Luciano Candisani - Fotografia - Revista Abigraf 268

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entrevista com Lu­cia­no Candisa­ ni aconteceu via internet, mais precisamente por Skype, e logo de saí­d a ele foi se desculpando pela cara amassada. Havia che­ gado em casa há pouco, depois de um voo de 12 horas que o trouxe de Londres para São Paulo, sem contar o trajeto entre o ae­ro­por­to e Ilha­ bela, litoral norte do Estado, onde vive com a família, literalmente cercado daquilo que mais gosta, a natureza. Lu­cia­no voltava da cerimô­ nia de entrega do prêmio Wildlife Photogra­ pher of the Year, que aconteceu no Museu de História Natural no dia 15 de outubro, do qual ele foi um dos jurados, depois de ter ganhado o prêmio no ano passado. A rotina agitada faz parte da vida de Lu­ cia­no desde que começou a se dedicar à foto­ grafia. Porém, a partir do momento em que entrou para a lista de fotógrafos da edição in­ ter­na­cio­nal da revista Na­tio­nal Geo­g raphic, re­ ferência absoluta em fotografia de natureza, o seu dia a dia está ainda mais movimentado em função da exposição in­ter­na­cio­nal de seu tra­ balho. Tal fato ele comemora não só pelo reco­ nhecimento pro­f is­sio­nal, mas es­pe­c ial­men­te por significar maior visibilidade para as his­tó­ rias que ele se empenha em mostrar. “A Na­tio­nal

Geo­graphic tem 40 milhões de leitores no mundo e 125 anos de preo­cu­pa­ção com a conservação da bio­d i­ver­si­da­de. Estar na edição in­ter­na­cio­ nal representa a grande chance de fazer a dife­ rença”, comenta Lu­cia­no. No caso dele, fazer a diferença quer dizer evocar a forte conexão que existe entre cada ser vivo, inclusive o homem, e seu am­bien­te natural. “A beleza que procuro não está nas es­pé­cies ou nas paisagens. Está na ligação do ser vivo com o am­bien­te. O problema é justamente o encolhimento das ­­áreas protegi­ das, que se tornam in­su­f i­cien­tes, deixando de garantir a permanência das es­pé­cies”. A sensibilidade para tais questões está en­ raizada na infância de Lu­cia­no. Mesmo moran­ do em São Paulo, cresceu em contato constante com o mar, onde estão suas re­fe­rên­cias de bem-​ ­estar. Inspirado pela Na­tio­nal Geo­g raphic e pe­ los do­cu­men­tá­r ios de Jacques Cousteau, deci­ diu que também queria contar his­tó­r ias através de imagens. Ao invés do Jornalismo, Lu­cia­no optou pelo curso de Bio­lo­g ia na USP. Logo no primeiro ano, ao conhecer o Instituto Ocea­no­ grá­f i­co, percebeu que os projetos ca­re­ciam de imagens subaquáticas. Começou como es­t a­ giá­r io em fotografia de expedições cien­tí­f i­cas, em 1995, e no ano seguinte surgiu a oportuni­ dade de alavancar sua carreira como fotógrafo

Foto: Lucas Pupo

Conexão natureza A conservação da biodiversidade através da proteção das á­ reas naturais é o mote do trabalho de Luciano Candisani, enfático na beleza da ligação entre cada ser vivo e seu ambiente natural. Tânia Galluzzi

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1 Tamanduá-Mirim, Pantanal do Rio Negro, para o livro Pantanal, na Linha d’Água, publicado pela National Geographic 2 Jacaré do Pantanal, Rio Negro, Pantanal Sul. Para edição mundial de National Geographic 3 Meninos coletando alimentos no mar, Danajon Bank, Filipinas. Para a International League of Conservation Photographers

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4 Filhote de tartaruga verde na reserva biológica do Atol das Rocas, para matéria da National Geographic Brasil 5 Muriqui do Norte, fêmea com filhote. Cliente: National Geographic

de natureza. Ele foi convidado para participar de uma expedição de três meses na Antártica, registrando a vida marinha embaixo da super­ fície congelada. No ano seguinte, acompanhou o mesmo grupo de pesquisadores e o ma­te­r ial resultante dessas via­gens abriu caminho para Lu­cia­no em revistas conceituadas das editoras Abril e Globo. Os anos pos­te­r io­res foram ocu­ pados por via­gens longas, como o contorno da Patagônia e Terra do Fogo, em sete meses. PROJEÇÃO INTERNACIONAL

LUCIANO CANDISANI www.lucianocandisani.com

Em 2000 atingiu o objetivo de ver seu trabalho reproduzido na Na­tio­nal Geo­g raphic, quando a revista ganhou sua versão brasileira. “É a publi­ cação que oferece as melhores condições e que

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trata o tema da natureza em pé de igualdade com qualquer outro assunto”. Doze anos depois, sua série sobre os jacarés do Pantanal entraria para a edição in­ter­na­cio­nal, da qual Lu­cia­no é o único brasileiro a participar. Nesse meio tempo, o fotógrafo publicou sete livros retratando temas como o peixe-​­boi, a ara­ ra azul e a baleia jubarte. O mais recente, Pantanal, na linha d’água, saiu em março deste ano. “O livro é o ápice da produção, algo que fica. É nobre, respeitado. O livro é o maior legado do fotógrafo”, afirma Lu­cia­no. Ele conquistou tam­ bém vá­r ios prê­mios, espaço em outras revistas internacionais, bem como a participação na In­ ter­na­tio­nal League of Photographers, organis­ mo que reú­ne 70 fotógrafos de todo o mundo, escolhidos pela excelência e capacidade de mobi­ lização. A liga promove expedições fotográficas para locais onde haja alguma amea­ça, dissemi­ nando mun­dial­men­te o ma­te­rial colhido. “Estive agora nas Filipinas fotografando uma barreira de corais cuja vida marinha, assim como a po­ pulação da re­gião, está amea­ça­da pela pesca pre­ datória. O ma­te­r ial já está circulando em vá­r ios paí­ses e aqui foi publicado pela revista Época. Para 2014 Lu­cia­no planeja dar sequência à trilha ini­cia­da com os jacarés, clicando a vida no fundo dos rios brasileiros. “Vou atrás dos rios de águas claras, janelas que permitem vislumbrar o fundo de nossos cursos d’água”. Perguntado se já viajou por todo o Brasil, ele diz que sim, mas completa: “Quan­to mais a gente via­ja, mais des­ cobre que não conhece nada. Tudo no Brasil é muito grande, distante e desconhecido”.


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