Foto: Hilton Ribeiro
F OTOG R A F I A
O que interessa a Dimitri Lee é o ofício, é o fazer fotografia. O tema está ali a serviço do processo, como um de seus componentes, mas não o único, e por vezes nem mesmo o principal. Tânia Galluzzi
Dimitri Lee
1 Centro de São Paulo 2 Salar do Uyuni, Bolívia
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Construtor de imagens
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3 Cancún, México
fotografia de Dimitri Lee é auto ral, conta histór ias reais e imagi nárias, respondendo às inquieta ções e aos exercícios técnicos do fotógrafo. Foi assim desde o co meço, na seara da publicidade. Antes disso, até os 19 anos, Dimitri, nascido em São Paulo em 1961, queria ser fotojornalista. Começou no es túdio da Editora Abril, na época um polo forma dor de profissionais. Depois de dois anos perce beu que a exposição e a agitação da rotina nas ruas não eram para ele. Já o ambiente contro lado do estúdio o arrebatou. Deixou a Abril. Foi fazer cursos livres de fotografia em Nova York, montando no início da década de 80 sua própria estrutura na capital paulista. Ganhou dinhei ro com a fotografia encontrando soluções para as questões propostas por clientes e agências. O desafio técnico da foto de produto o seduzia e por 20 anos Dimitri esteve completamente envolvido no mundo da propaganda.
Contudo, a fotografia ficou muito diferen te no século 21. “A fotografia nunca esteve tão em alta. Talvez seja a principal linguagem hoje. Mas a profissão nunca esteve tão em baixa”, afirma Dimitri. Aos poucos o fotógrafo perce beu que seu trabalho pessoal e suas experimen tações começavam a despertar maior interes se e paulatinamente a migração da publicidade para a fotografia fine art foi acontecendo. “Ain da faço peças publicitár ias, mas é cada vez mais raro. Não tem a ver com ideolog ia. Eu simples mente gosto do ofício e isso me levou a uma transição gradual”. Dimitri passou então por uma grande fase de fotos panorâmicas. A questão a ser supera da era o senso comum à própria técnica; o fotó grafo lutava para fugir da obv iedade. Na mesma toada veio a fotografia em grande formato, com imagens capturadas em uma lendária Dear dorff 8 × 10, câmera com fole e corpo de madei ra desenvolvida pelos irmãos Deardorff e que
4 Perto de Manaus, AM 5 Bloco esfarrapado, Bela Vista, São Paulo 6 Oficina Salitreira Pedro de Valdívia, deserto de Atacama, norte do Chile
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DIFERENTES CAMINHOS
& DIMITRI LEE Tel. (11) 3152.6677
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começou a ser produzida em 1923. A que ele uti liza deve ter a idade de Dimitri, comprada em 2002 e restaurada. “Não tenho nada contra as câmeras digitais, que também uso, mas sinto que alguma coisa está se perdendo nessa tran sição. A relação do fotógrafo com sua câmera não é mais a mesma. Hoje o fotógrafo não casa mais com a câmera, ele fica com ela”.
Da Deardorff saiu, entre outras, a série Salitrei ras, ainda inédita. Por cinco anos, entre 2005 e 2010, Dimitri viajou ao norte do Chile para cli car cidades abandonadas, que dia após dia vêm sendo engolidas pelo deserto do Atacama. As sim como o ciclo da borracha no Brasil, tais ci dades surgiram em função da exploração do salitre natural. Quando a extração da substân cia deixou de ser economicamente interessan te, tudo foi deixado para trás. Além da luz de sértica, especial pela inexistência de reflexão, uma vez que praticamente não há umidade, o mote da série foi o contraponto entre o sonho e a decadência. Com uma proposta radicalmente oposta quanto ao formato, porém similar com relação ao cuida do na pesquisa de processo, en tre 2009 e 2010 Dimitri produziu a série Exer ia nas. Usando um softw are e abu sando de filtros, fusões, distor ções e emendas, o fotógrafo fez que imagens de elementos pro saicos se desdo brassem sobre si mesmas, crian
do curvas, volumes e movimento. A série inte grou a exposição coletiva Brasil Terra Prometida, realizada em 2012 na cidade de Barcelona (Espanha). Com curadoria de Iatã Canabrava e participação dos fotógrafos Cássio Vascon celos, Claudia Jaguaribe e Roberta Carvalho, a exposição deve percorrer o Brasil. Desde meados do ano passado Dimitri tem tido menos tempo para seu trabalho autoral. A culpa é da Nikon by Photo1, loja que abriu em um dos novos centros de compras de São Paulo, o shopping JK Iguatemi. “Quer ia mais ativida de. O tempo de maturação dos projetos ligados à arte é muito longo e resolvi arriscar. Tem sido uma boa exper iência. Ter contato com as pes soas no balcão, entender o que elas querem da fotografia, renova o meu prazer de fotografar”. E como não sobra espaço para cliques externos, a próxima série está nascendo no computador mesmo. “Sempre gostei de Mário Quintana, so bretudo do Sapato Florido. Baseado em um dos poemas desse livro estou criando seres imag i nár ios a partir de um software normalmente usado pela polícia para elaborar retratos fala dos”. Mesmo tendo exposto vár ias vezes e com trabalhos no acervo do Masp, Dimitri nunca publicou um livro. Quem sabe agora? março /abril 2013 REVISTA ABIGR AF
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