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Inês Bonduki 3
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F OTOG R A F I A
com a metrópole
origem do envolvimento de Inês Bonduki com a fotografia e com a capital paulista está na arqui‑ tetura. Formada pela Faculda‑ de de Arquitetura e Urbanis‑ mo, FAU‑USP, em 2010, logo no início do curso comprou uma câmera analógica, iniciando suas conversas com o caos urbano. “Cheguei a es tag iar em escritório de arquitetura, mas des‑ cobri que preferia estar na rua e experimen‑ tar a arquitetura da cidade a ficar projetando e pensando sobre ela.” A opção foi lançar-se ao mercado, atuando como assistente de fotografia. Depois de uma passagem de um ano no estúdio de Gal Oppi‑ do, também cria da FAU, trabalhou primeiro como assistente de edição e depois como edi‑ tora de fotografia da Revista sãopaulo, da Folha. Deixou o jornal para dedicar-se a sua veia auto‑ ral, canalizada pelo mestrado que resultaria no livro Linha Vermelha. Impressa pela Ipsis e lan‑ çada em maio pela Editora Tempo d’Imagem, a obra é fruto de dois anos dedicados a incontá‑ veis viagens na Linha Vermelha do Metrô em seus horár ios de pico, a mais longa das linhas na malha metrov iár ia da cidade, que liga a pe‑ riferia às reg iões mais centrais. Com um celu‑ lar na mão, Inês procurou “vivenciar e tentar 5
fotografar a intensidade corporal e emocional dessa ex per iência cotid iana de três milhões de paulistanos”. Nesse ínterim, fotografou por 10 dias um grupo de dança que usa a técnica de contato e improvisação, na qual a interação cor‑ poral se dá de forma expansiva. “Tinha a intui‑ ção de que com a dança conseguiria aprofun‑ dar o discurso que estava construindo na Linha Vermelha, mas levou meses para que isso acon‑ tecesse. Quando uni os registros percebi que eles eram muito próximos, como se tivessem sido feitos no mesmo ambiente.” Vencedor da segunda edição do Prêmio Foto em Pauta, o livro mater ial iza outro foco de in‑ teresse de Inês. Em 2015, a fotógrafa passou uma temporada no Visual Stud ies Workshop, em Nova York, pesquisando sobre sequência visual no suporte livro, que nada mais é que a edição. “A edição é a construção do discurso. Se você não domina essa etapa, não domina o discurso que quer passar para o outro. Mas, com a disseminação da cultura do livro na fo‑ tografia, está ficando claro para os fotógrafos que a edição é parte da linguagem. Com a cap‑ tura digital e a altíssima profusão de imagens, o fotógrafo tem o papel não só de produzir imagens, mas de saber olhar para sua produção e pensá-la criticamente.”
Foto: Bel Ruas
Diálogos
Inês Bonduki é uma caminhante. Em suas primeiras experiências com a fotografia, esquadrinhar São Paulo foi a forma encontrada para aprofundar sua prática na captação das imagens. A intensidade do retorno provocou o desejo de não mais parar, levando- a a incorporar o pedestrianismo como mote de seu trabalho e meio de apropriação da cidade. Tânia Galluzzi
1 a 5 Fotografias do livro Linha Vermelha
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6 Foto da série São Paulo Corpo‑a‑Corpo, projeto autoral produzido em 2009/10 7 Retrato do artista João Indio no Paço das Artes, para a revista sãopaulo (Folha de S. Paulo) – fevereiro 2016 8 Foto de divulgação do CD Algorritmos da Banda Filarmônica de Pasárgada – julho 2016 9 Sede da Associação Brasileira de Restauro Ferroviário, para matéria da revista sãopaulo (Folha de S. Paulo) – novembro 2014
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QUESTIONAMENTO
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INÊS BONDUKI www.inesbonduki.com REVISTA ABIGR AF maio /junho 2017
O interesse de Inês sobre São Paulo permanece. A fotógrafa dá agora continuidade a um projeto iniciado antes do Linha Vermelha, denominado Catadores. “Comecei a acompanhar a longa lo‑ comoção de pessoas que moravam em reg iões
distantes na volta do trabalho para casa. Eu dor‑ mia na casa dessas pessoas e no dia seguinte vol‑ tava caminhando. Acabei estabelecendo uma relação com os bairros da periferia e a perceber como eram vár ias cidades dentro da mesma.” A fotógrafa acabou se juntando ao grupo de ca‑ minhada Arquipélagos Urbanos, criado pelo ar‑ tista Renato Hofer. Ao lado dele e da também artista Edith Derdyk, em fevereiro deste ano percorreu 220 km ao redor da cidade em 15 dias. “É uma exper iência que ultrapassa a fotografia. Sentimos na pele o que é essa cidade, que não é feita para o pedestre e sim pensada a partir da lógica dos carros. O caminhar virou quase um ato político, de estarmos na cidade com o nos‑ so corpo, questionando por que ela não é feita para nós.” Entre outras ações, o resultado desse exercício certamente caberá em um livro.