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Luca
from Take 52
DIOGO SIMÕES
É pela estreia de Enrico Casarosa na direção de uma longa-metragem, que a Pixar apresenta ao espetador o seu primeiro filme animado inspirado na Riviera Italiana. Todavia, é nas profundezas de águas translúcidas que a narrativa emerge e nos apresenta Luca, os seus pais, Daniela e Lorenzo, e a avó, Sandy. A família apresentada reflete, desde logo, contornos de uma sociedade moderna onde diversas gerações se cruzam. A personagem de Luca, um monstro marinho (dobrada pelo ator Jacob Tremblay), apresenta-nos o desafio de crescer e a forma como o controlo parental se torna no “maior inimigo”. O certo é que, quando Luca descobre objetos humanos nas profundezas do oceano, fruto da poluição e descuido humano, este encontra o jovem Alberto (dobrado pelo ator Jack Dylan Grazer).
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Com o dilema entre escapar das balizas definidas pelos seus pais, dos perigos de se ir à superfície, Luca Paguro não consegue evitar a curiosidade que de si brota e lhe leva a confiar em Alberto para descobrir toda uma vida humana.
O filme desenhado pelo estúdio da Disney desenrola-se de forma muito leve, calma e humorística, onde Luca se vê a descobrir que ao sair do oceano se transforma em humano, tal e qual como o seu novo conhecido, Alberto. Torna-se claro a forma subtil como os argumentistas colocaram a poluição marítima como elemento que faz avançar a narrativa ao dar aos protagonistas a vontade de construir vespas com todo o desperdício humano que encontram.
Alberto passa a atuar como uma nova figura de referência aos olhos de Luca que, até então, engana a família para se refugiar na superfície. Alberto atua, nesta primeira parte do filme, como mote de força para Luca despoletar a sua curiosidade e vontade de ir mais além. Sentimentos que aumentam quando Luca conhece a filha de um pescador local, Giulietta, e que tem como ambição caçar monstros marinhos. É esta rapariga que aparece como catalisador para muitos dos momentos do filme, onde a amizade dos protagonistas é posta à prova com a vontade de ir mais além. Um sentimento crescente quando Luca descobre que Alberto está, na verdade, sozinho desde que foi capaz de se desenrascar. Luca é assim, para Alberto uma demonstração de que não existe nada de errado consigo e que ele merece amor e cuidado como qualquer outra pessoa/ser-marinho.
É por meio destes dilemas existenciais e de identidade que o filme se desenrola de forma bonita, tocante e humana. Sustentado na importância de se sair fora da zona de conforto, a Pixar explora as emoções da primeira amizade, da descoberta do “eu” e do desapego feito dos progenitores e amigos próximos.
A encruzilhada, fazendo parte da vida de cada pessoa, torna-se palco num filme bem construído, sólido em representação da cultura italiana, bem como de uma banda sonora deliciosa e tocante. Fazer analogias com as temáticas abordadas no filme torna-se facílimo, quer na descoberta psicossocial de uma criança e da forma como esta navega pelo seu crescimento, e pela sociedade que, com medo do que é diferente, reprime e condena. Estes elementos tocam uma sinfonia harmonizada num argumento que sabe responder às diversas perguntas que se lhe colocam e onde a infância do realizador serve de mais-valia ao dar ao espetador uma justa homenagem à Riviera Italiana.
Com a personagem Luca, a Pixar conseguiu apresentar uma narrativa que, a cada pessoa, consegue transmitir algo único e, em alguns casos, ajudar na compreensão da vida em sociedade, cada vez mais pautada pela ameaça aos direitos humanos e infantis.
Título nacional: Luca Realização: Enrico Casarosa Elenco: Jacob Tremblay, Jack Dylan Grazer, Emma Berman Ano: 2021