Ano XII • Número 4 Outubro a Dezembro de 2009
Publicação Trimestral da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista
Curso de Revisão 2009 SBHCI realizou em novembro seu curso anual, que foi ampliado e renovado
BALANÇO DE GESTÃO Diretoria que esteve à frente da Sociedade de 2006 a 2009 avalia os resultados de três anos de trabalho
SBC, ANS E CFM Os presidentes das três entidades falaram com exclusividade ao
Jornal da SBHCI 1
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índice Palavra do Presidente
4 O Último Editorial Internas | Notícias da sbhci
25 SBC | ANTONIO CARLOS PALANDRI CHAGAS
30 BALANÇO DA GESTÃO 2006/2009
5 6 6 7 8 8 9 9 10 12 13 16
Destaques do Ano: Prêmio Expressão Científica 2009 PEC: Evento no Congresso Paraense de Cardiologia Congresso 2010: Não perca o prazo Gestão 2010/2011: Mãos à obra Câmara Técnica: Em defesa da atuação médica Câmara Técnica: Consulta encerrada Ação Institucional: Audiência no CFM Ação Institucional: Reunião na ANS Projeto CNPq: Atualização do Projeto Registro ICP–BR Jogo Rápido: Expedito E. Ribeiro Curso de Revisão: Aprimorando o conhecimento Prova de Título 2009: Missão cumprida GIRO PELO BRASIL | SBHCI NO PIAUÍ 18 Em franco crescimento ex-presidente | jamil abdalla saad 20 Valorizando as oportunidades PRáticas médicas | Gilson Soares Feitosa
22 Novas estratégias antiplaquetárias SBC | ANTONIO CARLOS PALANDRI CHAGAS
25 Visão, planejamento e execução BALANÇO DA GESTÃO
30 Encerramento da Administração “Novas Ideias na SBHCI” CFM | LUIZ ROBERTO D’ÁVILA
40 CFM | LUIZ ROBERTO D’ÁVILA
40 Continuísmo, não. Continuidade ANS | Fausto pereira dos santos
42 Foco na gestão QUALIDADE PROFISSIONAL
46 Radiação ionizante PANORAMA | CIRURGIA X INTERVENÇÃO | Sergio almeida de Oliveira
50 A eterna controvérsia Atualização científica
54 Revisão das diretrizes norte–americanas 2009 OPINIÃO
42 ANS | FAUSTO PEREIRA DOS SANTOS
56 Com a palavra, os editores AGENDA
58 Eventos, contatos e expediente 3
palavra do presidente
Prezados Colegas D
Divulgação/SBHCI
irigindo a todos minhas saudações, venho neste último editorial, o décimo quarto da gestão 2006/2009 da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI), agradecer a atenção dos colegas, dos leitores, que motivaram a existência do Jornal da SBHCI e mantiveram o incentivo a nossa persistência e vontade de progredir. Considero este espaço do Jornal como um documento dos mais relevantes entre os meios de comunicação desta Sociedade, pois a palavra escrita possibilita a eternização das ideias e das ações, além de promover o diálogo, ainda que silencioso, ora sob a forma de controvérsia ora sob a forma de concordância. O importante é não gerar apenas a indiferença, sentimento que pode resultar em afastamento do sócio e dos profissionais de saúde do convívio com nossa entidade. Neste editorial de despedida e de agradecimento não pretendo revisar os 42 meses de gestão, ratificar balanços ou demonstrar resultados de auditorias, pela simples razão de acreditar na memória dos sócios, que têm, e tiveram, a oportunidade de usufruir das ações efetivadas nesse período, todas já publicadas. Espero que o senso crítico enaltecido pelo amadurecimento seja o fundamento para a fiscalização de nós mesmos como Sociedade, identificando e comemorando as conquistas, compreendendo as derrotas e sabendo dissecá-las para progredir no futuro. Estendo os agradecimentos, e de forma muito especial, a meus colegas diretores, meus comissionados diretos, brigada de quase 50 médicos que trabalhou diuturnamen-
Da esquerda para a direita, em pé, Marcos Marino (MG), Luiz Antonio Gubolino (SP), Pedro Alves Lemos Neto (SP) e Rogério SarmentoLeite (RS); sentados, José Antonio Marin-Neto (SP), Hélio Roque Figueira (RJ), Luiz Alberto Mattos (SP) e Marcelo Queiroga (PB).
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te, sem os quais não teria sido possível a implementação, a manutenção e o aprimoramento dos projetos. À equipe administrativa da SBHCI envio também meu mais sincero muito obrigado. Finalizo com uma reflexão da realidade e dos desafios futuros. A profissão de médico é difícil, e cada vez mais difícil nos tempos atuais brasileiros. Ser médico, um bom médico, um especialista como somos, instruído, apto, qualificado, mantendo seus preceitos morais e éticos intocados e recebendo devidamente o ressarcimento financeiro por tudo que realiza, dia após dia, é, sem dúvida, um desafio. Não obstante os obstáculos, despertamos, a cada novo dia, animados e esperançosos, como é da alma humana, gregária e construtora. E por meio do arcabouço que cada um de nós possui, enfrentamos as dificuldades, aplicando-nos em novos projetos, melhorias, aperfeiçoamentos, entregandonos à execução de novas ideias, para que a rotina cotidiana seja aprimorada. Acredito que a continuidade do crescimento de uma entidade médica, como a nossa, estará absolutamente dependente da renovação qualificada de seus pares, pois, na vigência de um biênio administrativo, será necessária dedicação cada vez mais integral, o que irá consumir tempo dos futuros gestores, retirando-os de sua vida acadêmica, assistencial e familiar. O trabalho societário é idealista e abnegado, isento de ressarcimento objetivo, estando a única recompensa relacionada ao cumprimento do dever com os seus e o reconhecimento de que ajudamos um pouco no fortalecimento da profissão. Por toda a responsabilidade, consumo de energia e tempo dos gestores se requer a renovação, a transitoriedade do cargo, possibilitando a germinação constante de novas ideias e ações, responsabilizando ainda mais estes quanto à preparação de seus substitutos com a devida antecedência. Sigamos em paz, com tranquilidade, sucesso e saúde em abundância hoje, em 2010 e sempre. Deixo a todos meu abraço fraternal e a meu Anjo da Guarda, que me protegeu fielmente nestes 42 meses, deixo registrado meu beijo, único. Vamos em frente, colegas!
Luiz Alberto Mattos Presidente da SBHCI
internas notícias da sbhci DESTAQUES DO ANO
Prêmio Expressão Científica 2009 A SBHCI e a Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva divulgam os vencedores da edição 2009 do Prêmio Expressão Científica.
J. Ribamar Costa Jr. (SP)
Emprego do stent Supralimus® com sirolimus e polímero absorvível no tratamento de pacientes com síndrome coronária aguda submetidos a tratamento percutâneo: resultados preliminares dos registros prospectivo e multicêntrico e-series
Daniel Silva Chamié de Queiroz (SP)
Eventos hemorrágicos em pacientes com síndromes coronárias agudas sem supradesnível de ST submetidos a intervenção coronária percutânea: experiência contemporânea de um centro terciário de referência
Luis Felipe Silva Smidt (RS)
Eficácia e segurança dos stents farmacológicos em pacientes diabéticos: um registro com 5 anos de seguimento
Gerardo Nau (Argentina)
Evolución a largo plazo de la función renal en pacientes sometidos a angioplastia renal estratificados por sexo
Matias Sztejfman (Argentina)
Ablación septal percutánea en la miocardiopatía hipertrófica obstructiva: evolucion clinica a largo plazo
Carla Romina Agatiello (Argentina)
Repeat aortic balloon valvuloplasty: good strategy to select patients for percutaneous aortic valve implantation
Daniel Silva Chamié de Queiroz (SP)
Impacto da insuficiência renal crônica nos desfechos da intervenção coronária percutânea na era dos stents farmacológicos: análise prospectiva de pacientes não selecionados de centro terciário de referência
J. Ribamar Costa Jr. (SP)
Resultados tardios (> 1 ano) do estudo Vestasync I com um stent farmacológico de terceira geração, com sirolimus e sem polímero
Denise Oliveira (RS)
Segurança e eficácia dos stents farmacológicos sirolimus, paclitaxel e zotarolimus na prática clínica diária
Christian Rodrigo Hanna (Argentina)
Angioplastia primaria en el infarto agudo de miocardio complicado con shock cardiogenico
Vinicius Borges Cardozo Esteves (SP)
Oclusão percutânea do forame oval patente com prótese premere: resultados preliminares da primeira experiência no Brasil
Rodrigo Nieckel da Costa (SP)
Valvoplastia na estenose aórtica grave do neonato e lactente jovem: resultados imediatos
Daniel Silva Chamié de Queiroz (SP)
Desfechos clínicos de stents eluidores de everolimus em lesões coronárias complexas: análise prospectiva e não-randomizada de uma população do "mundo real"
Pedro Beraldo de Andrade (SP)
Segurança e eficácia do acesso transradial na realização de procedimentos coronários diagnósticos e terapêuticos em mulheres e idosos
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internas notícias da sbhci PEC
Última edição do
Divulgação/SBHCI
PEC–SBHCI 2009 foi efetivada no XIX Congresso Paraense de Cardiologia A mesa do PEC realizado em Belém, no Pará, contou com Heloisa Guimarães (PA), Paulo Toscano (PA), Gederson Rossato (RO) e Marcelo Queiroga Lopes (PB)
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o dia 15 de outubro, a SBHCI marcou presença no XIX Congresso Paraense de Cardiologia. Realizado em Belém (PA), capital do Estado, nossa Sociedade levou aos cardiologistas da Região Norte o Programa de Educação Continuada no formato de apresentação de casos e debates, realizado ao longo de 2009.
Coordenadores
Heloisa Guimarães (PA) Paulo Toscano (PA) Debatedores
Marcelo Queiroga Lopes (PB) Gederson Rossato (RO)
Apresentadores
Conheça os colegas que participaram de mais esse evento de nossa Sociedade:
Wilson A. Pimentel Filho (SP)
José Klauber Roger Carneiro (CE) J. Ribamar Costa Jr. (SP)
Palestrantes
Wilson A. Pimentel Filho (SP)
CONGRESSO 2010
Não perca o prazo A
Coordenação de Temas Livres do Congresso da SBHCI de 2010, sob liderança de Fernando Stucchi Devito (SP), já definiu os prazos. Para mais informações, consulte sempre o Portal da SBHCI (www.sbhci.org.br).
Expominas Belo Horizonte Minas Gerais 22 a 24
de julho de
www.congressosbhci.org.br/2010
2010
SOCIEDADE BRASILEIRA DE HEMODINÂMICA E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA
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Abertura do Sistema de Submissão
1 de fevereiro
Data limite para submissão
7 de março
GESTÃO 2010/2011
Mãos à obra I
Divulgação/SBHCI
ntegrantes da nova Diretoria estiveram reunidos no fim de novembro para dar início ao planejamento e à execução dos trabalhos para a gestão 2010/2011. No dia 24 de novembro, Fábio Sândoli de Brito Jr. (SP), futuro diretor científico, apresentou à Comissão Organizadora do Congresso 2010 os resultados da reunião de cotas e patrocínios e as primeiras propostas de organização de temas e ações para cada sala do Expominas Belo Horizonte, local onde o evento será realizado entre os dias 22 e 24 de julho de 2010. Após debate das propostas e possibilidade de alteração no programa, a Comissão definiu algumas mudanças importantes, que devem ser atrativas e manter o interesse dos congressistas durante todo o evento. A primeira novidade está na abertura oficial, que acontecerá na quinta-feira pela manhã, com apresentação de convidado internacional. O cardiologista convidado para a aula magna é Ted Feldman, diretor do Laboratório de Hemodinâmica do Evanston North Shore Hospital (Illinois, Estados Unidos), que falará sobre Intervenção Percutânea de Valvas Aórtica e Mitral, seguido da transmissão ao vivo de implante percutâneo de valva aórtica direto de um renomado centro europeu. Na quinta-feira à noite, ao fim da programação científica, acontecerá a Assembléia Geral Ordinária da Sociedade, que anteriormente acontecia no segundo dia do evento. Para a sexta-feira e o sábado estão em negociação diversos convidados internacionais de relevância científica mundial e casos ao vivo. A Comissão foi dividida em grupos de trabalho, que providenciarão temário completo, contatos e convites para todos os palestrantes. O objetivo é criar um evento de relevância científica, que manterá todos os participantes interessados e envolvidos com a programação do início ao fim. No dia 25 de novembro, a nova Diretoria voltou a se reunir na sede da SBHCI. Nessa oportunidade, a pauta da reunião tratou de assuntos específicos de planejamento e execução das primeiras ações coordenadas pela Diretoria que tomará posse no dia 19 de janeiro, às 11 horas, na sede da Sociedade.
Confiança
baseada em Evidências
C
M
Y
CM
NOBORI PK - 20 Pacientes
MY
NOBORI 1 - 363 Pacientes
CY
CMY
NOBORI CORE - 107 Pacientes NOBORI CORE - Estudo Endotelial 43 Pacientes NOBORI Japão - 340 Pacientes
K
NOBORI 2 - 3074 Pacientes COMPARE II - 2700 Pacientes SECURITY - 4000 Pacientes BASKET PROVE - 2300 Pacientes
www.terumo.com.br R. Gomes de Carvalho, 1507 cj. 151 e 152 - Vl. Olímpia São Paulo, SP - CEP.: 04547-005 Tel.: 3594 3800
A Comissão Organizadora do Congresso 2010 se reuniu em novembro e já estabeleceu parte do programa científico do evento.
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internas notícias da sbhci CÂMARA TÉCNICA
Em defesa da atuação médica
A
última reunião da Câmara Técnica de Implantes da Associação Médica Brasileira (AMB) e do Conselho Federal de Medicina (CFM), realizada em 29 de outubro, foi palco de debate sobre a consulta pública da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) referente à interferência das operadoras dos planos de saúde na decisão da escolha de órteses e próteses nos tratamentos dos pacientes. O tema entrou em pauta por solicitação de entidades médicas, dentre elas a SBHCI, motivando a AMB a consultar seu departamento jurídico, que, por sua vez, repassou a decisão da ação à Câmara Técnica de Implantes. Na reunião foi apresentado o parecer jurídico da entidade, demonstrando preocupação com a restrição da atividade do médico na prescrição de sua indicação terapêutica.
Após abrir o tema para discussão, a primeira manifestação foi minha, como diretor de Qualidade Profissional da SBHCI, defendendo o direito de decisão do profissional médico, podendo esta ser compartilhada, no máximo, pela operadora de planos de saúde. Após diversas participações de representantes de associações médicas e da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (ABRAMGE), ficou decidido que a AMB enviará à ANS parecer contrário à medida e solicitará que o texto final seja enviado para apreciação dessa Câmara Técnica, a qual possui representantes de todos os segmentos envolvidos. Também foi solicitada apreciação do parecer pela Câmara Técnica do CFM. O parecer será enviado à ANS e, da mesma forma, encaminhado a todas as sociedades médicas.
Divulgação/SBHCI
Gislene Simonetti
[Luiz Antonio Gubolino (SP), diretor de Qualidade Profissional]
Consulta encerrada [Luiz Antonio Gubolino (SP), diretor de Qualidade Profissional]
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oi finalizada a revisão da lista geral de órteses e próteses de uso rotineiro das especialidades médicas e áreas de atuação no País. A lista foi publicada no site da Associação Médica Brasileira (AMB) para receber, entre os dias 3 e 25 de novembro, críticas e sugestões de todas as áreas médicas envolvidas. A relação contempla nome de
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materiais, tipos e subtipos existentes, especialidades e áreas de atuação que os utilizam, e classificação (órteses ou próteses implantáveis). Concluída essa etapa, a lista será oficializada e encaminhada como sugestão para o Ministério da Saúde e para a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), para que seja adotada como única no País.
AÇÃO INSTITUCIONAL
Audiência no CFM
Reunião na ANS F
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austo Pereira dos Santos (MG), diretor presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), recebeu a Diretoria da SBHCI no dia 20 de outubro. Luiz Alberto Mattos (SP), presidente da SBHCI, acompanhado de Marcelo Queiroga Lopes (PB), diretor administrativo, e Marcos Marino (MG), diretor de Intervenções Extracardíacas, protocolou as sugestões de nossa Sociedade acerca da redação para a seleção de órteses, próteses e material de alta complexidade no novo rol de procedimentos da Agência.
Da esquerda para a direita: Marcelo Queiroga Lopes (PB), Roberto d’Ávila (SC) e Marcos Marino (MG).
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Divulgação/SBHCI
o dia 27 de outubro a Diretoria da SBHCI, representada por Marcelo Queiroga Lopes (PB), diretor administrativo, e Marcos Marino (MG), diretor de Intervenções Extracardíacas, foi recebida em audiência oficial, no Conselho Federal de Medicina (CFM), pelo presidente da entidade, Roberto Luiz d’Ávila (SC). Recém-eleito, d’Ávila é o primeiro cardiologista a conquistar a presidência da entidade. A pauta compreendeu assuntos de interesse institucional, com destaque para a possibilidade de restrição à autonomia dos médicos. A SBHCI protocolou documento com teor similar ao apresentado à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Segundo d’Ávila, o CFM acabou de editar um novo Código de Ética Médica, no qual merece ênfase especial a autonomia da relação médico-paciente. Há também que se considerar os possíveis conflitos de interesses que permeiam o emprego de órteses, próteses e materiais no Brasil. Da esquerda para a direita: Emílio César Zilli (RJ), diretor de Todavia, adicionou a necessidade de se sopesar evenQualidade Profissional da Sociedade Brasileira de Cardiologia tuais conflitos éticos que circundam a matéria. (SBC), que acompanhou os diretores da SBHCI à audiência; Também foram tratados aspectos relativos à formaMarcelo Queiroga Lopes (PB), diretor administrativo; Marcos Marino, diretor de Intervenções Extracardíacas; e Luiz Alberto ção dos cardiologistas intervencionistas no âmbito da Mattos (SP), presidente da SBHCI. Na frente, Fausto Pereira Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM). dos Santos (MG), diretor presidente da ANS. Atualmente, o treinamento de nossa área de atuação em residência médica é efetivado em um ano adicional à cardiologia, em contraposição ao O DES mais implantado preconizado pelo próprio CFM, na EUROPA e nos EUA1 que prevê dois anos de duraResultados Superiores XIENCE V Superior ao TAXUS na Falência da Lesão Alvo em 1 ano ção. O presidente reiterou que SPIRIT IV acionará a Comissão Mista de Superioridade clínica no maior estudo 39% Especialidades, integrada por randomizado comparando dois DES que, de redução até o momento, apresentou dados de representantes da Associação endpoints primários. Médica Brasileira (AMB), do Referências: 1. Baseado no market share Q2 2009. Dados em arquivo na Abbott Vascular. CFM e do CNRM, para unifor2. Dr. Gregg Stone, SPIRIT IV, Apresentação dos Resultados de 1 Ano, TCT 2009. LA-40012-07 11/2009 mizar os critérios vigentes em ABBOTT CENTER - Central de Relacionamento com o Cliente 0800 7031050 www.abbottbrasil.com.br sintonia com o já estabelecido em resolução própria. 2
Falência da Lesão Alvo (%)
10%
XIENCE V TAXUS
p=0,0008
8%
6,6%
6%
∆ 2,7%
4%
3,9%
2%
0%
0
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Número sob risco
6 Meses
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XIENCE V 2458
2390
2362
2323
2298
TAXUS
1165
1137
1119
1104
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TLF = Morte Cardíaca, IM do Vaso Alvo ou TLR isquêmica
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13/11/2009 09:16:57
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internas notícias da sbhci PROJETO CNPq
Atualização do Projeto Registro ICP–BR Com o objetivo de ampliar as possibilidades de coleta de dados sobre a cardiologia intervencionista no País, projeto piloto do Sistema de Gestão de Dados avança para fase de testes com casos reais
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Omar Matsumoto
C
riado em 2007, o projeto que visa à construção e implementação de um sistema para integração e gestão de dados sobre a intervenção coronária percutânea (ICP) colocou em prática a segunda etapa do processo, que é a inclusão de casos reais na base de dados. No momento, mais de 800 casos já foram adicionados ao sistema, alimentado com as características do procedimento, bem como da evolução clínica após a angioplastia. Em uma primeira etapa, a base tecnológica do banco de dados foi implementada, juntamente com a aquisição de todos os equipamentos de infraestrutura, como computadores e servidores, que foram instalados na sede da SBHCI. A ideia do projeto piloto surgiu em resposta a um edital direcionado a estudos no campo da gestão de tecnologias da saúde, com o objetivo de expandir as possibilidades de coleta de dados sobre a cardiologia intervencionista no Brasil e captar informações sobre a evolução em médio prazo dos indivíduos tratados. Segundo o diretor científico da SBHCI, Pedro Alves Lemos Neto (SP), a importância do projeto está na adequação da coleta de dados a respeito do desempenho clínico e dos custos envolvidos com procedimentos de alta complexidade de acordo com as características regionais do País. Embora se conheça relativamente bem o impacto clínico da angioplastia coronária a curto, médio e longo prazos, a maior parte da informação científica é “importada” da experiência de centros estrangeiros, disponível na literatura médica. “É relevante assinalar que as informações advindas de outros países podem não refletir a realidade brasileira, impondo-se a necessidade de coletar dados próprios dos
Pedro Alves Lemos Neto (SP), diretor científico da SBHCI, coordena o desenvolvimento do Projeto CNPq durante a gestão 2006/2009.
A ideia do projeto piloto surgiu em resposta a um edital direcionado a estudos no campo da gestão de tecnologias da saúde, com o objetivo de expandir as possibilidades de coleta de dados sobre a cardiologia intervencionista no Brasil
As telas do Sistema de Registros da Intervenção Coronária Percutânea mostram informações do cadastro de pacientes, que incluem resultados de exames e acompanhamento.
centros brasileiros”, afirma Lemos. Para ele, a extrapolação de dados externos para o panorama nacional pode trazer condições irreais para análise e/ou monitoramento da segurança e eficácia da ICP, essencialmente no que diz respeito à fidedignidade de informações. O próximo passo do processo é analisar os pormenores dos dados já acumulados. Para 2010, está prevista uma extensão do projeto a outros centros, ampliando-se o universo de instituições contribuintes. Dessa maneira, será possível, em futuro próximo, incorporar a experiência adquirida a sistemas generalizados de coleta de informações, rastreando a totalidade dos procedimentos de cardiologia intervencionista realizados no Brasil. O projeto é conduzido com apoio e endosso da SBHCI. As instituições participantes inicialmente são: Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – InCor/HCFMUSP (SP), Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia – IDPC (SP), Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – FMRP-USP (SP), Hospital de Clínicas de Porto Alegre da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS (RS), Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG (MG), Hospital Moinhos de Vento (RS), Instituto de Cardiologia da Fundação Universitária de Cardiologia – IC/FUC (RS), Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira – IMIP (PE), e Rede D’Or de Hospitais (RJ).
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internas notícias da sbhci JOGO RÁPIDO
Expedito E. Ribeiro A
Qual foi sua maior conquista? Ter a carreira profissional consolidada e uma família fantástica. Não fosse médico, que outra carreira teria escolhido? Não sei se conseguiria ter outra profissão, pois meu avô era médico e meu pai, farmacêutico prático. Cresci nesse meio. Talvez pudesse me tornar professor. Qual é a área mais promissora na medicina de hoje? A dos procedimentos minimamente invasivos. Qual a área mais negligenciada na medicina? Saúde e educação básica. Quem foi o professor que mais o influenciou? Por quê? Gostaria de citar quatro. O primeiro é um irmão marista italiano, Silvio Caseri, uma das mentes brilhantes que conheci e a quem sucedi no Colégio Marista Diocesano, em Uberaba (MG), como professor de física, durante meu curso de medicina; Lineu José Miziara (MG), meu mentor em cardiologia; J. Eduardo Sousa (SP), no meu treinamento em hemodinâmica, pela sua dedicação ao trabalho e visão de futuro; e Spencer B. King III, da Emory University (Atlanta, Estados Unidos), meu mentor quando iniciei na angioplastia coronária com balão. Qual o fato que teve maior efeito em sua carreira? Foi o primeiro transplante cardíaco realizado pelo professor Euryclides de Jesus Zerbini.
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Omar Matsumoto
utor do livro “Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista – Abordagem Clínica”, da Editora Manole, pioneiro em tratamento de pacientes infartados, ex-presidente da Sociedade Latino-Americana de Cardiologia Intervencionista (SOLACI) e diretor do Serviço de Cardiologia Intervencionista do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – InCor/HCFMUSP, Expedito E. Ribeiro (SP) inaugura a seção “Jogo Rápido” do Jornal da SBHCI. Qual sua recomendação para médicos que estão prestes a se formar? Que se dediquem à carreira escolhida com toda a energia possível. O sucesso profissional amplo é consequência disto. Como o senhor gosta de relaxar e passar seu tempo livre? Ouvindo música, indo para a fazenda e andando a cavalo. Qual é seu maior arrependimento? Não me lembro de grande arrependimento. Se o senhor escrevesse uma autobiografia, que título daria ao livro? Não sei se conseguiria escrever uma autobiografia, seria muita pretensão de minha parte. O que o senhor está lendo neste momento? “Uma Breve História do Mundo”, de Geoffrey Blainey (Editora Fundamento). Qual é seu pior hábito? Acordar e levantar muito cedo. O que o deixa inspirado e de bom humor? Um belo resultado de angioplastia ou uma aula bem dada. Como é um dia perfeito para o senhor? Com boas notícias profissionais e familiares.
curso de revisão
Aprimorando o conhecimento Curso de Revisão foi renovado e ampliado com êxito, reunindo 102 participantes na edição 2009, realizada em São Paulo nos dias 13 e 14 de novembro
Fotos Gislene Simonetti e Omar Matsumoto
[Luiz Alberto Mattos (SP), presidente]
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internas notícias da sbhci
A Terumo marcou presença como patrocinadora do Curso de Revisão, montando uma sala com simulador de acesso transradial.
Expedito E. Ribeiro (SP), Alexandre Abizaid (SP), Pedro A. Lemos Neto (SP), Maurício Rezende Barbosa (MG), Denizar A. Vianna (RJ) e Otávio Berwanger (SP) participaram no módulo VIII sobre Dispositivos Adjuntos e Stens Coronários.
O módulo III tratou de Intervenção Coronária Percutânea, com a participação de Pedro A. Lemos (SP) e Fábio Sândoli de Brito Jr. (SP), à mesa, e Jorge Pinto Ribeiro (RS), José Armando Mangione (SP), Anis Rassi Jr. (GO) e Luiz Alberto Mattos (SP).
O módulo V, sobre Intervenção Percutânea nos Defeitos Estruturais e Congênitos, contou com Luiz Carlos Simões (RJ), Edmundo Clarindo Oliveira (MG), Raul Ivo Rossi Filho (RS) e Carlos A. Cardoso Pedra (SP).
SBHCI renovou novamente seu Curso Anual de Revisão, realizado sempre na véspera da prova para a obtenção do Certificado de Área de Atuação em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista. Com base nos comentário nas fichas de avaliação preenchidas pelos participantes de 2008, foram efetivadas modificações no sentido de atender às solicitações da maioria. O foco era obter, na avaliação de 2009, uniformidade mais elevada na conceituação das aulas proferidas, na expectativa de serem avaliadas como “boas” ou “muito boas” pelos participantes da edição deste ano. O curso transcorreu em dois dias integrais e foi composto de nove módulos. O principal ajuste foi realizado no temário relacionado a bases do exame diagnóstico hemodinâmico, cuidados dedicados à proteção contra a radiação ionizante, valorização dos temários clínico e farmacológico, aplicação das diretrizes societárias e exposição baseada em evidências obtidas de ensaios clínicos controlados. Um dos módulos foi desenvolvido
para tratar especificamente de qualidade assistencial, com palestra sobre critérios para requisição da aposentadoria diante do risco da insalubridade e dos enfrentamentos na saúde suplementar brasileira. Inédito na programação de nosso Curso de Revisão, o tema despertou grande interesse do público. Para finalizar, criou-se um fórum de debate da prática intervencionista diária, naqueles cenários angiográficos mais complexos, com a coordenação de Costantino R. Costantini (PR) e com a participação de profissionais dotados de grande experiência prática em volume de casos realizados anualmente. Palestras magnas proferidas pelos fundadores da SBHCI também engalanaram o evento, ensinando aos mais jovens sobre as origens da cardiologia intervencionista. Carlos A. Mascia Gotschall (RS) levou os presentes a 15 minutos de uma viagem no tempo, resgatando nossa história. J. Eduardo Sousa (SP) partiu do extremo oposto, proferindo palestra sobre a aplicação da intervenção coronária
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Marcelo Queiroga (PB) e Ibraim M. Pinto (SP) foram os coordenadores do módulo II, que teve Fernando M. Sant Anna (RJ), Luis Henrique Gowdak (SP) e J. Ribamar Costa Jr. (SP) falando sobre Métodos Adjuntos Diagnósticos e Intervencionistas.
O público participou ativamente do Curso de Revisão, fazendo perguntas relevantes ao final de cada módulo.
Fundamentos do Exame Diagnóstico Intervencionista foram tratados no módulo I por André Labrunie (PR), Carlos A. Mascia Gottschall (RS), Marinella P. Centemero (SP) e Luiz Antonio Gubolino (SP).
Costantino R. Costantini (PR), terceiro da esquerda para a direita, recebeu homenagem da SBHCI das mãos de Marcelo Queiroga (PB), Luiz Alberto Mattos (SP) e Samuel Silva da Silva (PR).
percutânea na fronteira do conhecimento vigente, como nas estenoses do tronco da coronária esquerda. No total, 48 palestrantes estiveram presentes. A maioria seguia o critério de proficiência e qualificação, com residência no Estado de São Paulo, sendo 20% dos colegas presentes originários de outros Estados. Ainda recebemos a presença de dois colegas estrangeiros: Hugo Londero, que aceitou nosso convite e veio da Argentina para participar de dois módulos do curso, e o norte-americano Barry Balenger, gerente de Desenvolvimento Clínico da GE, que deu aula sobre a qualidade da imagem obtida pela radiação ionizante. Também de maneira inovadora, e utilizando a agilidade das ferramentas eletrônicas disponíveis, a assessoria de informática da SBHCI (InfoWeb – Sistemas e Serviços Ltda., do portal WebSaúde) disponibilizou todas as aulas proferidas no Portal da SBHCI (www.sbhci.org. br), no final dos dois dias do evento. Visite nosso portal, consulte o material e revise seus conhecimentos, pois
as aulas permanecerão no site. O público presente totalizou 102 inscritos, que permaneceram, em sua maioria, das 8h30 do dia 13 de novembro até as 19h00 do dia 14 de novembro, no auditório onde as aulas eram realizadas. Acreditamos que essa fórmula se consolida, ofertando um curso dedicado e intenso, de dois dias integrais, utilizando um dia de semana e um do final de semana (sexta-feira e sábado, respectivamente), com a prova efetivada no dia seguinte. O balanço das fichas de avaliação foi muito positivo, atendendo a nossas expectativas. Porém, é fato que ainda carecerá de ajustes futuros para que o “padrão ouro” seja atingido, a fim de que as próximas edições do curso não se desviem do temário e respeitem o tempo disponibilizado, e que cada palestrante evoque em sua apresentação mensagens objetivas e baseadas em evidências científicas robustas. Estas são as recomendações objetivas para os futuros gestores científicos da entidade, que assumem as decisões e a operacionalização em janeiro de 2010.
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Gislene Simonetti
internas notícias da sbhci PROVA DE TÍTULO 2009
Missão cumprida No dia 15 de novembro, 60 candidatos fizeram a Prova de Título de Especialista em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, realizada pela SBHCI. As provas teórica e teórico-prática, que contemplam a primeira etapa do processo para obtenção do título, ocorreram no Mercure Grand Hotel Ibirapuera, em São Paulo, e consolidaram mudanças e melhorias que vinham sendo promovidas pela Comissão de Julgamento do Título de Especialista em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista desde 2006. Samuel Silva da Silva (PR), coordenador da Comissão, explica a evolução da Prova de Título e o trabalho de sua equipe ao longo dos últimos três anos. Qual a importância que o senhor atribui às recomendações da Oficina de Planejamento Estratégico, realizada em Brasília (DF) em agosto de 2006, nas atividades desenvolvidas pela Comissão Permanente de Certificação (CPC), durante o mandato da atual Diretoria da SBHCI? A então Comissão de Julgamento do Título de Especialista em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista teve participação ativa na referida Oficina, com a presença de nove de seus membros. Procedeu a uma análise técnica da prova de 2005, identificou os pontos críticos daquele processo de certificação e estabeleceu um rol de sete propostas a serem executadas como metas, durante o mandato da atual Diretoria. Aquele elenco de resoluções se revelou de grande valia, balizou todas as atividades da CPC, e sua execução foi plenamente factível, com 100% dos objetivos alcançados. Graças a um eficiente trabalho coletivo, a séria crise advinda da prova anterior foi superada e possibilitou a efetivação de notável salto qualitativo em todo o processo de certificação da SBHCI.
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Em 2008, a prova para obtenção do Certificado de Área de Atuação em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista foi desvinculada do Congresso, assim como o Curso de Revisão. O objetivo de fortalecer esses dois eventos foi alcançado? Por quê? Essas duas resoluções constam das propostas do planejamento estratégico, que foram implementadas com sucesso. Aqui, uma breve revisão de nossa história recente é pertinente. Pelo fato de o quadro associativo da SBHCI ser composto, em 2007, em sua maioria, por sócios aspirantes, realizou-se, em dezembro daquele ano, uma segunda prova anual em Curitiba (PR). A cidade sede e a data foram escolhidas para haver simultaneidade com o evento CardioInterv, o Simpósio Internacional de Cardiologia Intervencionista promovido pela Fundação Francisco Costantini e pelo Hospital Cardiológico Costantini. Essa foi a primeira prova desvinculada de um congresso da SBHCI, marcada por outros fatos relevantes. Seu edital garantia o direito do contraditório
aos candidatos, a divulgação do gabarito das respostas logo após seu término, a recepção de recursos contestatórios, o julgamento desses recursos e a promulgação da lista dos aprovados em até 48 horas. Essa sistemática, mantida até hoje, foi consolidada. Realizamos, também, uma prova piloto de caráter voluntário, para testar a viabilidade da prova teórico-prática. Essas mudanças na metodologia de avaliação, que utiliza casos editados para a formulação das questões, e no teor do Edital são duas outras propostas da Oficina de Planejamento Estratégico que foram implementadas. Quanto ao curso, a mudança ocorreu em 2008 e representou sua promoção de curso preparatório para prova para um verdadeiro curso de atualização. Para tal, mudanças de temário, do tempo de duração – passando de um para dois dias –, da escolha dos palestrantes, da data e do local foram decisivas. Deve ser salientado que a escolha da data foi uma consequência da nova resolução da Associação Médica Brasileira (AMB), que exige dos candidatos às provas de Áreas de Atuação a titulação de especialista como pré-requisito. Assim, todos os sócios aspirantes da SBHCI, em condições de prestar nossa prova, poderiam fazê-lo no mesmo ano da obtenção do respectivo título de especialista em cardiologia. Quanto ao sucesso do Curso de Revisão, os números falam por si. Dos 185 médicos inscritos, apenas 70 eram candidatos ao processo de certificação. A decisão da Diretoria da SBHCI de transferir a responsabilidade da organização do curso para a Comissão Científica e a proibição da participação dos membros da CPC como palestrantes do curso, outra proposta da Oficina de Planejamento Estratégico implementada para prevenir conflito de interesses na atuação de seus membros, são duas outras ações que objetivaram garantir a independência e o fortalecimento dos dois eventos.
A Prova de Certificação de 2008 foi marcada por uma série de mudanças, algumas já apresentadas em 2007 e, agora, consolidadas. Entre elas estavam as questões baseadas na interpretação de casos. A prova deste ano continuou com essas questões? Por que elas são importantes para a avaliação do candidato? A prova teórico-prática representou grande avanço ao incorporar meios eletrônicos a um processo de avaliação. A utilização de imagens reais, editadas, possibilita o contexto para formulação do enunciado da questão de qualidade pedagógica muito superior ao que se obtém com a utilização de enunciado descritivo. A incorporação de novas metodologias de avaliação foi outra recomendação do planejamento estratégico da CPC. Essa iniciativa pioneira, no âmbito da cardiologia brasileira, implementada em teste piloto realizado em 2007, representou relevante aprimoramento nos processos de certificação adotados, possibilitando avaliação mais justa e abrangente nas diversas competências julgadas.
Não perca o prazo Os resultados das provas teórica e teórico-prática estão disponíveis no portal www.sbhci.org.br desde o dia 8 de dezembro. Os aprovados nessa primeira etapa que já concluíram o Programa de Treinamento em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista devem solicitar à secretaria da SBHCI, por escrito, a realização da prova prática, que deverá acontecer até junho de 2010. Consulte o edital no Portal da SBHCI para conhecer todos os detalhes e informações para obtenção do título.
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giro pelo brasil sbhci no piauí
Divulgação
Em franco crescimento Com 27 anos de história, o Serviço de Hemodinâmica do Piauí nasceu e vem crescendo sob forte influência das escolas e dos profissionais do Estado de São Paulo
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roporcionando um serviço de hemodinâmica de nível equivalente ao dos grandes centros do País, o Estado do Piauí tem desenvolvido padrão de qualidade e excelência ao longo dos últimos 25 anos. Os primeiros passos foram dados no começo da década de 1980, quando Paulo Sergio Tajra Cortellazzi (PI) começou a montar uma equipe de cirurgia cardíaca no Hospital Santa Maria, em Teresina, capital do Estado. A convite de Cortellazzi, o cardiologista Moacir Fernandes de Godoy (SP), que até então fazia parte da equipe de hemodinamicistas da Escola Paulista de Medicina, em São Paulo, transferiuse para a capital piauiense e organizou o primeiro Serviço de Hemodinâmica do Estado. Só depois voltou para São José do Rio Preto, no interior paulista, onde vive até hoje. O ano era 1982. Naquela época, o Brasil passava pelos graves problemas econômicos que marcaram toda a década de 1980. Era o período final da ditadura militar e início do endividamento externo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Os equipamentos necessários ao Serviço de Cardiologia foram encomendados e eram aguardados ansiosamente para o início das atividades. A morosidade tanto burocrática como política daquele período foi responsável pela retenção de todos os equipamento na alfândega por um período de dois anos. Somente em janeiro de 1984, com a conclusão da instalação da aparelhagem, o Serviço foi inaugurado oficialmente. “O primeiro paciente submetido a cateterismo em Teresina foi um caso bastante grave de dissecção aórtica aguda”, lembra Godoy. “Como ainda não dispúnhamos da cirurgia cardíaca em atividade, foi necessária a transferência para Salvador para que ele pudesse ser opera-
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do.” Nos oito anos seguintes, cerca de 5.500 cateterismos foram realizados sob o comando do cardiologista, com a assistência de Angelo Amato Vicenzo de Paola (SP), Luiz de Castro Bastos (PR) e Paulo Rogério Corrêa (SP). Atualmente, quem coordena a equipe do Hospital Santa Maria é Paulo Rogério de Oliveira Monteiro (PI). Durante os primeiros anos da especialidade na região, as dificuldades eram superadas gradativamente. “Os recursos eram precários e os exames complementares, como ecocardiograma e ergometria em esteira, estavam também se iniciando”, afirma Godoy. “Mas havia um grupo local de cardiologistas interessados em ampliar os horizontes e logo uniram esforços no sentido de criar a Sociedade de Cardiologia do Estado do Piauí”. O empenho daqueles profissionais rendeu frutos e a Sociedade foi concretizada em 1987. Entre eles estavam nomes importantes como Luiz Nodgi Nogueira Filho (PI), Francisco Luis Lima (PI) e Antenor Lages Fortes Portela (PI), responsável pela criação de mais um Serviço de Hemodinâmica no Estado. O segundo Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Piauí foi criado em janeiro de 1990, no Hospital São Marcos da Associação Piauiense de Combate ao Câncer (APCC), sob a coordenação de Portela, também vindo de São Paulo. Ele e seu companheiro de equipe, Raldir Bastos Filho (PI), foram pioneiros em inúmeros procedimentos de cardiologia intervencionista no Piauí, como angioplastia coronária com implante de stent, valvoplastia mitral, implante de stent em carótida, e fechamento percutâneo de comunicação interatrial. A equipe já realizou mais de 18 mil procedimentos, incluindo cateteris-
mos diagnósticos e terapêuticos. No final da década de 1980 e início da década de 1990, muitos médicos cardiologistas, que haviam migrado para São Paulo para completar a formação, retornaram ao Piauí. Após esse período, outros Serviços de Hemodinâmica e de Cirurgia Cardíaca surgiram em Teresina, entre eles o do Hospital Prontomed, inaugurado em maio de 2004, sob a coordenação de João Francisco de Sousa (PI), cardiologista com formação na Escola Paulista de Medicina e treinado em cardiologia intervencionista na Beneficência Portuguesa de São Paulo, que muito contribuiu para o desenvolvimento da intervenção na região. Dois anos depois, o Hospital de Terapia Intensiva (HTI) constituiu a cardiologia intervencionista com Paulo Márcio Sousa Nunes (PI) e Alexandre Adad Alencar (PI), ambos formados em cardiologia clínica e intervencionista no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo. Esse serviço já realizou 2.500 procedimentos de intervenção, sendo pioneiro no tratamento endovascular do aneurisma de aorta. Nesse hospital, também são realizadas valvoplastia mitral percutânea e eletrofisiologia invasiva. Atualmente, há três estudos multicêntricos em cardiologia intervencionista em andamento. Recentemente, o Hospital São Paulo, localizado em Teresina, conseguiu registro no Sistema Único de Saúde (SUS) para o Serviço de Hemodinâmica. Os médicos Carlaile Antônio Sarmento de Araújo Costa (PI), Luis Gustavo Marques (PI) e Thenyson Pereira Leitão (PI) já realizaram cerca de 2.700 procedimentos, desde 2006. Em junho de 2008, foi constituído o mais novo Serviço de Hemodinâmica da cidade, no Hospital Aliança Casamater, sob direção de Nunes e Alencar. Embora o Piauí possua equipes atuantes, ainda não existe uma diretoria regional da especialidade e nem houve evento específico da área. De acordo com Nunes, diretor médico de Serviço do Hospital Aliança Casamater, a cardiologia intervencionista do Estado encontra-se em franco processo de crescimento e ampliação de horizontes para intervenção. “Pretendemos, no próximo congresso estadual, organizar nosso primeiro simpósio”, afirma. Com o mesmo otimismo, Portela, diretor médico dos Serviços de Emergência e Cardiologia Intervencionista do Hospital São Marcos-APCC, endossa: “A cardiologia intervencionista do Piauí é vibrante, competente, atualizada e, certamente, em pé de igualdade com o que há de melhor no Brasil”.
Só na capital Todos os seis Serviços de Hemodinâmica do Piauí estão em Teresina, capital do Estado Hospital Santa Maria Responsável: Paulo Rogério de Oliveira Monteiro Site: www.hsmaria.com.br Telefone: (86) 3194-5100 Hospital São Marcos-APCC Responsável: Antenor Lages Fortes Portela Site: www.saomarcos.org.br Telefone: (86) 2106-8000 Hospital Prontomed Adulto Responsável: João Francisco de Sousa Site: www.medimagem.com Telefone: (86) 3223-2650 Hospital de Terapia Intensiva (HTI) Responsável: Alexandre Adad Alencar Site: em desenvolvimento Telefone: (89) 4009-1111 Hospital São Paulo Responsável: Carlaile Antônio Sarmento de Araújo Costa Site: www.hsp.com.br Telefone: (86) 3216-9300 Hospital Aliança Casamater Responsáveis: Paulo Márcio Sousa Nunes e Alexandre Adad Alencar Site: não possui Telefones: (86) 3215-6700 e 3222-5617
Da esquerda para a direita, Antenor Portela (PI) e Paulo Márcio Sousa Nunes (PI).
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ex-presidente jamil abdalla saad
Valorizando as oportunidades
Fotos João Marcus Rosa/Agência Nitro
Presidente da gestão 1998/2002, o mineiro Jamil Abdalla Saad relembrou seus quatro anos à frente da SBHCI e contou um pouco de sua trajetória pessoal e profissional
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amil Abdalla Saad é mineiro de Uberaba, cidade de onde saiu somente depois de se formar em medicina pela Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro. Seu pai era imigrante libanês. Sua mãe, descendente de libaneses. Saad era o caçula de cinco irmãos criados em um ambiente familiar de amor, respeito, sem imposições e muita dedicação aos estudos. “Creio que esse ambiente muito contribuiu para minha formação e personalidade, da qual citarei duas características, mais pela importância que possam ter em relação ao cargo que ocupei”, afirma Saad. “São elas: o respeito ao argumento racional na busca da melhor decisão e a valorização
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das oportunidades, herança provavelmente atávica aos descendentes de imigrantes.” Desde garoto, Saad afirmava a todos que seria médico. Talvez tenha sido influência de Edson e Miguel Saad, seus primos doutores, muito admirados por toda a família. A decisão precoce também foi estimulada durante o tratamento de Guillan-Barré – síndrome autoimune caracterizada por inflamação aguda com perda da mielina dos nervos periféricos, raízes nervosas proximais e nervos cranianos –, pelo qual passou aos 14 anos de idade e o fez conviver com muitos médicos. “Mas quem confirmou essa decisão foi Mário José Abdalla Saad – endocrinologista e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/Unicamp) –, meu irmão três anos mais velho, a quem sempre fui muito ligado”, conta Saad, que optou pela especialização em cardiologia por admiração a um quarto personagem. “A escolha pela cardiologia foi consequência do fascínio exercido por um grande mestre, filósofo e humanista de inteligência singular, o professor Lineu José Miziara (MG)”, afirma nosso ex-presidente mineiro. “Ele havia feito residência em cardiologia clínica no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (IDPC), em São Paulo, em 1967, e, desde que retornou a Uberaba, exerceu forte influência em várias gerações de cardiologistas.” Saad terminou a residência em hemodinâmica no IDPC em 1986. Naquele momento, muitas capitais brasileiras já realizavam cateterismo. Os hemodinamicistas que chegavam ao mercado de trabalho já não eram de uma geração de pioneiros, mas tinham à disposição as oportunidades promovidas pela transformação da especialidade de diagnóstica em terapêutica. Com a abertura de novas oportunidades em locais onde o serviço de hemodinâmica já estava constituído, surgiam alguns convites. Saad aceitou a proposta de se transferir para Belo Horizonte (MG), onde, após algumas experiências, iniciou o Serviço de Hemodinâmica do Hospital SOCOR e assumiu a coordenação do serviço do Hospital Felício Rocho. “Nesses locais, onde continuo trabalhando até hoje,
estabeleci ótimos laços profissionais e de amizade”, ele afirma. “O mais intenso foi com Ari Mandil (MG), parceiro de primeira hora no enfrentamento das maiores dificuldades e nas principais conquistas.” Essa dupla, sempre trabalhando em harmonia e procurando corresponder ao papel de liderança que a cardiologia intervencionista deve ter em qualquer instituição, iniciou o programa de treinamento e residência, contando ao menos 20 profissionais formados, em atividade e ligados à SBHCI. Em 1997, a SBHCI planejava seu primeiro congresso em Minas Gerais. A convite do então presidente Heitor Ghissoni de Carvalho (BA), Saad assumiu a presidência do evento. “Estabeleci um contato muito estreito com a Diretoria da SBHCI”, diz Saad. “Aparentemente, as coisas foram bem e conquistei a confiança de muitas lideranças, especialmente estimulado por Heitor, um amigo e profissional de espírito grandioso.” Após essa experiência, Saad considerou-se habilitado e apoiado para o desafio de se tornar presidente da SBHCI. “Convidei André Labrunie (PR) para ser tesoureiro e Claudia Maria Rodrigues Alves (SP) para ser secretária”, recorda. “É interessante porque não nos conhecíamos o suficiente, mas havia uma visível empatia entre nós que foi progressivamente se ampliando e se transformando em amizade e confiança.” Diferentemente de anos anteriores, pela primeira vez haveria disputa entre duas chapas para eleição da Sociedade. Saad conta que muitos reconheciam, naquela ocasião, o prenúncio de uma nova dimensão à SBHCI. Eleição vencida, a missão do presidente e sua equipe era adequar a Sociedade à realidade profissional da época, tanto em relação a sua estrutura interna como na demanda fora de suas fronteiras. Durante aquela gestão, a SBHCI ampliou a representação regional e elevou de quatro para dez o número de membros do Conselho Deliberativo. Também foi sob sua presidência que a entidade aprovou, em assembleia, a inclusão do cardiologista intervencionista pediátrico como membro da Sociedade e criou a pasta de Intervenção Extracardíaca. É da autoria de sua Diretoria a criação das cotas e categorias de patrocínio para a indústria, dando início ao modelo
de organização dos congressos, que evoluiu para os padrões atuais. “Ainda iniciamos a publicação do Jornal da SBHCI, bem mais modesto que o atual, mas com o intuito de melhorar a comunicação entre os sócios e aproximá-los da Diretoria, facilitando o debate de questões polêmicas em assembleia, quando necessário”, afirma o ex-presidente. Em relação às questões externas à Sociedade, a maior conquista da gestão foi a publicação da portaria do Sistema Único de Saúde (SUS) autorizando o implante de stents, obtida com o apoio e o auxílio de J. Eduardo Sousa (SP) e Amanda M. R. Sousa (SP). “Outra conquista foi o reconhecimento da cardiologia intervencionista pela Associação Médica Brasileira (AMB), como área de atuação”, conta Saad, lembrando que, na época, havia resistências a essa decisão. “Felizmente, ao longo do tempo, isso foi bem compreendido e creio que esteja consolidado.”
“iniciamos a publicação do Jornal da SBHCI, bem mais modesto que o atual, mas com o intuito de melhorar a comunicação entre os sócios e aproximá-los da Diretoria” 21
práticas médicas gilson soares feitosa
Novas estratégias antiplaquetárias
Fotos Walter Carvalho
Estudo recente apresenta informação complementar sobre regime posológico intensificado de clopidogrel em pacientes na vigência de síndrome coronária aguda submetidos a intervenção coronária percutânea
O soteropolitano Gilson Soares Feitosa falou sobre as recomendações de prescrição de clopidogrel e AAS após avaliar estudo recente.
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m setembro, durante o Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, em Barcelona, na Espanha, foram anunciados os resultados preliminares do CURRENT-OASIS 7. Esse ensaio clínico, o maior realizado para avaliar diferentes doses de aplicações de clopidogrel em associação com ácido acetilsalicílico (AAS), incluiu 25.087 doentes com síndrome coronária aguda (SCA), a maioria sem supradesnivelamento do segmento ST (29,2% com infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento). O objetivo do estudo foi avaliar a eficácia e a segurança de um regime posológico intensificado de clopidogrel versus a dose padrão em doentes tratados previamente por processo invasivo e elegíveis para intervenção coronária percutânea (ICP). Conversamos com Gilson Soares Feitosa (BA), cardiologista intervencionista e sócio-honorário da SBHCI desde 2007, que falou sobre as recomendações de prescrição de clopidogrel e de AAS, após os resultados do estudo. Feitosa é formado, desde 1970, pela Universidade Federal da Bahia. Fez residência em medicina e fellowship em cardiologia, de 1971 a 1975, na Filadélfia (Pensilvânia, Estados Unidos). É professor titular da Escola
Essa estratégia de doses mais elevadas nos pacientes submetidos a ICP reduziu, de forma significante, os desfechos primários combinados de morte cardiovascular, acidente vascular cerebral e infarto agudo do miocárdio: redução de 15% no período de 30 dias, em comparação ao uso padrão do clopidogrel. No grupo submetido a ICP – um total de 17.232 pacientes –, foi observado desfecho de eficácia de trombose confirmada intrastent reduzido em 42% com a dose maior em comparação à dose padrão, tanto nos pacientes de baixo risco como nos de alto risco. Tais benefícios foram contrapostos por aumento do risco de sangramento da ordem de 44% para sangramentos maiores e de 39% para sangramentos graves pelos critérios do estudo, embora não houvesse diferença em mortalidade atribuída ao sangramento ou de sangramento pelo critério Thrombolysis in Myocardial Infarction (TIMI). O tamanho da diferença obtida é, no entanto, relativamente modesto, considerando-se outras maneiras de medi-la, que não a redução de risco relativo. Por isso, acredito que, embora a tendência seja passar a aplicar a dose maior de clopidogrel de forma geral naqueles pacientes
“Há muito se espera um substituto mais conveniente ao emprego de anticoagulantes. No estudo RE-LY, o dabigatran ofereceu resultados animadores quando comparado à varfarina na fibrilação atrial.” de Medicina e Saúde Pública, diretor de Ensino e Pesquisa do Hospital Santa Izabel da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, e diretor científico do Hospital Aliança da Bahia. Gilson Feitosa foi presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia durante o biênio 1999-2001. Qual a dose de ataque do clopidogrel: 600 mg para todos? O estudo CURRENT-OASIS 7 testou, em um modelo fatorial 2x2, duas maneiras de uso do clopidogrel e duas maneiras de uso do AAS em uma população de portadores de SCA. Havia a decisão de se fazer cinecoronariografia em todos e ICP, exceto se houvesse contraindicação. Cerca de 70% dos pacientes realizaram ICP e os demais foram encaminhados para cirurgia de revascularização, tratamento clínico ou não apresentavam aterosclerose significante. Em uma comparação entre os que fizeram ou não ICP, verifica-se que a diferença favorecendo o esquema de maior dosagem de clopidogrel (dose de carga de 600 mg, 150 mg do segundo ao sétimo dias e 75 mg do oitavo ao trigésimo dias), em comparação com o esquema habitual (dose de carga de 300 mg e 75 mg do segundo ao trigésimo dias), foi registrado apenas nos pacientes submetidos a ICP.
que previsivelmente tenham maior probabilidade de sangramento, a estratégia de dosagem padrão ainda deva ser considerada até que surjam outras evidências. Qual a dose de AAS: 100-200 mg ou 325-500 mg? Não houve demonstração de vantagens de doses maiores de AAS. Portanto, a dose de 75 mg a 100 mg, como bem testada no estudo CURRENT-OASIS 7, deverá ser o padrão estabelecido. Qual a dose de manutenção do clopidogrel pós-angioplastia: 75 mg ou 150 mg por via oral? O esquema sugerido pelo estudo é o de 150 mg por dia durante os sete primeiros dias após o procedimento e, depois, 75 mg diariamente. Por quanto tempo o clopidogrel deverá ser prescrito? Não se tem uma definição estabelecida em relação aos stents com eluição de medicamentos, sugerindo-se que seja usado ao menos por um ano e, talvez, indefinidamente, nesses casos. Nos stents convencionais, seu uso por um mês encontra as maiores evidências de benefícios e evidência menor é observada com sua extensão por um ano.
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práticas médicas gilson soares feitosa O prasugrel deverá ser lançado até julho de 2010. Ele será incorporado à prática clínica brasileira e suplantará o clopidogrel? No estudo TRITON-TIMI 38, o prasugrel mostrou-se mais eficaz que o clopidogrel. Convém lembrar que a dose de ataque de clopidogrel foi a padrão, precisando ainda ser demonstrado se a mesma superioridade se compararia às doses mais elevadas do clopidogrel, como testado no estudo CURRENT-OASIS 7. Ticagrelor vs. clopidogrel: os resultados do ensaio PLATO são convincentes? O estudo PLATO fornece evidências razoáveis de que ticagrelor, em duas tomadas por dia, tem eficácia superior e o mesmo risco de sangramento que o clopidogrel com dose padrão. Mais uma vez fica a indagação de como seria a comparação do ticagrelor a doses maiores de clopidogrel. Nota-se que o ticagrelor promete se associar a menor risco de sangramento em pacientes que venham, porventura, a se submeter a cirurgia cardíaca por conta de sua ação mais prontamente reversível com sua suspensão. Mas é curioso notar que, no estudo PLATO, não houve significativa diferença de sangramento maior entre os dois medicamentos quando a cirurgia de revascularização foi realizada, situando-se, respectivamente, em 5,3% e 5,8%. Dabigatran vs. varfarina: finalmente teremos um anticoagulante de farmacodinâmica e controle mais eficazes? Há muito se espera um substituto mais conveniente ao emprego de anticoagulantes. No estudo RE-LY, o dabigatran ofereceu resultados animadores quando comparado à varfarina na fibrilação atrial. Com base em experiências prévias, instigantes de início e frustrantes depois, como a experiência com o ximelagatran, que se revelou mais hepatotóxico que o inicialmente previsto, é recomendável que se observem os resultados do dabigatran em outras condições que não a fibrilação atrial, assim como seu perfil de segurança a longo prazo.
“quando da escolha do stent a ser empregado, a perspectiva de cirurgia de maior porte em futuro próximo deverá favorecer a escolha do stent metálico.”
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Qual sua recomendação relacionada à prescrição da terapia tríplice (AAS + clopidogrel + cilostazol) para reduzir taxas de trombose tardia dos stents farmacológicos? Acho que, mesmo que relativamente empírica, ela deve ser empregada quando houver indícios de resistência plaquetária. Qual sua recomendação para a suspensão da terapia antiplaquetária e a necessidade de realizar cirurgia não-cardíaca em pacientes submetidos a implante de stents farmacológicos? Em cirurgias eletivas de baixo risco de sangramento, a terapia dupla antiplaquetária deverá ser mantida. Naquelas de risco aumentado, o clopidogrel deverá ser suspenso, mantendo-se, se possível, o uso da aspirina. Observe que, quando da escolha do stent a ser empregado, a perspectiva de cirurgia de maior porte em futuro próximo deverá favorecer a escolha do stent metálico. Em sua prática clínica, em quais casos prescreve o tienopiridínico por período inferior a um ano após implante de stents farmacológicos? Em stents farmacológicos, recomendo o uso por um ano. Nos casos de stents em artérias coronárias mais relevantes e com maior risco de trombose tardia, uso clopidogrel e AAS, indefinidamente.
sbc antonio carlos palandri chagas
Visão, planejamento
e execução Fotos Gislene Simonetti
Em janeiro de 2010, Antonio Carlos Palandri Chagas (SP) encerra sua gestão de dois anos à frente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). A dois meses de deixar o cargo, o presidente da entidade nos concedeu entrevista exclusiva, na qual fez um balanço do trabalho realizado por sua Diretoria e falou de projetos, avanços e do momento histórico que a cardiologia brasileira vive, assumindo posições importantes no cenário público nacional e no ambiente científico mundial
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omo surgiu a oportunidade para se candidatar à presidência da SBC? Eu acredito que a oportunidade tenha sido observada pela nossa gestão na Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP). Ali pudemos realizar, com toda a Diretoria, um trabalho expressivo, principalmente do ponto de vista científico, elevando a qualidade de uma sociedade que é muito dinâmica. Acredito que esse trabalho possibilitou minha indicação para disputar a presidência da SBC. Ao assumir a presidência, qual era seu grande projeto para a SBC? A cardiologia brasileira tem uma história de conquistas, de realizações. Veja a história de nossa cardiologia cirúrgica, que foi responsável pela formação dos principais cirurgiões em toda a América Latina e tem influenciado profissionais no mundo todo. Também temos a história da hemodinâmica, que se iniciou logo após a criação da especialidade nos Estados Unidos, com o envio de um grupo do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (IDPC), de São Paulo, e outro da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (FMUSP). Aqueles profissionais fizeram o treinamento de todos os grandes hemodinamicistas do Brasil. Depois, criou-se outra grande área, a cardiologia pediátrica, com o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – InCor/HCFMUSP, sob a liderança inconteste do professor Luiz Venere Décourt, e outros médicos do IDPC. Assim começou a grande escola da cardiologia brasileira, que formou os grandes cardiologistas da América Latina, com mestres e mais mestres em uma longa sequência de grandes nomes e grandes profissionais. Então, hoje, quando encontramos a cardiologia cirúrgica forte, a hemodinâmica forte e a cardiologia clínica forte, formados em cima da superação das dificuldades econômicas e do sistema de saúde brasileiro, entendemos que estamos diante de uma SBC que tem um alicerce muito forte. Hoje, não é tão diferente. Temos contribuições brasileiras do ponto de vista científico que vão de cardiopatia congênita, passando por doenças do miocárdio, doença de Chagas, doenças coronárias e transplantes até chegar à alta ciência em biologia molecular. Então, quando assumi a SBC, eu vislumbrava
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sbc antonio carlos palandri chagas que essa sociedade poderia ir mais adiante e levar a qualidade da cardiologia brasileira à internacionalização. A SBC não recebia os devidos reconhecimentos internacionais ou não era bem vista fora do Brasil? Ela era reconhecida, mas eu via que era um momento muito oportuno para o Brasil ocupar posição de destaque. E essa foi uma das grandes metas de nossa gestão. Quais os resultados desse projeto de internacionalização? Agora, ao encerrar minha gestão, criamos oficialmente o capítulo brasileiro no American College of Cardiology (ACC). Agora nós somos verdadeiramente uma federação do ACC, com números expressivo de colegas brasileiros e com um capítulo dedicado exclusivamente ao Brasil. Esse fato vai aumentar não só o relacionamento entre instituições, mas o reconhecimento da cardiologia brasileira. Outro passo muito importante foi a filiação da SBC como membro efetivo da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC). Não somos Europa, mas temos grande ligação com esse continente. Assim, o sócio da SBC passa a ter reconhecimento inter-
lugar que merece por sua qualidade científica. Outro ponto muito importante que pudemos desenvolver foi a questão da pesquisa. Uma sociedade médica como a nossa não tem a obrigação de realizar pesquisas. Ela deve ser uma facilitadora dos projetos de pesquisa. Nós atuamos nos Ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia, fazendo com que a SBC funcionasse como um grande catalisador para desenvolvimento de pesquisas. Hoje, por exemplo, temos alguns projetos nas mãos da Sociedade nos quais ela faz a interface entre hospitais universitários e órgãos governamentais. O corolário dessa ação é a Bolsa Harvard. A partir de 2010, dois brasileiros ficarão por dois anos na Harvard University (Boston, Estados Unidos). Esse projeto tem a chancela da SBC, da Harvard Medical School e do patrocinador, Jorge Paulo Lemann – empresário brasileiro que viabilizou o projeto por meio de doação à universidade americana. O primeiro processo de seleção já está completo, e estamos aguardando o julgamento por parte de Harvard. Mais recentemente, inclusive, e com o processo de seleção a ser iniciado, teremos um projeto copatrocinado pela Sociedade Interamericana de Cardiologia, Sociedad Sudamericana de Cardiologia e SBC, o qual oferecerá uma
“A Sociedade funcionar como uma entidade que também representa a sociedade civil é um ponto muito importante e serve como catalisador de ideias, agregando conhecimento técnico.”
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nacional e pode se beneficiar dos inúmeros programas da ESC e concorrer a bolsas de pesquisa que eles oferecem.
bolsa para um programa de reabilitação cardiopulmar na Mayo Clinic (Rochester, Estados Unidos).
Acompanhando um pouco da trajetória dos Departamentos e Sociedades ligados à SBC, percebemos que houve uma aproximação com grupos de cardiologistas europeus. A SBHCI promoveu ações com médicos portugueses e franceses, por exemplo. Já é um reflexo desse trabalho de internacionalização da SBC ou é esforço individual desses grupos? Sim, é um resultado do nosso trabalho. E não é só com a SBHCI. A Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas tem feito regularmente encontros para promover projetos entre Europa e Brasil. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, este ano, durante o Congresso Europeu de Cardiologia, fez um joint symposium entre as duas sociedades. Isso tudo é resultado de uma dinâmica que começou no Congresso do ACC realizado em Chicago, nos Estados Unidos, em 2008. Foi quando teve início essa grande virada da internacionalização da SBC para ocupar o
Como esse crescimento internacional da SBC foi possível em apenas dois anos? A Sociedade cresceu muito do ponto de vista internacional porque ela se solidificou aqui dentro. Nós tivemos alto grau de reconhecimento pela imprensa falada, escrita e televisiva, de tal maneira que a população brasileira entendeu o movimento da SBC no sentido de lutar por melhores condições de saúde para todos. Nós conseguimos fazer com que várias sociedades médicas se associassem a nós para desenvolver uma diretriz de doenças reumáticas. Conseguimos envolvimento dos órgãos governamentais e, certamente, temos um projeto para trabalhar na prevenção e na erradicação da doença reumática. Ainda, vamos encerrar o ano realizando uma diretriz latino-americana sobre doença de Chagas e, o que é mais importante, o Ministério da Saúde não só abraçou nosso projeto como o ministro da Saúde vai tornar oficial as recomendações da diretriz proposta pela SBC.
Como foi o trabalho de obtenção do apoio governamental para todos esses projetos? Foi outro longo caminho percorrido pela Sociedade. Nós caminhamos para a internacionalização, para o reconhecimento interno, para os meios de comunicação e também para os meios governamentais. Fizemos um tratado de cooperação entre a SBC e o Ministério da Saúde e encontramos no ministro José Gomes Temporão extraordinária receptividade. Ele se mostrou aberto a fazer com que as questões cardiovasculares fossem discutidas pelos técnicos do Ministério e pelos especialistas das associações. Nossa Diretoria de Relações Governamentais abriu um canal de conversação. É claro que ações como esta darão resultados ao longo de décadas. Mas só de a SBC ser ouvida, consultada e ter um canal aberto com o principal órgão governamental da saúde é uma grande conquista. Espero que esse vínculo seja mantido pelos que vierem a suceder o ministro Temporão. Nós ainda conseguimos ter acesso à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e passamos a funcionar como uma consultora ad hoc dessas instituições. Nesses dois anos, recomendamos que nossas sociedades regionais também buscassem o espírito de cooperação com seus governos estaduais e municipais. A diretriz da doença reumática, por exemplo, só foi possível porque o governo do Estado da Bahia participou e tornou-se parceiro do projeto. Com o evento da doença de Chagas também encontramos total apoio do governo federal e do governo do Estado de Minas Gerais, na pessoa do governador Aécio Neves e do secretário da Saúde, Marcos Vinícius Caetano Pestana da Silva. Outra participação muito importante da SBC aconteceu na promulgação da Lei Antifumo no Estado de São Paulo. A SBC foi uma grande parceira do governador José Serra e participou de todas as movimentações para promulgação da lei, inclusive na Assembleia Legislativa. A Sociedade funcionar como uma entidade que também representa a sociedade civil é um ponto muito importante e serve como verdadeiro catalisador de ideias, agregando conhecimento
técnico. Mais um exemplo disso foi o envolvimento pioneiro da Sociedade com assuntos ligados ao meio ambiente. A SBC foi a primeira sociedade médica a investir no Dia do Meio Ambiente e torná-lo um momento de alerta para o risco cardiovascular. Fizemos um simpósio maravilhoso que criou impacto muito grande. Conseguimos reunir, no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (MASP), sete emissoras de televisão para cobrir o evento. Todas essas conquistas são fruto de muito trabalho da Diretoria, que sempre atuou de maneira unida às Regionais e aos Departamentos. Como resultado, temos um fato histórico: o menor índice de inadimplência e o crescimento do número de sócios. O senhor considera esses índices como sinais de aprovação a sua gestão? Talvez seja um índice muito importante, que revela o grau de aprovação que os associados deram às ações promovidas pela SBC. O Congresso da SBC realizado este ano, em Salvador (BA), foi o maior da história da Sociedade. Maior em número de participantes, de palestrantes, de temas livres, de conferencistas internacionais, de sociedades internacionais presentes. A Espanha, por exemplo, nunca havia participado. Foi realmente um grande conclave. E não é algo restrito à SBC ou a nosso Congresso. O Congresso da SBHCI, no Rio de Janeiro (RJ), estava lotado. Acabamos de fazer o Congresso da Sociedade de Hipertensão em Florianópolis (SC), um sucesso. Tivemos um Congresso de Cardiogeriatria em Teresina (PI), outro sucesso. E vários outros com expressiva participação de sócios, o que mostra que a sociedade médica está satisfeita com o trabalho feito, porque, em todas essas ações, existiu sempre o critério da busca por excelência. Quando o senhor relata o sucesso dos congressos e a reaproximação de muitos sócios, representada pelo baixo índice de inadimplência e pelo crescimento do quadro social, nos parece que os cardiologistas estavam ávidos por conhecimento e conteúdo científico. É uma avaliação correta? É isso mesmo. Não tenha dúvida. Nesses dois anos, a Sociedade inovou em diversos projetos. Tivemos o projeto chamado SBC em Eventos Internacionais, participando com estandes e simpósios em congressos realizados em outros países. Promovemos o SBC Sempre Presente, levando a sociedade-mãe a vários congressos regionais, nos aproximando dos Departamentos. Dessa forma, o associado pôde ter contato, ver suas contas e conferir pendências com a SBC ali mesmo, em sua região de origem. O terceiro trabalho extraordinário em resultados é o Projeto Diretrizes, com o pocket, a sala de diretrizes nos congressos e os eventos itinerantes chamados Diretrizes em Debate, sempre com grande aproveitamento.
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sbc antonio carlos palandri chagas
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Outro ponto de destaque foi o crescimento de nossa revista Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Nós percebemos que os Arquivos tinham condições de acompanhar essa internacionalização. Então, transformamos todo o material em bilíngue e, depois, trilíngue, incluindo a língua hispânica, porque a comunidade latino-americana espera muito do Brasil. Aproximamos a revista de maior impacto, depois das revistas inglesa e espanhola de cardiologia, de nossos sócios e dos cursos de pós-graduação. Os médicos e coordenadores perceberam que essa publicação era um dos caminhos importantes para divulgação de seus trabalhos científicos. No congresso do ACC, fomos convidados para falar na reunião de editores de revistas. Isso nos colocou, juntamente com Portugal e Espanha, em posição de destaque em relação a editores de língua inglesa. Como resultado, obtivemos diversas publicações tratando dessa ação conjunta entre os três países. Vejo um futuro auspicioso para os Arquivos Brasileiros de Cardiologia com a grande colaboração dos cursos de pós-graduação.
É possível afirmar que a aproximação com a academia já começou a rejuvenescer o quadro de sócios da SBC? Sem dúvida nenhuma. Um dos objetivos da Sociedade é a busca de novos sócios. São dois tipos de sócios que devemos buscar. Um é aquele indivíduo que há tempos está trabalhando, mas se mantém distante da Sociedade. Esses precisam estar próximos da SBC porque é o caminho da atualização, do aperfeiçoamento. Outro é o jovem médico cardiologista. Em nosso último Congresso tivemos um simpósio dedicado somente aos estudantes, participando exclusivamente com seus preceptores. As ações do Diretrizes em Debate têm participação muito grande do jovem cardiologista. E um dos passos importantes da questão do capítulo brasileiro do ACC é a possibilidade de favorecer a inclusão dos médicos mais novos nos programas internacionais. É uma área de grande destaque e interesse que certamente será ampliada nos próximos anos.
Sua experiência acadêmica foi importante para se aproximar desse público? Sim. Eu diria que foi muito valiosa, pelo fato de eu ser uma pessoa oriunda da universidade, que veio para uma missão de presidente na Sociedade buscando excelência. Há 32 anos estou vinculado a minha instituição acadêmica, que é a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), onde fiz toda minha especialização após ter feito a graduação na Faculdade de Medicina da Fundação Santo André, na Grande São Paulo. Acredito que essa longa vivência acadêmica tenha sido útil para alcançar meu sonho como presidente da SBC, que foi realizar uma gestão voltada à excelência, e me sinto muito realizado com as conquistas que obtivemos. Não foi um trabalho de dois anos, mas o resultado da história de grandes realizações da SBC. Certamente, eu vejo que meus sucessores, especificamente o futuro presidente Jorge Ilha, que assume a presidência da SBC para o biênio 2010-2011, poderão levar nosso trabalho adiante e condicioná-lo a seus projetos. Nós sempre governamos de forma muito unida. Desde o dia de minha posse, deixei muito claro que estávamos assumindo juntos. Eu fiz questão de trazer todos os presidentes de Regionais, todos os presidentes de Departamentos e de grupos de estudos para que todos tomassem posse junto comigo. A cada três ou quatro meses, eu fazia uma reunião regional. Reunia toda essa comunidade para, juntos, discutirmos destinos e ações. Então, sempre governamos de forma muito unida. Por essa razão devo dizer que esse sucesso não é meu, nem da minha Diretoria. É de todo o grupo, que teve, durante esses dois anos, essa responsabilidade. Dentro desse grupo, um parceiro indiscutivelmente importante foi a SBHCI, sob todos os aspectos.
Qual sua opinião, como professor, profissional respeitado e presidente da SBC, sobre a abertura de novas escolas de medicina? A formação é responsabilidade do Ministério da Educação e Cultura. Mas nós temos participado com a Associação Médica Brasileira (AMB) na luta pela melhor qualidade do ensino médico. Esse é um processo que, como educador em medicina e presidente da SBC, causa preocupação muito grande. Devemos ter escolas médicas bem preparadas, com professores titulados e bem preparados, para que possamos ter um profissional mais bem formado. Diria que é aí que a SBC tem atuação muito importante.
A Sociedade tem sido muito criteriosa para que tenhamos profissionais formados de maneira adequada. O título de especialista é o maior valor individual que a SBC tem, é algo que a Sociedade leva muito a sério, com critérios e normas. A Sociedade procura fazer, através de seus programas de educação permanente, com que o título seja acessível a todos. Mas as pessoas devem se preparar para poder obter o título. Mesmo sem poder legislar sobre as faculdades de medicina, temos deixado clara, à AMB, nossa preocupação com profissionais médicos desqualificados. Esse trabalho é feito pela Diretoria de Relações Governamentais, que atuou, ao mesmo tempo, em várias ações, como na regulamentação do diploma de médico. É claro que a AMB é muito forte, mas, nas palavras do próprio José Luiz Gomes do Amaral, presidente da AMB, nós somos um dos braços fortes da entidade. Quais projetos o senhor entende que poderiam ter avançado mais ao longo de sua gestão? Acredito que poderíamos ter feito mais com relação às ações ligadas aos órgãos governamentais. Só para citar um exemplo, um trabalho muito importante para a SBC e para o Ministério da Saúde é o Projeto da Saúde do Homem. A SBC, junto com as Sociedades Brasileira de Geriatria e Gerontologia e Brasileira de Urologia, já tinha terminado o projeto em agosto de 2008, pois deveria ser lançado no Dia dos Pais daquele ano. Mas, ao chegar ao Ministério da Saúde, demorou mais de um ano para que fosse executado. O lançamento ocorreu somente em agosto de 2009, um ano depois de pronto. Eu tenho esperança de que essas ações governamentais continuem e que cada vez mais as sociedades sejam chamadas para atuar.
Alguma meta de sua gestão não foi cumprida? Em meu discurso de posse eu falei de três assuntos como ações inovadoras que seriam compromissos da SBC: o cuidado com a doença de Chagas, o cuidado com a doença reumática e lancei a ideia da cardiologia ambiental. As três foram realizadas, além de outras que nem imaginávamos naquele momento. Tudo isso foi possível porque a Sociedade tem uma estrutura administrativa fantástica. Sem isso não teria sido possível, por exemplo, criar a Federação das Sociedades de Cardiologia de Língua Portuguesa. Brasil e Portugal têm uma responsabilidade enorme com as outras comunidades de língua portuguesa. Fizemos um evento em Cabo Verde, na África, para onde levamos conhecimento científico. Para o ano que vem já temos planejado um evento em Moçambique. Não é à toa que temos o terceiro site mais visitado do mundo na especialidade, só perdendo para os sites da American Heart Association (www.americanheart.org) e ACC (www.acc.org). Esse site é muito útil para os cardiologistas de língua portuguesa das regiões pobres. É um projeto inédito na cardiologia? Não digo inédito, mas muito corajoso. Desde o início da gestão, estivemos em quase todos os congressos da Sociedade Interamericana de Cardiologia. Eu falei no México, no Chile, na Argentina, no Peru, na Venezuela, em Costa Rica. Em todas essas viagens, o que me dá mais satisfação é que o presidente da SBC, ou o representante que vai ao evento, não está lá para uma participação política. A Sociedade sempre levou informação científica, algo que eu considero uma enorme diferença. É lógico que a Sociedade deve ter uma posição política, mas precisa fazer mais. E, nesse ponto, o trabalho desenvolvido pela SBHCI em relação à SOLACI é extraordinário. Foi isso que tornou o Brasil líder em hemodinâmica na América Latina. O que é necessário para assumir a presidência da SBC e executar essa função com excelência? Como presidente eu procurei olhar a Sociedade como um todo e não como um grupo específico. Tenho certeza que, para exercer um cargo de presidente, o indivíduo deve estar compromissado com a qualidade, com a busca da excelência. Ele deve ter muita humildade e, ao mesmo tempo, muita determinação. É necessário se dedicar à Sociedade todos os dias, abrindo mão de coisas pessoais. Mesmo assim posso dizer que foi uma experiência muito gratificante. Muitas lições aprendidas? Sim, muitas lições de vida.
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balanço da gestão
Encerramento da Administração
“Novas Ideias na SBHCI” Jornal da SBHCI entrevistou o presidente Luiz Alberto Mattos, que avalia o trabalho realizado durante os 42 meses que esteve à frente da Sociedade
E
m 20 de julho de 2006, em Porto Alegre (RS), Luiz Alberto Mattos (SP) assumia a Presidência da SBHCI ao lado de seu corpo diretivo. A Diretoria da gestão 2006/2009 promoveu extensa reforma nos métodos administrativos da entidade, além de diversas ações realizadas, avaliadas aqui pelo presidente e seus diretores, que, em janeiro, entregam seus cargos à nova Diretoria.
Luiz Alberto Mattos (SP) Fotos divulgação/SBHCI
Presidente
Quando o senhor tomou a decisão de disputar a eleição da Presidência da SBHCI? Em setembro de 2005, na vigência do Congresso Brasileiro de Cardiologia, em Porto Alegre (RS), após conversar com diversos colegas, ouvi-los e captar que existia o anseio de aplicar mudanças superlativas à entidade em seus três pilares principais: certificação profissional, educação médica continuada e qualidade e assistência profissional ao médico e ao paciente. Logo após, conversei com meu grupo de trabalho no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (IDPC), em São Paulo (SP), e, principalmente, com meu orientador e diretor, o professor J. Eduardo Sousa, que também avalizaram o projeto. Na sequência, no dia 18 de outubro de 2005, viajei de São Paulo para João Pessoa (PB) com o objetivo exclusivo de convidar Marcelo Queiroga Lopes (PB) para iniciarmos a caminhada. Com o recebimento do sinal positivo e do estímulo da parte dele, tudo começou a se mover. O senhor já vislumbrava tudo o que gostaria de fazer à frente da Sociedade? Quais eram seus planos, objetivos e metas? Posso afirmar que sim, que uma proposta de atuação intensa, comprometida com o desejo de expor aos sócios da entidade modificações, modernizações e am-
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pliação de serviços, estava traçada trinta dias após o encontro com Marcelo Queiroga Lopes. O foco era uma SBHCI para os sócios, em síntese, “do singular para o plural”, em qualidade, quantidade, assistência e benefício. Logo, rotulamos de “Projeto Novas Ideias”. Mas o mais significativo era a reunião de um grupo de trabalho muito consistente, os futuros diretores, que atendesse a critérios que eu considerava muito importantes. Esses critérios eram: federativo, qualificado e representativo das diversas escolas de formação e ensino em cardiologia intervencionista que atuam na prática clínica no Brasil, todos reconhecidos como líderes em suas comunidades regionais. As eleições estavam agendadas para julho de 2006, em Porto Alegre (RS), e seríamos um grupamento de oposição à situação vigente, que desejava mais uma sequência, com a promoção do diretor administrativo da ocasião para a Presidência. Em
telectual ou das relações que todos cultivavam em seus locais de trabalho. Saliento uma delas, ao efetivarmos a reformulação completa dos colaboradores que trabalham para a SBHCI na sede em São Paulo, justificada e necessária, que demandou intensa dedicação e responsabilidade de minha pessoa, pois, ao assumir tal ação, teríamos que ensinar a noviços o funcionamento de uma entidade médica, ação absolutamente artesanal e única, por mais que se apliquem modelos pré-formatados de gestão, sem comprometer os serviços básicos e as rotinas da Sociedade. Ao longo destes 42 meses, essa ação de formação e treinamento de um novo grupo administrativo promoveu desafio constante, até para se adaptar às evoluções de serviços que foram sendo operacionalizadas. A equação somatória dos obstáculos promoveu em diversos momentos, na minha pessoa e em alguns dos diretores envolvidos, cansaço extremo
“O foco era uma SBHCI para os sócios, em síntese, ‘do singular para o plural’, em qualidade, quantidade, assistência e benefício.” cinco meses, o grupo estava completo, com os nove diretores que atuaram nesses 42 meses em conjunto, e os convidei pessoalmente, todos, visitando-os nas cidades em que estavam radicados. O mais significativo e, no meu entendimento, o motivador que nos alimentou nesse período todo foi a efetivação na primeira etapa, consumando os objetivos expostos acima. Nada se efetiva solitariamente. A fortaleza está localizada na atuação plural, no empenho, no comprometimento e na lealdade desse grupamento muito especial de colegas. O senhor imaginava que tipos de dificuldade surgiriam pelo caminho? Como tudo na vida, sempre devemos estar preparados para as surpresas. Algumas dificuldades não eram esperadas e surgiram logo em dezembro de 2005. Porém, justamente pelo fato de já estarmos reunidos e acordados, logramos obter soluções para enfrentar o inesperado. Posso afirmar que as “dificuldades esperadas” foram antecipadamente reduzidas com o devido planejamento, disciplina e gerenciamento pró-ativo, respeitado por todos. Falando em dificuldades, quais foram os maiores obstáculos encontrados ao longo do caminho? As dificuldades estão localizadas em ações que não dependiam de nossa exclusiva capacidade laboral e in-
e, com ele, a intolerância, em certas oportunidades. Um aprendizado para desafios futuros, certamente. Obstáculos superados, falemos de conquistas. Quais as maiores conquistas para a SBHCI e para a área de hemodinâmica e cardiologia intervencionista promovidas pela atuação da Diretoria sob sua gestão? Considero que todas as ações a que nos propusemos, sem exceção, foram devidamente consumadas, “negritando” aquelas que dependiam de nosso conhecimento e capacidade operacional exclusivos. Revendo os pilares centrais de nossa entidade em particular, pontuo: • Educação médica continuada: publicação das novas diretrizes da prática clínica com o aval da SBC, renovação e ampliação dos congressos societários, e criação dos Programas de Educação Médica Continuada regionais, os PECs, com êxito. • Certificação profissional: criação de uma comissão federativa, centralizada na SBHCI, mas independente nas ações necessárias, a Comissão Permanente de Certificação (CPC); profissionalização, modernização e fortalecimento da prova exigida para obtenção do Certificado de Área de Atuação; execução de até duas provas anuais, em 2007 e 2009, para reduzir a demanda de colegas que aguardavam a certificação; renovação completa do Curso de Revisão anual, deslocado para
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balanço da gestão meses após a efetivação da prova de título de especialista da SBC e firmado em São Paulo, sede da entidade; além da reaproximação venturosa e necessária com nossa sociedade de especialidade, a SBC. • Formação científica ao sócio: renovação plena e multiplicada na utilização das ferramentas virtuais, que são portal eletrônico – com todos os serviços atuais, da assinatura de revistas internacionais ao Repórter SBHCI, e crescimento sustentado dos órgãos de comunicação tradicionais, impressos, como o Jornal da SBHCI e a Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva (RBCI), quantitativo e qualitativo. • Qualidade profissional e assistencial: ampla reforma do estatuto social, a mais extensa já efetivada em 30 anos; valorização dos médicos portadores do certificado de atuação profissional registrados na Associação Médica Brasileira (AMB), com publicidade em área pública de nosso portal eletrônico; recadastramento dos centros de treinamento em hemodinâmica e cardiologia intervencionista e sua devida divulgação também pública; criação de serviço eletrônico de acesso exclusivo ao sócio (intranet); publicação da nova diretriz dedicada, também com o aval da SBC; efetivação de fóruns de qualidade profissional, em datas exclusivas e dedica-
das; e estabelecimento de ouvidoria constante com o envio de resposta aos sócios e suas solicitações diversas em até 48 horas. O senhor entende que algumas ações ficaram aquém do possível ou algum objetivo não foi alcançado? Por quê? Nós efetivamos ações governamentais diversas, construindo documentos extensos, inéditos, com o amparo de profissionais da saúde aptos e reconhecidos para essas missões. Não economizamos tempo e recursos para lograr êxito com essas ações, que demandaram dedicação ímpar, como as já elencadas. Porém, a aprovação de pleitos societários, por parte do poder público, dependerá sempre de inúmeras variáveis que não somente a canalização do desejo inicial da maioria e da devida fundamentação escrita, mas sim de fatores orçamentários, políticos ou técnicos. Nunca efetivamos publicidade dos mesmos, pois consideramos incorreto promover noticiário apenas da apresentação desses projetos, que poderiam ser captados como uma autopromoção, sem a devida consumação finalizadora e que, no meu entendimento, sempre promovem desgaste significativo da Diretoria com seus pares, nossos
Gislene Simonetti
“É premente que sigamos oferecendo aos sócios e demais profissionais da saúde avanços e serviços na fronteira do conhecimento e da prática clínica vigentes.”
O norte-americano David R. Holmes Jr. em aula magna na abertura oficial do Congresso SOLACI & SBHCI, em 2009, no Rio de Janeiro (RJ).
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Público atento à programação do Congresso SBHCI 2007, realizado no Centro de Convenções do Hotel Blue Tree Park, em Brasília (DF).
sócios. Cria-se a expectativa e frustra-se ao não se conquistar. Mas, no final da gestão, posso salientar que entregamos para o julgamento da Comissão de Incorporação de Tecnologias (CITEC) do Ministério da Saúde projetos para incorporação e reembolso pelo Sistema Único de Saúde (SUS) dos stents farmacológicos e das próteses oclusoras de defeitos interatriais, amparada em meta-análises e cálculos precisos de custo-efetividade, no Ministério da Educação e Cultura, da regulamentação formal da necessidade do treinamento de dois anos em residência médica para preparação profissional e, no Ministério do Trabalho, da absorção do Código Brasileiro de Ocupações (CBO) da profissão de “cardiologista intervencionista”, inexistente até hoje. As respostas formais, positiva ou negativa, não foram recebidas até o final deste ano de 2009. Ao longo da gestão, registramos ações com participações de grupos internacionais. Houve aproximação com profissionais de Portugal, da França, casos ao vivo transmitidos de diversos países, o Repórter SBHCI levou notícias de grandes eventos realizados fora do Brasil aos sócios e ainda tivemos, em Congressos, diversas participações relevantes de médicos renomados em todo o mundo. Nesses três anos de trabalho, a SBHCI ganhou reconhecimento internacional? Por que esse reconhecimento e essas parcerias internacionais são importantes? Uma sociedade de médicos se reúne e é fundada, na maioria das oportunidades, com objetivos científicos. E a SBHCI também exibe esse perfil. Valorizamos os congressos por uma questão de evolução natural de serviços, assim como inovações futuras irão ocorrer sempre. A estagnação promove marasmo e desestímulo ao crescimento intelectual. Os produtos ofertados
aos médicos nos congressos e eventos cada vez mais devem acompanhar os anseios da maioria, que são os serviços “que fazem a diferença”. Ninguém mais senta em um auditório ou viaja quilômetros para um evento – e se afasta de sua rotina laboral perdendo dividendos – para assistir à reprodução de conhecimentos e procedimentos já consolidados. É premente que sigamos oferecendo aos sócios e demais profissionais da saúde avanços e serviços na fronteira do conhecimento e da prática clínica vigentes. Com isso, as ações de compartilhamento com sociedades coirmãs e com interesse em nossa atuação são sempre motivadoras de novidade e crescimento, seja com a língua irmã, em Portugal, com a França, na absorção de novos procedimentos já praticados em maior escala naquele país, ou com a Society for Cardiac Angiography and Interventions (SCAI), o grande irmão norte-americano, com toda sua plenitude, reflexo da pujança social e profissional daquele país. A atuação do Repórter SBHCI nada mais é que cumprir nossos objetivos, como benfeitoria aos sócios, entregando, dentro do domicílio de cada um, sem necessidade de deslocamento internacional, as informações mais recentes e frescas, recém-liberadas ao conhecimento médico nos grandes encontros internacionais da especialidade. Também foram registradas as participações ativas em câmaras técnicas do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da AMB e a inserção da SBHCI em debates que dizem respeito a toda a comunidade médica, e não apenas aos intervencionistas. Quais foram essas ocasiões e como o senhor avalia as participações da SBHCI? Essas atuações são obrigatórias, marcando a presença de nossa área de atuação e da especialidade, motiva-
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balanço da gestão “O futuro presidente e seus diretores efetivaram diversas reuniões preparatórias em novembro, com o devido respeito e postura elevada que sempre devemos exercitar com nossos colegas e sócios.” das pela renovação e uniformização do rol de procedimentos de alta complexidade, lideradas pela AMB e pelo CFM, que serão, posteriormente, utilizadas como ferramentas regulatórias do reembolso de procedimentos e honorários médicos, seja na saúde suplementar brasileira seja no SUS. Entregamos e cumprimos, com êxito, no SUS, a reformulação e a atualização da lista de procedimentos, já autorizados previamente, tanto em cardiologia intervencionista como nos procedimentos endovasculares, no ano de 2008. O senhor também promoveu mudanças na administração e na gestão da Sociedade. A equipe de colaboradores cresceu e novos cargos foram criados. O que a SBHCI ganhou com essa nova estrutura de trabalho? A função faz o órgão, diz o ditado da fisiologia médica. Pode ser assim também aplicado à gestão administrativa. As mudanças eram absolutamente necessárias para fornecer serviços aos sócios. Até nossa chegada, os processos e contratos de locação de cotas de patrocínio, a alma da geração de recursos societários de uma entidade sem finalidade lucrativa, eram efetivados por assessoria terceirizada. A SBHCI necessitava crescer
em autonomia e controle de seus recursos e assim procedemos. Em paralelo, precisávamos de colaboradores dedicados aos sócios, à certificação, aos órgãos de divulgação, à informática e às ações científicas. Nos últimos seis meses criamos o Departamento de Eventos, ainda com um núcleo composto de duas pessoas, para que, à semelhança do controle contábil e financeiro, tenhamos autonomia de decisão nas contratações executadas. Ao final da gestão, totalizamos um grupo de sete colaboradores. Em 2006, existia apenas uma assessoria, a jurídica. Em três anos, evoluímos, por necessidade de crescimento em qualidade de serviços, para a assessoria de imprensa (Jornal da SBHCI), informática (Web e portal) e de publicação (tradução, revisão e rastreamento para a RBCI). A construção de um grupo de trabalho não-médico, apto, qualificado, sincronizado, com gerenciamento emocional motivado e fortalecido, é uma das tarefas mais árduas e cansativas, e nem sempre valorizadas, pois não permite apreciação ampla de todos os associados. É uma ação diária e constante, que exige dose elevada de dedicação, humildade, perseverança e complacência de todos, sem perder o tônus necessário da hierarquia respeitada, sem a promoção da rigidez imobilizante. É um tremendo desafio,
Em 2008, cardiologistas foram até Recife (PE) para participar do XXX Congresso da SBHCI, o segundo da gestão 2006/2009.
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posso assegurar, um dos maiores para a minha pessoa nestes 42 meses. Uma nova equipe assumirá a direção da SBHCI em janeiro. Como está sendo a transição e quais suas recomendações para os colegas que estarão na próxima gestão? A transição foi isenta de disputa, refletindo o desejo da maioria, traduzindo a pacificação societária do momento. O grupo futuro foi se reunindo pouco a pouco em conversação aberta e cordial com a administração vigente. A eleição foi consumada por aclamação. O futuro presidente e seus diretores efetivaram diversas reuniões preparatórias em novembro, com o devido respeito e postura elevada que sempre devemos exercitar com nossos colegas e sócios, mesmo quando em campos opostos de opiniões e ações futuras. Desejo-lhes muito boa sorte, trabalho dedicado, desprovido de personalismo, e elevadas doses de humildade para que, por meio da análise crítica e ouvidoria aos colegas, seja possível evoluir sempre mais e mais. Não é uma tarefa fácil, e por isso mesmo deve ser transitória e renovável bienalmente. Desejo que efetivem ações superlativas, inovadoras e modernizadoras para nossa entidade, pois crescimento, atualização e renovação são inerentes à sociedade humana. Por essa razão, o rótulo “novas ideias” jamais perderá sua mística. Nós nos renovamos a cada dia que surge no horizonte. Essa será sempre nossa maior motivação enquanto estivermos vivos, se Deus quiser.
O I Fórum de Exercício Profissional em Cardiologia Intervencionista da SBHCI foi promovido em 2007, em São Paulo (SP).
O I Simpósio de Intervenção Extracardíaca da SBHCI aconteceu em 2007 no II Core Curriculum in Carotid Stenting – SBHCI & SCAI, no Rio de Janeiro (RJ).
No Congresso 2009 da SOCESP, a SBHCI realizou um dos PECs, reunindo cerca de 500 cardiologistas.
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balanço da gestão
Marcelo Queiroga Lopes (PB) Diretor Administrativo
Qual ação foi boa e/ou ótima? A organização administrativa da Sociedade, a colocação de um corpo de funcionários e técnicos adequados que permitiram promover melhor atendimento aos associados, a institucionalização da cardiologia intervencionista, e a aproximação com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), a Associação Médica Brasileira (AMB), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Ministério da Saúde, levando sempre nosso ponto de vista em defesa dos cardiologistas e dos pacientes. Outro ponto importante foi a questão da certificação profissional, que é algo que compete exclusivamente a nós. Conseguimos organizar isso de maneira muito clara e sólida. Qual ação foi ruim ou nula? Há ações que não conseguimos o que desejamos, sobretudo aquelas que não dependem de nossa vontade, principalmente as ligadas ao governo federal. Pela própria característica do serviço público, as coisas não andam e ficam lá empacadas. Nem digo que é por desinteresse, mas eles têm tantas atribuições e prioridades que, às vezes, nossas pretensões são apenas mais uma. Qual fato ou ação foi mais marcante? É o contexto como um todo. O nível de aceitação da Sociedade entre sócios e não-sócios é muito alta. Qual o fato ou ação mais adverso? As dificuldades próprias do dia a dia, mas que sempre procuramos superar. O que recomenda para seu sucessor? Trabalhar. O grupo que nos sucede é formado por pessoas experientes e qualificadas, que contam com todo nosso apoio para dar continuidade às ações compreendidas.
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Hélio Roque Figueira (RJ) Diretor Financeiro
Qual ação foi boa e/ou ótima? Assumimos em julho de 2006 e, apesar da crise econômica mundial que se iniciava, nossa administração conseguiu satisfatório superávit financeiro em todos os congressos que realizamos. Qual ação foi ruim ou nula? Apesar de todos os esforços, com emissão de boletos de cobrança por via eletrônica e por cartas convencionais, ainda permanecemos com um índice desconfortável de inadimplência. Qual fato ou ação foi mais marcante? Um ponto bastante positivo foi a informatização do sistema financeiro e contábil, com a aquisição de um software integrado ao sistema bancário, que nos permitiu melhor gerenciamento, maior agilidade das ações e maior controle das finanças. Inicialmente, foi implantado o sistema financeiro e estamos prontos para implementar o sistema contábil. Sem dúvida, foi um investimento que gerou e ainda vai gerar grande economia para nossos cofres. Qual o fato ou ação mais adverso? A maior dificuldade ao assumirmos nossa administração foi a necessidade de reformular todo o sistema de recursos humanos e de gestão de nossa Sociedade. O que recomenda para seu sucessor? Desejamos sucesso à próxima gestão. Certamente, não teremos aprovação unânime de toda a nossa Sociedade, porém temos a consciência tranquila e a convicção de que fizemos o melhor. Acredito que todos os esforços conjuntos da Diretoria Executiva desta gestão, sem nenhuma dúvida, transformaram profundamente e de maneira expressiva a estrutura de gerenciamento contábil e financeiro de nossa Sociedade.
Pedro Alves Lemos Neto (SP)
Rogério Sarmento–Leite (RS)
Diretor Científico
Diretor de Comunicações
Qual ação foi boa e/ou ótima? Diretrizes, educação continuada, e o início do projeto de construção de uma rede de coleta de informações sobre intervenção coronária no Brasil.
Qual ação foi boa e/ou ótima? Considero como boas e ótimas as completas reformulações e reestruturações do Jornal da SBHCI, do Portal da SBHCI e da Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva (RBCI).
Qual ação foi ruim ou nula? Iniciamos um projeto para a publicação de um livrotexto que não foi à frente em decorrência das inúmeras atividades que implementamos. Qual fato ou ação foi mais marcante? Diretrizes. Qual o fato ou ação mais adverso? Não houve um fato que possa ser considerado adverso. O que recomenda para seu sucessor? Recomendo que mantenha as ações científicas implementadas e amplie o número de diretrizes/ consensos pertinentes a nossa área de atuação (por exemplo, cardiopatias congênitas, documento específico para métodos diagnósticos, tratamento percutâneo de valvopatias, intervenção extracardíaca). É preciso, também, monitorar continuadamente a necessidade de atualização da diretriz de intervenção coronária publicada recentemente. Avançar o projeto do livro-texto também seria interessante. Por fim, considero importante a manutenção e o incremento do projeto iniciado, e atualmente em curso, da rede de coleta de informação sobre intervenção coronária percutânea.
Qual ação foi ruim ou nula? Foi a tentativa de disponibilizar o portal eletrônico na íntegra também nas versões em línguas inglesa e espanhola. O orçamento e a complexidade na formação dos recursos humanos eram muito altos. Além disso, não foi possível montar uma equipe de tradutores que fornecesse material suficiente para dar o dinamismo alcançado na versão em português. Qual fato ou ação foi mais marcante? O de maior destaque foi a criação e a consolidação do Repórter SBHCI. As coberturas em tempo real dos principais eventos da cardiologia intervencionista mundial foram ricas, qualificadas e gratificantes. Construiu-se um modelo capaz de trazer em tempo real as principais novidades de nossa especialidade, beneficiando médicos, pacientes e toda a sociedade. Qual o fato ou ação mais adverso? Sem dúvida, o caminho mais penoso, mas não menos gratificante, foi o das ações no sentido de manter a RBCI como opção real de principal destino de publicação científica da cardiologia intervencionista brasileira e latino-americana. A revista foi internacionalizada, atingiu reconhecimento e valorização, galgando alguns degraus indexatórios. Mas a estrada ainda é longa, acidentada, e os objetivos maiores, que são a indexação nas bases de dados Medline e ISI, continuam sendo arduamente perseguidos. O que recomenda para seu sucessor? Recomendo que monte uma equipe qualificada e comprometida, e que saiba delegar e cobrar tarefas.
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balanço da gestão
Luiz Antonio Gubolino (SP)
José Antonio Marin–Neto (SP)
Diretor de Qualidade Profissional
Diretor de Educação Médica Continuada
Qual ação foi boa e/ou ótima? Nossa Diretoria foi agraciada com uma política focada na atenção ao associado da SBHCI. Obteve todo apoio e incentivo possíveis para a realização de um projeto voltado às necessidades do associado.
Qual ação foi boa e/ou ótima? Talvez a ação mais significativa tenha sido a concepção e a instalação de um cronograma de educação continuada muito efetivo entre a cardiologia intervencionista e os cardiologistas clínicos. Esses programas tiveram sucesso e representam um avanço no âmbito daquilo que foi criado nesta gestão, como ação que transcendeu a administração do Registro de Dados da Central Nacional de Intervenções Cardiovasculares (CENIC).
Qual ação foi ruim ou nula? A proposta de implantação de um selo de qualidade para os serviços de cardiologia intervencionista não evoluiu. A criação de um “Consentimento Esclarecido” padrão, que fosse um documento único da SBHCI e pudesse ser adotado em todos os serviços do País, não saiu da proposta. Qual fato ou ação foi mais marcante? A confirmação do direito da realização de procedimentos extracardíacos pelos cardiologistas intervencionistas por meio de um documento publicado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Qual o fato ou ação mais adverso? Na sugestão do novo rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), surgiu a proposta que dá aos planos de saúde o direito de definir qual material (órtese e prótese) deverá ser utilizado no procedimento terapêutico. O que recomenda para seu sucessor? Permanência da participação na Câmara Técnica de Implantes da AMB, revisão e reedição da Diretriz de Qualidade Profissional, manutenção e aprimoramento do Fórum de Qualidade Profissional, reavivar o debate com relação aos honorários médicos, solidificar a implantação da tabela Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM) na íntegra, e lutar pela manutenção da ética em nossa área de atuação, tanto na indicação das órteses e próteses como na relação do profissional com empresas de produtos médicos.
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Qual ação foi ruim ou nula? Foi nossa dificuldade de gerenciamento da fase de consolidação eletrônica do Registro de Dados da CENIC, que não tenha sido inteiramente satisfatório. Qual fato ou ação foi mais marcante? Foi ter promovido a relação entre os intervencionistas e os cardiologistas clínicos no âmbito do Programa de Educação Continuada, administrada nos grandes congressos de cardiologia e em outros ambientes de menor proporção de público, mas muito significativos nessa possibilidade de interagir. Qual o fato ou ação mais adverso? A perda de elementos que estavam atingindo nível de proficiência adequado para trabalhar no âmbito da CENIC, que foram afastados ou se afastaram do processo e nos “mutilou” do ponto de vista de alcançar os objetivos propostos. O que recomenda para seu sucessor? Recomendo promover essas ações de relacionamento entre intervencionistas e cardiologistas e resgatar o processo de aperfeiçoamento da CENIC, possivelmente a partir do patrocínio conseguido no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), para que o registro de dados possa ser estendido a outros centros, além dos 11 já selecionados.
Marcos Antonio Marino (MG) Diretor de Intervenções Extracardíacas
Qual ação foi boa e/ou ótima? Acredito que toda a gestão foi muito boa, principalmente pelo grande apoio dado pelo presidente ao transformar um comitê em uma diretoria atuante, com cargos definidos e com representatividade. Qual ação foi ruim ou nula? Não tivemos ação ruim. Posso ressaltar que o II Simpósio de Intervenção Extracardíaca, no Rio de Janeiro, junto com o Simpósio de Intervenções Coronárias Complexas, com o grupo francês, atraiu o público intervencionista. Qual fato ou ação foi mais marcante? Um deles foi a realização de dois simpósios no Rio de Janeiro, em 2007 e em 2008, com foco dirigido para intervenções não-coronárias. Outra ação muito importante foi o documento oficial do Conselho Federal de Medicina (CFM), reconhecendo o campo das intervenções não-coronárias como área de atuação do cardiologista intervencionista. Qual o fato ou ação mais adverso? A tentativa de negociar com a Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular (SOBRICE) a formulação de um congresso único ou a realização de um programa oficial de treinamento para os intervencionistas com interesse nessa área para segurança de nossos pacientes. O que recomenda para seu sucessor? Continuar com um programa científico dentro dos congressos da SBHCI e da SOLACI, com temas envolvendo abordagens para aterosclerose sistêmica, coronária-carótida e coronária-renal, com mesasredondas dirigidas, casos ao vivo, e com planos de realizar diretrizes e protocolos. Acredito que tratar outros sítios além da coronária seja o futuro de nossa especialidade.
César Augusto Esteves (SP) Diretor de Intervenções em Cardiopatias Congênitas
Qual ação foi boa e/ou ótima? A parte de cardiologia pediátrica dos congressos de hemodinâmica. Acho que nós conseguimos muitas coisas que não tínhamos antes, como maior maleabilidade para trazer convidados estrangeiros e sala só para cardiopatias congênitas durante os congressos, quando habitualmente tínhamos algumas horas disponíveis. A própria Diretoria de Intervenção em Cardiopatia Congênita foi criada nesta gestão. Mas, talvez, a principal conquista que minha Diretoria obteve foi regularizar o título de especialista em intervenção em cardiologia pediátrica. Qual ação foi ruim ou nula? A única coisa que me propus a fazer e não consegui foi criar um cadastramento nacional de todos os procedimentos intervencionistas em cardiopatia congênita. Foi o ponto falho de minha atuação. Qual fato ou ação foi mais marcante? Claro que temos diversos fatos para destacar. Foi uma Diretoria dinâmica e harmoniosa, que sempre teve o respaldo do presidente. Qual o fato ou ação mais adverso? Foram tantos fatos bons que, se houve algum adverso, passou despercebido para mim. O que recomenda para seu sucessor? Primeiramente, muita sorte. Segundo, muita paciência, porque estará à frente de uma Diretoria nova, cheia de reivindicações, e não ficar aflito para atender todos, porque, infelizmente, não vai conseguir. A principal ação deve ser criar o registro nacional e ter registrados os procedimentos em cardiopatia congênita.
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cfm roberto luiz d’ávila
Continuísmo, não.
Continuidade R
oberto Luiz d’Ávila (SC) é cardiologista, médico do trabalho e mestre em neurociências e comportamento. Professor adjunto da Universidade Federal de Santa Catarina, foi representante de seu Estado natal no Conselho Federal de Medicina (CFM) por três gestões consecutivas, além de integrar a Diretoria da entidade como corregedor e de ter participado das comissões para revisão do código de ética médica e em defesa do ato médico e também como vice-presidente. No dia 1o de outubro, d’Ávila, que cursa doutorado em bioética pela Universidade do Porto, em Portugal, esteve no auditório do Memorial JK, em Brasília (DF), e tomou posse como novo presidente do CFM. “Temos um grupo motivado e com muita disposição para realizar mudanças”, declarou o novo presidente durante sua posse. “Estou cheio de sonhos e esperança de uma gestão com muitas realizações pelo trabalho integrado, pela valorização da medicina, do médico e da saúde do Brasil.” Um mês depois, d’Ávila concedeu ao Jornal da SBHCI uma entrevista exclusiva, na qual apresentou metas de sua gestão e opiniões que devem dar a direção a respeito de temas importantes para a sociedade médica. O senhor já integrava a Diretoria do CFM, primeiro como corregedor e depois como vice-presidente. Agora, assume a Presidência do Conselho. Quais as principais metas de sua gestão? Não se trata de continuísmo, mas da continuidade de um trabalho iniciado por um grupo que tem conduzido os interesses da corporação e da sociedade, buscando maior qualidade da assistência médica. Vamos priorizar a aprovação do projeto de lei que regulamenta a medicina, garantir, também em lei, um salário mínimo profissional de R$ 7.500 por quatro horas diárias, implantar, de forma integral, a Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM) na saúde suplementar e, posteriormente, no Sistema Único de Saúde (SUS), além de realizar grande campanha para resgatar a imagem do médico. Nas últimas semanas, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei do ato médico. Quais os
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Divulgação
Novo presidente do Conselho Federal de Medicina falou com exclusividade ao Jornal da SBHCI
principais avanços dessa legislação? Há vantagens para a sociedade? Sem dúvida. A sociedade é a principal beneficiária, pois fica garantida a assistência à saúde feita por médicos na realização dos diagnósticos das doenças, nos procedimentos diagnósticos ou terapêuticos (invasivos ou não) e no tratamento tanto clínico como cirúrgico. Assim, outros profissionais da área da saúde não poderão fazer diagnóstico ou tratamento de doenças, como hoje já não podem, pois suas respectivas leis não permitem, embora, enquanto não houvesse uma regulamentação da medicina, poderiam avançar, como vinha ocorrendo. Qual sua opinião sobre a abertura de novas escolas médicas? Absolutamente contrária. O Brasil não precisa de mais médicos, mas sim de bons médicos e bem distribuídos, dentro de uma política pública de interiorização de assistência à saúde. Não basta apenas enviar um médico para o interior com salário a título precário e submetido aos humores dos prefeitos. É preciso uma carreira de Estado, com educação continuada, promoções e estímulos, com um sistema de referência e contrarreferência. São quase 180 escolas formando cerca de 15 mil médicos por ano, com uma taxa de “natalidade médica” três vezes maior que a taxa de natalidade populacional. O exame de ordem vem sendo citado como uma das formas de aferir a qualificação do ensino médico. A atual gestão do CFM considera discutir essa questão? Já discutiu e continuará discutindo, porque entendemos que uma correta avaliação se faz durante todo o curso e não somente no fim. Além disso, o aparelho formador precisa ser também avaliado e responsabilizado no caso de resultado negativo. O egresso é apenas parte do processo de avaliação. O Ministério da Educação (MEC) necessita estar junto
para poder tomar as medidas coercitivas, como suspensão de vestibular e fechamento dos cursos mal avaliados.
quanto ao tempo despendido em cada consulta, à não cobrança de retorno etc.
O CFM acaba de aprovar um novo Código de Ética Médica. Quais as principais modificações incorporadas, quais os avanços para o exercício da medicina e por que foi necessário rever o anterior? Foram muitos os avanços: pedagógicos (Ensino da Ética Médica), diceológicos (Direitos dos Médicos) e deontológicos (Deveres de Conduta). A principal beneficiária das mudanças foi a sociedade, pois o Código de Ética Médica é um verdadeiro contrato social dos médicos com o paciente (individualmente), com a sociedade (coletivamente), com a medicina (princípios fundamentais e regras de comporta-
Hoje, assistimos a uma crescente incorporação de tecnologia em saúde. Novos dispositivos e equipamentos têm tornado menos invasivos os procedimentos médicos. Todavia, o custo elevado desses procedimentos tem criado divergências entre médicos e operadoras de planos de saúde, as quais frequentemente deságuam em ações judiciais. Como fazer para atenuar esse cenário? Participando ativamente e interferindo publicamente com denúncias ao Ministério Público e orientação aos pacientes, para buscarem seus direitos no Poder Judiciário. En-
“Não se pode restringir a autonomia de todos os médicos porque alguns poucos se beneficiam de esquemas comerciais.” mento) e com os médicos entre si (etiqueta social). Os pacientes ganharam mais autonomia, as relações comerciais dos médicos com a indústria (de medicamentos e equipamentos) foram balizadas, as novas tecnologias foram disciplinadas e tornou-se possível morrer com dignidade, por meio dos cuidados paliativos, dentre outros avanços. O CFM tem assumido uma posição de vanguarda em questões polêmicas, como as pesquisas com células-tronco embrionárias, o aborto de anencéfalos e a terminalidade da vida. Qual a atual posição do CFM sobre a ortotanásia? Conseguimos incluí-la no novo código de ética. Mesmo que o poder judiciário tenha suspendido a resolução, por meio de liminar, conseguimos deixar claro, com melhor redação, sem possibilitar nenhuma dúvida, que somos contra a eutanásia (antecipação da morte) e a distanásia (prolongamento da morte), deixando de utilizar qualquer tratamento inútil, fútil, desnecessário ou desproporcional, optando pelos cuidados paliativos. Após uma década de regulamentação da saúde suplementar, houve avanços para médicos e pacientes? Quais as principais fragilidades do sistema? Continuamos atentos e participando ativamente de todas as câmaras setoriais da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), evitando que decisões administrativas das operadoras de planos de saúde ponham em risco a adequada relação médico-paciente. Não vamos permitir interferências no que se refere à autonomia do médico
tretanto, a contrapartida dos médicos deverá ser rigorosa, impedindo-se, por meio de fiscalização, qualquer interação dos médicos com a indústria de equipamentos. A ANS, por meio de recente consulta pública como parte da nova edição do rol de procedimentos médicos e eventos em saúde, pretende restringir a autonomia dos médicos, conferindo às operadoras de planos de saúde a prerrogativa de escolher, dentre as diversas marcas comerciais disponíveis, a de sua preferência, desde que assegurada a similaridade com a solicitação do médico. É possível assegurar similaridade entre esses materiais? Quem deve fazer o juízo de valor acerca do tema? A questão é técnica e não administrativa ou financeira. No mínimo, será exigível uma câmara técnica, formada por especialistas na área, que fará a seleção dos materiais similares. Não se pode esquecer que a responsabilidade jurídica final será sempre do médico autor do procedimento, por ter escolhido um material deficiente (erro in eligendo). Não se pode restringir a autonomia de todos os médicos porque alguns poucos se beneficiam de esquemas comerciais. Quais os limites da autonomia de médicos e de pacientes? A autonomia sempre será relativa e seu limite é a consciência do médico em agir em benefício do paciente. Chamamos de obrigação fiduciária (baseada na confiança) o dever de conduta, que coloca em primeiro lugar os interesses do paciente, acima, portanto, dos interesses do médico. Sem esse princípio, a medicina passa a se chamar comércio.
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ans fausto pereira dos santos
Fotos divulgação
Foco na gestão
Diretor-presidente da ANS faz um balanço dos 10 anos da Agência e fala sobre as divergências entre médicos e operadoras de planos de saúde
N
o dia 10 de dezembro de 2008, o médico Fausto Pereira dos Santos era sabatinado pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal. Aprovado por unanimidade, assumiu o posto de diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) por indicação do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Há um ano à frente da ANS, o médico goiano, natural da cidade de Pontalina, é formado pela Universidade Federal de Goiás e fez residência em Medicina Preventiva e Social na Universidade Federal de Minas Gerais, onde também obteve os créditos do Mestrado em Administração. Doutor em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Santos concedeu entrevista exclusiva ao Jornal da SBHCI.
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Quais os reflexos da regulamentação da saúde suplementar para a sociedade após 10 anos de atividades da ANS? O que mudou no setor? Em 2008, a Lei no 9.656/98, que inaugurou a regulação do setor suplementar de saúde, completou 10 anos. No próximo ano, é a ANS que completa uma década de existência. Passado esse tempo, é possível afirmar que o mercado está mais competitivo, mais consolidado, com relações mais transparentes, com regras muito mais definidas tanto do ponto de vista dos players quanto de quem acessa esse mercado, seja ele consumidor individual ou coletivo. A criação do órgão regulador foi uma questão fundamental nesse processo. Antes, cada órgão diferente do governo fazia um tipo de intervenção e tinha um retorno de construção da regulação – ao estruturar o órgão regulador, após o
necessário processo de amadurecimento, hoje há um retorno único do processo regulatório, onde se olha desde o processo da fiscalização propriamente dito até as macrogarantias, as definições de modelos de perfis assistenciais. Além disso, a regulação do setor trouxe importantes contribuições tanto para a sociedade quanto para o mercado. Uma das principais foi a padronização dos planos de saúde, o que eliminou uma série de problemas jurídicos, de atritos com os consumidores e da própria assimetria de informações. Hoje, quando se compra um plano ambulatorial ou um plano médico-hospitalar com obstetrícia, sabe-se o que está sendo contratado, assim como no plano odontológico. Isso diminui o nível de conflitos e a assimetria de informações. Caminhamos para uma relação mais transparente. As empresas também têm colaborado para isso, por sua livre iniciativa, com serviços de ouvidoria e centrais de informação e de autorização. Outro ponto positivo da regulação foi a interrupção da ciranda de criação e desaparecimento de empresas. Antes, havia empresas que duravam seis meses, um ano, e encerravam as atividades, deixando desatendidos os consumidores. Hoje, com a exigência de um padrão mínimo de garantias e a necessidade de manter a operação no setor, diminuiu a concorrência desleal e o número de empresas “clandestinas”. O estabelecimento de regras mínimas de funcionamento e o reconhecimento das singularidades de cada uma das modalidades foi outro ponto de sensibilidade importante. Passado o momento de criação das normas que vieram a regulamentar o setor, a Agência pôde se dedicar mais a outros aspectos também considerados essenciais, tais como a qualificação da atenção prestada pelas operadoras a seus beneficiários e a mudança do foco desse atendimento, que era, quase que em sua totalidade, centrado na doença, para um modelo assistencial voltado para a promoção da saúde e a prevenção de riscos e doenças. Apesar da instituição do plano de referência, que prevê cobertura mais ampla, ainda persistem vigentes planos anteriores à atual legislação. Como assegurar aos usuários um atendimento de qualidade? O Judiciário tem considerado que nos planos contratados anteriormente à Lei no 9.656/98, e não adaptados a ela, vale o que foi pactuado entre as partes, dentro do princípio constitucional do ato jurídico perfeito. Algumas situações fogem a essa regra, havendo decisões judiciais
que consideram abusivas determinadas cláusulas de contratos não regulamentados. De todo modo, ter um plano regulamentado pela Lei no 9.656/98 é uma garantia para o consumidor, que tem, nesse caso, seus direitos expressos em uma lei que garante cobertura mínima e veda, entre outras coisas, exclusões ao tratamento de determinadas doenças ou à cobertura de materiais, como muitas vezes acontece em contratos não regulamentados. O melhor é que o consumidor, ou entidade contratante de um plano de saúde, procure sua operadora para verificar em que condições pode ocorrer a adaptação à Lei no 9.656/98. Como conciliar a necessidade de reajuste dos valores dos planos e a capacidade de pagamento dos usuários, em destaque as mudanças de faixa etária, em um cenário em que os custos em saúde são crescentes? Os custos em saúde são crescentes sim, mas nos últimos anos a renda média do brasileiro também tem se elevado, ainda que não no mesmo ritmo. De qualquer forma, o desafio que está colocado é uma melhor gestão, tanto administrativa quanto assistencial, aos beneficiários. Em um cenário em que há aumento de novas tecnologias, há também a preocupação e a necessidade de uma gestão de saúde em que prevaleça a promoção à saúde e a prevenção de riscos e de doenças. Isso, a médio prazo, reduzirá os custos da saúde, garantindo melhor qualidade de vida, já que o brasileiro a cada ano tem vivido mais. A adoção de protocolos e de diretrizes clínicas, por meio das evidências científicas, facilita esse novo cenário. As operadoras de planos de saúde reclamam da escalada crescente de custo. Os médicos alegam a defasagem dos honorários. Quais as medidas adotadas pela ANS para assegurar o equilíbrio dessa relação? O grande incremento nos custos relacionados à saúde é uma preocupação de gestores de sistemas públicos e privados em todo o mundo, e a ANS tem procurado lidar com essa questão e qualificar a assistência, estimulando a utilização de práticas respaldadas em evidências científicas, conforme detalharemos mais adiante. No que tange à questão dos honorários médicos, a Resolução Normativa no 71/2004 estabelece quais são as cláusulas que obrigatoriamente devem constar dos instrumentos jurídicos firmados entre as operadoras e os profissionais de saúde para a prestação dos serviços. Entre
“Hoje, com a exigência de um padrão mínimo de garantias e a necessidade de manter a operação no setor, diminuiu a concorrência desleal e o número de empresas ‘clandestinas’.” 43
ans fausto pereira dos santos essas cláusulas obrigatórias estão as que definem os valores dos serviços e os critérios para reajuste, contendo forma e periodicidade. Esses valores e critérios devem ser negociados entre as partes e constar em contrato. No Brasil, o Código de Defesa do Consumidor confere amplo direito à sociedade civil, potenciando as chances de êxito por parte de usuários nos litígios judiciais. Qual o papel da ANS na harmonização da relação entre usuários e operadoras, a fim de evitar as constantes reclamações? A ANS, por meio de sua Central de Relacionamento (Disque ANS – 0800 701-9656 e seus 12 Núcleos Regionais de Atendimento e Fiscalização), recebe consultas e denúncias dos beneficiários de planos de saúde, levantando as informações, promovendo os esclarecimentos pertinentes e realizando a instrução e o encaminhamento necessário a suas áreas técnicas. Quanto às denúncias de irregularidades praticadas pelas operadoras, desde 2007 vem sendo implementado um novo método de trabalho – a Reparação Voluntária e Eficaz (RVE). A RVE possibilita à operadora, por meio de uma ação comprovadamente realizada antes da lavratura do auto de infração, o cumprimento útil de sua obrigação e o arquivamento de uma denúncia de seu beneficiário uma vez satisfeito o direito deste. Assim, o poder punitivo da ANS deixou de ser um fim em si mesmo e se tornou um meio para a busca da solução célere e efetiva dos casos de conflito nas relações entre operadoras e beneficiários de planos de saúde. Paralelamente, vem sendo implementado para a solução rápida de conflitos o procedimento da Notificação de Investigação Preliminar (NIP). A medida consiste em viabilizar uma forma de aproximação e comunicação mais intensificada entre a operadora e o beneficiário, agindo o órgão de fiscalização nessa intermediação para a solução do conflito. Essa medida vem demonstrando ser eficaz para a correção de falhas e aprimoramento dos processos internos de trabalho das operadoras, em especial de seu serviço de atendimento ao cliente; como também resgata e reforça o elo de confiança entre o beneficiário e a operadora, contribuindo positivamente para a natureza cativa do contrato de assistência à saúde. Os Núcleos Regionais também vêm promovendo a mediação ativa de conflitos recorrentes, organizando reuniões com as operadoras que apresentam um quantitativo mais
elevado de processos administrativos sancionadores, para que se busque identificar as causas operacionais que levaram aos conflitos e se viabilizem as correções necessárias. No campo informacional, a ANS vem promovendo aproximação progressiva, por meio da celebração de Termos de Cooperação Técnica, com os órgãos e entidades de defesa de consumidores, em especial os Procons, e com Centrais Sindicais e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos/Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho (Dieese/Diesat). Campanhas de educação sobre o consumo em saúde suplementar vêm sendo feitas por meio de seminários e palestras destinados ao público consumidor, com o fornecimento de uma série de materiais informativos. A incorporação de novas tecnologias em saúde tem acarretado a elevação dos custos em saúde, em um contexto em que as demandas são crescentes e os recursos, sempre finitos. Qual a política da ANS para garantir aos usuários de planos de saúde o acesso a essas inovações? Para garantir que os usuários de planos de saúde tenham acesso às inovações tecnológicas que trazem benefícios reais na assistência à saúde, a ANS tem investido em duas frentes. Primeiro, estabelecendo diretrizes de utilização para alguns procedimentos, ou seja, definindo critérios que devem ser observados para que a cobertura a esses procedimentos seja obrigatória, de forma a racionalizar seu uso, evitando desperdícios e indicações desnecessárias. Segundo, pelo estímulo à adoção de práticas respaldadas em evidências científicas. Para isso foi formalizado um convênio com a Associação Médica Brasileira (AMB), com participação do Conselho Federal de Medicina (CFM), visando à produção de diretrizes clínicas embasadas nas melhores evidências científicas disponíveis para os temas considerados como de maior relevância para a saúde suplementar. Essas diretrizes, que devem conter recomendações claras e implementáveis, são produzidas pelas sociedades de especialidades médicas, passam por um grupo de revisores da AMB, e são validadas tecnicamente pela ANS, antes de sua publicação. A utilização de diretrizes clínicas tem sido considerada, em todo o mundo, como fator fundamental para a qualificação da prática médica, contribuindo para o aumento de sua eficiência. Há uma agenda crescente de divergências entre operadoras e médicos no que tange a tecnologias,
“As sociedades de especialidades têm papel fundamental, orientando seus associados a comunicarem à autoridade sanitária a ocorrência de eventos adversos com a utilização de determinadas marcas,” 44
e os stents farmacológicos empregados na cardiologia intervencionista são um exemplo. Questionam-se suas indicações, seu custo e, ‘por fim, até a marca que deve ser utilizada pelo médico assistente. Qual a visão da ANS sobre essa problemática? As diretrizes clínicas vêm para tentar resolver parte dessas divergências, fornecendo um instrumento seguro, e constantemente atualizado, em que o profissional de saúde possa se embasar para tomar suas decisões. Nos casos em que ainda persistam divergências quanto às indicações de procedimentos ou materiais, deve ser utilizado o mecanismo de arbitramento por um terceiro médico escolhido de acordo entre as partes, conforme normatização específica (Resolução Consu no 8). Recentemente, a ANS está reformulando o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde. Para tanto, promoveu uma consulta pública finalizada em 30 de outubro. Entre as medidas que se deseja aplicar inclui-se a restrição à autonomia dos médicos na indicação das marcas comerciais de materiais especiais, órteses e próteses, conferindo-se essa prerrogativa às operadoras, desde que assegurada a similaridade com o material indicado pelo médico assistente. Quais os objetivos dessa medida e como assegurar a similaridade entre os diversos materiais? Quem fará o juízo de valor a esse respeito?
A ANS adotou o entendimento de que cabe ao médico assistente a prerrogativa de determinar a indicação e as características do material a ser coberto – como tipo, dimensões, material de fabricação, etc. –, mas que, atendidas essas especificações, a operadora pode escolher a marca e a procedência dentre os produtos com registro válido na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Esse entendimento encontra-se em consonância com o Parecer CFM no 16/08, o qual estabelece, resumidamente, que “não há justificativa para o médico excluir marca comercial de produtos e/ou instrumentos para procedimentos, sendo garantido a ele o conhecimento antecipado de cadastro destes no âmbito do seu trabalho”. A adoção desse entendimento veio para procurar sanar diversas situações de conflito que chegavam ao ente regulador, com médicos exigindo a utilização de produtos de determinadas marcas, em detrimento de outros devidamente registrados na Anvisa, sem que houvesse justificativa coerente para essa indicação. Em alguns casos, a exigência se estendia até mesmo à empresa em que deveria ser adquirido o material. As sociedades de especialidades têm papel fundamental nessa questão, orientando seus associados a comunicarem à autoridade sanitária a ocorrência de eventos adversos com a utilização de determinadas marcas, o que pode ser feito no site da Anvisa, e também buscando e divulgando informações a respeito dos diversos materiais, embasadas em trabalhos científicos de qualidade, evitando que essas informações sejam fornecidas aos médicos apenas pela indústria.
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qualidade profissional
Radiação ionizante
Fotos Omar Matsumoto
Ela não está à vista, mas pode causar consequências graves se não for levada a sério. Para especialistas em radiação, muitos médicos não dão a devida importância aos perigos que a radiação oferece aos pacientes e a eles mesmos
Da esquerda para a direita, Luiz Antonio Gubolino (SP), Marcelo José Cantarelli (SP), Maria do Rosário Britto Leite (PE), Marcelo Queiroga (PB), Lucia Viviana Canevaro (RJ), Barry Balenger (Estados Unidos) e Gustavo de Moraes Ramalho (MG), que participaram do módulo sobre radiação ionizante durante o Curso de Revisão 2009 da SBHCI.
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pesar de nem sempre haver tempo para pensar nos riscos da profissão e nas necessidades de proteção à própria saúde, o cardiologista intervencionista deve ficar atento aos efeitos que podem surgir em decorrência do longo tempo de exposição à radiação ionizante do tipo “X”. O raio X é um tipo de radiação eletromagnética penetrante e invisível ao olho humano, com comprimento de onda menor que o da luz visível e, dependendo da quantidade da dose que é absorvida pelo organismo, pode provocar danos genéticos, como mutações e aberrações cromossômicas, e o desenvolvimento de neoplasia, câncer e outras doenças. Quando o assunto é o tempo de exposição, a radiologia intervencionista é uma das práticas médicas que fornecem as taxas mais elevadas de doses de raios X, tanto para o paciente quanto para o médico, uma vez que ele também recebe as ondas por meio da “radiação espalhada”, embora em proporção menor. Entretanto, por trabalharem permanentemente em contato com o equipamento radiológico, esses profissionais estão sujeitos a risco muito superior. Enquanto a maioria dos pacientes é submetida a alguns cateterismos cardíacos durante a vida, o operador fica sujeito à exposição diária
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com doses cumulativas. Isso acontece porque a questão de doses altas é inerente à prática da cardiologia intervencionista, já que não seria possível realizar um exame considerado como ideal para diagnóstico e tratamento da doença coronária ou uma intervenção sem o fornecimento desses valores elevados. O procedimento intervencionista é mais bem apurado quando se trabalha com imagens mais ampliadas, ou seja, que requerem maior tempo de radiação para se obter a qualidade visual necessária, aumentando, assim, o risco de quem está exposto. Nesse momento, é imprescindível que os profissionais que atuam diretamente com equipamentos de raio X voltem a atenção para os cuidados com a proteção radiológica. Como otimizar a dose de radiação ionizante de modo a conseguir uma boa imagem e, ao mesmo tempo, proteger a saúde? Para o norte-americano Barry Balenger, gerente de Desenvolvimento Clínico da GE, que apresentou palestra no Curso de Revisão 2009, é de extrema importância conhecer os equipamentos. “Nem todos são iguais”, afirma Balenger. “É preciso avaliar a qualidade e as características antes de utilizar ou adquirir um equipamento, caso esteja montando uma sala de hemodinâmi-
Outra razão para médicos que trabalham com radiação não darem tanta importância aos cuidados com a própria saúde é o fato de acharem que nunca serão atingidos.
tes.” Entre as ocorrências mais comuns estão vermelhica.” Gustavo de Moraes Ramalho (MG), hemodinamicisdão da pele, descamação, perda definitiva ou temporária ta que falou aos alunos do Curso sobre como escolher do cabelo, úlcera ou necrose da pele. São consequênum equipamento radiológico, também chamou a atencias de efeitos que normalmente são vistos depois do ção para a qualidade das máquinas, que apresentam diprocedimento, e que ocorrem por problemas como falta ferenças gritantes entre si, o que pode significar o uso de de calibração do equipamento, ausência de mecanismos maiores índices de radiação aplicada para obtenção de de proteção (por exemplo, colocação de filtros), controle boas imagens. equivocado das taxas, doses demasiadamente altas ou De acordo com Lucia Viviana Canevaro (RJ), pesquisaexames longos demais. dora física do Instituto de Radioproteção e Dosimetria da Para a pesquisadora, a presença de um físico nos Comissão Nacional de Energia Nuclear e especialista em serviços de hemodinâmica, que hoje possuem equipaFísica Médica, com ênfase nas aplicações das técnicas mentos extremamente sofisticados, também é de suma fluoroscópicas em radiologia diagnóstica e intervencionista importância. Sua função seria manter um controle de e dos sistemas digitais de imagem, a maneira de otimizar qualidade e, com periodicidade, deixar o equipamento essa prática é ter consciência do controle correto da dosaem ordem, como trabalho de prevenção, evitando que gem utilizada de acordo com cada atividade. “Dependendo problemas operacionais venham a causar danos. “É uma do procedimento, não é preciso ter a imagem mais marafunção diferente do pessoal da manutenção, que apenas vilhosa e brilhante, mas sim com uma qualidade suficienverifica a parte mecânica”, diz Lucia. De acordo com a te para aquilo que se quer fazer”, ela afirma. “Para isso, o especialista, isso seria um benefício inclusive financeiro, médico precisa conhecer, principalmente, as opções que uma vez que o diretor da clínica ou da instituição cono equipamento de raio X oferece.” Lucia exemplifica que, seguiria diminuir alguns gastos e despesas, já que os se o médico pretende introduzir o cateter no paciente, ele equipamentos passariam frequentemente por ajustes e não precisa de uma altíssima qualidade de imagem naquele não precisariam de peças novas por causa de desgasmomento para observar o processo, então coloca-se uma te. Esse profissional ainda pode se tornar o responsável taxa baixa. Mesmo que a imagem não seja muito boa, será pela proteção do ambiente de trabalho. “O físico pode suficiente para o objetivo do profissional. Ao manusear um conferir se os aventais não estão rasgados, se há protestent ou algo que precise de maior definição de imagem, aí ção necessária e se estão sendo utilizados de maneira pode-se aumentar a taxa. “Esse jogo de saber quando usar adequada.” Outra colaboração interessante vinda desse ou não um recurso é fundamental”, diz a pesquisadora, reiprofissional seria a intermediação de cursos de treinaterando a importância de o médico ter conhecimento pleno mento para os médicos, que, embora atuem com excedas ferramentas que o equipamento coloca à disposição. Tão importante quanto outros fatores é a manutenção dos equipamentos, um serviço ÚNICO STENT RECOBERTO DE que, muitas vezes, não é tão levado a sério. Para os especialistas, o ideal é que as TITÂNIO-ÓXIDO-NÍTRICO 1o equipes que trabalham na conservação da aparelhagem também tenham consciência Comprovada não inferioridade comparado ao DES em 12 meses* de quais as doses indicadas para cada proReduz em 40% a perda tardia comparado ao BMS aos 6 meses* cedimento, uma vez que o trabalho, embora Não exige tratamento antiplaquetário de longo prazo meramente técnico, influencia diretamente o Mais seguro a longo prazo resultado do processo. “Se o médico pede Não elui drogas uma imagem muito boa, o técnico vai ampliar a imagem, que ficará linda”, afirma Lucia. “Só Sem polímero EXACAT * Estudo TINOX (Circulação 2005) Disponibilizando a tecnologia do amanhã ! que também aumentará o risco de acidenEstudo TITAX (TCT 2007)
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qualidade profissional lência dentro de sua especialidade, não possuem conhecimento aprofundado sobre equipamentos e riscos relativos à radiação ionizante, pois não são radiologistas. Sendo assim, os profissionais sujeitos a doses maiores, sobretudo na prática intervencionista, estariam sempre atualizados sobre os princípios físicos da radiação ionizante e as recomendações para controle da dose. A falta de conhecimento específico não só põe em risco a correta utilização dos aparelhos, como também pode prejudicar eventos posteriores. Um exemplo é a habitual ausência de comunicação por parte de alguns médicos depois de notarem que seu paciente pode ter sido vítima de algum acidente, como alterações na pele e catarata, devido ao contato com a radiação durante o procedimento. A física Lucia Canevaro alerta que não há motivos para essa omissão de informação e reforça ainda que o objetivo de se ter acesso a esses dados é investigar quais as causas e evitar que o problema volte a acontecer. “O profissional acha que vai ser julgado ou punido, mas a ideia não é essa. A gente tenta incentivar que o fato, caso aconteça em alguma clínica ou laboratório de hemodinâmica, seja comunicado”, afirma. “Mesmo porque, na maioria das vezes, não é imperícia do operador, e sim algum mau funcionamento do equipamento ou sensibilidade maior do paciente.” Outra razão para médicos que trabalham com radiação não darem tanta importância aos cuidados com a própria saúde é o fato de acharem que nunca serão atingidos. Mas os especialistas acreditam que, mesmo não tendo nenhum artigo nacional publicado a respeito do tema, já houve casos de efeitos comprovados em cardiologistas intervencionistas, como a catarata. “Observamos também que alguns já não têm pelos nas mãos e nem nas pernas, pois é uma área que fica bem perto da radiação”, diz Lucia. Ela explica que, no processo de radiação, existem os efeitos determinísticos, como alterações na pele e catarata, que aparecem algumas semanas após a aplicação de doses muito altas. E existem os efeitos estocásticos ou cumulativos, que aumentam a probabilidade de aparecer por meio da frequência do número de procedimentos realizados. “Um exemplo que sempre dou é que se você atravessa uma vez por ano a Avenida Paulista, o risco de morrer atropelado é bem menor do que se você a atravessasse todos os dias”, afirma a especialista. “Pode ser que você atravesse uma única vez na vida e seja atropelado, mas com certeza são probabilidades muito maiores na medida em que você atravessa mais vezes.” Logo, não é porque o médico
trabalha há décadas com radiação que ele vai ter alguma doença, mas a probabilidade torna-se bem maior, uma vez que as células ficam mais sensíveis. O primeiro passo para começar a agir corretamente é aceitar a ideia dos riscos que se corre. Após isso, os mecanismos de proteção à disposição do profissional passam a ser ferramentas de trabalho habituais. Uma forma de segurança que, atualmente, é obrigatória na Europa é que os equipamentos apresentem o valor da dose ministrada em tempo real, no monitor do médico, possibilitando que ele tenha o controle da situação e o conduza a ser mais cuidadoso. “No Brasil, ainda é necessário que as pessoas comprem a ideia, entendam e aceitem a importância de a dose ser medida”, afirma Lucia. “É uma ferramenta de proteção tanto para o médico quanto para o paciente.” O cardiologista intervencionista atua em uma especialidade em que os riscos para a própria saúde são mais elevados pela exposição constante à radiação ionizante. Embora o efeito de uma determinada radiação seja diferente de um organismo para outro, é importante conhecer a dose de radiação que é absorvida, pois pode provocar danos irreversíveis. Para se ter ideia da repercussão em um ser humano, uma dose maciça de aproximadamente 100 rem (unidade de radiação) após três horas provoca aspecto de embriaguez, caracterizada por insônia, cansaço, fraqueza geral, falta de apetite, enjoo, instabilidade psíquica, vômitos, dores de cabeça, diminuição da pressão sanguínea, diarreia, leucemia. A dose de 500 rem é fatal. Em dois dias ocorre a morte de 100% dos submetidos, por destruição total da mucosa intestinal. Para o cardiologista intervencionista, a soma é 20 vezes maior que a exposição de radiação a um ambiente normal. Ele recebe uma dose de aproximadamente 20 rem no final do procedimento diagnóstico. Considerando a dose mencionada, esse profissional deve realizar, no máximo, 250 procedimentos por ano, para não superar a dose de segurança. No Brasil, o método mais simples e prático de verificar se o profissional está sendo prudente é a utilização dos dosímetros individuais. Pela complexidade do ritual de proteção pré-exame, os profissionais acabam deixando esse aspecto importante de lado. Mas o fato é que essa é uma das melhores formas de o médico quantificar a dose que ele mesmo recebe. É um segurança para o presente e para o futuro, pois os dosímetros serão úteis quando o intervencionista solicitar sua aposentadoria especial por trabalho em ambiente insalubre.
Existem os efeitos estocásticos ou cumulativos, que aumentam a probabilidade de aparecer por meio da frequência do número de procedimentos realizados. 48
Aposentadoria especial para intervencionistas Por que falar em aposentadoria para quem está apenas iniciando uma carreira médica? [Maria do Rosário Britto Leite (PE), Diretoria de Qualidade Profissional, Cardiologista Intervencionista e Advogada]
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o profissional médico, em regra, sobra pouco tempo para adquirir informações que não sejam científicas e específicas da profissão e da prática médica. O consumo de tempo integral inicia na formação e progride com o exercício profissional. A preocupação sobre a aposentadoria, muitas vezes, é colocada pelos profissionais das seguradoras e estes demonstram, matematicamente, que, se pensamos cedo no recompensado descanso remunerado, o investimento será mais fácil e menos dispendioso. O ordenamento jurídico brasileiro prevê o adicional de insalubridade e o consequente direito à aposentadoria especial para os trabalhadores expostos à radiação ionizante, empregados e servidores que atuem no ambiente insalubre por período mínimo de 12 horas semanais. Ou seja, pela atividade em ambiente insalubre, além da compensação por adicional de salários e férias diferenciadas, existe a previsão de uma previdência especial, que gera benefício e compensação da aposentadoria especial. É considerada preocupação e dever do Estado a promoção de ambiente de trabalho saudável. Diante dessa impossibilidade, cumpre-se o dever ou assumese a penalidade do pagamento de adicional de insalubridade e da aposentadoria precoce como forma de compensação. Contudo, nem todos os intervencionistas terão direito à aposentadoria especial e, mesmo aos que têm esse direito, não se efetiva automaticamente. A previsão legislativa federal veda o recolhimento para previdência especial e consequente aposentadoria especial aos profissionais liberais autônomos. É
Apresentado no Curso de Revisão 2009 por Maria do Rosário Britto Leite (PE), o tema sobre aposentadoria especial gerou interesse e debate entre os médicos presentes. Da esquerda para a direita, Maria do Rosário Britto Leite (PE), Marcelo Queiroga (PB), Lucia Viviana Canevaro (RJ), Barry Balenger (Estados Unidos) e Gustavo de Moraes Ramalho (MG).
necessário que haja vínculo trabalhista como empregado ou como servidor público. Os que trabalham sob o regime da Consolidação das Leis de Trabalho têm a previsão bem estabelecida, para os quais o direito à aposentadoria especial é devidamente regulamentado. Também os servidores federais têm regulamentação específica, mas, ainda assim, precisam requerer administrativamente, comprovando sua atuação em ambiente insalubre específico. O maior problema fica para os servidores estaduais, uma vez que a maioria dos Estados ainda não regulamentou a lei federal que prevê o direito ao tipo de aposentadoria em discussão. Os que conseguiram esse direito precisaram recorrer à via judicial, pois a via administrativa não respondeu de forma positiva. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu em julgamento o direito a um requerente que acessou a Justiça por meio do remédio constitucional, o Mandado de Injunção, utilizado para requerer que se regulamente uma lei que já deveria ter sido regulamentada. Como se pode entender pelo aqui exposto, o direito à compensação de uma aposentadoria especial, que deveria ser automático, muitas vezes, é complexo, exigindo que o interessado fique alerta para não ver seus direitos perecerem. É recomendável, portanto, que os profissionais tenham relatórios dos dosímetros de radiação, saibam requerer a insalubridade por radiação X desde o início de seu vínculo como empregado ou servidor e requeiram sua contagem para obtenção da aposentadoria especial a partir do décimo nono ano de trabalho.
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panorama cirurgia x intervenção |sergio almeida de oliveira
A eterna controvérsia Cirurgia cardíaca ou angioplastia coronária em pacientes multiarteriais? Para colocar essa questão polêmica em pauta, convidamos um dos mais importantes cirurgiões cardíacos do Brasil para um bate-papo
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ergio Almeida de Oliveira (SP) é um dos maiores cirurgiões brasileiros de cardiologia. Professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), ele trabalha no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – InCor/HCFMUSP (SP) desde sua fundação, treinou especialistas espalhados por toda a América Latina e foi eleito, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), um dos 11 profissionais da área que mais se destacaram no século XX. Ao saber do tema da entrevista, Oliveira se antecipa a qualquer pergunta. “Não existe verdade absoluta na medicina”, afirma. “Não é possível chegar a um consenso sobre o que é certo ou errado na cardiologia quando se trata das decisões sobre qual o procedimento ideal para o tratamento dos pacientes.” Consciente da evolução tecnológica da cardiologia intervencionista e defensor da liberdade de escolha do paciente mediante informações claras e objetivas, Oliveira é declaradamente a favor da cirurgia e enriquece o debate sobre essa eterna controvérsia, analisando resultados dos estudos SYNTAX e BARI 2D.
mais simples ou em pacientes que apresentam alto risco de lesão culpada para a cirurgia, em decorrência, principalmente, das comorbidades. Para o tratamento da lesão culpada no infarto agudo do miocárdio, em que a precocidade do tratamento é essencial para obtenção de bons resultados, a desobstrução coronária pela angioplastia é preferível pela agilidade na sua aplicação. Após essa intervenção de salvamento, havendo outras lesões de maior significância, o paciente deverá ser reavaliado para uma nova decisão quanto ao tipo de tratamento a ser indicado. Qual sua análise a respeito dos resultados e avanços da angioplastia coronária em pacientes portadores de doença arterial complexa múltipla e em diabéticos? A intervenção percutânea coronária (IPC) tem progredido consideravelmente nos últimos anos, sendo capaz de tratar lesões mais complexas com sucesso. Entretanto, na doença coronária, a avaliação dos resultados não pode ser restrita ao curto prazo, pois trata-se de doença de lon-
“Embora o SYNTAX tenha sido mais abrangente que estudos anteriores, continua sendo uma amostra muito reduzida”
Quando o senhor considera a prescrição de angioplastia ou de cirurgia sem hesitar em relação à doença arterial coronária e à revascularização do miocárdio? Atualmente, há um razoável consenso para a indicação do tratamento intervencionista, por cirurgia de revascularização miocárdica ou por angioplastia em algumas situações especiais na doença coronária. A cirurgia de revascularização é o método preferível para pacientes com lesões coronárias múltiplas e/ou complexas, enquanto a angioplastia tem sua melhor indicação em casos com lesões
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ga duração, que deve ser acompanhada por décadas. Dois grandes estudos controlados, de grande importância, tiveram seus resultados iniciais (SYNTAX) ou finais (BARI 2D) publicados recentemente, trazendo importantes informações. O estudo SYNTAX comparou a IPC com stents farmacológicos versus a cirurgia de revascularização miocárdica (CRM) em pacientes com lesões triarteriais ou de tronco da artéria coronária esquerda, isolada ou associada a lesões uni, bi ou triarteriais. Os resultados finais serão conhecidos após cinco anos. Entretanto, na análise de um e
dois anos, a conclusão foi de que a CRM continua sendo o tratamento padrão, com menor mortalidade e menor ocorrência de eventos cardíacos adversos maiores (morte, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e reintervenções). Esse estudo, embora um dos mais abrangentes já realizados, continua sendo muito seletivo. Basta ver a publicação do Steering Committee do estudo SYNTAX (Insights from the SYNTAX run-in phase), que informa sobre os requerimentos para participação no SYNTAX, em que todos os investigadores do estudo foram solicitados a informar, anonimamente, quantos procedimentos em pacientes com lesões de tronco da artéria coronária esquerda ou triarteriais foram realizados em cada serviço, durante o período de três meses. Os resultados demonstraram a média de 30 pacientes por serviço para a IPC e de 86 pacientes por serviço para a CRM. Isso visou, na fase de seleção das equipes, a permitir apenas a entrada de grupos bem treinados no tratamento de pacientes com esses tipos de lesão coronária. Esses dados contrastam muito com os dados do estudo SYNTAX, randomizado, avaliados durante dois anos – tempo de recrutamento dos pacientes, em que a média por serviço foi de aproximadamente 10 pacientes em cada braço do estudo. Embora o SYNTAX tenha sido mais abrangente que estudos ante-
riores, continua sendo uma amostra muito reduzida, não permitindo a transferência automática dos resultados para a população em geral. O SYNTAX trouxe também outras importantes contribuições, como ressaltar a necessidade de que as decisões quanto ao tratamento inicial resultem do consenso de um grupo multidisciplinar, composto pelo cardiologista clínico, pelo intervencionista e pelo cirurgião. É necessário também que o paciente seja informado sobre opções, riscos e benefícios do tratamento a ser instituído. Outra contribuição importante foi a utilização de uma tabela de complexidade das lesões (escore SYNTAX). Quando os pacientes foram agrupados de acordo com a complexidade das lesões coronárias, demonstrou-se que, no grupo com lesões de menor complexidade, os resultados da IPC e da CRM nessa fase inicial do seguimento pós-procedimento foram semelhantes. Os resultados, nos próximos cinco anos, trarão novas informações. Ainda no estudo SYNTAX, além dos 1.800 pacientes aceitos tanto pelos cirurgiões como pelos hemodinamicistas e que constituíram o grupo randomizado da investigação, outros dois grupos foram tratados e acompanhados, constituindo os denominados registros. O registro da cirurgia foi composto por 1.077 pacientes recusados pelos intervencionistas, mas aceitos pelos cirurgiões. Ainda há 198
Fotos Gislene Simonetti
O cirurgião Sergio Almeida de Oliveira foi entrevistado para falar da eterna controvérsia entre a cirurgia e a intervenção.
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panorama cirurgia x intervenção |sergio almeida de oliveira pacientes recusados pelos cirurgiões, mas aceitos pelos intervencionistas. É interessante observar que os pacientes tratados cirurgicamente evoluíram até melhor que os operados no grupo randomizado, enquanto os pacientes tratados com angioplastia não evoluíram tão bem. Outro grande estudo cujos resultados foram conhecidos recentemente é o BARI 2D, realizado para comparar, em pacientes diabéticos, o tratamento clínico isolado com o tratamento intervencionista por angioplastia ou CRM como forma inicial de tratamento. Nesse estudo, a randomização foi realizada entre tratamento clínico e IPC ou tratamento clínico e cirurgia. Não houve randomização entre cirurgia e angioplastia. Os pacientes com lesões mais complexas foram encaminhados para cirurgia. Após cinco anos de seguimento, as conclusões foram de que a CRM como tratamento inicial reduz significativamente a ocorrência de eventos cardiovasculares maiores, quando comparada com o tratamento clínico. Essa redução não foi observada quando o tratamento clínico foi comparado à angioplastia como tratamento inicial. Entretanto, quando tratados inicialmente com terapia medicamentosa otimizada, a metade dos pacientes precisou ser revascularizada ao final de cinco anos de seguimento. Tronco da coronária esquerda não protegido já é passível de tratamento intervencionista em potenciais candidatos a cirurgia de revascularização? É passível e tem sido realizado em casos selecionados. Entretanto, o acompanhamento a longo prazo é essencial. Um dos pontos críticos da IPC, e que precisa ser lembrado, é que, em casos de reestenose ou oclusão dos stents, as consequências poderão ser muito graves. Por outro lado, o tratamento cirúrgico utiliza uma estratégia, que é a colocação de “pontes” distalmente às lesões em segmento normal ou menos lesado da artéria coronária. Desse modo, a oclusão da lesão proximal não acarretará prejuízo ao paciente durante a evolução da doença. Como o senhor observa o crescimento da cirurgia cardíaca no Brasil e no mundo? Quais as novas técnicas e perspectivas? Mudanças na cirurgia cardíaca têm sido constantes.
No Brasil, especificamente, a cirurgia tem crescido de modo consistente, tendo sido realizadas, em 2008, 102.300 cirurgias cardíacas em 381 centros cardiológicos. Somos, hoje, 1.129 cirurgiões cardiovasculares em atividade. Como se sabe, o Sistema Único de Saúde (SUS) encontra dificuldades para a aplicação desse direito constitucional em sua plenitude. Entre as mudanças ocorridas, ficando apenas no tema desta entrevista, o progresso no tratamento clínico, assim como o desenvolvimento de novos procedimentos menos invasivos, contribui para alterar o perfil do paciente operado. A cirurgia tem progredido constantemente e, assim mesmo, os procedimentos tradicionais se beneficiam de novos conhecimentos e de recursos tecnológicos. Na revascularização miocárdica, a cirurgia sem circulação extracorpórea está muito bem sistematizada, podendo ser aplicada a grande número de pacientes. Nas doenças da aorta, aneurismas e dissecções, houve igualmente grande avanço nas técnicas convencionais, mas sobretudo pelo desenvolvimento das endopróteses aórticas para utilização isolada ou em procedimentos combinados. Mais recentemente, foram desenvolvidas novas próteses valvares para colocação através de artérias periféricas ou pela ponta do ventrículo esquerdo por minitoracotomia, sem necessidade de circulação extracorpórea. Esses procedimentos se tornam muito atrativos, especialmente considerando que a crescente população idosa apresenta comorbidades que aumentam o risco para uma intervenção convencional. A utilização dessas próteses vem crescendo muito nos dois últimos anos, principalmente em alguns países da Comunidade Europeia. A técnica já foi iniciada também no Brasil, inclusive em nosso Serviço. Entretanto, o método convencional permanece como “padrão ouro” para a cirurgia das valvas aórtica e mitral. Outro grande avanço foi observado na utilização dos ventrículos auxiliares, como suporte temporário ou mesmo como terapêutica de destino. Os custos são muito elevados, mas certamente tenderão a cair com a maior utilização. O contínuo avanço tecnológico nos dispositivos de assistência mecânica da circulação e a melhor seleção dos pacientes deverão aprimorar a evolução tardia dos receptores.
“ Os procedimentos híbridos certamente farão parte do tratamento cirúrgico em cardiologia daqui para a frente.” 52
Qual sua opinião sobre os resultados divulgados pelo SUS de mortalidade elevada (> 5%-10%) nas cirurgias cardíacas brasileiras? Não creio que esses índices tão elevados de mortalidade correspondam à realidade brasileira. Será necessário conhecer os escores de risco dos pacientes analisados para valorizar adequadamente o ocorrido em relação ao esperado. Certamente, em qualquer serviço brasileiro que tenha uma estrutura médico-hospitalar adequada, os riscos operatórios são bem menores. Procedimentos híbridos mesclados à angioplastia são viáveis? Os procedimentos híbridos certamente farão parte do tratamento cirúrgico em cardiologia daqui para a frente. A criação de salas cirúrgicas híbridas, isto é, com recursos para imagens, é essencial para a utilização de endopróteses aórticas ou valvares. Na cirurgia coronária, os procedimentos híbridos (IPC e CRM) já são utilizados há muito tempo como tratamento complementar, não necessariamente na mesma intervenção. Por outro lado, a combinação de CRM e IPC, no mesmo procedimento, tem sido esporadicamente utilizada. As poucas publicações sobre estudos controlados não foram capazes de concluir sobre os reais benefícios dessa técnica. Duplo enxerto de artéria mamária ou simples? Os benefícios da utilização da artéria torácica interna esquerda (artéria mamária) já são conhecidos há muito tempo. Mais recentemente, também foi claramente demonstrado que a utilização de ambas as artérias mamárias, nos procedimentos de revascularização miocárdica, prolonga a sobrevida dos pacientes assim como diminui a necessidade de reintervenções. As artérias mamárias podem ser utilizadas como enxertos in situ ou como “enxertos livres”, para a realização de anastomoses isoladas ou sequenciais, aumentando a possibilida-
de de se tratar maior número de artérias com esses enxertos. Com o desenvolvimento de recursos técnicos para exposição e imobilização segmentar do coração e a utilização desses enxertos arteriais, torna-se possível a revascularização total, sem a utilização da circulação extracorpórea e sem manipulação da aorta. Cirurgia com esternotomia clássica ou minimamente invasiva para realização de enxerto de artéria mamária? Primeiramente, a esternotomia clássica, que popularmente – ou maliciosamente – alguns chamam de “rachar o peito de cima a baixo”, já não existe ou não é necessária. As incisões atualmente são reduzidas, com grande benefício estético para o paciente. A anastomose da mamária com artéria descendente anterior pode ser facilmente realizada por miniacesso (miniesternotomia ou minitoracotomia). Como o senhor analisa os resultados iniciais da substituição de valva aórtica percutânea? Esse é um dos avanços na cirurgia valvar, atualmente realizada como tratamento de exceção para pacientes com alto risco para intervenção aberta convencional. Novos recursos estão sendo desenvolvidos para a correção das valvas nativas ou de disfunção das próteses biológicas aórtica e mitral. Um modelo nacional está sendo testado em um estudo piloto, que já foi iniciado.
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atualização científica
Revisão das diretrizes norte–americanas 2009 Diretrizes norte-americanas dedicadas à intervenção coronária percutânea e infarto agudo do miocárdio foram atualizadas. Compare com a Edição 2008 da SBC & SBHCI [Guilherme Ferragut Attizzani (SP), coeditor do Portal da SBHCI]
Omar Matsumoto
1) A angioplastia de tronco de coronária esquerda não protegido, após receber o aporte de uma avalanche de evidências, lideradas, sobretudo, pelos resultados do estudo SYNTAX, deixou de ser formalmente contraindicada (classe III) e passou a receber a classificação IIb, nível de evidência B, em indivíduos cujo risco cirúrgico for elevado e nos quais a anatomia coronária for favorável à intervenção percutânea. Ressaltamos que as diretrizes da SBC & SBHCI classificam esse tipo de intervenção como IIa, nível de evidência C, e naqueles em que não haja fatores promotores de risco cirúrgico a indicação do procedimento é classificada como IIb, nível de evidência B.
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s diretrizes publicadas periodicamente pelas mais diversas sociedades médicas ao redor do globo constituem-se em importantes ferramentas para guiar a prática da medicina baseada em evidências, já que se trata de uma análise dos resultados dos mais importantes ensaios clínicos publicados aplicados à prática clínica diária. Dada a pujante evolução das ciências médicas, esses documentos científicos são submetidos a atualizações periódicas à medida que novas evidências ganham corpo. Recentemente, as duas maiores entidades médicas cardiológicas norte-americanas, American College of Cardiology (ACC) e American Heart Association (AHA), promoveram uma revisão em suas diretrizes de infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST, bem como naquelas de intervenção coronária percutânea. Algumas das modificações realizadas já haviam sido antecipadas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) em associação com a SBHCI em 2008, na publicação de suas II Diretrizes de Intervenção Coronária Percutânea e Métodos Adjuntos Diagnósticos em Cardiologia Intervencionista. Vejamos as principais mudanças realizadas:
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2) Os resultados de longo prazo de diversos estudos que avaliaram a utilização de stents farmacológicos no infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST, com destaque para o seguimento de dois anos do estudo HORIZONS-AMI, deram suporte à indicação IIa, nível de evidência B, para o uso dessas endopróteses nesse cenário clínico. A avaliação da aderência à terapia antiplaquetária dupla, bem como do risco de sangramento associado a ela, além da possibilidade de uma intervenção cirúrgica precoce, deve ser obrigatória para que essa prática possa atingir seus benefícios com plenitude. 3) O uso de tienopiridínicos por período de 12 meses após o implante de stent farmacológico em vigência de um infarto agudo do miocárdio com supra de ST era formalmente indicado nas diretrizes prévias, ao passo que, após o implante de stent não-farmacológico, figurava como prática opcional. Após a presente atualização, a recomendação passa a vigorar para todos os pacientes submetidos a intervenção coronária percutânea primária com stent, independentemente de tratar-se de stent farmacológico ou não (classe I, nível de evidência B). No entanto, devemos avaliar com cautela os riscos individuais de sangramento, considerando sua suspensão precoce em casos selecionados. Adicionalmente, quando o implante de stent farmacológico for realizado, o prolongamento da utilização do tienopiridínico por período superior a 15 meses passou a se tornar uma
alternativa plausível (classe IIb, nível de evidência C). 4) A trombectomia emerge como uma marcante recomendação no infarto agudo do miocárdio com supra de ST (classe IIa, nível de evidência B), fincada no alicerce dos resultados dos estudos TAPAS e EXPIRA. Como vimos em alguns dos tópicos previamente discutidos, as diretrizes da SBC & SBHCI de 2008 já haviam classificado essa intervenção com o mesmo nível de recomendação da presente atualização. 5) O uso do tirofiban no infarto agudo do miocárdio com supra de ST teve seu nível de recomendação elevado a classe IIa, nível de evidência B, após alguns estudos, como o MULTISTRATEGY, terem exibido bons resultados com a administração de 25 µg/kg como dose de ataque. Além disso, a infusão desse inibidor da glicoproteína IIb/ IIIa antes do ingresso do paciente ao laboratório de hemodinâmica, de modo a promover “facilitação”, teve seu nível de evidência elevado de C para B (classe IIb), baseado em resultados de alguns ensaios clínicos, como o ON-TIME 2. 6) O prasugrel passou a ser uma opção dentre os tienopiridínicos, após a confirmação de sua segurança e eficácia em pacientes vítimas de síndromes coronárias agudas no estudo TRITON-TIMI 38, sobretudo naqueles de mais alto risco. Entretanto, em indivíduos com história de acidente isquêmico transitório e acidente vascular encefálico prévios, seu uso é formalmente contraindicado (classe III). A suspensão dessa droga em caso
Tópico
de necessidade de cirurgia de revascularização do miocárdio deverá ser feita com sete dias de antecedência (classe I, nível de evidência C); já no caso do clopidogrel, essa interrupção deverá ser feita idealmente com antecipação de cinco dias (classe I, nível de evidência B), salvo em caso de cirurgia de emergência, na qual o potencial benefício supera os riscos de sangramento (nível de evidência C). 7) Após os bons resultados do estudo FAME, no qual a intervenção coronária percutânea, exclusiva de lesões funcionalmente graves à avaliação pela reserva de fluxo fracionada, se mostrou vantajosa em termos de redução de desfechos adversos, quando comparada ao tratamento guiado exclusivamente pela angiografia, esse método adjunto recebeu substrato para elevar seu nível de evidência de B para A (classe IIa). 8) A incorporação da bivalirudina na intervenção coronária percutânea primária, embasada pelos bons resultados do estudo HORIZONS-AMI, nos traz a oportunidade de lidar com uma droga cuja farmacodinâmica é sensivelmente mais previsível que a da heparina, levando à diminuição de desfechos adversos hemorrágicos e de mortalidade por todas as causas. Dadas essas características, seu uso passou a ser recomendado, de modo inédito, naqueles pacientes em que os riscos de sangramento são elevados (classe IIa, nível de evidência B).
AHA/ACC 2007 AHA/ACC 2009 SBC & SBHCI 2008
Intervenção Coronária Percutânea com Stents Tronco Coronária Esquerdo Não Protegido
Classe III
Classe IIb
Classe IIb
Stent Farmacológico - Infarto Agudo do Miocárdio
Classe IIb
Classe IIa
Classe IIa
Classe I por 12 meses
Classe I por 12 meses
Classe I*
---†
Classe IIa
Classe IIa
Classe IIb
Classe IIa||
Classe IIa‡
---†
Classe I
---§
Classe IIa#
Classe IIa**
Classe IIa#
Clopidogrel após Infarto Agudo do Miocárdio Dispositivos de Aspiração Manual (Trombos) Infarto Agudo do Miocárdio Tirofiban - Infarto Agudo do Miocárdio com Supra de ST Prasugrel - Intervenção Coronária Percutânea Primária (Infarto Agudo do Miocárdio) Mensuração da Reserva de Fluxo Fracionada para Orientar uma Intervenção Coronária Percutânea com Stents
* As recomendações classe I são para a utilização de tienopiridínicos por 30 dias após implante de stent não-farmacológico (nível de evidência A) e por 12 meses após implante de stent farmacológico (nível de evidência C), independentemente do cenário clínico. † Trata-se de recomendação que não existia nessa diretriz. ‡ O uso dessas drogas em indivíduos que não receberam dose de ataque de clopidogrel por período superior a seis horas é considerado classe I nessas diretrizes. Não há
distinção entre diferentes inibidores da glicoproteína IIb/IIIa nessas diretrizes. § Recomendação não incorporada a essas diretrizes. || A recomendação classe IIa, que orientava a utilização de inibidores da glicoproteína IIb/IIIa em pacientes nos quais a administração da dose de ataque de clopidogrel fosse administrada no momento do procedimento, deixou de existir. # Nível de evidência B. ** Nível de evidência A.
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opinião
Com a palavra, os editores Nesta última edição de 2009, os quatro editores do Jornal da SBHCI dão sua palavra [Marcelo de Freitas Santos (PR), editor]
M
ais um ciclo de 365 dias está por terminar. No ano de 2009, observamos o crescimento de nossa nação no contexto mundial. Refletir sobre nossas conquistas muitas vezes não é simples, pois sempre depende da percepção individual e global das pessoas que avaliam nossas atitudes. Não estamos terminando somente mais um ano, mas um ciclo de três anos, nos quais tive a oportunidade de participar da gestão da SBHCI. Fazendo parte do grupo de editores, pude vivenciar e registrar a evolução e a profissionalização de nossa Sociedade. Para mim, uma das grandes manchetes do Jornal foi divulgar as atitudes da comissão responsável pela titulação de novos valores profissionais formados pelos nossos membros titulares. A entrada dos novos membros titulares brinda todas as conquistas desta Diretoria, que finda um ciclo e abre votos de sucesso aos colegas que passarão a representar esta instituição.
Estou feliz de, mais uma vez, sentir que possuo amigos nessa nova Diretoria. Acredito que seja um sentimento comum a todos os representantes da SBHCI. Caros leitores, espero que tenhamos alcançado todos os objetivos de nosso Jornal, pois ele representa um dos meios de visibilidade da nossa Sociedade. Aproveito para registrar a todos o agradecimento a um grupo grande de colaboradores que escreveram, registraram e organizaram nossas edições. A esses profissionais, meu muito obrigado. E, a todos, desejo um Natal com muita alegria, saúde e felicidade, e que em 2010 todos os nossos desejos se realizem.
[César Rocha Medeiros (RJ), editor]
C
om a última edição de 2009, este corpo editorial se despede com uma boa sensação, a de que participou de algo relevante, algo que contribuiu para a maturidade e a integração de nossa Sociedade. A revitalização do Jornal da SBHCI é motivo de orgulho para a Sociedade, que passou a se conhecer mais a fundo e a se mostrar ativa e transparente aos olhos de toda a comunidade cardiológica brasileira. Esses méritos devem ser divididos entre toda a Sociedade, que contribuiu com a elaboração das pautas, bem como com o compartilhamento de suas histórias e experiências; nossa Diretoria, a qual nos concedeu apoio irrestrito; e a equipe editorial, que lidou pacientemente com nosso excesso de vontade e, muitas vezes, falta de traquejo no que
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tange a prazos, limites e formatações – detalhes que fazem a diferença entre um mero informativo societário e um jornal abrangente e dinâmico. Tenho certeza de que as próximas gestões, da SBHCI e do Jornal, aprimorarão progressivamente esse veículo de comunicação, ao qual me afeiçoei tanto a ponto de receber exemplares em dobro*. * Cláudia Mattos (RJ), sócia titular da SBHCI, é minha esposa e também recebe seu exemplar do Jornal.
N
ovamente é final de ano. É hora de agradecer e recordar. Em 2006, os colegas César Rocha Medeiros (RJ), Marcelo José Cantarelli (SP) e Marcelo de Freitas Santos (PR) iniciaram suas atividades como editores deste Jornal. Juntei-me a eles no início de 2007 e posso afirmar que formamos uma equipe coesa, onde a diferença foi sempre valorizada e acolhida. Estivemos afinados como instrumentos de uma orquestra em nome de um objetivo maior, a música. No caso, a informação aos nossos sócios. Para tanto, recebemos o apoio de toda a Diretoria, especialmente de Luiz Alberto Mattos (SP), amigo querido, idealista e incansável em sua missão, e de Rogério Sarmento-Leite (RS), a quem também me autorizo a chamar de um amigo que acolheu com entusiasmo nossas sugestões. Ambos foram envolvidos em todos os detalhes de cada uma das edições publicadas. Em todas elas, procuramos levar os avanços da nossa especialidade, que por vezes foram vertiginosos. Viver essa especialidade é viver no meio de uma revolução, o que requer imenso fôlego. É também o privilégio de viver a construção de ideias, a possibilidade de
Fotos divulgação
[Luciana Constant Daher (GO), editora]
propor paradigmas, de criar. Quanto mais nos fixamos em certezas absolutas, mais longe estamos da possibilidade de descobertas. Esse é o espírito que deve permear nossa atividade, apoiada no princípio maior que é o da ética, palavra bela e fundamental em todas as ações da humanidade. Certa vez, Gandhi afirmou: “Seja a mudança que quer ver no mundo”. Em nome de poder ser essa mudança, nos sentimos estimulados a buscar, a todo custo, a melhor qualidade em nossas atividades, quaisquer que sejam elas. Agradeço de coração aos membros da atual Diretoria, aos meus amigos editores, parceiros leais, e aos 977 sócios da SBHCI, razão de nosso trabalho. Boas vindas a 2010 e à nova Diretoria da SBHCI. Que ambos sejam portadores de revoluções ainda maiores.
[Marcelo José Cantarelli (SP), editor]
C
hegamos a mais um final de ano e à última edição do Jornal da SBHCI em 2009. Em um trabalho que se iniciou em agosto de 2006, encerramos nesta edição nossa participação no corpo editorial desta publicação. Nesse período, vivenciamos a criação de cada uma de suas 14 edições, perfazendo um total aproximado de 560 páginas, que, se fossem agrupadas, contariam uma boa parte da história de nossa Sociedade, construída com a colaboração de vários ex-presidentes e colegas não menos ilustres. Reportagens que poderiam estar estampadas em jornais de grande circulação, como a com o ministro da Saúde (edição 1/2009), estiveram nessas páginas. E foi através delas também que pudemos conhecer um pouco dos colegas e seus trabalhos de norte a sul do País. Durante esses três anos, o Jornal tornouse um veículo de agradável leitura, que flertou ao mesmo tempo com a ciência, a vida societária e o entretenimento. Os objetivos foram alcançados. Já os desafios... Estes permanecem presentes, fortes
e renovados. O que seria do trabalho se eles não existissem? No próximo ano, o novo corpo editorial se deparará com outros desafios, dentre eles o de manter ou não o formato atual. A todos os colegas e colaboradores da SBHCI que me ajudaram nesta caminhada “jornalística”, e em especial aos amigos, companheiros de pauta, Marcelo de Freitas Santos (PR), César Rocha Medeiros (RJ), Luciana Constant Daher (GO), Rogério Sarmento-Leite (RS), diretor de Comunicações, e Luiz Alberto Mattos (SP), presidente, meu profundo agradecimento e os votos de boas festas com saúde, amor e paz junto a seus familiares.
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agenda
Mês
Dia
Fevereiro
Março
Evento
21 a 23
CRT 2010 – Cardiovascular Research Technologies Washington, DC, Estados Unidos www.crtmeeting.org/
14 a 16
ACC 2010 – American College of Cardiology Annual Scientific Session Atlanta, Estados Unidos acc10.acc.org
28 a 30 Abril o
29 a 1 /5
Maio
Julho
XXXI Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo São Paulo, SP www.congressosocesp.com.br/2010/
25 a 28
EuroPCR 2010 – Paris Course of Revascularization Paris, França www.europcr.com
22 a 24
XXXII Congresso da SBHCI Belo Horizonte, MG www.congressosbhci.com.br/2010
11 a 13
XVI Congresso SOLACI XX Congresso CACI Buenos Aires, Argentina www.solaci2010.com
Agosto o
28 a 1 /9
Setembro
15th Angioplasty Summit – TCT Asia Pacific 2010 www.summit-tctap.com/
21
ESC Congress 2010 – Sociedade Europeia de Cardiologia Estocolmo, Suécia www.escardio.org TCT 2010 – Transcatheter Cardiovascular Therapeutics Washington, DC, Estados Unidos www.tctconference.com
SOCIEDADE BRASILEIRA DE HEMODINÂMICA E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA
Gestão 2006/2009 Presidente: Luiz Alberto Mattos (SP) • Diretor Administrativo: Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes (PB) • Diretor Financeiro: Hélio Roque Figueira (RJ) • Diretor Científico: Pedro Alves Lemos Neto (SP) • Diretor de Comunicação: Rogério Sarmento-Leite (RS) • Diretor de Qualidade Profissional: Luiz Antonio Gubolino (SP) • Diretor de Educação Médica Continuada: José Antonio Marin-Neto (MG) • Diretor de Intervenções Extracardíacas: Marcos Antonio Marino (MG) • Diretor de Intervenções em Cardiopatias Congênitas: César A. Esteves (SP) • Editores Jornal da SBHCI: César Rocha Medeiros (RJ), Luciana Constant Daher (GO), Marcelo de Freitas Santos (PR), Marcelo José Cantarelli (SP) Gerência Administrativa e Financeira: Norma Cabral gerencia@sbhci.org.br Eventos: Alexsandra Gama eventos@sbhci.org.br Financeiro: Eleni Peixinho financeiro@sbhci.org.br Científico: Aline Ribeiro cientifico@sbhci.org.br Suporte CENIC e Sócios: Kelly Cristina Peruzi socio@sbhci.org.br Secretaria: Iris Ribeiro secretaria@sbhci.org.br Suporte TI: Leandro Bonini suporte@sbhci.org.br www.sbhci.org.br Rua Beira Rio, 45 – cjs. 71 e 74 – Vila Olímpia CEP 04548-050 – São Paulo, SP Fone: (11) 3849-5034
ERRATA
Diferentemente do que foi publicado na reportagem “Do improviso ao reconhecimento nacional”, páginas 24 e 25 da edição 02/2009, o responsável pelo São Bernardo Apart Hospital (www.saobernardoaparthospital.com.br), na cidade de Colatina (ES), é o cardiologista João Miguel Malta Dantas e os telefones de contato são (27) 2102-2255 e (27) 2102-2254. AD XPRO 122x58mm APROVADO sem sangria.pdf
19.04.08
19:51:42
Edição e jornalista resp.: André Ciasca, mtb 31.963 Reportagem: Carla Ciasca Projeto gráfico e direção de arte: Manoela Tourinho Revisão: CEV - Casa Editorial Ventura Edição de Fotos: Gislene Simonetti Tiragem: 9.500 exemplares
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Jornal da SBHCI é uma publicação trimestral da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista – SBHCI. Os textos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da SBHCI.
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Publicação Oficial da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista • acesso irrestrito a todo o conteúdo científico publicado a partir de 2003 • contribuições editoriais de renomados especialistas nacionais e internacionais • artigos rigorosamente revisados pelos pares • indexada no Scopus
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SOCIEDADE BRASILEIRA DE HEMODINÂMICA E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA
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Convite A Diretoria da SBHCI 2006/2009 convida diretores, conselheiros, sócios, assessorias, parceiros e profissionais da saúde dedicados à cardiologia intervencionista para a cerimônia que dará posse à nova administração da entidade para o biênio 2010/2011. Data: 19 de janeiro de 2010 Horário: 11h00 às 12h00 Local: Sede da SBHCI Endereço: Rua Beira Rio, 45 – cj. 71-74 – Vila Olímpia – São Paulo, SP
Dezembro de 2009
Luiz Alberto Mattos Presidente
Marcelo Queiroga
Diretor Administrativo
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STENTS 01 - Jun/09
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