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Toy Story 4

Toy Story 4

ANTÓNIO ARAÚJO

Desde a sua criação, a Pixar mudou muito. No entanto, apesar de alguns títulos menos conseguidos, uma nova estreia da produtora de animação do gigante Disney é sempre aguardada com alguma expectativa. Mas não foi só a Pixar que mudou. Depois da estreia mundial de Bora Lá no Festival Internacional de Cinema de Berlim em Fevereiro de 2020, e do lançamento um pouco por toda a parte no mês seguinte, a pandemia do coronavírus (COVID-19) mudou todas as facetas da nossa corriqueira existência, ameaçando negócios de todas as naturezas e mudanças de paradigma sísmicas nos espectáculos culturais em particular. Neste contexto, Bora Lá foi apanhado no turbilhão de incerteza que ainda se mantém à data em que este texto é escrito. Como muitos outros títulos, foi disponibilizado digitalmente umas semanas depois da estreia, tornando-se numa experiência caseira para a maioria dos espectadores que não tiveram a oportunidade de o ver no grande-ecrã.

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Onward, no original, desenrola-se num mundo não muito diferente do nosso, porém habitado por criaturas míticas que ao longo da sua História foram esquecendo a magia antigamente praticada, substituindo-a por inovações tecnológicas e progresso. Os irmãos Lightfoot ― Ian, o mais novo e tímido, Barley, entusiasta, impulsivo e fanático de jogos de interpretação de papéis ― vivem com a mãe, Laurel. No décimo sexto aniversário, Ian recebe uma prenda do falecido pai, Wilden: um bastão mágico que permitirá aos irmãos passarem mais um dia na sua companhia. Quando o encantamento funciona literalmente só pela metade, os dois irmãos partem numa demanda para completar o feitiço, determinados a reencontrarem-se com o progenitor, nem que seja só por breves instantes.

Ao longo dos anos, a Pixar tem sido primorosa na criação de narrativas assentes em conceitos inovadores e originais. Bora Lá não é um desses títulos, e parece aproveitar-se não só da popularidade recente de

Título nacional: Bora Lá Realização: Dan Scanlon Elenco: Tom Holland, Chris Pratt, Julia Louis-Dreyfus, Octavia Spencer Ano: 2020

histórias de fantasia ― fenómeno que podemos agradecer à trilogia O Senhor dos Anéis, à saga Harry Potter, à série televisiva A Guerra dos Tronos e até à própria animação da Disney Frozen - O Reino do Gelo ― como de conceitos já explorados em obras anteriores – ocorre-me, por exemplo, o pouco apreciado Hook (1992), de Steven Spielberg, em que Peter Pan cresceu e esqueceu-se da magia de criança. Além disso, numa opção rara em filmes desta produtora, Bora Lá pisca o olho e referencia descaradamente outros títulos, numa atitude pós-moderna que a Pixar tão bem tem conseguido evitar ― com mais que um momento a beber inspiração de vários filmes do aventureiro Indiana Jones.

Acontece que Bora Lá, não desdenhando a sua natureza fantástica recheada de referências, continua a demonstrar o ingrediente secreto das melhores histórias da Pixar: um coração a pulsar no seu centro. Além da animação primorosa, de emocionantes sequências de perseguição e de alguns momentos de divertido humor, é necessário destacar a escolha de actores para as vozes dos protagonistas, com Tom Holland e Chris Pratt a fazerem jus à sua fama com duas interpretações em que a química entre os dois é uma nítida mais-valia para o resultado final. Neste caso, estamos perante uma aventura de descoberta, tanto literal como interior, numa exploração das dores de crescimento perante o vazio de uma figura paternal que revela uma tocante vertente fraternal que, contrariando todas as expectativas perante os trailers e materiais promocionais, poderá convocar uma ou outra lágrima nas sequências finais.

Se o deixaram escapar, dêem-lhe uma oportunidade. Bora Lá tem magia e merece mais do que ser o filme que a pandemia fez esquecer.

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