Sebastião Salgado - Fotografia -Revista Abigraf 267

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Sebastião Salgado

F OTOG R A F I A

“Minha vida de fotógrafo é a minha vida”

A

exposição Genesis é a responsável pelo encontro do grande público com a obra de Se­bas­t ião Salgado. Até o dia 1º‒ de dezembro ela estará em cartaz no Sesc Belenzinho, em São Paulo, seguindo programação que começou no dia 9 de abril, no Na­tio­nal History Museum de Londres, incluindo passagem pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Da capital paulista, Genesis continua sua trajetória, passando por Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasília, além de outras capitais mundiais. Com 245 fo­to­gra­fias, divididas em cinco seções geo­g rá­f i­cas, a mostra inédita revela maravilhas que permanecem imunes à aceleração da vida moderna. São montanhas, desertos, florestas, tribos, aldeias e animais que o fotógrafo brasileiro, radicado em Paris, registrou entre 2004 e 2011. Na produção de Se­bas­tião Salgado, este é o terceiro mergulho de longa duração em questões globais. Trabalhadores (1986–1992) e Êxodos (1994–1999) expuseram as duras consequências das radicais mudanças econômicas e sociais sobre as vidas humanas. “Com Êxodos

vivi momentos muito difíceis. Houve dias que tive de me deparar com mais de 15.000, 20.000 mortos. Acabei ficando doen­te, meu corpo começou a morrer, e tomamos a decisão de voltar à fazenda onde passei minha infância, no Vale do Rio Doce. Lá começamos um projeto de reflorestamento e com ele veio a vontade de fotografar, de apresentar o planeta novamente”, afirmou Se­bas­tião Salgado em entrevista coletiva dois dias antes da abertura da exposição. O fotógrafo fala na terceira pessoa do plural por incluir sua esposa e companheira há 45 anos, Lélia Wanick Salgado, curadora da exposição. “Desta vez, ele trata do nosso am­bien­te natural, mas ao invés de colocar os holofotes nos efeitos da poluição e das alterações climáticas sobre a terra, o mar e o ar, Salgado nos oferece um poe­ma de amor, com imagens que exaltam a majestade e a fragilidade do nosso planeta”, comenta Lélia.

Ele é, sem dúvida, o mais prestigiado fotógrafo brasileiro e um dos mais importantes nomes da fotografia mundial. Depois dos cariocas, agora é a vez do público de São Paulo encontrar, ou reencontrar, o trabalho de Sebastião Salgado e entender porque suas imagens são tão impactantes e encantadoras. Tânia Galluzzi

AO REDOR DO MUNDO

Mantendo-​­se fiel ao preto e branco, Se­bas­tião Salgado fez ao todo 32 via­gens, percorrendo

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hama a atenção na C exposição em cartaz nas instalações do Sesc Belenzinho, em São Paulo, a maior ampliação já feita de uma foto de Sebastião Salgado, com 13 × 10 metros

Foto: Ricardo Beliel

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re­g iões remotas, e inóspitas, do globo. Cada saí­da de sua base em Paris envolveu ­aviões de pequeno porte, helicópteros, barcos, ca­noas e muita disposição para longas caminhadas em terrenos difíceis, enfrentando extremos de temperatura. Em contrapartida, era muito bem recebido. “O ser humano é gregário. Ao perceberem nossa proposta, os membros das comunidades per­m i­t iam nossa integração e as fotos passavam a ser como o meu respirar e o respirar das pes­soas”. A exposição divide-​­se em cinco seções: Planeta Sul, com a Antártica e suas paisagens congeladas; San­t uá­r ios, que cobrem as Ilhas Galápagos, Nova Guiné, os arredores da província de Sumatra e Madagascar; África, retratando desde a vida selvagem na Botswana até as antigas comunidades cristãs do norte da Etió­pia; Terras do Norte, mostrando visões do Alasca e do Colorado, nos Estados Unidos, paisagens do Canadá, do norte da Rússia e ao norte da Sibéria; e Amazonia e Pantanal, abrangendo os Tepuis Ve­ne­zue­la­nos, as mais antigas formações geo­ló­g i­c as na terra, a vida selvagem do

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Fotos: Tânia Galluzzi

Pantanal no Mato Grosso, e a tribo indígena Zo’e, contatada pela primeira vez no final da década de 80. A exposição no Sesc Belenzinho traz ainda a maior am­plia­ção já feita de uma imagem de Se­bas­tião Salgado, com 13 × 10 metros, produzida pela ClaroEscuro, es­pe­cia­l i­za­da em impressão fine art.

O fotógrafo contou que o pe­r ío­do em que esteve via­jan­do dentro do projeto Genesis foram os anos mais ricos de sua vida. “Genesis fecha um ciclo e tenho a impressão de que tudo o que aprendi com os trabalhos an­te­r io­res só aprendi para fazer Genesis. Fui fazer essas fotos com o objetivo de ter o prazer de encontrar o planeta”. Ques­tio­na­do sobre o futuro, Se­bas­tião Salgado afirmou que vai con­ti­nuar fotografando. “Em fevereiro completo 70 anos, não tenho a mesma energia que há 10 anos. Talvez não me envolva em projetos grandes como esse, mas a minha vida de fotógrafo é a minha vida”.

fotógrafo, com O Lélia Wanick Salgado — sua esposa, companheira de todos os momentos e também curadora da exposição Genesis —, na fazenda onde viveu sua infância, no Vale do Rio Doce


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