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A concorrência da Pixar

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Luca

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HÉLDER ALMEIDA

A Disney sempre foi o estúdio dominante no que a animação diz respeito. No entanto, depois de décadas com grandes sucessos a criar clássicos, o estúdio viveu tempos complicados nos anos 80, com filmes que não resultavam nas bilheteiras e que, muitas vezes, caíam rapidamente no esquecimento. Com o chegar da década de 90, as coisas começaram a encontrar um rumo mais positivo quando o estúdio decide apostar num conto de fadas à antiga com A Pequena Sereia, aposta que se revela certeira ao encontrar grande sucesso crítico e comercial. Desse momento em diante, a Disney volta aos grandes sucessos com A Bela e o Monstro, Aladino e, especialmente, com O Rei Leão, que se tornou na altura no maior sucesso de sempre do cinema de animação. No entanto, para ajudar a cimentar o seu lugar como rei do cinema de animação, a Disney junta-se à Pixar que, em 1995, estreia a sua primeira longa-metragem que é, também, o primeiro filme de animação por computador. Toy Story – Os Rivais é um enorme sucesso e mais uma razão para que outros estúdios de Hollywood comecem a dar mais atenção ao género da animação.

Vários estúdios já tinham tentado a sua sorte no género mas, na maior parte das vezes, sem grande sucesso. Talvez um dos grandes rivais da Disney nos anos 80 tenha sido a Universal quando se aliou a Don Bluth com as estreias de Fievel – Um Conto Americano e Em Busca do Vale Encantado, ambos produzidos por Steven Spielberg. No entanto, apesar de resultados satisfatórios, nunca foram filmes com sucessos estrondosos. Com o surgimento da Pixar, e com a Disney numa nova era, outros estúdios começam então a apostar na animação.

Um dos primeiros foi a 20th Century Fox com Anastasia, de Don Bluth, com as vozes de Meg Ryan e John Cusack. No entanto, a aposta não resulta e a Disney permanece sem rival à altura. Não ajuda o facto de depois a Fox ter continuado a sua parceria com Bluth e ter estreado Titan – Depois da Destruição da Terra, uma aventura de ficção científica com as vozes de Matt Damon e Drew Barrymore. Com um conceito mais adulto, o filme acaba por se tornar num dos maiores fracassos comerciais da História do cinema, fazendo com que a Fox encerre o seu departamento de animação. No entanto, com o fim da década de 90 a aproximar-se, Steven Spielberg e Jeffrey Katzenberg decidem aventurar-se na criação dum novo estúdio, a Dreamworks, onde decidem também apostar no género da animação. E aqui começa a surgir, aos poucos, a primeira grande rival da Pixar.

O ano é 1998. A Pixar estreia Uma Vida de Insecto, um sucesso para o estúdio, quando o mundo se depara com uma outra animação bastante similar: Formiga Z, da Dreamworks. Aqui o estúdio não se poupou no que diz respeito a actores: Woody Allen é o protagonista de serviço, com nomes como Sharon Stone, Gene Hackman, Christopher Walken e

Sylvester Stallone a seu lado. Um talento enorme que acabou por chamar a atenção e tornou o filme num pequeno sucesso de bilheteira. Depois disso, segue O Princípe do Egipto, com Val Kilmer, Michelle Pffeifer e Steve Martin no talento vocal, um outro sucesso de bilheteira. Apesar de ambos os filmes estarem longe dos resultados atingidos pela Pixar, começam a indicar que outros estúdios podem também ter sucesso na animação, quando apostam nos filmes certos.

Estamos em 2001. A Dreamworks tem para estrear Shrek, uma aventura de fantasia com um ogre como personagem principal. O filme estreia no Verão e, surpreendentemente, torna-se num dos maiores sucessos do ano, com resultados de bilheteira capazes de rivalizar com os da Pixar. Mike Myers, Eddie Murphy e Cameron Diaz são as estrelas de cartaz neste filme que nos traz uma versão diferente e irónica dos contos de fadas. O resultado final conquista o público e o filme acaba por ser a oportunidade que a Dreamworks procurava para conseguir encontrar o seu espaço na animação. Shrek dá origem a mais três sequelas, todas com enorme sucesso, e torna-se na saga principal do estúdio.

No entanto, em 2002, muito inesperadamente, a Fox volta a apostar no género, desta vez com a casa de animação Blue Sky. O filme é A Idade do Gelo, comédia passada nos tempos dos dinossauros onde seguimos um trio de personagens no meio da idade do gelo. O filme surpreenda a crítica e o público, dando a oportunidade à Fox e à Blue Sky de entrarem no género com algum sucesso. O filme acabaria por dar origem a mais quatro sequelas e fez com que a Blue Sky pudesse criar outros filmes como Robôs, Rio e Ferdinando, por exemplo. No entanto, mesmo com alguns casos de sucesso, a Blue Sky não consegue atingir o mesmo nível que a Pixar e a Dreamworks.

Voltamos à Dreamworks, que depois do enorme sucesso de Shrek, começou a atrair a atenção do público. No entanto, o estúdio tem um grande fracasso comercial com Sinbad – A Lenda dos Sete Mares, apesar de terem conseguido recuperar com filmes como O Gangue dos Tubarões, O Gato das Botas, Pular a Cerca e A História duma Abelha. Mesmo com Shrek a ser a sua saga principal, o estúdio consegue criar outras franchises conhecidas: Madagáscar, que deu origem a três filmes; Como Treinares o Teu Dragão, trilogia que é considerada a mais próxima ao nível de qualidade da Pixar; Boss Baby, O Panda do Kung Fu, Trolls e Os Croods, para dar alguns exemplos. Nos últimos tempos, a Dreamworks tem encontrado alguma dificuldade em ter o mesmo sucesso que havia encontrado há alguns anos. Filmes como Os Pinguins de Madagáscar, A Origem dos Guardiões, Turbo, Por Água Abaixo e Abominável não resultam. Mais recentemente, a Warner tem apostado na animação. Depois do enorme sucesso de Lego – O Filme, o estúdio tem-se centrado na franchise. No entanto, apesar de Lego Batman: O Filme ter sido um sucesso, desde então a franchise tem perdido interesse. Lego NinjaGo e a sequela O Filme Lego 2 não resultaram nas bilheteiras. Apesar disso, a Warner tem feito uma parceria saudável com Chris Miller e Phil Lord, realizadores de Lego – O Filme que estrearam, com a Warner Animation, Cegonhas, uma comédia tresloucada que ganhou o apoio da crítica apesar de não ter tido resultado nas bilheteiras.

Também a Sony tem apostado na animação. Depois de encontrar grande sucesso com Chovem Almôndegas, também realizado por Chris Miller e Phil Lord, dando origem a uma sequela, o estúdio aliou-se a Adam Sandler com a saga Hotel Transilvânia, na qual Sandler dá voz ao conde Drácula em três filmes de grande sucesso nas bilheteiras, com um quarto filme a caminho. A Sony decidiu também apostar em Angry Birds, adaptação do popular jogo de video. Com um primeiro filme a obter resultados satisfatórios nas bilheteiras, um segundo filme estreou para ficar longe de atingir os mesmos resultados. Melhor sorte teve Emoji – O Filme, pelo menos a nível comercial, já que a nível de crítica foi considerado um dos piores filmes dos últimos anos. Inesperadamente, o maior trunfo da Sony foi a sua parceria com a Marvel, novamente com a colaboração de Chris Miller e Phil Lord, com HomemAranha: No Universo Aranha. Aqui seguimos a personagem de Miles

Morales que se vê rodeado de várias encarnações de Homem-Aranha, todas provenientes de universos paralelos. Com uma animação invulgar e original, uma história apelativa para um público mais jovem bem como para um público mais adulto, o filme foi imediatamente considerado o melhor Homem-Aranha no grande ecrã. Um sucesso entre os críticos, o filme torna-se no maior sucesso da Sony Animation e surpreende o mundo ao ganhar o Óscar de Melhor Filme de animação. Uma sequela está agendada para estrear em 2022.

Aquele que se tem revelado o maior rival para a Pixar nestes últimos anos não tem sido a Dreamworks, mas sim a Universal, através da sua parceria com a Illumination, casa de animação francesa que encontrou enorme sucesso com Gru – O Mal-Disposto. A personagem principal é Gru, com voz de Steve Carell, um vilão que acaba por se ver no lado do bem quando vê o seu lugar de maior vilão do mundo em perigo. O filme atingiu um enorme sucesso comercial e crítico, abrindo as portas para uma franchise bastante lucrativa nas bilheteiras (e não só), abrindo as portas à casa de animação. Depois desta primeira aventura de Gru, o mundo conheceu duas sequelas, um spin-off centrado nos muito populares Mínimos, as personagens amarelas que se tornaram conhecidas em todo o mundo, com uma primeira aventura a ultrapassar a barreira de mil milhões de dólares a nível global. Uma sequela dos seres amarelos está, de momento, agendada para 2022, após ter sido adiada devido à pandemia.

Pelo meio, a Illumination aventurou-se em mais três animações fora das histórias de Gru. A Vida Secreta dos Animais foi a primeira destas apostas e alcançou um sucesso estrondoso depois do seu primeiro trailer se ter tornado viral. Tal sucesso deu origem a uma sequela que ficou aquém das expectativas. Seguiu-se Cantar, no qual temos um grupo de animais a cantar várias músicas populares. O filme, estreado na época de Natal de 2016, foi outro sucesso estrondoso, com uma sequela agendada para final de 2021. Por fim, tivemos também a estreia da nova versão de Grinch, com Benedict Cumberbatch a dar voz à personagem anti-natal, numa adaptação que se tornou também num grande sucesso.

Apesar do enorme sucesso que estúdios rivais como a Universal, a Dreamworks e a Sony têm obtido nestes últimos anos, a Pixar continua a contar com mais altos do que baixos, ainda a dominar o mercado do cinema de animação e estando longe de abdicar do seu trono. No entanto, na maioria dos casos, com tanta rivalidade, quem acaba por ganhar é o público, com uma oferta cada vez mais abrangente no que a animação diz respeito.

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