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Toy Story 3

JOSÉ CARLOS MALTEZ

Onze anos depois, a Pixar, desta vez já como empresa pertencente ao universo Disney, voltava a Toy Story, fazendo da série uma das mais prolíficas, num género – a animação dos grandes estúdios norteamericanos – até aí mais dado a histórias originais que à serialização de marcas consagradas. Desta vez, a realização passava para Lee Unkrich, que fora co-realizador de Toy Story 2 e responsável pela montagem dos dois filmes anteriores, voltando o argumento a estar a cargo de nomes recorrentes, como o realizador que iniciou a saga John Lasseter, Andrew Stanton e o próprio Lee Unkrich. Como não podia deixar de ser, o filme voltava a contar com o nosso já conhecido grupo de bonecos, com as vozes habituais: Woody (Tom Hanks), Buzz Lightyear (Tim Allen), Jessie (Joan Cusack), Mr. Potato Head (Don Rickles), Rex (Wallace Shawn), Hamm (John Ratzenberger), Mrs. Potato Head (Estelle Harris), Barbie (Jodi Benson) e o “novo” Slinky Dog (com Blake Clark a substituir o entretanto falecido Jim Varney). Já a história usava a passagem dos anos que decorreu entre os filmes, com Andy – o dono da bonecada – já com 17 anos, a preparar-se para sair de casa para ir estudar para a universidade. E se Woody é escolhido por Andy para ir consigo, como totem de um passado que ele recorda com saudade, uma série de mal-entendidos faz os outros irem parar ao lixo, optando por escolher o menor dos males: serem doados para um jardim-de-infância, onde podem ser “brincados” ininterruptamente até ao fim dos seus dias. Só que nem tudo é o que parece, e o paraíso idílico onde são recebidos torna-se num inferno quando Buzz e os outros são remetidos à sala dos bebés, que mais não fazem que roê-los e destruí-los, numa prisão deliberada comandada pelo urso de peluche Lotso (Ned Beatty) e pelo seu ajudante Ken (Michael Keaton). Obviamente que Woody – que pelo meio tinha ganho uma acidental nova dona – a imaginativa Bonnie – vai voltar para salvar os amigos, transformando grande parte do filme numa homenagem aos filmes de fuga, nomeadamente A Grande Evasão (The Great Escape, John Sturges, 1963). E se é de escapismo que toda a brincadeira fala, aqui na literal fuga que os bonecos têm de empreender, Toy Story 3 ganha uma proporção quase épica na qual sentimos que há muito em jogo, da libertação das personagens ao destino que as espera (serem ou não úteis no crescimento de quem ainda queira brincar com elas), e mesmo àquilo que pretendia ser o caminho da saga. E este delineia-se nos minutos finais, quando, libertados os bonecos e regressados a casa, embora pouco confiantes no que ainda os espera, o filme tem uma inesperada mudança de perspectiva. Se até aí tivéramos dois filmes que nos davam essa possível forma de os brinquedos verem o mundo dos humanos, de repente temos, pela primeira vez na série, a forma como os humanos vêem o mundo dos brinquedos. Por isso, a sequência final de passagem de testemunho em que Andy entrega o seu legado à pequena Bonnie, na descrição que faz de cada um dos bonecos que foram parte do seu passado – e do nosso passado –, nos apanha sempre desprevenidos, constituindo um dos mais sinceros e comoventes finais de um filme de animação. Mais uma vez, miúdos e graúdos saíam de uma sala de cinema – ou do sofá caseiro onde viram o filme juntos – com sentimentos contraditórios, os pequenos divertidos pela aventura, os adultos comovidos ao relembrar tantos brinquedos que ficaram para trás e que foram tão importantes na sua vida. Sendo frequentemente considerado um clássico, Toy Story 3 acabou nomeado a Óscar de Melhor Filme, sendo o segundo filme da Pixar a conseguir tal distinção – depois de Up - Altamente! (Up, Pete Docter e Bob Peterson, 2009) –, e o terceiro filme de animação de sempre a ser nomeado para essa categoria, partilhando a honra ainda com A Bela e o Monstro (Beauty and the Beast, Gary Trousdale, Kirk Wise, 1991).

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Título nacional: Toy Story 3 Realização: Lee Unkrich Elenco: Tom Hanks, Tim Allen, Don Rickles, Joan Cusak, Ned Beatty, Michael Keaton Ano: 2010

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