Dimitri Lee - Fotografia - Revista Abigraf 264

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Foto: Hilton Ribeiro

F OTOG R A F I A

O que interessa a Dimitri Lee é o ofício, é o fazer fotografia. O tema está ali a serviço do processo, como um de seus componentes, mas não o único, e por vezes nem mesmo o principal. Tânia Galluzzi

Dimitri Lee

 1 Centro de São Paulo  2 Salar do Uyuni, Bolívia

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Construtor de imagens

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 3 Cancún, México

fotografia de Dimitri Lee é auto­ ral, conta his­tó­r ias reais e ima­gi­ ná­rias, respondendo às inquieta­ ções e aos exer­cí­cios técnicos do fotógrafo. Foi assim desde o co­ meço, na sea­ra da publicidade. Antes disso, até os 19 anos, Dimitri, nascido em São Paulo em 1961, queria ser fotojornalista. Começou no es­ túdio da Editora Abril, na época um polo forma­ dor de profissionais. Depois de dois anos perce­ beu que a exposição e a agitação da rotina nas ruas não eram para ele. Já o am­bien­te contro­ lado do estúdio o arrebatou. Deixou a Abril. Foi fazer cursos livres de fotografia em Nova York, montando no início da década de 80 sua própria estrutura na capital paulista. Ganhou dinhei­ ro com a fotografia encontrando soluções para as questões propostas por clien­tes e agên­cias. O desafio técnico da foto de produto o seduzia e por 20 anos Dimitri esteve completamente envolvido no mundo da propaganda.

Contudo, a fotografia ficou muito diferen­ te no século 21. “A fotografia nunca esteve tão em alta. Talvez seja a principal linguagem hoje. Mas a profissão nunca esteve tão em baixa”, afirma Dimitri. Aos poucos o fotógrafo perce­ beu que seu trabalho pes­soal e suas experimen­ tações começavam a despertar maior interes­ se e paulatinamente a migração da publicidade para a fotografia fine art foi acontecendo. “Ain­ da faço peças pu­bli­ci­tá­r ias, mas é cada vez mais raro. Não tem a ver com ideo­lo­g ia. Eu simples­ mente gosto do ofício e isso me levou a uma transição gra­dual”. Dimitri passou então por uma grande fase de fotos panorâmicas. A questão a ser supera­ da era o senso comum à própria técnica; o fotó­ grafo lutava para fugir da ob­v ie­da­de. Na mesma toa­da veio a fotografia em grande formato, com imagens capturadas em uma lendária Dear­ dorff 8 × 10, câmera com fole e corpo de madei­ ra desenvolvida pelos irmãos Dear­dorff e que

4 Perto de Manaus, AM 5 Bloco esfarrapado, Bela Vista, São Paulo 6 Oficina Salitreira Pedro de Valdívia, deserto de Atacama, norte do Chile

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DIFERENTES CAMINHOS

& DIMITRI LEE Tel. (11) 3152.6677

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começou a ser produzida em 1923. A que ele uti­ liza deve ter a idade de Dimitri, comprada em 2002 e restaurada. “Não tenho nada contra as câmeras digitais, que também uso, mas sinto que alguma coisa está se perdendo nessa tran­ sição. A relação do fotógrafo com sua câmera não é mais a mesma. Hoje o fotógrafo não casa mais com a câmera, ele fica com ela”.

Da Dear­dorff saiu, entre outras, a série Salitrei­ ras, ainda inédita. Por cinco anos, entre 2005 e 2010, Dimitri viajou ao norte do Chile para cli­ car cidades abandonadas, que dia após dia vêm sendo engolidas pelo deserto do Atacama. As­ sim como o ciclo da borracha no Brasil, tais ci­ dades surgiram em função da exploração do salitre natural. Quan­do a extração da substân­ cia deixou de ser economicamente interessan­ te, tudo foi deixado para trás. Além da luz de­ sértica, es­pe­cial pela inexistência de reflexão, uma vez que praticamente não há umidade, o mote da série foi o contraponto entre o sonho e a decadência. Com uma proposta radicalmente oposta quanto ao formato, porém similar com relação ao cuida­ do na pesquisa de processo, en­ tre 2009 e 2010 Dimitri produziu a série Exe­r ia­ nas. Usando um soft­w are e abu­ sando de filtros, fusões, distor­ ções e emendas, o fotógrafo fez que imagens de elementos pro­ saicos se desdo­ brassem sobre si mesmas, crian­

do curvas, volumes e movimento. A série inte­ grou a exposição coletiva Brasil Terra Prometida, rea­li­za­da em 2012 na cidade de Barcelona (Espanha). Com curadoria de Iatã Canabrava e participação dos fotógrafos Cássio Vascon­ celos, Claudia Jaguaribe e Roberta Carvalho, a exposição deve percorrer o Brasil. Desde mea­dos do ano passado Dimitri tem tido menos tempo para seu trabalho autoral. A culpa é da Nikon by Photo1, loja que abriu em um dos novos centros de compras de São Paulo, o shopping JK Iguatemi. “Que­r ia mais ativida­ de. O tempo de maturação dos projetos ligados à arte é muito longo e resolvi arriscar. Tem sido uma boa ex­pe­r iên­cia. Ter contato com as pes­ soas no balcão, entender o que elas querem da fotografia, renova o meu prazer de fotografar”. E como não sobra espaço para cliques externos, a próxima série está nascendo no computador mesmo. “Sempre gostei de Mário Quintana, so­ bretudo do Sapato Florido. Ba­sea­do em um dos poe­mas desse livro estou crian­do seres ima­g i­ ná­r ios a partir de um soft­ware normalmente usado pela polícia para elaborar retratos fala­ dos”. Mesmo tendo exposto vá­r ias vezes e com trabalhos no acervo do Masp, Dimitri nunca publicou um livro. Quem sabe agora? março /abril 2013  REVISTA ABIGR AF

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