3 minute read
Toy Story
from Take 52
JOSÉ CARLOS MALTEZ
Quando o mundo do cinema percebeu que estava a chegar um projecto inovador onde a animação seria computorizada, a expectativa foi enorme. Por detrás de tudo estava o nome da Disney, a maior referência da animação mundial, e que, depois de alguns anos de vacas magras, estava de volta com filmes de grande aclamação quer do público, quer da crítica. A par desse nome, surgia outro, que pouco dizia ao mundo em geral: Pixar. Esta, nascida no seio da Lucasfilm em 1979, e tornada independente em 1986, com financiamento da Apple de Steve Jobs, era então uma companhia procurada por produtoras de cinema para tratar de algumas componentes gráficas. Não estaria nas cogitações de ninguém imaginar a Pixar como uma das mais importantes produtoras de animação mundial, mas isso foi o que aconteceu após a Disney a ter contratado (numa tentativa de recuperar o seu ex-funcionário John Lasseter) para desenhar aquela que ficaria para a história como a primeira longa-metragem de animação computorizada: Toy Story. Foi com a parangona de filme tecnicamente revolucionário – e depois de uma produção quezilenta e muitos guiões rejeitados –, que Toy Story chegou às salas. E se ficou claro que se estava a fazer história do cinema – um pouco como tinha sucedido dois anos antes com Parque Jurássico (Jurassic Park, Steven Spielberg, 1993), a maior surpresa terá sido o facto de Toy Story ser bem mais que uma simples montra de efeitos técnicos. Mostrando características que marcariam o percurso da Pixar, o filme de lançamento da produtora destacava-se pela coesão narrativa, personagens carismáticas (com uso de vozes de grandes actores: Tom Hanks, Tim Allen, Don Rickles, Wallace Shawn, etc.) e uma invulgar capacidade de funcionar em dois registos: como filme cómico de aventuras para crianças e como portador de temáticas relevantes para os adultos. Subtitulado em Portugal como Os Rivais, o filme de John Lasseter (escrito a muitas mãos por Joss Whedon, Andrew Stanton, Joel Cohen e Alec Sokolow) conta-nos a história de um grupo de bonecos que vemos animados quando os humanos não estão presentes, perfeitamente conscientes do seu lugar no mundo – isto é, no quarto de Andy, o rapazinho que é seu dono e com eles brinca. Entre eles destaca-se Woody (voz de Tom Hanks), o cowboy que é o líder e mentor do grupo, sempre ciente do papel que os brinquedos têm no crescimento de uma criança. Mas o status quo muda quando Andy recebe um boneco diferente, o space ranger Buzz Lightyear, o qual não sabe sequer ser brinquedo, e leva as suas missões espaciais e armas poderosas a sério. A ciumeira inicial converte-se em confronto, dando azo a mal-entendidos e a um incidente que leva a que Buzz e Woody se percam e tenham que lutar em conjunto para voltar a Andy, ganhando, no processo, admiração mútua. Se para a criançada, Toy Story foi a abertura a novos heróis – veja-se o dinheiro que até hoje se tem feito a vender Woodies, Buzzes e outros –, para os adultos, o filme foi como que o relembrar daqueles tempos idílicos em que meia dúzia de bonecos das mais diversas proveniências eram suficientes para construirmos uma história que nos levava a mundos distantes. Com esse elogio da nossa (perdida?) imaginação infantil sem rédeas, o filme falava ainda do confronto entre tradicionalismo (o cowboy) e modernidade (o astronauta), entre valores testados e a descoberta da mudança, afinal algo sempre presente no crescimento, momentos onde a amizade, lealdade e a compreensão de diferenças são fundamentais na formação de uma pessoa. Ideias à parte, Toy Story é um filme de aventuras em ponto pequeno (isto é, o do tamanho dos bonecos), onde obstáculos e soluções são fruto de uma imaginação fértil, e onde o ritmo e o tom cómico são sempre acertados. Mais palavras para quê, quando miúdos e graúdos (e miúdos que já se tornaram graúdos) o aprovam com distinção? Toy Story é um verdadeiro clássico do cinema!
Advertisement
Título nacional: Toy Story: Os Rivais Realização: John Lasseter Elenco: Tom Hanks, Tim Allen, Don Rickles, Wallace Shawn Ano: 1995