Eduardo Nicolau - Fotografia - Revista Abigraf 269

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Eduardo Nicolau

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F OTOG R A F I A

Retratos que contam histórias

O

ano de 2013 valeu por dez, se­ gundo Eduar­do Nicolau, editor de fotografia do jornal O Estado de S.Paulo. Há 16 anos traba­ lhando com fotojornalismo, ele está acostumado com a correria da mídia diá­ria, mas o ano passado foi es­pe­cial. Afora os gran­ des eventos programados para o pe­r ío­do, como a Copa das Confederações e a Jornada Mun­d ial da Juventude, incluindo a presença do papa, as manifestações que tomaram as ruas a partir de junho ajudaram a tornar ainda mais insana a rotina do fotógrafo. “O fechamento da primei­ ra página é às 21h30 e o horário das manifesta­ ções quebrava nosso esquema”, conta Eduar­do. Mesmo os dias “normais” exigem fôlego e um olho muito bem treinado. A editoria conta com três fotógrafos no Rio de Janeiro, três em Brasília e 15 em São Paulo, que mandam cer­ ca de 500 imagens por dia para o Estadão. Das

agên­cias internacionais com as quais a publica­ ção tem parceria chegam perto de 11.000 fotos dia­r ia­men­te, sem contar as que acompanham a montanha de ma­te­r ial en­v ia­do pelas as­ses­so­ rias de imprensa. Nessa profusão de imagens, como fica a seleção do que vai estampar a capa no dia seguinte? “Somos uma editoria bem in­ dependente. A reu­n ião de capa começa às 16 horas. Cada um apresenta suas opções do dia, ava­lian­do os assuntos mais quentes. É muito difícil que a foto principal esteja re­la­c io­na­d a com a manchete de maior força. Normalmente tem a ver com cidades, esportes ou in­ter­na­cio­ nal, numa intersecção entre estética, flagrante e informação jornalística”. A habilidade para unir esses três quesitos Eduar­do começou a treinar em 1998, quan­ do foi contratado pelo extinto Jornal da Tarde. “Era o time dos sonhos, a melhor edito­ ria de esportes, os melhores jornalistas, um

O jornalismo diário é o seu espaço, e o retrato, sua especialidade. Para Eduardo Nicolau, 40 anos, um bom retrato conversa com o espectador, representa uma história sem palavras. Tânia Galluzzi

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am­bien­te propício para crescer”. Fotografando desde a adolescência, inclusive durante o movi­ mento pelo im­peach­ment do presidente Fernan­ do Collor, Eduar­do até então con­tri­buía para algumas revistas. A OPÇÃO PELO RETRATO

EDUARDO NICOLAU eduardo.nicolau@estadao.com

Foi no JT que ele tomou gosto pelo retrato e pela ideia de con­tex­tua­li­zar o fotografado através da escolha do local para a rea­li­za­ção da foto. No Es­ tadão, onde está desde 2000, havia uma seção para a qual ele parecia talhado. Cria­da no final dos anos 90, “Sampa” perfilava personagens da cidade, que es­co­l hiam um local da capital onde gos­ta­r iam de ser retratados. Assim, clicou gen­ te como Paulo Autran, Nando Reis, Toquinho, Rita Lee e Edgard Scandurra. Em muitos desses retratos, a figura humana ocupa 20%, 30% do espaço da imagem, permitindo que o entorno fale um pouco, ou muito, da história.

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Há quatro anos Eduar­do tornou-​­se editor de fotografia do Estadão. Vá­r ios movimentos polí­ ticos e sociais, no Brasil e no mundo, já tinham passado por suas lentes, assim como Copas do Mundo e Olim­pía­das, e o prazer do retrato se manteve presente. Em 2013 ele resolveu trans­ formar esse exercício em um livro, lançando em agosto o Retrato de jornal, com imagens rea­li­ za­das entre 1998 e o ano passado. Pelé, Tony Bennett, Muricy Ramalho e Gilberto Gil, além dos já citados, estampam as páginas do livro, impresso pela Edições Loyola. Alguma dificul­ dade por excesso de estrelismo? “Não”, diz en­ fático. “É claro que representar um jornal con­ ceituado te dá mais abertura e que é preciso ganhar a con­f ian­ça da pessoa, mas difícil mes­ mo são os assessores e os seguranças, que mui­ tas vezes atrapalham, ao invés de ajudar. Até com Rita Lee, tida como complicada, não hou­ ve problema”. Eduar­do já está pensando em pro­ duzir uma segunda edição revisada do livro. O objetivo é inserir novos retratos, como o de Paulinho da Vio­la, pri­v i­le­g ian­do ainda mais as imagens. Quem sabe neste novo ano?


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