Thomas Baccaro
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novembro /dezembro 2016
F OTOG R A F I A
frescos milenares, retalhos de corpos, corações aprisionados, anjos, de mônios, olhares, gestos, sensações e desejos, inspiração e apropriação, o revelar do enigma através do olhar. Desses elementos é composto o mais novo ensaio de Thomas Baccaro, 41 anos, exposto na Galeria Bolsa de Arte, em São Paulo. O Diáfano de Alexitimia é a vigésima exposição individual do artista, aberta ao público até meados de novembro. A ideia agora é levá-la a outros espaços. Egresso do mercado publicitário, Thomas entrou na segunda década do século XXI com o propósito de dedicar-se cada vez mais à fotografia autoral. Em toda a sua carreira já montou 47 exposições, incluindo a mais recente. Possivelmente teria sido mais, porém a crise vem ceifando os investimentos em arte. Para O Diáfano de Alexitimia, o próprio fotógrafo imprimiu 74 imagens, reproduzidas em papel 100% algodão Belas Artes, 300 g/m², em uma impressora digital que usa pigmento mineral, uma Epson 9890. Em 11 delas Thomas interferiu diretamente com
Foto: Janete Longo
Diálogo diáfano tinta óleo e guache, resina, fibra de vidro e cera de abelha, transformando-as em obras únicas. Singular também é a região que lhe serviu de inspiração. O fotógrafo já havia estado na cidade de Pietrasanta, na Toscana, ao Norte da Itália, há três anos, aproveitando os dois meses que passou este ano na região para compor o ensaio. Escondida aos pés dos alpes Apuanos, entre montanhas rochosas e o mar Mediterrâneo, Pietrasanta é salpicada de ateliês de artistas que utilizam o mármore de Carrara em suas obras. “Pude contemplar da montanha de mármore branco, a mesma usada por Michelangelo para esculpir suas magnificas esculturas. Enquanto observava as pedras em sua forma bruta me conscientizei da dificuldade em descrever sentimentos e a facilidade em senti-los, em transformar em concreto o que é em abstrato”, afirma Thomas. Reconhecendo-se nas tantas oficinas que visitou, o fotógrafo buscou registrar a atmosfera local. A escolha do nome para a exposição tenta sintetizar esse momento. Enquanto diá fano significa transparente, límpido, a palavra
Consolidando sua trajetória autoral, Thomas Baccaro discute o que é real e imaginário ao reproduzir o trabalho de artesãos italianos. Tânia Galluzzi
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alexitimia, que vem do grego, embute em sua tradução a grande dificuldade em verbalizar emoções e descrever sentimentos. “Em meu trabalho estou ciente da importância da memória no encontro do passado com o presente, no poder do homem de tirar do bruto, da dor e da luta a verdadeira beleza, e assim transformar. A união do meu passado ao presente e ao futuro se faz nesse instante.” Em cada uma das imagens, o artista sur preende com sua capacidade de modificar, aplicando ao objeto texturas e formas. Ao criar, concede ao ser criado parte de sua alma. E apesar da áspera frieza da vida, dá a sua obra forma e sentimentos, tal qual o mármore cru, que aguarda as mãos de seu interventor para mais uma passagem em direção a quem o contempla [trecho do texto de apresentação da exposição].
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Também virão da Itália as imagens de seu próximo ensaio. Só que desta vez do extremo sul do país. Thomas quer mostrar a sua interpretação da Saline Dello Stagnone di Marsala, em Isola Lunga, na Sicília, salina cuja história remonta aos fenícios. Área reconhecida como reserva natural em 1995, é salpicada de moinhos de vento, outrora utilizados com dupla função: a moa gem do sal e o bombea mento de água salgada de um reservatório para outro.