e casas de Ouro Preto, os “causos” de seus ex-moradores, os “bixos” e suas “batalhas de vaga”, carnavais, “rocks”, dozes de outubro, festivais de inverno, castelões e campeonatos de futebol, seu ativismo político, seus vizinhos do bairro Antônio Dias, suas comadres, seu ideário e, por fim, seus ex-alunos. Paralelamente ao livro também está sendo elaborado um acervo histórico físico (fotografias, depoimentos e documentos), que permanecerá na república, e um documentário, que será lançado após o Centenário. O intuito da produção desse registro é de complementar, em linguagem audiovisual, o conteúdo do livro, apontando depoimentos marcantes, imagens da república, festas, apresentações musicais, campeonatos de futebol no Castelão, ilustrando as informações por meio de recursos fílmicos. Concomitante ao levantamento histórico e pesquisas para a escrita do livro, foram encontrados antigos ex-moradores da Castelo que ainda não possuem quadros com suas fotografias de formatura nas paredes da república, visto que esta moradia estudantil é anterior à tradição de inauguração de “quadrinhos” nesses locais. Dessa forma, foi iniciado um processo de resgate, por iniciativa de alguns ex-alunos e atuais moradores, e de inauguração de quadrinhos, ainda que póstumos, homenageando seus ex-alunos da Escola de Minas e de Farmácia, totalizando dezoito inaugurações. Nesse raro lugar em que presente e passado se confundem, e onde a juventude e antiguidade, distância e proximidade, partida e retorno se fundem, agradeço à Castelo dos Nobres, moradores, ex-alunos, amigos e familiares, por confiarem a mim uma tarefa de tamanha responsabilidade, tão árdua, mas também tão prazerosa, de escrever nossa história, nossas histórias, nossos “causos”, e de conhecer ainda mais sobre Ouro Preto e sobre a república estudantil mais antiga do Brasil! Vida longa à Castelo dos Nobres! Viva a Escola de Minas, a Escola de Farmácia, a UFOP e... Viva o Centenário! 20
VISTA PARCIAL DA PRAÇA TIRADENTES E DA ESCOLA DE MINAS, 1922 - Fonte: arquivo Público Mineiro.
Sumário
PARTE 1
Prefácio
16
Introdução
18
Ouro Preto Breve história de Ouro Preto
23
A Escola de Farmácia
26
A Escola de Minas
30
O CAEM e o REMOP
36
As repúblicas e moradias estudantis
44
PARTE 2
Castelo dos Nobres As casas
56
“Os causos”
74
“Bixos”, batalha de vagas e “miss-bixo”
92
Formaturas e inauguração de quadrinhos 104 Moradores e amigos de outras as épocas
112
O Doze de Outubro
118
Castelão e o futebol arte
126
Nobreza e política
138
De outros carnavais e blocos
144
Obras e reformas estruturais
156
As “rezas de cachaça”, hinos e poesias
164
“Comadres e compadre”
170
A vizinhança
178
Arte, música, “rocks” e festivais
184
Moradores no Centenário (2019)
194
O nobre ideário
196
Ex-alunos: na parede da memória
202
bibliografia
218 15
Introdução
Ilustração Bico de Pena de Nobres Cavaleiros Medievais.
Fonte: Medieval & Renaissance Art Ed. Taschen, 2017
R
eescrever um século de história, definitivamente, não é um trabalho simples. E esta árdua escrita se torna ainda mais complexa quando envolve tamanho
afeto, inúmeras memórias e um grande orgulho de ter habitado uma casa tão sin-
gular. Sim, faço uso aqui do termo casa, pois estou certo de que todos que passaram por este lugar, aqui deixaram um pouco de si, do que foi, do que é e carregam, ainda hoje, muito do que aprenderam e vivenciaram nesse período de formação. São incontáveis histórias – no plural e com “h” –, em razão de que, mais do que apenas obsoletas “estórias”, as primeiras são também construídas no fazer cotidiano, no olhar individual, no viver experiencial, na coletividade e na oralidade. Além dessa natureza múltipla, provavelmente, muitas destas histórias acompanharão toda nossa existência, sendo recriadas e aprimoradas a cada narrativa e rememoração. Tais lembranças, envolvendo fortes laços de amizade, companheirismo, amores, aventuras e aprendizados, foram ainda responsáveis por forjar o caráter e a identidade de cada um destes nobres cidadãos. 18
Quando utilizo o termo “nobre” neste livro, não me refiro unicamente a um adjetivo que revela um caráter ilustre e generoso de determinado indivíduo. Refiro-me a um substantivo, um posto, uma posição conquistada com muito esforço por todos aqueles que moram e, como ex-alunos, formaram-se nesta república, responsáveis por erigir mais um degrau, e escrever mais uma página da grandiosa história da Castelo dos Nobres em seu Centenário. No segundo semestre deste ano, especificamente em 12 de outubro de 2019, a república estudantil ouro-pretana Castelo dos Nobres – juntamente ao 143º aniversário da Escola de Minas, aos 180 anos da Escola de Farmácia e o Cinquentenário da UFOP – comemora o Centenário de sua fundação. A celebração desta data carrega grande relevância histórica, devido ao fato de esta instituição ser a moradia estudantil, em funcionamento, mais antiga do Brasil e, até onde se tem informações, da América Latina. Foram diversas e notáveis as personalidades construídas e abrigadas nesta casa e inenarráveis as experiências aqui vivenciadas ao longo desses 100 anos de idade. A longeva república, apesar de ainda jovem em espírito, comemora este ano seu Jubileu de Jequitibá e, inspirada nesta referência, que a Fortaleza dos Nobres permaneça, assim como essa anciã árvore, firme em suas raízes, estruturada em seu caule, mas sempre, do alto de sua copa, em contato com o céu. De modo que as tradições nunca sejam um impeditivo para o avanço e desenvolvimento de seu ideário. Nesse sentido, o presente livro foi redigido em comemoração a este marco histórico de resistência estudantil que, apesar de todas as dificuldades e inúmeras crises na Educação, insiste em permanecer em pé sobre as imbricadas e tortuosas linhas do tempo da história. Consonantes à composição deste barroco cenário mineiro, as trajetórias destas repúblicas federais também foram marcadas por inúmeros episódios de luta, reivindicações por direitos, manifestações, casos de ocupações, invasões de casas, ou ainda, negociações que resultaram em concessões e doações. A relevância deste projeto também está situada no valor memorialista deste documento impresso – que apesar dos esforços de alguns pesquisadores, ainda preservam lacunas históricas – para a construção de conhecimento sobre a República Castelo dos Nobres, assim como sobre as Repúblicas Federais de Ouro Preto. Sendo muitas dessas residências patrimônio da União e, grande parte dessas habitações, tombadas pelo patrimônio histórico da cidade (IPHAN). O processo de construção deste livro foi concebido a partir da pesquisa e leitura de livros, teses, dissertações, artigos e pesquisas acadêmicas em geral, jornais antigos, filmes, documentários, reportagens, livros e atas de reunião, livros de contas da república, álbuns de fotografias, documentos, depoimentos, questionários respondidos, entrevistas, dossiês das repúblicas, conversas ao telefone e materiais enviados por whats app. Entre os que contribuíram para a obtenção desses materiais estão ex-alunos e moradores da Castelo e de outras repúblicas, familiares, vizinhos, amigos, pesquisadores e funcionários de acervos e museus. 19
PARTE 1
Ouro Preto
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Breve história de Ouro Preto Incrustada nas rochosas e escarpadas montanhas da Serra do Espinhaço, talvez a mais preciosa joia extraída em toda a sua história seja a própria cidade de Ouro Preto. Reconhecida internacionalmente por sua arquitetura colonial e por inestimáveis obras e construções no estilo Barroco e Rococó, foi a primeira cidade a ser declarada Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, em 1980, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (GLOBO MINAS, 2013). Localizada a cerca de cem quilômetros da atual capital do estado de Minas Acima: Chafariz
Gerais, Belo Horizonte, e com uma população de aproximadamente 74 mil
do Passo de
habitantes, o histórico município possui como ponto mais alto da cidade o Pico do
Antônio Dias
Itacolomi. O termo possui origem Tupi, em que ita (pedra) e kunumi (menino)
Foto: Sylvia
significam o “filho ou o menino de pedra” (GLOSSÁRIO TUPI GUARANI, 2016). Esse
vartuli
afloramento foi um ponto de referência para os bandeirantes que buscavam ouro e pedras preciosas, ao adentrarem no “Sertão dos Cataguases”, ou dos “Cataguás”
página Ao lado: VISTA PARCIAL
– como eram conhecidos os indígenas que foram dizimados e escravizados pelos exploradores Fernão Dias e Lourenço Taques – no final do século XVII.
DA CIDADE DE
Ainda nesse século, em 1698, a bandeira chefiada por Antônio Dias chega a
OURO PRETO (MG),
Ouro Preto e constitui o povoado do Vale do Tripuí, que, em três décadas, já abrigava
ENTRE 1880 E 1920
cerca de 40 mil pessoas trabalhando com mineração do ouro. Esse agrupamento
FONTE:
foi também denominado arraial do Padre Faria, em virtude da atuação do ecle-
ARQUIVO Público
siástico João de Faria Fialho, e, posteriormente, com a junção de vários arraiais,
mineiro - Imagem
dos quais tornou-se sede, ascendeu à categoria de vila em 1711, com o nome de Vila
de autoria
Rica. De forma que, em 1720, foi elencada para ser capital da recente capitania de
desconhecida
Minas Gerais (RIGHI, 2012). Em um cenário de precariedade de suprimentos alimentícios na região, o início do século XVIII também foi marcado pela Guerra dos Emboabas, travada em 1708 entre paulistas – que haviam descoberto e controlavam a maior parte da exploração aurífera – e os “emboabas”, grupo heterogêneo de portugueses e migrantes de outras regiões do Brasil, pelo direito de exploração das recém-descobertas jazidas. Desde a década de 1720, a insatisfação com a exploração da Coroa portuguesa já apresentava sintomas, sobretudo em relação às abusivas cobranças das casas de fundição e centros de tributação que recolhiam o Quinto, isto é, vinte por cento da extração de ouro de cada minerador. Esta conjuntura política e econômica indignou parte da população e culminou na chamada Revolta de Vila Rica, ou Revolta de Filipe dos Santos, um dos líderes que, ao ser derrotado pelos portugueses, foi condenado à morte por enforcamento e esquartejado (CALMON, 1959). 23
PARTE 2
Castelo dos Nobres
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Cartão de Boas Festas da República Humaytá e Castello dos Nobres (1927)40
40 - Aparentemente, esse cartão foi encontrado pelo Professor de Geologia José Davi Cabral (Zé Davi), ex-aluno da República Vaticano – formado em 1974 – que o entregou, décadas posteriores, ao ex-morador “Kuñado” da Castelo dos Nobres.
62
Esse cartão, assinado pelos “amados meninos da ‘Humaytá’” e pelos moradores da “Castello dos Nobres”, ao mesmo tempo em que desejava boas festas aos habitantes de Ouro Preto, também, de forma humorada, amistosa e rimada, pedia comes e bebes (licores, cerveja ou anis) para as ditas “conçoadas” (ou consoadas), atualmente denominadas ceias de natal e ano novo. Estabelecemos contato com os filhos de um dos moradores desta época, Alderico Rodrigues de Paula, ex-aluno da Escola de Minas, formado em 1932, que nos confirmaram que seu pai havia morado na Castelo dos Nobres, inclusive, nesta mesma casa localizada no bairro das Lajes. Nessa época do ano, esta prática de pedir contribuições para a ceia era bastante comum entre os estudantes, como enfatiza o ex-aluno Moacyr Lisboa, em depoimento concedido a Otávio Machado: O ano letivo da Escola iniciava-se a 15 de setembro e terminava em fins de junho. Durante as festas do Natal tôdas as Repúblicas recebiam consoadas de famílias de Ouro Prêto. Muitos moços desfrutavam da amizade das famílias que os recebiam com aquêle acolhimento hospitaleiro e tradicional de Ouro Prêto. Talvez por isto, apesar do ambiente sempre pacato da cidade, é que os moços eram mais bem humorados e faziam questão de cumprimentar cordialmente às pessoas conhecidas e todos recebiam com esportividade as suas brincadeiras quase sempre de muita originalidade e espírito. (MACHADO, 2013d, p. 23-24).
Apesar da idade avançada de 88 anos, e do falecimento no mesmo ano em que concedeu esta entrevista, o professor Krüger relembrava com vivacidade, bom humor e precisão as datas e as histórias do antigo Castelo dos Nobres, e deu continuidade à sua fala indicando as casas que abrigaram a república: Aí, lá pelo ano de 1934, nós mudamos em 1935. [...] Nós mudamos dali pra esquina da Rua dos Paulistas com a Rua das Lajes. Onde morou o Moacyr Lisboa. Moacyr Lisboa era nosso colega. Morou na república também, mas não ali, ele mudou pra cá embaixo. Agora, a sogra dele era dona dessa outra casa, e quando ele casou, então, ela deu pra ele a casa. E ele mudou pra lá e aí nós tivemos que sair. E mudamos lá pra onde é a Hospício hoje. E da Hospício é que nós fomos pra onde está [R. Bernardo Vasconcelos, 91]. Porque aquela casa foi comprada e consertada pela Escola e sortearam e saiu Castelo. Então o Castelo foi pra lá e o Hospício foi pra lá. Ali naquela pracinha. [...] A Escola de Minas comprava os prédios, arrumava direitinho. E depois sorteava às repúblicas que queriam mudar. Aí, ia pra um, ia pra outro. [...] A casa da Canaan, por exemplo, foi pra lá sorteada. Praticamente todas as repúblicas que existiam em Ouro Preto se formaram desse jeito. [...] A capital mudou em 1897 e não repovoou Ouro Preto. Ficou vazio, muito tempo. Quando eu cheguei aqui, Ouro Preto tinha cinco mil habitantes. (ENTREVISTA W. J. KRÜGER, 2004).
A narrativa de Krüger foi corroborada por outros ex-alunos, livros, fotografias e documentos. Partindo do bairro das Lajes, a república se mudou para a Rua Camillo de Brito, nº 2 – esquina com a “Rua das Lajes” (R. Conselheiro Quintiliano) – permanecendo no local até 1947: 63
No final desse ano, como informou o engenheiro e ex-morador Aloysio Sá Freire de Lima – formado em 1948 na Escola de Minas –, a república se deslocou para o Bairro Antônio Dias, na Rua Felipe dos Santos, nº 1, onde se localiza atualmente a República Hospício: Sacada da Castelo dos Nobres na Rua Camilo de Brito em 22 de abril de 1942. Da esquerda para a direita: Antônio Geraldo de Pádua, [não identificado], Wilson de Pádua Paula (Eng. Minas e Civil, 1944) e José Benedito de Pádua (Farmácia, 1946). (SEMOP BH, 2008).
Quando eu estava no quarto ano da Escola, ele foi promovido e veio pra Belo Horizonte, meu pai, eu então mudei pro Castelo dos Nobres. Foi quando eu fui pro Castelo dos Nobres, em 1946. Então, na realidade, eu vivi na Castelo dos Nobres uma parte em 1946, um meio de 1946, 1947 e 1948. Fazendo quarto ano, quinto ano e sexto ano. No Castelo dos Nobres, nessa ocasião, quando eu fui já tinham dois colegas de turma meus, que era o Evandro Caetano de Lima e o José Campos Machado Alvim. Esses dois, nós estávamos no quarto ano, nessa ocasião, e formamos, todos formamos em 1948. Tinha um outro vizinho. A Castelo dos Nobres, nessa ocasião, ela funcionava na Rua Camillo de Brito, 2. Você sabe qual é a Rua Camillo de Brito? A Camillo de Brito é a casa que, depois... uma referência melhor. Quando o proprietário pediu a casa pra república, porque ele ia reformar pra morar – que havia me dito o Prof. Moacyr Lisboa. Então o Prof. Moacyr Lisboa, reformou a casa e mudouse pra lá e foi ali onde ele morou a vida dele toda lá. [...] E então, a casa que nós morávamos era a Camillo de Brito, 2, e a vizinha dela, acho que era a número 4, se não me engano, porque acho que eram números pares de um lado e números ímpares do outro lado. A número 2 era a Castelo dos Nobres. A primeira era a Castelo dos Nobres. A 4 era a República Pureza. [...] A entrada que nós entrávamos era pela Rua das Lajes. A casa era de esquina, então, em vez de nós entrarmos pela frente, descer e pegar a escada. A gente entrava pela cozinha [...] E aí nós mudamos, quando estávamos no sexto ano da Escola, começando, praticamente na ocasião de Natal, em 1947. Começamos a procurar casa e fomos morar numa rua, atrás da Igreja Nossa Senhora da Conceição no Antônio Dias. Era na Rua Felipe dos Santos, 1. (ENTREVISTA ALOYSIO SÁ, 2008).
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Essa narrativa também é reforçada no livro Histórias de Ouro Preto, de uma certa república de estudantes e...41 (1999), quando a autora, Maria do Carmo Lima de Rezende – esposa do ex-aluno Newton Pereira de Rezende, formado em 1948 pela Escola de Minas e ex-morador da República Pureza – afirmou: Os moradores da Pureza passaram a tomar as refeições na república Castelo dos Nobres, situada na rua Camilo de Brito Nº 1. Ali o cozinheiro Zé Fumaça lhes proporcionava bom passadio, completado pela deliciosa e inesquecível torta de bananas. Estabeleceram um bom relacionamento com os moradores do Castelo dos Nobres. [...] A ladeira era íngreme e a Pureza nº 1, da rua Camilo de Brito nº 6, trazia tristes recordações aos seus moradores. Tendo vagado a casa vizinha ao Castelo dos Nobres, pertencente aos sogros do Dr. Moacyr do Amaral Lisboa, professor de botânica da Escola de Minas, os moços da Pureza a alugaram. A Pureza nº 2 passou a ter novo endereço: rua Camilo de Brito, nº 3. A mudança se deu no fim de 1941. (REZENDE, 1999, p. 37-48).
Moradores da Pureza, da Castelo dos Nobres e os cozinheiros Zé Fumaça e Siá Maria na década de 1940 (REZENDE, 1999, p. 88).
Sentados: Pedro Silva e Ladislau Borges Campos (com o cachorro). Em pé (esquerda para a direita, 1ª fileira): Newton Pereira de Rezende; José de Campos Machado Alvim; a cozinheira Siá Maria; Fernando Rezende; Evandro Caetano de Lima; Décio Pereira de Rezende; Aquiles Cerqueira Pereira; e o cozinheiro Zé Fumaça. Em pé (esquerda para a direira, 2ª fileira): Hugo Pereira de Rezende; Hélio Pereira de Rezende; José de Paulo Barros; e Geraldo Cardoso Teixeira (Gê). [Identificados em entrevista de Aloysio Sá. Nobres em negrito].
41 - ... de Luiz Pereira Rezende, já que, de acordo com a autora, o final do título do livro foi transferido para o Prefácio, para que não se alongasse demasiadamente.
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”OS CAUSOS” -------------------
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Moradores e amigos de outras épocas foto 1: Miguel Maurício da Rocha, nosso ex-aluno mais antigo (formado em 1923) descendo a Rua Direita. 2
(ROCHA, 1990, p. 53). foto 2: nobres “Pipoca” (à direita) e “Santo Antônio” (AO CENTRO) em frente à Castelo. foto 3: no quintal da república, “Pipoca” e “Pipa”
3
à sua esquerda, na década de 1970. Fonte: Acervo Claret Rodrigues
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foto 5: Nobres e amigos em excursão ao Rio de Janeiro. “Guedinho”. à frente (em pé) no Monumento aos Pracinhas, nos anos 1960. Fonte: Acervo Castelo dos Nobres
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9 FotoS 4 e 6: Nobres e amigos. Foto 7: Nobres e turma de estudantes de engenharia em excursão. foto 8: Carteirinha da Escola de Minas do nobre “Sossego” em 1975. FOTO 9: FORMATURA DA TURMA DE “PAYAKAN” EM 1997. Fonte: Acervo Castelo dos Nobres
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Moradores no Centenário (2019) NOME
APELIDO
CURSO
INGRESSO
CIDADE
Pedro Augusto de Lima e Silva
Freskão
Engenharia de Minas
2013/1
Belo Horizonte - MG
Eugênio Ermínio Souza Liberato
Cabra-da-Peste
Engenharia de Minas
2014/1
Montes Claros - MG
Anderson Gonçalves de Azevedo
Seno113
Engenharia Civil
2014/1
Crisólita - MG
Túlio Neme Azevedo
Porpa
Ciência da Computação
2014/1
Belo Horizonte - MG
André Gonçalves de Azevedo
Cosseno
Engenharia Civil
2014/1
Crisólita - MG
Leonardo Zucareli Santiago
Gordin
Engenharia de Produção
2015/1
Jacareí - SP
Gustavo Mendes da Silva
Tomijando
Engenharia Metalúrgica
2015/1
João Monlevade - MG
Gustavo de Oliveira Daumas
Suvinil
Engenharia Civil
2015/2
Ipatinga - MG
Lucas Teixeira Araújo
Especial
Engenharia Civil
2015/2
Ipatinga - MG
Caio José de Souza
Jaiminho o Carteiro
Direito
2018/1
Nanuque - MG
Nobres moradores em 2019. Da esquerda para a direita: “Seno”, “Cosseno”, “Cabra-da-Peste”, “Kostinha” (ex-aluno), “Especial”, “Tomijando”, “Suvinil”, “Freskão”, “Gordin” e “Jaiminho o Carteiro”.
113 - Os nobres “Seno”, “Porpa” e “Cosseno” são apresentados no livro como moradores e ex-alunos, por terem inaugurado seus quadrinhos de formatura em 7 de setembro de 2019, período final de produção do livro.
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nobres moradores com os cachorros (Leda e Peteleco) e a Carranca, 2019. Foto: Sylvia Vartuli
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O nobre ideário Desde seu surgimento, além dos aprendizados adquiridos nos cursos da UFOP e na Escola de Minas, a Castelo dos Nobres tem cultuado entre seus ilustres republicanos, moradores e ex-alunos, um amplo ideário que permeia suas relações internas, sendo condição primordial para sua continuidade na história. Em meio aos nobres ideais que compõem sua essência e reafirmam sua existência após tantas gerações, é preciso destacar nesta trajetória centenária: a amizade, respeito, fraternidade, companheirismo, coletividade, independência, honestidade, humildade, seriedade, justiça e muito estudo. Como puderam observar os leitores, busquei realizar em todo o livro uma escrita que abraçasse e conectasse as falas de ex-alunos, moradores, amigos de outras repúblicas, pesquisadores, e todos que habitaram e conviveram nesta notória moradia estudantil. Confesso ter sido uma árdua tarefa, afinal, minha voz é apenas mais uma a ecoar nesta nobre e extensa família de tantas personalidades que a Castelo já abrigou. Entretanto, como em qualquer família, apesar das diferenças sociais, econômicas, ideológicas, vivenciais ou culturais, há sempre elementos que a mantêm unida, firme em suas raízes e seus valores éticos. Estou convencido de que, o apreço que sentimos pela Castelo dos Nobres, e o orgulho de fazer parte desta irmandade, são sentimentos que compõem a identidade de cada nobre, e que estreitam, ano a ano, nossos laços de pertencimento. Por esta razão, novamente aqui, abro este espaço de fala, não apenas expondo minha perspectiva sobre o nobre ideário e aprendizados na república, mas sim, em uma espécie de colagens de reflexões, procuro abranger as experiências de diversos sujeitos que por aqui passaram, conviveram, estudaram e, por fim, se tornaram nobres:
"O primeiro aprendizado foi que o direito de um termina onde comeca o direito do outro. Nos politizamos, aprendemos a conviver social mente, a respeitar as diferencas, a administrar os recursos da casa e a respeitar a 'hierarquia'" (QUESTIONÁRIO K-CHORRINHO, 2019).
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"Um lugar pelo qual tenho o maior respeito, gratidao e que considero como casa" (QUESTIONÁRIO BC, 2018).
"Principal mente conviver com as diferencas, aprendizado para a vida, muito importante. Um segundo lar" (QUESTIONÁRIO PENSADOR, 2018).
"A convivencia que a gente teve, do dia a dia, no tempo que nos moramos na republica. Uma coisa que nunca aconteceu na Castelo, nos cinco anos que eu morei la. Ninguem engana ninguem. Ninguem sacaneia ninguem. [...] Agora, o que que e isso? Isso e o que eu falo. Voce chegar num lugar desse, e sair com 22, com esse exemplo de vida, faz toda a diferenca." PIPOCA:
(ENTREVISTA TUNICO, SANTO E PIPOCA, 2019).
"Minha Casa. Todos os Bons e outros aprendizados que me permitem estar sobrevivendo ate os dias de hoje." (QUESTIONÁRIO GURÃ, 2018).
"Foram muitos aprendizados, dentre os quais o relacionamento humano, a divisao de espacos, a contribuicao ao meio em que se vive, a ajuda mutua, o trabalho na construcao do presente e do futuro, o respeito ao espaco do outro. [...] Aprendemos que se voce nao participa, fica dificil cobrar daqueles que estao administrando, aprendi pela minha vida toda que um cidadao e aquele que se sente responsavel pela vida da nacao, nao deixando que os outros resolvam sua vida e que controlem tudo ao seu redor" (DEPOIMENTO FIFI, 2019).
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EX-ALUNOS:
na parede da memória Entre tantos rostos emoldurados e enfileirados nas paredes da Castelo dos Nobres, inaugurar um quadro com sua fotografia é motivo de grande honra. Para alguns, o momento mais esperado em sua época de estudante está em eternizar-se na história desta centenária república. Os nobres ex-alunos estão ordenados de acordo com a data de formatura e inauguração, sendo acrescentados os quadros que resgatamos durante o levantamento histórico, inaugurados em 12 de outubro de 2019:
Quadro comemorativo com a turma dos primeiros ex-alunos da Castelo, formados em 1923. Presente na Galeria do Antigo Ex-aluno da Escola de Minas.
Fonte: Acervo do Autor.
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Miguel Maurício da Rocha
Oscar von Bentzeen Rodrigues
Luiz Porto Maia
Eng. Minas e Civil 1923
Eng. Minas e Civil 1923
Eng. Minas e Civil 1923
Alderico Rodrigues de Paula
Walter José von Krüger
Geraldo Cardoso Teixeira
Eng. Minas e Civil 1932
Eng. Minas e Civil 1938
Farmácia 1946
José de Paulo Barros
Aloysio Sá Freire de Lima
Evandro Caetano de Lima
Farmácia 1946
Eng. Minas e Civil 1948
Eng. Minas e Civil 1948
Krüger
Gê
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Este livro foi impresso em outubro de 2019, em Ouro Preto, Minas Gerais. Textos compostos com fontes da família tipográficas Kitsch, Seagram, Bruss e Andes. Impresso em papel Couchê 150g/m2 (miolo) e Cartão 300g/m2 (capa).
O autor, Leonardo Corrêa Bomfim, é graduado em Música (Licenciatura) pela Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP, período em que residiu na República Castelo dos Nobres. Mestre pela Universidade Estadual Paulista – UNESP e Doutor pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO em Etnomusicologia, atua como pesquisador e docente na área de música, etnomusicologia, educação e cultura, dialogando com as disciplinas de história, sociologia e antropologia. Possui experiência em instituições como o Colégio Pedro II (Federal), Universidade de Brasília - UnB (UAB/EAD) e UNIRIO. Publicou diversos artigos científicos em congressos nacionais e internacionais, entre esses, A ritualização nas Repúblicas Federais de Ouro Preto - MG: dos hinos às ‘rezas de cachaça’ e suas implicações (BOMFIM, 2013) e um capítulo do livro A canção romântica no Brasil dos ‘anos de chumbo’ (VALENTE, 2018). No campo artístico, desempenha as funções de compositor, arranjador e violonista.
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O Centenário da República Castelo dos Nobres, fundada em 1919, desencadeou uma série de comemorações, eventos e projetos. Em razão de abrigar o título de moradia estudantil em funcionamento mais antiga do Brasil – além das tradicionais comemorações de aniversário no 12 de Outubro –, a instituição foi objeto de uma pesquisa de caráter histórico, sociocultural e antropológico. O estudo baseou-se em um levantamento bibliográfico (livros, artigos, teses, dissertações), de documentos (atas, questionários, dossiês), reportagens (antigos jornais e revistas), entrevistas, acervos de imagens e vídeos (fotografias, filmes e documentários), além de materiais dos museus da Escola de Minas (1876) e Escola de Farmácia (1839). Estes escritos abordam ainda um panorama histórico de Ouro Preto – MG, as fundações e desenvolvimento das centenárias instituições educacionais, organizações estudantis, centros e diretórios acadêmicos, juntamente às primeiras repúblicas da cidade que já se extinguiram. Nesse contexto, os nobres transitaram por diversas localidades da vetusta capital mineira, do bairro das Lajes às proximidades da Escola de Minas e da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, até se instalarem definitivamente no Bairro Antônio Dias desde a década de 1950. No livro são apresentados os “causos” de seus ex-moradores, os “bixos” e suas “batalhas de vaga”, carnavais, “rocks”, dozes de outubro, festivais de inverno, “castelões” e campeonatos de futebol, ativismo político, vizinhos, “comadres”, ideário e, por fim, os ex-alunos e homenageados. As repúblicas e tradições, por mais que pareçam cristalizadas, são organismos vivos, cíclicos e em constante transformação. No entanto, uma característica permanece imutável: a honra de chamá-la “nossa casa”.
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