Eduardo Nicolau
94 REVISTA ABIGR AF  janeiro /fevereiro 2014
F OTOG R A F I A
Retratos que contam histórias
O
ano de 2013 valeu por dez, se gundo Eduardo Nicolau, editor de fotografia do jornal O Estado de S.Paulo. Há 16 anos traba lhando com fotojornalismo, ele está acostumado com a correria da mídia diária, mas o ano passado foi especial. Afora os gran des eventos programados para o per íodo, como a Copa das Confederações e a Jornada Mund ial da Juventude, incluindo a presença do papa, as manifestações que tomaram as ruas a partir de junho ajudaram a tornar ainda mais insana a rotina do fotógrafo. “O fechamento da primei ra página é às 21h30 e o horário das manifesta ções quebrava nosso esquema”, conta Eduardo. Mesmo os dias “normais” exigem fôlego e um olho muito bem treinado. A editoria conta com três fotógrafos no Rio de Janeiro, três em Brasília e 15 em São Paulo, que mandam cer ca de 500 imagens por dia para o Estadão. Das
agências internacionais com as quais a publica ção tem parceria chegam perto de 11.000 fotos diar iamente, sem contar as que acompanham a montanha de mater ial env iado pelas assesso rias de imprensa. Nessa profusão de imagens, como fica a seleção do que vai estampar a capa no dia seguinte? “Somos uma editoria bem in dependente. A reun ião de capa começa às 16 horas. Cada um apresenta suas opções do dia, avaliando os assuntos mais quentes. É muito difícil que a foto principal esteja relac ionad a com a manchete de maior força. Normalmente tem a ver com cidades, esportes ou internacio nal, numa intersecção entre estética, flagrante e informação jornalística”. A habilidade para unir esses três quesitos Eduardo começou a treinar em 1998, quan do foi contratado pelo extinto Jornal da Tarde. “Era o time dos sonhos, a melhor edito ria de esportes, os melhores jornalistas, um
O jornalismo diário é o seu espaço, e o retrato, sua especialidade. Para Eduardo Nicolau, 40 anos, um bom retrato conversa com o espectador, representa uma história sem palavras. Tânia Galluzzi
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ambiente propício para crescer”. Fotografando desde a adolescência, inclusive durante o movi mento pelo impeachment do presidente Fernan do Collor, Eduardo até então contribuía para algumas revistas. A OPÇÃO PELO RETRATO
EDUARDO NICOLAU eduardo.nicolau@estadao.com
Foi no JT que ele tomou gosto pelo retrato e pela ideia de contextualizar o fotografado através da escolha do local para a realização da foto. No Es tadão, onde está desde 2000, havia uma seção para a qual ele parecia talhado. Criada no final dos anos 90, “Sampa” perfilava personagens da cidade, que escol hiam um local da capital onde gostar iam de ser retratados. Assim, clicou gen te como Paulo Autran, Nando Reis, Toquinho, Rita Lee e Edgard Scandurra. Em muitos desses retratos, a figura humana ocupa 20%, 30% do espaço da imagem, permitindo que o entorno fale um pouco, ou muito, da história.
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Há quatro anos Eduardo tornou-se editor de fotografia do Estadão. Vár ios movimentos polí ticos e sociais, no Brasil e no mundo, já tinham passado por suas lentes, assim como Copas do Mundo e Olimpíadas, e o prazer do retrato se manteve presente. Em 2013 ele resolveu trans formar esse exercício em um livro, lançando em agosto o Retrato de jornal, com imagens reali zadas entre 1998 e o ano passado. Pelé, Tony Bennett, Muricy Ramalho e Gilberto Gil, além dos já citados, estampam as páginas do livro, impresso pela Edições Loyola. Alguma dificul dade por excesso de estrelismo? “Não”, diz en fático. “É claro que representar um jornal con ceituado te dá mais abertura e que é preciso ganhar a conf iança da pessoa, mas difícil mes mo são os assessores e os seguranças, que mui tas vezes atrapalham, ao invés de ajudar. Até com Rita Lee, tida como complicada, não hou ve problema”. Eduardo já está pensando em pro duzir uma segunda edição revisada do livro. O objetivo é inserir novos retratos, como o de Paulinho da Viola, priv ileg iando ainda mais as imagens. Quem sabe neste novo ano?