Luciano Candisani 1
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F OTOG R A F I A
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entrevista com Luciano Candisa ni aconteceu via internet, mais precisamente por Skype, e logo de saíd a ele foi se desculpando pela cara amassada. Havia che gado em casa há pouco, depois de um voo de 12 horas que o trouxe de Londres para São Paulo, sem contar o trajeto entre o aeroporto e Ilha bela, litoral norte do Estado, onde vive com a família, literalmente cercado daquilo que mais gosta, a natureza. Luciano voltava da cerimô nia de entrega do prêmio Wildlife Photogra pher of the Year, que aconteceu no Museu de História Natural no dia 15 de outubro, do qual ele foi um dos jurados, depois de ter ganhado o prêmio no ano passado. A rotina agitada faz parte da vida de Lu ciano desde que começou a se dedicar à foto grafia. Porém, a partir do momento em que entrou para a lista de fotógrafos da edição in ternacional da revista National Geog raphic, re ferência absoluta em fotografia de natureza, o seu dia a dia está ainda mais movimentado em função da exposição internacional de seu tra balho. Tal fato ele comemora não só pelo reco nhecimento prof issional, mas espec ialmente por significar maior visibilidade para as histó rias que ele se empenha em mostrar. “A National
Geographic tem 40 milhões de leitores no mundo e 125 anos de preocupação com a conservação da biod iversidade. Estar na edição internacio nal representa a grande chance de fazer a dife rença”, comenta Luciano. No caso dele, fazer a diferença quer dizer evocar a forte conexão que existe entre cada ser vivo, inclusive o homem, e seu ambiente natural. “A beleza que procuro não está nas espécies ou nas paisagens. Está na ligação do ser vivo com o ambiente. O problema é justamente o encolhimento das áreas protegi das, que se tornam insuf icientes, deixando de garantir a permanência das espécies”. A sensibilidade para tais questões está en raizada na infância de Luciano. Mesmo moran do em São Paulo, cresceu em contato constante com o mar, onde estão suas referências de bem- estar. Inspirado pela National Geog raphic e pe los documentár ios de Jacques Cousteau, deci diu que também queria contar histór ias através de imagens. Ao invés do Jornalismo, Luciano optou pelo curso de Biolog ia na USP. Logo no primeiro ano, ao conhecer o Instituto Oceano gráf ico, percebeu que os projetos careciam de imagens subaquáticas. Começou como est a giár io em fotografia de expedições científ icas, em 1995, e no ano seguinte surgiu a oportuni dade de alavancar sua carreira como fotógrafo
Foto: Lucas Pupo
Conexão natureza A conservação da biodiversidade através da proteção das á reas naturais é o mote do trabalho de Luciano Candisani, enfático na beleza da ligação entre cada ser vivo e seu ambiente natural. Tânia Galluzzi
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1 Tamanduá-Mirim, Pantanal do Rio Negro, para o livro Pantanal, na Linha d’Água, publicado pela National Geographic 2 Jacaré do Pantanal, Rio Negro, Pantanal Sul. Para edição mundial de National Geographic 3 Meninos coletando alimentos no mar, Danajon Bank, Filipinas. Para a International League of Conservation Photographers
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4 Filhote de tartaruga verde na reserva biológica do Atol das Rocas, para matéria da National Geographic Brasil 5 Muriqui do Norte, fêmea com filhote. Cliente: National Geographic
de natureza. Ele foi convidado para participar de uma expedição de três meses na Antártica, registrando a vida marinha embaixo da super fície congelada. No ano seguinte, acompanhou o mesmo grupo de pesquisadores e o mater ial resultante dessas viagens abriu caminho para Luciano em revistas conceituadas das editoras Abril e Globo. Os anos poster iores foram ocu pados por viagens longas, como o contorno da Patagônia e Terra do Fogo, em sete meses. PROJEÇÃO INTERNACIONAL
LUCIANO CANDISANI www.lucianocandisani.com
Em 2000 atingiu o objetivo de ver seu trabalho reproduzido na National Geog raphic, quando a revista ganhou sua versão brasileira. “É a publi cação que oferece as melhores condições e que
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trata o tema da natureza em pé de igualdade com qualquer outro assunto”. Doze anos depois, sua série sobre os jacarés do Pantanal entraria para a edição internacional, da qual Luciano é o único brasileiro a participar. Nesse meio tempo, o fotógrafo publicou sete livros retratando temas como o peixe-boi, a ara ra azul e a baleia jubarte. O mais recente, Pantanal, na linha d’água, saiu em março deste ano. “O livro é o ápice da produção, algo que fica. É nobre, respeitado. O livro é o maior legado do fotógrafo”, afirma Luciano. Ele conquistou tam bém vár ios prêmios, espaço em outras revistas internacionais, bem como a participação na In ternational League of Photographers, organis mo que reúne 70 fotógrafos de todo o mundo, escolhidos pela excelência e capacidade de mobi lização. A liga promove expedições fotográficas para locais onde haja alguma ameaça, dissemi nando mundialmente o material colhido. “Estive agora nas Filipinas fotografando uma barreira de corais cuja vida marinha, assim como a po pulação da região, está ameaçada pela pesca pre datória. O mater ial já está circulando em vár ios países e aqui foi publicado pela revista Época. Para 2014 Luciano planeja dar sequência à trilha iniciada com os jacarés, clicando a vida no fundo dos rios brasileiros. “Vou atrás dos rios de águas claras, janelas que permitem vislumbrar o fundo de nossos cursos d’água”. Perguntado se já viajou por todo o Brasil, ele diz que sim, mas completa: “Quanto mais a gente viaja, mais des cobre que não conhece nada. Tudo no Brasil é muito grande, distante e desconhecido”.