Maria Isabel Carlos
EU, BONSAI Minha vida em versos
Ilustrações:
Davi de Jesus do Nascimento
Edição: Meninas de Sinhá
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Foto: Kika Antunes
Maria Isabel Carlos 29/ 10/1938 17/09/2016
Isabel guardava nas mãos a expressão mais forte do seu coração brasileiro! Com elas, fazia soar o zumbido do roncador*, acalentava, tecia bonecas de pano e poemas... Em suas mãos estava o sinal da matriz diversa que lhe formava: era índia, negra e um tanto portuguesa. Quando a vi pela primeira vez perguntei pela infância... ela me disse: “Eu olhava para uma montanha, que não era muito distante de casa. As nuvens passavam sobre o topo dela. Bem pertinho! O que eu mais queria na minha infância era subir nesta montanha e tocar no céu! Ainda hoje penso que, daquela montanha, era possível tocar o céu.” Isabel era uma mulher brasileira, mãe e líder. Lutou com ternura por sua comunidade e ao mesmo tempo aceitou as engrenagens do mundo, dançando e fazendo dançar com as suas cantigas de roda e versos! Roquinho Soares – brincante *brinquedo sonoro indígena
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Maria Isabel Carlos
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Maria Isabel Carlos
EU, BONSAI Minha vida em versos
Ilustrações:
Davi de Jesus do Nascimento
Organizadoras: Bernardina de Sena Patrícia Lacerda
Edição: Meninas de Sinhá
Lei Municipal de Incentivo à Cultura Setembro de 2017 Belo Horizonte 3
EU BONSAI: minha vida em versos Todos os direitos reservados. Este livro foi realizado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de 2014 - Belo Horizonte Projeto: 0379/FPC/2014
Organizadoras: Bernardina de Sena e Patrícia Lacerda Projeto e Produção: Patrícia Lacerda Apoio produção: Fabiana Martins Ilustrações: Davi de Jesus do Nascimento Projeto gráfico e diagramação: Sylvia Vartuli Capa: Sylvia Vartuli sobre ilustração de Davi de Jesus do Nascimento Revisão: Juarez Nogueira e Daniela Longo Foto da orelha: Kika Antunes
C284e Carlos, Maria Isabel Eu bonsai: minha vida em versos / Maria Isabel Carlos; ilustrações: Davi de Jesus do Nascimento; organizadoras: Bernardina de Sena, Patrícia Lacerda. – Belo Horizonte: Grupo Cultural Meninas de Sinhá, 2017.
88 p. ; il., color.; 15,5X23cm. Lei Municipal de Incentivo à Cultura. ISBN: 978-85-94253-00-2
1. Poesia brasileira. I. Nascimento, Davi de Jesus do. II. Sena, Bernardina de. III. Lacerda, Patrícia. IV. Título. CDD: B869.1 Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Nina C. Mendonça - CRB 1228-6
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Agradecimentos:
Nossos agradecimentos à Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte e à Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Agradecemos a todas as pessoas que souberam encorajar Maria Isabel em escrever seus poemas e, aqui queremos expressar o nosso reconhecimento a toda a sua família, seus amigos, à Lindalva, Maria Luísa, Roquinho Soares, Valdete Cordeiro, Bernardina de Sena e às Meninas de Sinhá. Nossa gratidão, aos colaboradores e parceiros, Juarez Nogueira, Daniela Longo, Vera Casanova, Sylvia Vartuli, Davi de Jesus do Nascimento, Fabiana Martins, Elisabeth Sena e Kika Antunes.
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Ofereço este livro à memória de minha irmã, Maria Isabel Carlos, que soube com aptidão ultrapassar os desafios da leitura, da escrita, das dores, dos sonhos desfeitos e dos desejos inconquistados. Esperta, apontou lá da China uma figura para representá-la, o Bonsai, uma planta cuja técnica admirável condiciona uma árvore a ser pequena com aparência de grande. Assim como a um bonsai, esta mulher se adequou ao que a vida lhe ofereceu e expressou em seus poemas e versos todos seus sentimentos de poda de sua liberdade, mas, acima de tudo, soube demostrar toda a sua força e beleza como mulher-bonsai e, assim, representa para mim, através deste livro, mulheres do mundo inteiro, independente de raça, classe social, religião, país e educação que têm tanto a oferecer e poucas oportunidades na vida. Desejo que Deus te dê asas, minha amada irmã Belinha, asas de um lindo pássaro planador!
Bernardina, sua irmã. 7
Sumário
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Ao leitor e à leitora
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Apresentação
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O tempo
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A identidade
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Crecúspulo
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Disparidade
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Meu pensamento para um mundo melhor
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A forma que eu penso
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Eu, bonsai
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Meu coração
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É primeiro de abril
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Morte
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É assim
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Para Paulo Freire
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Sinhás meninas
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O sonho
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Poema sem nome
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Alegria de viver
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Mulher
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Minha história é uma história
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Pretensão
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Carente
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Está aberta a porta
58
Casamento de Maria
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Eu não sabia
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Vida, dúvida dividida
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Biodança
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Eu profundo
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Explode samba
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Gostar de viver
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Minha sinhá, dona nhanhá
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Alerta
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Mãe e mães – As várias faces de ser mãe
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Minha cadelinha
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Desorientação e confusão
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Recomendação
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Sensação
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Destino solto
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Laços de amor
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Siriri
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Paquera
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Virgilino
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Eu posso
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Choradeira
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Felicidade
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Ao leitor e à leitora
O grupo Meninas de Sinhá sempre me encanta por suas agradáveis surpresas guardadas nas memórias e nas vivências do dia a dia de mulheres simples, com pouco estudo, acesso limitado a livros, a viagens e a outros conhecimentos que são praticamente exigidos para quem se atreve a falar e a fazer cultura. Afinal o que é cultura? Dona Valdete, fundadora do grupo responderia: “Cultura é aquilo que comemos, que vestimos, que falamos, que cantamos...”. Maneira simples que encontrou para explicar que cultura é tudo o que representa nossa história, nossa família, como lidamos com tudo na vida. Sim, nossa cultura é também um jeito peculiar que Valdete escolheu para dar voz e vez a qualquer mulher que um dia integrou o grupo Meninas de Sinhá. Neste contexto, conheci Maria Isabel, sua irmã Bernardina, carinhosamente chamada de Seninha, e a mãe delas, Dona Maria José, pois já eram integrantes do Meninas de Sinhá, grupo que, em 2006, eram de 32 mulheres. Maria Isabel, mulher aplicada aos cuidados caseiros e aos filhos, não tinha tempo para mais nada, porém com a insistência de sua irmã, um dia ela decidiu vir aos encontros semanais do grupo. No princípio, estranhou tanta gente junta, pois era acostumada a ficar somente perto da família. Desse modo, tinha de aprender a lidar com um grupo de mulheres que riam alto, falavam o que pensavam e eram lideradas por uma mulher instigante e inconformada. O que sucederia após este encontro? Com o tempo, essa mulher tão pequena de estatura e tão grande por dentro foi se soltando, foi perdendo o medo, deixando sua alma falar através do lápis entre seus dedos, e assim, virou poeta e contadora de histórias. Compartilhou suas memórias musicais e seus mais íntimos sentimentos conosco e acabou renovando sua própria vida. 13
Apresentação
Eu, Maria Isabel Carlos, eu, Belinha da mamãe, eu, Bela do papai, eu, Bilinha do João, meu marido, eu, mãe dos meus filhos, tia de meus sobrinhos, avó de meus netos e também, desde antes, bem antigamente, neta e sobrinha dos meus avós e tios, e irmã de meus manos e, hoje... sou Dona Maria e também Dona Isabel, mas Dona Bela eu queria ser, eu queria sim! Eu queria tanto ser um alguém especial para alguém, assim bem especial, mas eu não sou. Desejava ser preparada, estudada, viajada e letrada em idiomas, ciências, gramática, aritmética, matemática, ter noções do passado e visões lógicas do futuro... Só que eu sou matuta, caipira mesmo, analfabeta. Eu vivia a trancos e barrancos, agora, já com sessenta anos, não tenho mais tempo pra nada, é assim no mundo: alguns conseguem tanto e outros sem nada. Estou indo, meu tempo acabou-se. Mas eu sou sábia com a sabedoria instintiva ou popular. Eu aprendi muitas coisas que me ensinaram e sei também coisas que assimilei, está aí alguma coisa. Longe vai minha meninice, infância e lembranças sim, mas saudades nem tanto. Há quem diga que pobre não tem infância, mas eu até acho que eu tive boa vida, com meus pais, meus avós, tios, primos e irmãos, os vizinhos, uma vida no campo nada ruim. Na roça, às vezes brincávamos trabalhando e trabalhávamos brincando e nos divertíamos caçando, e pescando, e aprontando as nossas travessuras, traquinagens, enfrentando as consequências
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O tempo É tempo aqui e tempo aí É tempo em mim e tempo em ti É tempo de ouvir do tempo o que o tempo diz É tempo de sentir do tempo que é tempo de ser feliz É tempo de amar, tempo de paz tempo de seguir em frente tempo de olhar pra trás É tempo de saber do tempo o tempo que o tempo tem É tempo de entender que o tempo não tem tempo de esperar por ninguém É tempo de somar amor tempo de diminuir a quebra tempo de multiplicar a paz tempo de dividir o pão É tempo matemático do tempo do tempo e do espaço É tempo de muito amor tempo de confundir-se nesse grande e imenso... atraso
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A Deus agradeço a vida E o perdão de meus pecados De boca aberta na lida Do muito que tenho lutado Pelos acontecimentos sou agradecida E estou a seus cuidados Eu não temo mal nenhum Se tenho Ele ao meu lado Quando escorrego não caio E se choro sou consolada Confio desconfiando É o meu jeito amineirado Eu sou mesmo acomodada Levo a vida ao deus-dará Não vivo preocupada O que tiver que ser será Me sinto bem amparada Pro futuro que virá Assim é que eu sou E tenho orgulho danado De ter vindo neste mundo Grandioso e malogrado Onde tenho rido muito E muito tenho chorado Às vezes misturo tudo E fica meio embolado Felicidade é relâmpago Antes de ter trovejado Dos caminhos de veludo Eu trago os pés machucados
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Disparidade Já se viu comendo ouro Num mundo de esfomeado Tubarão você tem muito Tubarão dê um bocado Aprendi a guardar dinheiro Com fruto do meu trabalho E não sou macaco gordo Mas vivo quebrando galho Eu nasci eficiente Eu sou forte como um touro Mesmo assim sou indigente Correndo atrás do ouro O meu pai me ensinou E aprendi com muito gosto Que só devo comer o pão Com o suor de meu rosto Me desculpem este choro É porque não entendo os homens Enquanto alguns comem ouro Outros morrem de fome
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É primeiro de abril Não duvide do que ouvir Porque é a pura verdade Eu não quero mentir O que passou antes de eu vir pra cidade Ouça bem o meu falar Eu nunca minto sozinha Você pode perguntar Pra minha irmã Seninha Você já foi à caça e ficou perdida No mato sem cachorro? Eu já e fiquei dividida Sem saber se mato ou morro E no meio do mato Todo infestado de bichos Suçuarana, cobra e carrapato Picão, focinho de boi e carrapicho
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Já atravessou um ribeirão Cheio pela enchente Em pinguela, sem corrimão Embaixo de água corrente? Falando em pinguela Alguém nem sabe o que é isso É uma ponte bem banguela Feita com um só pau roliço Já fugiu de boi bravo Num imenso descampado E escapou assim num laivo Pela cerca de arame farpado? Já subiu em uma árvore Grande assim como um quê? E que depois de subir Não soube como descer? Já no café da manhã Pediu angu com cachaça E fez uma birra tamanha Só depois de comer parou com a pirraça? Já levou uma lambada Ardida como pimenta Pra deixar de ser levada E para de ser birrenta? Eu já.
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Para Paulo Freire O livro aberto Parece ave que quer voar Quem lê reza uma prece Ao ver o santo no altar O sábio às vezes é como o sol Com o seu brilho arrojado Para refletir na lua Esconde do outro lado Assim pode ver o céu Lindo, todo estrelado.
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Sinhá meninas Vamos cantar, Sinhás meninas Vamos cantar Cantar é bom, Sinhás meninas Para alegrar Para alegrar Cantar é bom, Sinhás meninas É bom demais Cantando eu sinto amor, alegria e paz Quem canta os males espanta, então: Cantam Sinhás meninas, então canta Cantam Sinhás meninas, então canta Chorando será pior, cantando é muito melhor Rapadura é doce, mas não é mole não Adocem a vida, Sinhás meninas e o coração Rapadura é doce, mas não é mole não Então adoce a vida com esta canção A vida é bela, Sinhás meninas, Cuidemos dela Cuidemos dela
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O sonho Alegria a toda hora Amor pra cá, amor pra dar É recomendado amar, É recomendado amar Amar, amar, amar É recomendado amar É recomendado amar É recomendado amar Sempre feliz a sonhar Amor pra cá, amor pra dar É recomendado amar, É recomendado amar, É recomendado amar, Amar, amar, amar É recomendado amar É recomendado amar É recomendado amar Brincando de cantar Cantando a brincar É recomendado amar É recomendado amar É recomendado amar É tempo aqui, é tempo aí É tempo em mim, é tempo em ti É tempo de ouvir do tempo o que o tempo diz É tempo de sentir no tempo que é tempo de ser feliz É tempo de amor, é tempo de paz Tempo de seguir em frente Tempo de olhar pra trás 46
É tempo de saber do tempo O tempo que o tempo tem E tempo de entender que o tempo Não tem tempo de esperar por ninguém É tempo de somar amor Tempo de diminuir a guerra Tempo de multiplicar a paz De dividir o pão É tempo matemático de tempo Do tempo e do seu espaço É tempo de muito amor Tempo de confundir-se num grande, imenso abraço
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Eu não sabia Eu não sabia que sabia o que eu queria saber Só descobri que sabia quando quis aprender Eu não sabia porque sabia viver E sabia sorrir E sabia cantar e sofrer E esquecer E perdoar E aprender a começar a viver E recomeçar Aprender a cair e levantar Nos tropeços A caminhar do começo A procurar dos endereços, Da alegria que mereço E acresço todo dia
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Vida, dúvida dividida Maria escondida, nada decidida, muito introvertida Maria Aparecida, Margarida um pouco atrevida Mas não sabe nada da vida, da vida cansada, vida E não sendo entendida na vida Da vida só sabe da lida sofrida, contida a troco de comida, Vida comprida e cumprida e pouco vivida Proibida vida assistida, tida e mantida na tela da vida fingida Vida resistida, assumida, espremida, vida ferida, curtida Contida, doída, vida querida, vida doída, vida valida Vida florida, vida vivida na lida, vida resolvida Ressentida, isso não é despedida da lida da vida querida Vida fugida, confundida, desiludida e constrangida, Vida querida, vida reprimida.
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Biodança A dança da vida, a vida da dança E a vida de mim não se cansa Assim como se canta se dança Canto nos meus cantos a esperança Eu mais eu, comigo Eu sou mais eu. E consigo Eu tenho um corpo meu amigo Pareço louca, mas não ligo Eu abraço meu corpo sozinho Me acalmo com muito carinho Construo só para mim um mundinho Deixando fora o errado e dentro tudo certinho Às vezes me sinto menina Caminho pelas campinas E bem lá no pé da colina Bebo em fontes cristalinas Às vezes me escondo Me pergunto e me respondo Sou assim desde quando? Me escondo e me exponho
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E fico em mim bem no fundo Escondida do mundo Com aquele medo profundo Do que sinto que há de imundo Às vezes até choro e debruço no meu colo Me ouço a me dizer “não chore”, então me calo E da tristeza da vida me consolo Prestando atenção no que falo Com a cabeça sobre os joelhos me acalmo e Dou conselhos, fujo de dentro de mim, Me reflito nos espelhos, vejo meus olhos vermelhos Volto para mim contente Me vejo feliz e sorridente Sinto que estou diferente Sigo a vida e vou em frente Devo parecer certinha, Eu sou Maria Isabel, sou bela, sou Belinha Dos meus filhos sou mamãe, da mamãe eu sou filhinha Dos meus netos e bisnetos serei sempre a vovozinha Eu comigo, aqui e agora Estou dentro, estou fora Às vezes fico, em outras vou embora Uma ama, a outra adora Viver feliz é coisa boa Não devo chorar à toa Depressa o tempo passa, o tempo voa Gosto do nosso canto, uma cana E outra entoa
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Sensação Eu andava nas nuvens Que desmanchavam em lágrimas Eu andava voando, quebrei as asas É sempre assim, sempre pisando em brasas Me leva meu bem Me leva de volta pra casa Me leva de volta pra casa Me leva, me leva... Me leva de volta pra casa
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Destino solto Vivo ao sabor do vento Como folha de papel Com os pés no chão E a cabeça no céu Curtindo a brisa e o vento Como a folha de papel Os fios dos outros arrebenta Mando linha e carretel O chato é sair briga De tamanhos galalaus Puxando pela barriga Atirando berimbaus A maioria assim brincando E por falta de serviço E muitos implicando Que não tenho compromisso
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Paquera Eu gosto muito de você meu bem E você gosta de mim também Eu acho, nessa imensa confusão Posso parecer escracho Mas, se você quiser eu sou seu cacho Se você quiser eu sou seu macho Seu macho, seu cacho Se você quiser eu sou seu cacho
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Virgilino Estou sempre fingindo Eu sou Virgilino Sou um bom menino Você está me pedindo Eu tenho mas não dou Eu sou seu amigo E estou contigo Falam e eu não ligo Eu tenho mas não dou Olha o perigo Eu te tenho grande amor Te amo com ardor Eu tenho mas não dou Eu tenho mas não dou Tenho mas não dou Não dou, não dou Você está pedindo Eu tenho mas não dou Não dou, não dou
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Eu posso Eu posso dormir e posso acordar Posso sentir e posso amar Posso distrair e posso sonhar Posso ir e posso voltar Posso seguir e posso caminhar Posso subir e posso voar Posso sumir e posso pousar Posso explodir e posso mergulhar Posso emergir e posso flutuar Posso sorrir e posso chorar Posso dividir e posso multiplicar Posso diminuir e posso somar Posso descobrir e posso encontrar Posso mentir e posso acreditar Posso admitir e posso duvidar Posso destruir e posso restaurar Posso consentir e posso negar Posso cair e posso levantar Posso reagir e posso acomodar Posso concluir e posso imaginar Posso competir e posso ganhar Posso conseguir e posso deixar Posso ouvir e posso falar Posso desistir e posso continuar
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Choradeira Chora, chora, chora Estou indo devagar Choro, choro, choro Eu vou e não demoro Eu vou e volto Já não preciso chorar Eu vou voltar Não é preciso chorar Pode me esperar Eu alegre regressar
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Este livro foi impresso no primavera de 2017, em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
Textos compostos com fontes das famílias tipográficas Andes e Supernational 264. Impressão executada pela Artes Gráficas Formato, miolo em papéis Couchê Fosco 150g/m2, Polén Bold 90g/m2 e capa em papel Cartão Triplex 300g/m2 .
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“Eu, Bonsai”, de Maria Isabel Carlos, com ilustração de Davi de Jesus do Nascimento, merece atenção especial dos leitores de poesia. Arte poética e vida se dão as mãos. Em versos prosaicos sobre o cotidiano da vida, os sentimentos, as angústias. Maria Isabel é esse EU que percorre os poemas. É um EU e um Outro – os dois irmanados pelos gestos, pelas dores, alegrias, medos marcados pela religiosidade, que une cada um na efemeridade dos momentos dos dias e das noites. Bonsai, miniatura de planta, de árvore. Miniatura de gente. A poeta lê o mundo em seu entorno: “Senhor, nos livre e nos guarde/ do bando de covardes/ que assaltam nossa nação/ dando falsa impressão...” em É assim ou ainda em Sinhás meninas, poema no qual evoca o canto para a libertação através do amor, da alegria e da paz. Verdadeiro hino espiritual, o livro vai nos dando um lenitivo para a vida, pois há sempre em cada verso um apelo à vida cuidada, ao amor, à alegria. O poema Mulher é um exemplo disso. História, memória, condição existencial humana, fraternidade. Por entre essas palavras, os versos vão acontecendo na dança da vida. O poema Biodança assim diz: “a dança da vida/ a vida da dança/ e a vida de mim não se cansa/ assim como se canta se dança/ canto nos meus cantos a esperança...”; ou ainda em Explode samba, em que o ritmo do verso se aproxima da batida do samba. Para você que vai ler esse pequeno grande livro de emoções, aproveite os versos-conselhos. Eles serão um guia poético para seu dia a dia. Boa leitura. Vera Casa Nova – poeta e ensaista, é professora aposentada da Faculdade de Letras da UFMG.
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Projeto: 0379/FPC/2014 Lei Municipal de Incentivo à Cultura